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Paciente Emmy Von N e a psicanálise

Posted on Posted in Teoria Psicanalítica

Durante algum tempo, Freud utilizava-se do método hipnótico para atender e entender o que de fato acometia as pacientes tratadas como “histéricas”, pois acreditava que a hipnose seria uma forma de trazer para o consciente um fato inconsciente e que essa ação teria efeito curativo, no entanto, após a célebre frase da Emmy Von N “Para de fazer perguntas e me deixe falar”, Freud observa que permitir que as pacientes falassem o que lhes viesse a mente seria a melhor forma de entender o que se passava com cada uma delas.

“Para de fazer perguntas e me deixe falar” (Emmy Von N)

Afinal, a hipnose sugestionava as respostas, trazia uma explicação muito mais racional do que exatamente aquilo que ele buscava, que ia além da necessidade de entender o que cada paciente sentia, mas principalmente trazer uma explicação ao que lhes ocorria.

Este artigo não tem como objetivo transcorrer a respeito do método da Associação Livre implementado por Freud. Logo após perceber que permitindo que suas pacientes falassem, ele conseguia obter mais resultados no tratamento, mas trazer para atualidade a tão famosa fala da Sra Emmy assim como também um olhar mais acolhedor a respeito das ditas “mulheres histéricas.”

Mesmo após tanto tempo e avanço dos estudos psicanalíticos e de todo avanço nas áreas correlatas, em termos de pesquisa e modo de ação, ainda hoje as mulheres são apontadas como “histéricas” diante das suas falas, ações e situações.

O estudo sobre Emmy Von N

Parece que ainda somos objeto de estudo, ou melhor, não mais de estudo mas de diagnósticos infundados quando se trata de nossa psique. Obviamente, o avanço é inegável porém, aqui trato da fala cotidiana, do apontamento social constante e doloroso pelos quais passamos.

O termo histeria já foi amplamente discutido claramente, mas na construção da sociedade comum a correta definição do termo não encontra seu espaço. O espaço de fala da mulher também já avançou, não é esta a discussão, a grande questão é o dia a dia, o cotidiano da mulher comum, daquelas que não tem acesso ao mínimo para se perceberem empoderadas de quem realmente são e do seu papel nesta ainda patriarcal e antiquada sociedade.

Quando acessamos lugares físicos como comunidades (as “antigas favelas”), pois houve apenas a modificação do nome e não da condição dos que ali tentam residir e sobreviver, podemos acessar também essas mulheres que devem ser observadas desde meninas em sua negação de direitos.

A etmologia

Algo muito interessante também de observarmos é que muitas, em sua falta de acesso ao conhecimento e informação, reproduzem as atitudes machistas e auto impostas pela sociedade arcaica e medieval que ainda estamos vivendo. Sim, os avanços sociais não foram ainda instituídos ou entregues a todos.

A minoria tem este acesso, no entanto, o cotidiano de quem reproduz insistentemente esses padrões vem crescendo e com isso as consequências terríveis fazem parte deste dia a dia. O feminicídio cresce e aqui cabe inclusive o termo “histeria”, não em sua real etmologia, mas no significado que essa sociedade sem acesso compreende.

Quem são as mulheres assassinadas que não as “histéricas” que só querem ser quem são, terem liberdade de escolha e realizarem-se sexualmente com quem quer que seja? É sobre isso. A grande maioria não é ouvida, a grande maioria grita e recebe apenas um documento.

Um papel afasta um agressor?

Não, não estou fugindo do tema, são impressionantes as respostas que ouvimos quando perguntamos para estas mulheres se elas se consideram “histéricas.” A grande maioria diz SIM, a outra pequena parte pergunta o que é ser “histérica.”

Quando lemos a célebre frase da Sra. Emmy e a trazemos para nosso tempo, vemos que é exatamente isso que nós mulheres queremos: nos deixem falar e vamos além: ouçam a nossa fala, ouçam o que temos pra dizer. Aqui acontece também um avanço ou um complemento da tão famosa frase.

Prova que o “CALEM-SE, NOS OUÇAM” fosse uma possível atualização da tão conhecida fala que fez com que Freud criasse o método da Associação Livre. No entanto, a cada instante que passa constatamos a continuidade desta sociedade antiquada talvez hipnotizada, que recebe sugestões para suas respostas e ações.

