Entende-se que a perversão na psicanálise como uma estrutura tal qual a neurose e a psicose, tanto que constitui a personalidade e a subjetividade comprometendo o indivíduo a ações típicas desta estrutura. Como se entende a perversão para a psicanálise?
Entendendo sobre a perversão na psicanálise
Na sociedade desde os seus primeiros anos é visto o instinto sexual como sendo a forma “normal” de obtenção de prazer e satisfação. Percebe-se este instinto sexual de forma puramente biológica que dá vazão para o coito, relação entre pênis/vagina, portanto toda forma que saísse da esfera dita comum da relação sexual era dada como uma “aberração sexual” o que mais tarde deu-se o nome de perversão.
Nesse sentido a satisfação e a obtenção de prazer não se restringiria ao coito mas estaria vinculado a outros objetos e zonas erógenas e até mesmo a “situações” externas.
Sendo assim a perversão é uma estrada para a obtenção de prazer que foge do instinto puramente biológico de reprodução como forma de satisfação, ou seja, é um desvio da pulsão.
Relação da perversão na psicanálise e angústia de castração
A perversão teria sua origem na história infantil do desenvolvimento psicossexual, em um primeiro momento o menino conceitua que ambos os sexos teriam o mesmo órgão sexual.
Nafase fálica do desenvolvimento, o menino que nutre desejos incestuosos pela mãe, dirige um olhar de rivalidade para com o pai.
Vale ressaltar que o pai para o menino é a voz da “moral” ou seja ele dita o que é certo e julga o que é errado juntamente com a punição, assim a criança desenvolve a noção de moral, nesse contexto com o complexo de Édipo, a criança deseja a mãe e tem o pai como seu rival. Portanto a autoridade sendo o pai, a criança criaria em um movimento fantasioso o medo angustiante de ser castrado pelo pai, como forma de punição por desejar a mãe.
Objeto sexual
O sujeito dito “normal” superaria está fase ou até mesmo iria reprimi-la e seguiria o desenvolvimento para um amadurecimento, até se desfazer da mãe como objeto sexual, deslocando o seu desejo em outras pessoas.
No sujeito perverso o menino negaria a angústia de castração, perceberia que não existe o pênis na mãe e então não conseguiria elaborar bem, substituindo essa falta por um objeto inanimado, que virá a ser na vida adulta então o seu objeto de fetiche como meio de satisfação.
Explicando: “a neurose é o negativo da perversão “
Desenvolvendo a estrutura perversa para compreendê-la, e para o melhor entendimento sobre as formas de satisfação e diferenciação, Freud trará a ideia de que: ” as neuroses são por assim dizer, o negativo das perversões” (FREUD, 1905, p. 168).
Primeiramente entende-se que todos nós fomos perversos quando crianças, no desenvolvimento psicosexual da libido, tanto a fase oral como a fase anal a criança obtém a satisfação fora do coito. Nesse contexto o sujeito neurótico sente a culpa, em realizar ou não realizar seus desejos pelo viés do superego e das exigências externas, pois este indivíduo conseguiu lidar com a angústia de castração.
Com o movimento de negação do perverso diante da angústia de castração, ele não sente a culpa ao realizar seus desejos e não passa pelo medo da perda do falo, pois seu ego minimiza o superego.
As sub-estruturas da perversão na psicanálise
Portanto para o entendimento da clínica psicanalítica a perversão se divide em sub-estruturas com o propósito de entender as diferentes formas de organização e relacionamento com o outro, sobretudo na busca pelo prazer.
Freud em sua clínica irá se deparar com diferentes formas de expressão da perversão, como sendo o fetichismo o sadismo e o masoquismo, assinala Freud que seus pacientes não compareciam à clínica para expor exclusivamente seus fetiches e fantasias sexuais, por meio a transferência e no decorrer da análise as sub-estruturas perversas surgiam.
Conceituando a perversão
E assim Freud conceitua a perversão como sendo uma estrutura, uma forma de como o indivíduo se relaciona com o mundo externo e interno como ele percebe o outro e é percebido, essa estrutura lhe atravessa desde os seus primeiros anos de vida, e o constitui como sujeito subjetivo que irá se relacionar de maneira diversa e individual.
Concluindo
A perversão na antiguidade em seus primeiros trabalhos como já posto era considerada uma aberração, era vista como, a histeria, desfeita, mal conceituada pelo meio social, uma bestialidade, um problema marginal para o meio psiquiátrico. Ainda no século XIX e no começo do século XX as perversões vai ser ‘ aliás ‘ ligadas a síndromes impulsivas e obsessivas.
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Logo mais tarde com os avanços dos estudos vai se conceituando melhor o entendimento sobre as perversões, até que Freud se inclina sobre os estudos, e nesse movimento aos poucos vai estruturando a perversão como uma subjetividade.
Até que Freud escreve: “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade”. A obra recebe diversas reediçoes ao longo dos anos, até chegar a sua fase mais madura, em 1924. É uma obra basilar para o entendimento do desenvolvimento psicosexual e da perversão e sua relação com a sexualidade.
Este artigo foi escrito por André Medina([email protected]), formando em psicanálise clínica pelo IBPC.