preconceito e discriminação

Preconceito e discriminação vistos pela teoria da mente

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O presente Trabalho aborda o preconceito e discriminação e a importância da autoanálise em relação a desconstrução de ideias estruturais que trazem prejuízos a sociedade por manter enraizados determinados tipos de preconceitos.

Esta abordagem é relevante para demonstrar que embora a sociedade tenha evoluído em relação a atos racistas, homofóbicos, xenofóbicos, sexistas etc., há ainda muito a se pensar em relação aos inúmeros tipos de formas preconceituosas presentes no nosso cotidiano.

Como objetivos, buscaremos neste trabalho demonstrar a importância da psicanálise, principalmente no que diz respeito a análise pessoal, ao pensar e questionar-se para a construção de uma sociedade cada vez mais livres de conceitos sociais que não devem ser mais aceitos, por não serem benéficos ao coletivo.

Entendendo sobre o preconceito e discriminação

Na primeira parte é abordado alguns tipos de preconceitos e discriminação e como eles estão presentes na cultura brasileira sendo eles; Intolerância religiosa, racismo e sexismo Na segunda parte, é feito uma análise crítica do preconceito a partir da psicanálise. Também é descrito como a psicanálise e a análise pessoal é importante na diluição dessa estrutura que vem se formando durante séculos. Neste momento do trabalho também é problematizado o sexismo dentro da psicanálise, mostrando que tal saber ainda é dotado de conceitos pré-concebidos no que diz respeito a homossexualidade e a figura feminina. O intuito de toda essa problemática é estimular o pensar a fim de trazer novas reflexões sobre os nossos próprios conceitos em relação ao outro e a nós mesmos.

Na terceira parte, é apresentada uma breve história sobre uma grande psicanalista e de como suas contribuições foram ignoradas pela história da psicanálise e resumida a um único ponto que parece ser o único relevante para a sociedade. Tal tópico tem o intuito de problematizar o fato, trazendo ao leitor um pensamento crítico sobre o mesmo. Para atingir esses objetivos, a metodologia empregada foi de pesquisa bibliográfica, leitura de artigos, pesquisa de sites e pesquisa de campo.

Observações: Ao longo do trabalho alguns questionamentos são feitos com a finalidade estimular a crítica do leitor para além do ponto de vista da autora, por meio de perguntas retóricas. O presente trabalho não tem o intuito de esgotar o assunto pois como é sabido pela psicanálise, não existe verdade absoluta.

O preconceito como “Patrimônio Nacional”

O preconceito pode ser definido como um conceito pré-concebido a alguém de forma discriminatória, podendo ser este um preconceito racial, sexual, de gênero, intelectual, preconceito e discriminação relacionado a classe social etc. É de suma importância ressaltar que o ato de pré-julgar o outro por meio de conceitos concebidos sem quaisquer fundamentos críticos ou lógicos, embora não deva ser algo tolerável, vem ocorrendo a séculos na história do mundo. Oque torna isso parte da estrutura da humanidade, uma vez que está presente em imagens, palavras, frases e até mesmo ditados populares. Atualmente é possível observar a utilização do termo “Racismo estrutural” para descrever atos raciais discriminatórios que estão contidos na sociedade ainda que de forma não explícita e muitas vezes não intencional, fazendo parte de uma estrutura construída pela civilização ao longo dos séculos.

Apesar do termo descrito anteriormente ser direcionado exclusivamente o preconceito e discriminação de uma raça, é válido salientar que diversos tipos de preconceitos estão contidos na estrutura da sociedade, sendo assim, pode-se dizer que o “preconceito estrutural” existe não apenas direcionado a raças, mas em todos os grupos que sofrem algum tipo de injuria decorrente da sua raça, crença, condição social, dentre outras.

O título deste capítulo, utiliza-se de sarcasmo para abordar um tema muito importante que é o preconceito e discriminação contido na cultura do nosso país. É possível ver diversos tipos de atos discriminatórios, incluindo frases, ditos populares, composições consideradas MPB (Música Popular Brasileira), dentre outros tipos de arte que carregam em si o peso do racismo, da homofobia, da intolerância religiosa, etc..

