Ao longo da sua prática psicanalítica, Freud observou um fenômeno bastante interessante que a princípio chegou a acreditar que seria um empecilho para o decorrer da análise, na relação paciente e terapeuta.
O processo da transferência na relação paciente e terapeuta
Freud observou que seus pacientes acabavam projetando no analista sentimentos vivenciados no passado principalmente com relação a seus pais. Dessa forma começavam a repetir com o analista comportamentos infantis revelando assim sua imaturidade psicológica e características de sua neurose.
Esse fenômeno ocorria de forma inconsciente, sem que o próprio paciente se desse conta. Nesse fenômeno surgiam sentimentos de amor, ódio, culpa, medo, rejeição, entre outros. Com o passar do tempo, Freud descobriu que esse processo de transferência de sentimentos do paciente para o analista ao invés de atrapalhar poderia justamente ser utilizado para compreender como funcionava a mente do paciente permitindo acesso ao seu inconsciente.
Percebeu que através da transferência conseguia realmente colocar-se no lugar do paciente, enxergando o mundo através de sua lente e trazendo uma melhor compreensão de suas dores e bloqueios.
A transferência
Atualmente, a transferência é um conceito que une os psicanalistas, já que se tornou a principal ferramenta de trabalho de uma análise. Através dela, a neurose infantil do paciente transforma-se no que Freud intitulou “neurose de transferência”, um campo que pode ser trabalhado para promover a cura ou a atenuação dos sintomas trazidos no início da análise.
Trazendo o conceito de transferência para o nosso dia a dia podemos observar que ela não ocorre apenas entre analista e paciente. É algo inerente ao ser humano e permeia toda a nossa forma de relacionar-se com o mundo.
Dessa forma, podemos afirmar que praticamos a transferência o tempo todo. E que realmente a nossa infância e a maneira com a qual fomos criados influenciará a forma que reagimos aos desafios da vida.
Paciente e terapeuta e as raízes do passado
Resumindo, ninguém é o que é por acaso. Dessa forma podemos entender que todo comportamento expresso hoje tem suas raízes no passado. Uma pessoa extremamente competitiva no ambiente de trabalho por exemplo, pode ter vivenciado a necessidade de competição com os irmãos pelo amor de seus pais.
Ou até mesmo ter sido negligenciada por eles criando a necessidade de sempre ter que vencer na tentativa de obter algum reconhecimento. Nesse caso buscará sempre a aprovação dos outros em tudo o que faz, evitando desagradar as pessoas com quem convive, pois no fundo teme que seja novamente negligenciada como foi no passado.
A realidade é que sua criança foi ferida e seu único objetivo na vida é querer ser amada e aceita. E essa busca permeará toda a forma com a qual lida com os desafios da vida. Evitará impor-se e mostrar quem realmente é, pois teme a rejeição. No fundo, tudo realmente é sobre nós mesmos.
As críticas: paciente e terapeuta
Os outros só nos servem como espelho para refletir nossas imperfeições. Já percebeu que normalmente criticamos algo em alguém porque não queremos admitir que também temos as características repudiadas? Ou que na verdade invejamos determinado comportamento porque no fundo desejamos ser como essa pessoa mas não temos coragem?
É muito difícil admitir nossos defeitos, então criamos mentiras para nós mesmos pois é menos doloroso viver na ilusão.
Para mim esse é o principal ganho trazido pelo autoconhecimento. Libertar-se das ilusões e aprender a enxergar a vida como ela realmente é. Você pode trilhar esse caminho de várias formas.
Considerações finais
Hoje o conhecimento está ao alcance de todos e você pode escolher o que melhor se adapta a sua vida. A terapia psicanalítica é apenas uma delas. Uma das quais me apaixonei pela profundidade com a qual trabalha nos revirando do avesso e chegando ao cerne da questão.
Talvez porque nunca me conformei com respostas rasas e vazias. Mas sei que, como qualquer ciência, ela não é completa muito menos dona da verdade absoluta. Também não resolverá todos os nossos problemas existenciais.
Então busco outras fontes e gosto de conhecer diferentes pontos de vista. Tudo sempre tem algo a acrescentar. A vida continuará sendo um mistério que não foi feito para descobrir completamente. Ainda não estamos preparados para isso.
QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE
O presente artigo foi escrito por Letícia Almeida([email protected]), mãe, enfermeira, apaixonada pela psicanálise e pelos enigmas da vida e da mente humana.
2 thoughts on “Paciente e terapeuta: a relação na psicanálise”
MUITO BOM O CONTEÚDO, ESTOU APROVEITANDO BEM
Que bom, Valdeci! Fico feliz em saber!