O que é narcisista em Psicologia?

Narcisista! Você já deve ter ouvido esta palavra em algum momento da sua vida! É muito comum acusar as pessoas usando esse termo ou até acusar-se a si mesmo.

Mas, qual o significado dela realmente? Assim, o que vem a ser um narcisista?

Segundo uma explicação de dicionário, um narcisista é alguém que:

• tende a estar centra-se completamente em si mesmo,
• geralmente volta-se para sua própria imagem,
• nutre amor excessivo por si mesmo.

Narcisista é alguém obcecado por si mesmo, que exibe excessiva admiração e amor-próprio.

Estas são as explicações mais simples e diretas sobre o tema. Contudo, vamos precisar ir além delas!

Etimologia ou origem do termo

Vem do latim “Narcissus” e do grego “Narkissos”, referindo-se à figura mitológica Narciso.

A palavra “narcisista” surgiu na psicanálise, em 1911, pelo psiquiatra e psicanalista Otto Rank.

A palavra vem de Narciso da mitologia grega. Entre as muitas variações do conto, todas focam no ponto sobre o belo Narciso, um rapaz atraente e destacável por sua beleza inata. Porém, tão esnobe e arrogante por causa de suas qualidades físicas.

Desdenhando de todas as pretendentes por considerá-las inferiores, Narciso recebe um castigo dos deuses. Assim, quando ele vê seu reflexo no rio, imediatamente se apaixona pela sua imagem e fica se admirando até morrer!

Essa é uma boa história para exemplificar vaidade, insensibilidade e individualismo aos extremos, ao ponto de chegar na autodestruição.

Para os gregos antigos, esta é apenas era uma história sobre o drama da individualidade. Contudo, este conto demonstra toda a conotação negativa desde quadro psicológico.

Características do narcisista

O narcisista se superestima e exagera suas próprias realizações. Ademais, foca tanto em si que se coloca em um patamar irreal.

Essa superestimação de seu próprio valor e realizações e desejo por admiração externa muitas vezes implica em uma subestimação dos outros. Assim, acarreta também o desejo por só se relacionar com pessoas especiais como ele/ela e rebaixar os comuns!

Portanto, há um desejo por um amor especial. Narcisistas esperam serem admirados por sua inteligência ou beleza, além de ter prestígio e poder, etc.

Contudo, no mundo atual, com a humildade valorizada, pessoas arrogantes e presunçosas assumindo crédito por coisas não realizadas por si só atraem irritação e afastam os outros.

Com tamanho orgulho e falta de empatia pelo próximo, imagina-se ser um narcisista alguém com muito amor próprio, quase sem enxergar os próprios defeitos. Quase!

O que é um narcisista no seu interior?

Na verdade, pesquisas recentes indicam que o narcisista típico não possui amor próprio. Assim, na verdade, ele nutre ódio por si mesmo!

Ademais, o notável nesse quadro é que, quando alguém vive postando selfies nas redes, comentando sobre vários assuntos para ser notado, espera elogios e gratificações sociais . Porém, esse é um sinal de baixa autoestima e necessidade constante de validação externa!

Um detalhe: transtorno de narcisismo não deve ser confundido com autoestima saudável. Assim, uma pessoa com satisfação própria pode ser humilde e sem necessidade de ficar se exibindo. Já o narcisista é egoísta, presunçoso e ignora os sentimentos e necessidades dos outros.

A psicóloga da California State University de Los Angeles, Ramani Durvasula, diz:

“Os indivíduos narcisistas são, na verdade, prejudicados pela insegurança e vergonha, e toda a sua vida é uma tentativa de regular sua imagem. O narcisismo nunca foi sobre amor próprio — é quase inteiramente sobre autoaversão.”

Narcisismo e estruturas psicanalíticas

Em Psicanálise, há três grandes estruturas psicanalíticas. Essa estruturas são relevantes também para definição da personalidade do sujeito. São elas: neurose, psicose e perversão.

Mas, será que uma pessoa narcisista é pertencente a só uma dessas estruturas? Vejamos sobre cada uma.