A intolerância religiosa e o racismo no Brasil

Ao falar de intolerância religiosa, inclui-se qualquer tipo de ato de violência e ou discurso de ódio para com qualquer doutrina religiosa. No entanto no nosso país a intolerância está voltada de forma amplificada para as religiões de cunho africanos. Tal austeridade não é um fato recente, pois é reconhecido pela história como datado desde a época da escravatura. Onde os negros trazidos do continente africano eram impedidos de cultuar seus deuses, conhecidos como orixás.

Como a maior parte das famílias de posses de escravos eram adeptas à doutrina cristã católica, os mesmos eram obrigados a cultuar seus deuses através daquelas imagens lá dispostas, sem que seus senhores tomassem conhecimento de seus cultos. Assim nasceu o sincretismo religioso, onde determinados orixás ficaram conhecidos no Brasil assimilados a imagens de santos da igreja católica. Como ato de devoção diante do preconceito de seus senhores, os negros foram obrigados a esconder sua fé e até os dias de hoje muitas imagens ainda são associadas a estes orixás, como é o caso de Ogum, sincretizado em São Jorge da Capadócia, e Iemanjá, sincretizada em Nossa senhora dos Navegantes, algumas casas de umbanda e candomblé não concordam com a sincretizarão nos dias atuais, pois é uma forma de ainda se esconder e obedecer a construção opressora da sociedade para com a religião, ainda assim muito optaram por manter o sincretismo.

Com o histórico do racismo no Brasil não é surpresa que as religiões mais atacadas sejam fundadas por negros. O racismo ainda é uma realidade e está presente em nosso dia a dia; nas ruas, ambientes de trabalho algumas vezes implicitamente, por meio de músicas, expressões do cotidiano, palavras aparentemente inofensivas, e até alguns ditos populares carregam em si um cunho racista. Como é o caso das seguintes expressões: “criado mudo, denegrir, magia negra/ mercado negro, samba do crioulo doido, etc”. (SEDH, 2020). 1.2 O sexismo na cultura brasileira (Amélia que era mulher de verdade?)

O sexismo, preconceito e discriminação

O sexismo é uma realidade em diversas partes do mundo, é sabido que muito embora o movimento pela igualdade de gênero venha crescendo no Brasil, ainda estamos muito aquém de alçá-la. No que diz respeito a luta da mulher cis em relação ao sexo masculino. O Brasil tem se mostrado disposto a modificar leis e diretrizes a fim de facilitar essa igualdade. No entanto, algumas distinções severas ainda estão presentes no dia a dia da mulher, como por exemplo a diferença salarial entre homens e mulheres, que embora não seja explícita é uma realidade. “Em fevereiro de 2021, a agência de empregos Catho constatou que mulheres, mesmo ocupando os mesmos cargos e realizando tarefas iguais às dos homens, chegam a ganhar até 34% menos do que eles.

Em funções como gerente e diretor, essa diferença é de 24%”. (ARAUJO, 2021). Embora a discussão fale em igualdade de gênero, para que isso seja de fato possível, é necessário antes de tudo, o estado lançar mão da equidade, oferecendo mais a quem precisa mais. Pensando por esse aspecto: Em 2006, mediante a muitas discussões, parlamentares da Câmara e do Senado aprovaram a lei Maria da Penha, que combate à violência doméstica contra a mulher. Maria da Penha foi uma mulher brasileira que sofreu duas tentativas de feminicídio por meio de seu parceiro no ano de 1983 e acabou ficando paraplégica por conta do fato. (INSTITUTO MARIA DA PENHA, acesso em 11/02/2022).

