processo de escuta

O processo de escuta da fala: o silêncio revelador

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Hoje falaremos sobre o processo de escuta. Onde estamos, nos nossos silêncios? Da clínica psicanalítica, presume-se a fala de um sujeito endereçada a escuta de outro sujeito, o psicanalista, estabelecendo-se assim um percurso psicanalítico. Fala, que eu te escuto…

Entendendo sobre o processo de escuta

O percurso psicanalítico é um processo comunicacional. Como somos dados ao reducionismo, podemos nos equivocar ao permitir que o olhar esteja em demasia focado no que concerne a fala, como forma de comunicação.

Podemos abrir o escopo de conhecimento aqui, pois a psicanálise nos conduz a mergulhos mais profundos e devemos sobretudo, estar abertos ao que é comunicado, mas não é dito. Na psicanálise clínica, tanto o silêncio quanto a narrativa são importantes, ambas são manifestações do Eu (sujeito) que em contato com o objeto (o outro) dá curso a sua expressão e ao seu não expressar, que é tanto quanto o expressar é revelador.

Na narrativa, o sujeito está imerso no mar de lembranças, impressões, avaliações. No setting psicanalítico é de suma importância falar livremente, o que vem à mente sem que o narrador corrija a narrativa.

A narrativa livre revela, assim como a narrativa “corrigida” omite

No que tange ao discurso o sujeito está, muitas vezes, imerso em um caudal de memórias e fantasias sem a clara distinção do real. Sendo assim,os fatos biográficos narrados têm uma importância relativa no setting psicanalítico, pois só interessam à medida que projetam no presente algum sofrimento no sujeito.

Tampouco reviver um momento traumático irá trazer a cura, o poder curativo se dá pela descarga de tensão, mas muito mais “da eficácia com que é tratada a cisão da consciência”- como mostra MCDougall. Logo mais exploraremos o papel do psicanalista na condução do paciente ao real.

No silêncio, também há uma narrativa, desde o silêncio entre uma frase e outra, até os longos períodos silenciosos que podem surgir durante uma consulta. No silêncio há um esvair-se nas emoções ou um evadir-se de si mesmo. Ao evadir-se o sujeito pode estar buscando a fuga de seus medos e sofrimentos, onde se levanta um mecanismo de defesa.

O processo de escuta e para onde nos encaminhamos nos nossos silêncio ?

Se estamos vivos, estamos a pensar, a atividade mental não cessa. Por alguns segundos, conseguimos manter um estado de afastamento intelectual e emocional da atividade mental, mantendo um estado de observador dos conteúdos manifestos, mas em dado momento algum pensamento irá nos afetar.

A afetação é um “tocar” em algum complexo ou afeto desintegrado, ponto este que está carregado de energia, de uma potência reprimida. O afeto produz reação psíquica, como uma pequena pedra, que movimenta toda a superfície do lago.

Sabe-se que na mente não há silêncio que perdure, embora muito já tenha sido dito sobre o processo meditativo que poderia levar o meditador a silenciar a atividade mental (pensamento).

O processo de escuta e imaginativo

Durante muito tempo, foi difundido o conceito de que meditar é manter a mente em branco. O que seria mente em branco senão o pensar em uma folha em branco ou em uma parede branca? Logo, nessa concepção, podemos observar o processo imaginativo do pensar.

Segundo o médico Fernando Gomes Pinto, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia, estima-se que demore 300 milissegundos antes do pensamento se tornar consciente.

O silêncio pode ser uma forma de esconder, por vergonha, medo de rejeição ou de ser julgado, medo de crítica, autoproteção. O silêncio pode ser voluntário, em que o paciente deliberadamente não fala, ou pode ser um bloqueio, onde o indivíduo não consegue falar, ele literalmente engasga.

Transpor o bloqueio

O psicanalista precisa usar de habilidade para ajudar o paciente a transpor o bloqueio, através de perguntas específicas que o façam reagir ao silêncio e procurando trazer este ao princípio da realidade. Não é um enfrentamento tão simples ao analisado, tendo este que expressar em palavras o que gostaria de ignorar. A psique tem suas artimanhas e mecanismos de proteção.

Também não é de se esperar que através do auto inquirimento o paciente consiga trazer à tona o que seu próprio inconsciente fez questão de ocultar, por isso propõe-se a fala direcionada ao que escuta, o psicanalista. A escuta psicanalítica não é qualquer escuta, mas uma escuta criativa.

A criatividade não emerge de uma mente embotada. Através de uma mente livre, desapegada da rigidez de conceitos e crenças limitantes, o analista pode perscrutar através dos véus que o próprio paciente coloca para encobrir temas que a ele possam ser demasiados dolorosos ou momentos traumáticos.

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    O instinto de sobrevivência

    Ora, a todo ser humano é dado o instinto de sobrevivência, mantendo a integridade tanto no corpo físico quanto no corpo psíquico, então não há o quê se admirar de o paciente agir de forma defensiva, sendo dado que a o humano a vontade de viver, do impulso de vida é nato. Todos queremos viver.

    O desejo não é somente de viver, mas o de bem viver. Para aquele que se encontra em sofrimento, a busca pelo setting psicanalítico é um impulso em direção ao enfrentamento (busca por solução) do conteúdo psíquico que produz os sintomas, sintomas esses que manifestos produzem sofrimento.

    Podemos dizer que o sofrimento é sintoma, que dentro do processo analítico o conteúdo a ser explorado é aquele que geralmente encontramos nas entrelinhas, nos silêncios ou na repetição, tanto de uma frase, quanto de uma palavra.

    O fator causal do desequilíbrio homeostático está além dos sintomas ou das suas manifestações

    A busca é sempre pela causa, o fator desencadeante da sintomática, fator que jaz recalcado no ID( inconsciente).

    Talvez uma das grandes buscas da psicanálise seja ajudar o paciente a estar em harmonia com o ambiente do qual este emerge. Promovendo o bem viver, encontrando uma forma de tolerar todo o conteúdo ao qual a sua psique foi exposta, sendo este agradável ou desagradavel.

    Não desejando assim a psicanálise “remodelar” o sujeito, mas ajudar a este para que encontre uma forma suportável de se acomodar, dentro do conjunto de vivências a que este foi exposto na jornada do viver. Podendo assim ter um bem viver apesar de tudo, vivendo o mais próximo possível da zona de homeostase, ou seja integrado e com seus afetos sobre controle.

    “Feliz criatura que pode atribuir a ausência da felicidade a um obstáculo terreno! Você não sente que é no seu coração arruinado, no seu cérebro desorganizado que jaz o seu mal, e que todos os reis da terra não poderão curá-los!” (Johann Wolfgang Von Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther).

    Este artigo sobre o processo da escuta foi escrito por Ezilda Azevedo([email protected]), professora de Yoga e estudante do IBPC.

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