• Neurótico: como ponto de partida, você pode pensar que o narcisismo patológico é, essencialmente, uma neurose. O neurótico se caracteriza por reconhecer uma dor psíquica e ter uma capacidade de se olhar de fora. Por isso, diz-se que a neurose é mais tratável em psicanálise, porque o sujeito percebe-se em sua dor psíquica e dá maior significância à terapia analítica. A rigor, todos somos em algum grau narcisistas e neuróticos. Quando o narcisismo é patológico, o narcisista pode percebê-lo como tendo um “ego inflado demais”. Algo que lhe incomoda por prejudicar a convivência ou novos aprendizados. Ou o neurótico poderá não se perceber narcisista num primeiro momento, mas estará mais aberto a uma reflexão sobre isso com o andamento do tratamento psicanalítico.
• Perverso: diz-se que o perverso é o oposto do neurótico. Enquanto o neurótico se culpa até pelo seu gozo, o perverso se satisfaz em seu gozo. Não necessariamente “perversão” em psicanálise terá significado de “cruel”, não significa crueldade contra outra pessoa, tudo bem? O perverso se satisfaz por exemplo por meio de parafilias, expressões consideradas não ortodoxas da sexualidade. Enquanto o neurótico pode trazer uma culpa pessoal ou social de uma orientação sexual, o perverso vai priorizar a satisfação de seu prazer. Do ponto de vista do narcisismo patológico, isso implica reconhecer que o perverso pode também ser um narcisista. Poderá até se reconhecer assim e, apesar disso, não se incomodar.
• Psicótico: a psicose envolve uma distorção mais severa sobre a percepção da realidade. São manifestações clássicas a paranoia e a alucinação. Pessoas do convívio do psicótico podem dizer que ele é um narcisista patológico. Entretanto, o psicótico não possui um olhar de fora. Há uma dificuldade de uma autocrítica, pelo fato de que a realidade alternativa é sua única realidade. Até por isso, o tratamento psicanalítico com psicóticos é mais complexo. Muitas vezes, o psicótico pode não entender o papel do setting analítico, sendo que o psicanalista deverá de certa forma “entrar na onda” do discurso do psicótico, até que haja uma percepção de externalidade que permita ao paciente algum olhar de fora.

Assim, vemos que qualquer estrutura psicanalítica pode ser narcisista. Sabemos, também, que uma pessoa tende a não se constituir apenas por uma dessas estruturas. O que se entende é que uma estrutura tende a prevalecer sobre as outras, em cada pessoa.

Quase sempre, costuma-se associar o narcisismo patológico como um sintoma de uma histeria, uma fobia ou uma compulsão, que são as manifestações neuróticas clássicas. Em clínica, a percepção do narcisismo como expressão neurótica é o ponto de partida mais recorrente.

Apesar disso, entendemos que o narcisismo pode se manifestar também nos quadros de perversão e psicose, como foi explicado.

Vida Social

No geral, a pessoa fica infeliz quando não consegue a admiração necessitada dos outros. Assim, se decepciona com a própria vida.

Isto extrapola para todos os aspectos da vida laboral, social e afetiva. Entretanto, o indivíduo não consegue perceber como sua conduta afeta negativamente suas relações! Consequentemente, as pessoas se incomodam com o narcisista. Assim sendo, este se insatisfaz com sua vida, trabalho, etc.

Um dado importante é ver que parece existir dois tipos de narcisistas! Um é o narcisista “vulnerável”, com o perfil mais próximo do que descrevemos até agora. Trata-se de um indivíduo com aparente autoestima elevada. Porém, possui inseguranças profundas para encobrir.

Por outro lado, o “grandioso” parece ter realmente um ego inflado. Ademais, apresenta desejo por poder e completa falta de empatia. Segundo um estudo da universidade de Nova York, o perfil Grandioso se encaixa mais como uma psicopatia que narcisismo, em decorrência de seu desejo por dominação.

Dito isto, o que leva uma pessoa a se tornar um narcisista?

Existem muitos fatores causadores para a personalidade narcisista, divididos em causas genéticas e ambientais.

No cérebro dos narcisistas, revelou-se haver menos substância cinza na parte relacionada com a empatia, a regulação emocional e o funcionamento cognitivo.

Ademais, quanto ao ambiente familiar alguns elementos diferentes disparam essas características em uma pessoa:

• aprender comportamentos manipuladores com os pais,
• abuso infantis ou bullying, que podem levar a uma supercompensação do ego,
• receber muitos elogios dos familiares e amigos de forma intensa e sem justificativas à altura. Isso pode passar uma impressão irrealista da vida para uma criança.

O mundo atual, com a grande promoção da imagem e propaganda pessoal, acaba estimulando esse tipo de personalidade inadvertidamente.

Sinônimos e antônimos do termo

Alguns sinônimos de narcisista ou palavras de sentidos semelhantes são:

• egocêntrico,
• egoísta,
• autocentrado,
• presunçoso,
• vaidoso,
• convencido,
• orgulhoso.

Já os antônimos (sentido oposto) são:

• altruísta,
• generoso,
• empático,
• modesto,
• compassivo,
• solidário.

É preciso ver em qual contexto de sua leitura esses sinônimos ou antônimos se aplicam melhor.

Veja também algumas diferenças em relação a outras palavras do mesmo campo semântico. São itens semelhantes, mas que pode trazer diferenças sutis.