É importante salienta que antes da lei em questão, não existia nenhuma lei que amparasse a mulher contra agressões físicas praticadas por parte de seu parceiro, mesmo sendo frequentes os casos de feminicídio no Brasil. Tanto que: “Na petição, foi alegado haver tolerância à violência contra mulher no Brasil, uma vez que esse não adotou as medidas necessárias para processar e punir o agressor” (MPSP, acesso em 11/02/2022). O fato é que a violência doméstica parece ser cultura no Brasil. Uma vez que diversos nomes da MPB, gravaram e regravaram canções com cunho machista.

Música ” Já já” e o preconceito e discriminação

Como é o exemplo da música “Já Já” “Se essa mulher fosse minha Apanhava uma surra: Já, já Eu lhe a pisava todinha Até mesmo eu lhe dizê: Chegá” (JÁ JÁ, SINHÔ, 1926) (Disponível em: https://www.letras.com.br/sinho/ja-ja) Embora os anos tenham passado tenhamos de fato evoluídos em relação ao falocentrismo da época, o machismo e a objetificação feminina continua em alta nas rádios. O Funk carioca tomou enorme proporção no mundo da música, deixando de ser exclusivo do Rio de Janeiro e se espalhando Brasil a fora. Contudo, determinadas letras de funk deveriam ser punidas por fazer explicita apologia a agressão contra a mulher. Letras essas que se quer valem apena citar neste texto.

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    No que diz respeito a diversidade de gêneros Não há como falar de preconceitos sem falar da luta diária dos diversos gêneros, em busca de integridade e respeito. Segundo o site Brasil de Fato “Em 2020, 175 mulheres trans foram assassinadas no Brasil. O número representa um aumento de 41% em relação ao ano anterior, quando 124 pessoas transexuais foram mortas.” (LU SUDRÉ, 2021). A lei já prevê que o cidadão que se identificar como sendo de outro gênero que não aquele o qual a fisiologia designa, tem o direito de adotar um nome social para evitar constrangimento perante a sociedade, e consequentemente, evitar preconceitos de outros em relação a si.

    Mesmo assim, a sociedade ainda se incomoda com a orientação de gênero alheia. É comum ouvir relados de pessoas trans que não tem seus direitos respeitados. Assim como a violência contra a mulher parece ser uma cultura brasileira, a violência contra gays e transgêneros é promovida explicitamente nas mídias. Além das antigas machinhas de carnaval: “Maria Sapatão” que ficou conhecida na voz de chacrinha, e outras como: “Olha a cabeleira do Zezé”.

    O papel fundamental da Psicanálise no combate ao preconceito

    Pode-se ver a promoção da homofobia em programas de TV que colocam a figura do travesti como algo cômico. E até mesmo em jornais, quando o então Deputado e atual Presidente Jair Messias Bolsonaro falou publicamente que não gosta de gays. “Gostar de homossexual ninguém gosta, a gente suporta” (JAIR MESSIAS BOLSONARO) (Disponível:https://www.youtube.com/watch?time_continue=64&v=YeOGz8oJiUc&feature=emb_logo). Embora ele declare suportar gays, pode-se observar no vídeo acima, palavras de baixo calão e formas pejorativas ao se referir aos mesmos.

    A psicanálise, embora não tenha como propósito elucidar questões resolutivas ao preconceito de forma direta, contribui imensuravelmente neste quesito, uma vez que a mesma estimula o raciocínio crítico mediante hipóteses e questionamentos. Elucidando novas reflexões, retirando o indivíduo da zona de conforto e proporcionando subjetividade aos seus pensamentos. O preconceito se dá pela idealização do eu em relação a aspectos socialmente criticados, por exemplo a branquitude acima da negritude. (Santos 1983). Ao comparar o preconceito racial aos demais preconceitos, pode-se observar a uma semelhança entre eles, sempre haverá um padrão aceito e um padrão que será discriminado pela grande massa.

