golpes na humanidade

Os três duros golpes na humanidade: novos olhares sobre o ser humano

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Você já ouviu falar em golpes na humanidade ? Durante os invernos de 1915-1916 e 1916-1917 , Sigmund Freud preferiu palestras para um público amplo, composto por médicos e leigos, interessados em conhecer alguns aspectos da ‘nova teoria psicanalítica’.

Ao término da palestra XVIII, Freud menciona alguns duros golpes que seriam, de certa forma, uma via para se compreender as críticas contra a psicanálise. Nesse mesmo ano, o autor escreveu um artigo , no qual expande um pouco mais essa ideia de ‘golpes narcísicos da humanidade’.

O narcisismo e os golpes na humanidade

Diferenciando Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN) do Narcisismo, propriamente dito. Compete esclarecer, ante de tudo, que a concepção de ‘narcisismo’ dentro do contexto psicanalítico não diz especificamente a algum tipo de transtorno de personalidade narcisista (TPN). Para tanto, seria interessante se desvencilhar dos rótulos atribuídos pelos manuais de psiquiatria e nos atermos ao verbete ‘narcisismo’ em um dicionário psicanalítico:

Fenômeno libidinal, o narcisismo passou então a ocupar um lugar essencial na teoria do desenvolvimento sexual do ser humano

Ou seja, o narcisismo é uma etapa do desenvolvimento sexual humano, pelo qual todos nós passamos. Dessa etapa do desenvolvimento é que se desenvolve, basicamente, a nossa autoimagem e, consequentemente, nossa autoestima.

O mito de narciso

Na tradição grega, Narciso era de uma beleza ímpar. Atraiu o desejo de mais de uma ninfa, dentre elas Eco, a quem rejeitou. Desesperada, esta adoeceu e implorou à deusa Nêmesis que a vingasse. Durante uma caçada, o rapaz fez uma pausa junto a uma fonte de águas claras: fascinado por seu reflexo, supôs estar vendo um outro ser e, paralisado, não mais conseguiu desviar os olhos daquele rosto que era o seu.

Apaixonado por si mesmo, Narciso mergulhou os braços na água para abraçar aquela imagem que não parava de se esquivar. Torturado por esse desejo impossível, chorou e acabou por perceber que ele mesmo era o objeto de seu amor.

Quis então separar-se de sua própria pessoa e se feriu até sangrar, antes de se despedir do espelho fatal e expirar. Acabou por ser transformado numa flor.

Um salto pela história e os golpes na humanidade

Passando pelas linhas de seu artigo citado acima, Freud nos leva por um itinerário que diz respeito ao narcisismo universal da humanidade, esse amor por si mesmo, pela qual se julga superior e detentora de um trono. Durante muito tempo da história da humanidade, houve um predomínio da religião sobre as outras formas de expressão e entendimento da vida.

As religiões, de um modo geral, exerciam o ‘direito’ sobre todas as questões que envolviam a natureza, inclusive o ser humano.

A partir do Renascimento (sec. XIV-XVI), após um longo período em que os ensinamentos cristãos prevaleciam, com a mudança da geografia do mundo, a redescoberta da filosofia clássica, os questionamentos políticos, religiosos e científicos, o mundo conhecido, até então, foi tomando nova forma: a vida foi se instaurando em um novo sistema, em uma nova base, em um novo formato.

Golpes na humanidade: primeiro golpe

Na concepção de Freud, o fato de Nicolau Copérnico (1473-1543 d.C.) trazer à luz do conhecimento científico, no campo da astronomia, os movimentos dos corpos celestes, caracterizou o primeiro golpe. Até então, acreditava-se, de forma dogmática, que a Terra era o centro do Universo.

Copérnico pôs em xeque essa compreensão geocêntrica do mundo, trazendo o heliocentrismo como modelo astronômico.

Nesse sentido, com as contribuições posteriores de outros astrônomos, evidenciou-se que a Terra não é o centro do universo, que os astros não giram ao seu redor. O que concluir disso? O homem não é o centro do universo, mas faz parte dele.

Golpes na humanidade: segundo golpe

Na Inglaterra, Charles Darwin (1809-1882 d.C.) publica ‘A origem das espécies’, no ano de 1859. Com a publicação de seu livro, levanta o fato de os seres na natureza não existirem da forma como estão desde sempre, ou seja, passaram por um processo longo de evolução, na qual a adaptação do mais apto ao meio seria a chave para a continuidade da espécie, ou seja, um fator de adaptabilidade e transmutação das espécies.

A teoria evolutiva darwiniana determinou drasticamente o cenário das ciências biológicas, tornando-se a explicação dominante sobre o porquê da diversidade natural do planeta.

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    Segundo estudos mais recentes, o homem seria descendente de um primata e começa a sua história evolutiva há cerca de 7 milhões de anos . O que concluir disso? O homem não é um ser superior na natureza, não está acima dela, mas faz parte dela.

    O terceiro golpe

    Até aqui, notamos que a humanidade não ocupa mais o posto de centro do universo, nem senhor da natureza. Foram golpes na ordem cosmológica e biológica. Restava ainda um golpe a ser dado: o da ordem psicológica, que iria contra o seu ego, um golpe dado em seu narciso.

    No ano de 1900, virada de século, Freud publica ‘A Interpretação dos sonhos’ , que viria a ser o marco inicial da psicanálise. Nesta obra traz à tona a questão do inconsciente.

    O fato de Freud ser médico neurologista faz com que o método científico esteja inscrito em seu modo de ver o mundo. Contudo, as explicações da neurologia para a histeria não lhe satisfaziam. Conforme adentrou os estudos com a hipnose, percebeu que os sentimentos, os pensamentos, lembranças e as experiências não constituíam a totalidade da nossa mente, mas apenas uma fração dela. O consciente existe somente em um nível superficial, de fácil acesso.

    A relação com o Inconsciente

    O inconsciente é, na verdade, o grande senhor do homem – ele não é somente um grande receptáculo de todas as nossas lembranças, pensamentos, sentimentos, etc. – ele é, também, a morada das pulsões constantes em todos os seres humanos, sejam elas de vida e morte, além de todas as emoções recalcadas e contradições inerentes à compreensão da realidade.

    O inconsciente, portanto, é o livro de leitura que identifica cada um dos seres humanos, quem de fato são. Que concluir disso? Freud revela ao mundo que o homem não é dono de si, mas controlado por pulsões contidas em seu inconsciente.

    “Nossa concepção de mente nunca mais foi a mesma depois de Freud. Ficou repartida entre inconsciente e consciente, e povoada de desejos proibidos”, escreve Alexandre Carvalho em um artigo para o site da revista abril – super interessante.

    Conclusão

    Essas são, portanto, as feridas narcísicas da humanidade apontadas por Freud: as feridas cosmológica, biológica e psicológica.

    Haverá mais feridas a serem desveladas? Do macrocosmo ao microcosmo, onde poderíamos situar a humanidade? Haverá um itinerário que se mostre menos errante e mais assertivo? Quantas perguntas a serem ainda respondidas… Quantos percalços no caminho…

    O presente artigo foi escrito por Gerson Lopes([email protected]), psicanalista, formado em filosofia, pós graduado em neuropsicologia, psicologia social e antropologia, reside em Maringá – PR e faz atendimentos online. É de sua responsabilidade o perfil no Instagram ‘Psicanálise: idas e vindas’.

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