A forma negativa de sugestão e o caso de Emmy Von N

Aí entramos na observação plena do macrocosmo de zumbis que vivemos, onde a “hipnose” não é a utilizada como método mas como uma forma negativa de sugestão, onde as pessoas são levadas a serem o que não são em realidade ou a terem o que não podem em realidade.

Tudo isso se torna material para nós, pois é imprescindível o conhecimento e reconhecimento das questões sociais para uma melhor condução das questões humanas do nosso século.

Trazer para a atualidade todo o contexto não apenas vivido por Freud e aqueles que fizeram parte de seu tempo, colaborando com seus estudos, divergindo dos mesmos, é de extrema importância visto que o trabalho do Psicanalista atual irá lidar com questões atuais e disso faz parte o universo humano como um todo.

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    Emmy Von N e a atualidade

    Devendo então ser reconhecido este espaço, lugar social e não apenas as questões da mente. Sabemos que grande parte da sociedade em que vivemos está adoecida exatamente por não terem seus lugares aceitos, não terem seus espaços legalmente reconhecidos, principalmente como sujeitos protagonistas de suas vidas e coadjuvantes da vida em família.

    Boa parte das mulheres brasileiras são quem sustentam suas famílias, isso as coloca no protagonismo familiar mas também as coloca num “lugar” difícil, pois em sua maioria não possuem a escuta necessária as suas demandas.

    Estas são as mesmas consideradas “histéricas”, as mesmas que são assassinadas e as mesmas que são caladas. Nós não queremos mais as “sugestões” da “hipnose” social, queremos que nos deixem falar, queremos ser ouvidas.

    A observação de Freud

    Numa sociedade onde não há escuta, não pode haver avanço, não pode haver caminhos ou saídas para seus problemas e era também em uma sociedade onde não havia “ouvidos” para ouvir que a Sra, Emmy encontrou na sensível observação de Freud um caminho para si e ele um caminho para o avanço em seus estudos e trabalho.

    Que possamos caminhar na escuta, que seja a escuta o início para a formulação da ação e seja a ação a efetiva forma de modificar um cenário como o que atualmente encontramos.

    Ao perceber a sensibilidade de Freud para entender que aquela frase era um caminho para recalcular sua rota de estudos e trabalho, que possamos também reascender nossa sensibilidade para recalcularmos o caminho da sociedade atual, retirando-a do patamar medieval que é em realidade e elevando-a a uma sociedade justa e em verdade avançada, sem a racionalização egoísta que machuca e não cura suas vastas feridas provocadas por aqueles que dela fazem parte.

    Considerações finais

    Faz parte de nosso trabalho como futuros Psicanalistas e atuais profissionais da Psicanálise rever muitos conceitos, atualizá-los, visto que é nosso papel a constante atualização da nossa profissão, dos nossos estudos, do encontrar de novos métodos e aplicá-los de forma que nosso analisando, paciente possa ser protagonista de suas conquistas através do que for vivido em clínica.

    Um ser autônomo na construção de sua própria caminhada é também um ser agente da transformação de sua vida, porém compreendendo tudo ou em parte do que o levou até onde está.

    Que nós, profissionais, possamos ter a sensibilidade do Pai da Psicanálise para ouvir, sermos agentes da escuta curativa e da palavra direcionadora para que nossos analisandos encontrem esse protagonismo através da associação Livre e do livre desejo de compreender a si, ao que sente e ao que poderá se transformar.

    O presnete artigo foi escrito pela autora Sanderly Strieder. Estudante de Psicanálise . Terapeura responsável pela Clínica fractal da Alma Terapias Terapeuta Multidimensional – Terapias integrativas por diversas instituições no Brasil. Mestra em teoria Literária pela UCL- Bélgica Especialista na Obra da escritora Portuguesa Florbela Espanca pela Universidade de Coimbra- Portugal Bacharel em Ciência da Informação pela UFPE- Pernambuco – Brasil.

    2 thoughts on “Paciente Emmy Von N e a psicanálise

    1. Gostei deste artigo principalmente pelo desprendimento da autora em lançar a luz da psicanálise em questões, antigas, porém atuais, cujo avanço é pouco perceptível através dos tempos, Neste caso, a questão da mulher na sociedade, na luta contra o preconceito e desigualdade e a sua contribuição no avanço da psicanálise em especial..

      1. Sanderly Strieder disse:

        Obrigada Simone. Vamos juntas nessa jornada.

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