    O homem acima da mulher, o sulista acima do nortista e nordestino, o hetero acima do homossexual. Não sendo suficientemente doloroso o pertencimento a padrões pouco aceitos, uma mesma pessoa pode acumular diversas características que a “diminuem” perante a sociedade, como por exemplo uma mulher negra, transexual e paraibana pode sofrer mais que uma mulher negra cisgênero. Assim como uma sulista, de pele branca, transexual sofrerá preconceito de forma distinta das anteriores. É importante ressaltar que em nenhum dos casos pode-se dizer que a pessoa se encontra em uma posição de fato privilegiada, mas ainda assim há uma posição onde dependendo do acúmulo de características o sujeito pode sofrer mais ou menos preconceitos, como é o caso do colorismo, que classifica pessoas negras de acordo com o tom de pele, levando assim uma discriminação maior aos negros com o tom de pele mais escuro.

    Qual é o papel da psicanálise no combate ao preconceito e discriminação?

    Como dito anteriormente, a psicanálise impulsiona o sujeito a pensar e desenvolver o raciocínio crítico. Logo é também papel da psicanálise incentivar a desalienação do sujeito para com as “normas” danosas impostas pela sociedade ao longo da história, ressignificando o certo e o errado, o bonito e o feio e assim contribuindo para uma sociedade mais igualitária. Tal como acolher o sujeito pré-julgado com aconselhamento de como lidar com as suas frustrações e muitas vezes ajudar o mesmo a se aceitar na sua individualidade como ser humano. Para que isso ocorra é de suma importância que o analista esteja despido de conceitos discriminatório, conceito que até mesmo a própria psicanálise precisa reestruturar de forma eficaz como o conceito do homossexualismo.

    Vivemos em uma sociedade heteronormativa e muitos analistas ainda observam a homossexualidade partindo de um ponto de vista antiquado de que a mesma se trata de uma patologia. Ao longo dos anos esse conceito se manteve em grande parte dos settings analíticos. Embora Freud inicialmente se mostrasse crédulo que a homossexualidade fosse de fato algo advindo da estrutura perversa, em os “Três ensaios sobre a teoria da sexualidade (1905)”, segundo Acyr Maya, “Freud nos permite entender a prática homossexual como uma prática sexual como qualquer outra.” (O que os analistas pensam sobre a homossexualidade? – MAYA, ACYR). Ainda assim grande parte dos psicanalistas se mostram favoráveis a visão de que a homossexualidade é um desvio na sexualidade tornando isso algo patológico.

    Freud era um homem a frente de seu tempo e teve um importante papel no combate o preconceito e discriminação da homossexualidade. Em 1903 um homem acusado por práticas homossexuais foi defendido por Sigmund Freud em uma entrevista ao jornal Vienense “Die Zeit”. Logo em 1930, ele assina uma petição pela revisão do código penal e a supressão do delito da homossexualidade entre adultos que consentem (Badinter, Elizabeth. 1993). Em 1935, ao se corresponder com uma mãe que lhe pede ajuda para com as condutas comportamentais de seu filho consideradas por ela anormal, Freud o escreve uma carta que contém o seguinte trecho : “ Eu creio compreender após ler sua carta que seu filho é homossexual. Eu fiquei muito surpreso pelo fato que a senhora não mencionou esse termo nas informações que deu sobre ele. Posso eu, vos perguntar por que evitou esta palavra?

    Homossexualidade, preconceito e discriminação

    A homossexualidade não é evidentemente uma vantagem, mas não há nada do que sentir vergonha. Ela não é nem um vício, nem uma desonra e não poderíamos qualificá-la de doença. (…) Muitos indivíduos altamente respeitáveis, nos tempos antigos e modernos foram homossexuais (Platão, Michelângelo, Leonardo da Vinci, etc). É uma grande injustiça perseguir a homossexualidade como crime e também uma crueldade. (Freud, 1935/1967, p.43).” Diante do exposto, alguns questionamentos devem ser feitos: Por qual motivo, algumas pessoas se recusam a aceitar a homossexualidade como sendo algo que cabe dentro da “normalidade”? Por que alguns analistas ainda utilizam da orientação sexual como algo crucial para estigmatizar o sujeito enquadrando o mesmo em uma estrutura perversa? Tais atitudes seriam por parte dessas pessoas uma recusa da aceitação dos seus reais desejos?