• Narcisista x egocêntrico: O narcisista ama a si mesmo, já o egocêntrico prioriza seus próprios interesses.
• Narcisista x vaidoso: O vaidoso valoriza a aparência. Por sua vez, o narcisista ama a si mesmo de forma abrangente.
• Narcisista x orgulhoso: O orgulhoso exibe satisfação pelo que conquistou, enquanto o narcisista se admira em excesso.
• Narcisista x autoconfiante: O autoconfiante tem segurança em suas habilidades e isso pode ser positivo. Já o narcisista se admira exageradamente.

É importante ressaltar que essas grafias estão erradas: narsisista, narcissta, narcista, narcicismo, narcesista.

Frases e obras de arte sobre narcisitas

Exemplos de algumas frases que criamos para você entender o emprego da palavra:

• O narcisista busca elogios constantemente.
• Ele se encantou com seu reflexo, como um narcisista.
• Evite alimentar o comportamento narcisista dele.
• Sua atitude narcisista prejudica os relacionamentos.
• Focar nos outros pode reduzir tendências narcisistas.

Algumas obras artísticas refletem sobre o tema do narcisismo. Vamos destacar algumas:

• Filme “O Lobo de Wall Street” (2013): retrata a história de Jordan Belfort, um corretor de ações cujo narcisismo e ganância o levam à autodestruição.
• Livro “Lolita” (1955), de Vladimir Nabokov: o livro traz Humbert Humbert, um homem narcisista e manipulador que desenvolve uma obsessão por uma jovem chamada Lolita.
• Música “You’re So Vain” (1972), de Carly Simon: descreve um amante narcisista, que acredita que tudo gira em torno dele e de sua aparência.
• Filme “Cisne Negro” (2010): explora o narcisismo e a busca obsessiva pela perfeição de uma bailarina, que sucumbe à paranoia e alucinações.
• Livro “Psicopata Americano” (1991), de Bret Easton Ellis: narra a vida de Patrick Bateman, um homem narcisista e sociopata, que esconde sua verdadeira natureza psicopática sob uma fachada de sucesso e riqueza.

Quais sinais identificam um narcisista?

As descrições a seguir não seguem juntas necessariamente. Ademais, muitas pessoas nem as notam por muito tempo. Porém, são características básicas sobre esse transtorno de personalidade:

• Essa pessoa costuma pensar alto demais, chegando a ser irrealista;
• Espera não ser questionado em suas decisões e desmandos;
• Têm inveja de outros e acredita ser invejado por quem está a sua volta;
• Se considera muito bom, mas aproveita-se de outros para conseguir o que quer;
• É ofendido facilmente e sente-se humilhado diante de críticas;
• É manipulador ao extremo.

Os traços mais exacerbados e antissociais que relatamos aqui como falta de remorso e crueldade são mais associados ao perfil “grandioso” pela sua condição específica. Por outro lado, a psicopatia costuma ter traços de narcisismo. Contudo, os narcisistas não são obrigatoriamente psicopatas!

Este texto não busca denegrir quem mostra traços desse tipo. A autovalorização é buscada pela maioria das pessoas, só se mostra um problema quando é uma característica obsessiva da personalidade.

Círculo vicioso

Quando a busca por reconhecimento é demais, chegando a ser problemática, acaba tendo o efeito oposto. Assim, acaba afastando as pessoas próximas deixando-as desgostosas com o narcisista. Isso pode criar uma espiral autodestrutiva na pessoa.

Com medo da dor da rejeição, o narcisista se engradece buscando alívio. Porém, incomoda os outros com suas atitudes e acaba voltando ao começo do ciclo.

Segundo Durvasula, o narcisista precisa se mostrar de um jeito. Portanto, age mal, acaba rejeitado e o círculo vicioso recomeça!

Conclusão: o que é narcisista e o que fazer?

O narcisista prioriza sua própria imagem e admiração. É importante entender o que é o ego para a psicanálise.

É fundamental diferenciar:

• Um ego fortalecido favorece a autoestima e o conhecimento sobre seus próprios desejos,
• mas um ego exacerbado faz a pessoa fechar em si mesma, afogando-se na sua autoimagem, como o mito de Narciso.

Reconhecer o narcisismo ajuda a identificar comportamentos nocivos e promover relações mais saudáveis.

No geral o narcisista não percebe ser o problema. Portanto, atribui sua responsabilidade aos outros. Portanto, dificulta muito seu quadro.

Qualquer tipo de questão psicológica precisa de automotivação para ser tratada de forma eficaz. Ademais, o narcisismo pode ser particularmente resistente a mudanças. Assim sendo, uma psicoterapia eficiente leva em conta expectativas realistas contando com entendimento do paciente.

A pessoa primeiro precisa ser conscientizada de seu quadro e de que seu progresso será lento. Além disso, precisarão de aceitar a responsabilidades sobre seus atos e aprender a se relacionar de modo mais adequado.

Ela aprenderá a entender e regular seus sentimentos, a aceitar suas falhas e tolerar críticas alheias. Portanto, aprenderá também a manter expectativas realistas!

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