    Os aspectos negativos apontados nas características que precedem o preconceito e discriminação de qualquer tipo seria uma projeção ou um recalque? Manter o preconceito e discriminação mediante ao outro seria a maneira do recalcado de obter seu gozo negado pelo sufocamento do superego em relação ao seu ideal de ego?  A relação da sociedade com a supremacia do falo é algo que percorre a história. ”A representação fálica era bastante familiar no cotidiano do mundo romano, egípcio, grego e etrusco antigo. Imagens de falo podiam ser encontradas em muros, joias, sinos, lamparinas, máscaras, paredes e tigelas, simbolizando a fertilidade e a força apotropaica“ (sua bondade trazia boa sorte e sua agressividade afastava o azar e o mau-olhado, cf. Cavicchioli, 2008) Com a representatividade que o falo tinha na cultura, era comum entre a antiguidade celebrar o falo por meio de cultos pagãos.

    Freud em seus escritos psicanalíticos não ignorou a importância do pênis para seus constructos. É possível ver ao logo de suas obras a citação do falo como sendo um objeto de preservação para o homem, e de angústia de perda para a mulher. Boa parte da psicanálise é bem fundamentada na angústia de castração. No entanto alguns psicanalistas pós freudiano acreditam que a angústia de castração por parte feminina tem uma conotação machista e falocêntrica, tal discussão foi chamada por Lacan de “Querela do falo”. A Psicanalista Karen Horney defendia que a inveja do pênis não era suficiente para definir a sexualidade feminina uma vez que ela acreditava que a desvantagem entre o pênis e a vagina estaria na relação com o objeto de forma que a menina não pode ver e segurar seu órgão como os meninos, sendo ela então reprimida da inconsciente autorização para masturbação que os meninos teriam. (COSTA e BONFIN acesso em: 22/03/2022). Além disso Horney levantou a teoria de que o homem teria inveja das funções femininas, como gerar a vida, amamentar e que esse sentimento acabaria gerando no homem a necessidade de menosprezar a mulher como forma de não se sentir inferior.

    Precisamos falar sobre Sabina Spielrein

    Embora não seja intuito do presente trabalho validar a teoria de Horney, faz-se necessário evidenciar a importância da mesma para o movimento feminista e o quanto sua teoria pode explicar o falocentrismo que ainda se encontra muito presente na sociedade e nos constructos da psicanálise. Embora se tenha conhecimento de muitas psicanalistas mulheres e algumas delas até mesmo com escola é preciso falar sobre Sabina Nikolaievna Spielrein, que foi sufocada pela história. Sabina foi uma das primeiras psicanalistas do sexo feminino, foi a segunda psicanalista mulher aceita na Sociedade Psicanalítica de Viena. Seu contato com a Psicanálise se deu no hospital psiquiátrico Burghölzli, em Zurique, onde a mesma foi internada e tratada por Carl Gustav Jung. Recebeu tratamento até o ano de 1905 e em 1911 se tornou médica e em sua tese falou sobre o tratamento psicanalítico de uma paciente esquizofrênica.

    O trabalho mais conhecido de sabina é “A Destruição como Origem do Devir” que fala sobre um componente destrutivo da pulsão sexual, atrelada a um masoquismo alguns historiadores levantam a hipótese de que o trabalho de Sabina foi a inspiração para Freud para criar a teoria da pulsão de morte, embora não exista nenhuma prova de que isso seja um fato, há uma semelhança inegável entre ambas as teorias. Sabina teve uma longa história na psicanálise, foi também uma das primeiras psicanalistas que se tem notícias a empregar a psicanálise na educação infantil no berçário branco, criado pela também psicanalista Vera Schmidt. O método empregado na educação infantil levava o fenômeno transferencial na relação mestre e aluno, assim aboliu o aprendizado por meio de maus tratos, algo que era comum naquela época.

    Em 1936 a psicanálise foi proibida pelo stalinismo. Em 1937 a família de Sabina foi deportada para um campo de concentração onde foram executados com a acusação de conspiração contra o estado. Em 1942, Sabina que era judia e suas duas filhas, são mortas na ocupação do exército nazista. Este é um breve resumo da longa trajetória de Sabina Spielrein na história da psicanálise, e embora ela tenha sido uma grande profissional, que se tornou médica depois de ter sido paciente, ela é citada na grande maioria das vezes pelo seu relacionamento amoroso com Jung, sendo estigmatizada como amante de seu terapeuta e resumida a tal posição. As vezes é citada como exemplo de transferência e contratransferência, mas são poucas as vezes que sua verdadeira trajetória se faz valorizada.

    Conclusão sobre preconceito e discriminação

    Como dito anteriormente, muitas mulheres fizeram nome na psicanálise e até formaram escola, mas a objetificação que a sabina tem como amante de Jung, leva a crer que exista sim um machismo e um reflexo do falocentrismo atrelado a história da psicanálise, uma vez que o outro lado dessa história (Jung), que teve várias outras pacientes como amante, não é lembrado somente por esses fatos. Jung é seguido e sua genialidade deve ser apreciada, mas o peso que os casos amorosos tiveram na história dele, não chega perto do peso que teve na história de Sabina. Por que Sabina seria estigmatizada como amante de Jung mesmo tendo contribuído tanto com a psicanálise? Por que tais fatos não assolam a trajetória de Jung como assolam o de Sabina? Qual seria o outro motivo justificaria este estigma se não o machismo?

    Mediante as pesquisas feitas sobre o tema, pode-se concluir que o preconceito e discriminação pode muitas vezes estar diretamente ligado ao um processo de inferiorização de si. A objetificação do sujeito como ser inferior pode trazer um gozo aqueles que inconscientemente se sentem menores e projetam suas frustrações nas características do outro, como por exemplo um homossexual recalcado que pode apresentar comportamento homofóbico. No que tange ao racismo, xenofobia e intolerância religiosa não é diferente, há também uma necessidade de validar suas crenças, sua classe e cor partindo de um narcisismo que esconde o complexo de inferioridade. Há também uma questão antropológica que circunda e alimenta o preconceito ao que é diferente, ao que algum dia foi visto como incorreto e não aceito. Como por exemplo a crença de que cultos africanos são advindos de algo conceituado como mal.

    Falta aos discriminadores desses grupos, raciocinar criticamente e questionar-se do porquê tais afirmações foram aceitas como verdades incontestáveis. No que diz respeito ao sexismo, foi possível concluir que a valorização do falo, a objetificação feminina, dentre outros costumes adquiridos pela cultura masculina, seja uma tentativa de manter-se numa posição de poder. O poder que foi construído durante séculos pela história da civilização, e que hoje se encontra fragilizado pela força da mulher moderna em se igualar ao homem em vários aspectos. Talvez o complexo de castração masculina não se resuma a fase fálica, talvez tal processo seja contínuo e eterno quando falta um raciocínio crítico e boas sessões de análise. O que retorna ao título do presente trabalho “A importância do pensar no combate ao preconceito nos tempos atuais”.

    Referências bibliográficas

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    Este artigo sobre Preconceito e Discriminação vistos pelo olhar da psicanálise foi escrito por Tânia Lopes Graça.

    One thought on “Preconceito e discriminação vistos pela teoria da mente

    1. A questão é sobre o que a Homossexualidade, pode digamos, ser o elo forte entre dois homens: de ajuda, companherismo, amizade! Ontem, pode parecer paradoxal, mas a observação do Gerente da Farmácia, a conversa amistosa e até afetuosa, do funcionário comigo, presumo tenha feito ele questionar: da relação de emprego, deixar de prevalecer a potencial namoro que possa surgir de relação comercial! E aquela questão, da atração discreta mas nitida!

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