Não raro, os psicanalistas em relação à Psicanálise atual são procurados por pessoas e firmam um pacto de análise, estabelecem vínculos e um contrato clínico e o processo de conversação é deflagrado onde uma das demandas mais recolhidas e colocadas de bate-pronto: “não consigo mais dormir e não sei o por quê.”
Pessoas relatam que muitas vezem não dormem por semanas a fio. E muitas já tentaram sair do ‘parafuso chato’ como chamam no jargão pop, por via da Psiquiatria e receituário psicofármacos (alopatia) inclusive pesada, mas tem medo de danificar o fígado, os rins, a saúde em geral.
E não se sentem bem ingerindo remédios pesados que elas pressintam e sentem que não resolve e tentam novas soluções. Muitas procuram psicólogos até psiquiatras renomados e não conseguem sequer esboçar uma solução.
Entendendo sobre a Psicanálise Atual
O analisando se coloca na posição de paciente vítima da insônia crônica ao analista e relata que sabe que o objeto da Psicanálise é o inconsciente e que já tentou auto examinar mecanismo de defesa e comportamento por via da Psicologia e renovar remédios, mas não logrou êxito em vencer a situação. Ao psicanalista com as fronteiras muito rígidas vai restar se debruçar numa hipótese clínica.
O analisando informa que não dorme bem e perdeu a paz de espírito. Isso passou a ser um novo desafio das pessoas onde muitas simplesmente não conseguem mais dormir. Existem pessoas que recorreram a várias possibilidades e fizeram exames, tomografias, ressonância, polissonografia, exame de sangue trocaram medicação, porém, não conseguem dormir.
E quando dormem é algo muito breve e acordam aflitas, angustiadas, ansiosas, cansadas, temendo uma depressão aguda e crônica no futuro e começam a sentir princípios de pânico. Em todas as sessões subsequentes a mesma colocação: “não consigo dormir!” Algumas pessoas buscam nas redes sociais ou contatos com pessoas que não dormem e tentam entender porque não conseguem dormir em paz, não tem paz de espírito e o tão almejado sono sereno e prolongando não ocorre mais com dantes.
Novas fronteiras da Psicanálise Atual
Algumas recorrem a nutricionista e reformam todo cardápio, mas persiste a condição existencial de insônia. É neste contexto e cenários que entra o que muitos já estão antevendo como novas fronteiras da Psicanálise. Alguns críticos divergentes de opiniões já consolidadas sobre o objeto e papel da Psicanálise e sua caixa de ferramentas se recusam a uma revisão de posturas e não querem abrir novas fronteiras chamadas de ‘pós-modernas’.
Alguns analistas rebatem e expressam que em suas escalas de valores não podem aceitar que seja colocado na caixa de ferramentas do operador da Psicanálise além da associação de ideias e interpretação dos sonhos o receituário medicamentoso e outros processos coadjuvantes. E diante da impossibilidade de seguir em frente com um analisando acabam recomendando buscarem novo psiquiatra ou mudar de psicólogo ou achar um novo médico generalista e evitam continuar o processo.
Porque chegaram às fronteiras até então didaticamente introjetada chamada de ética possível, o limite. Muitos analistas entram em crise e se autoquestionam: “o que posso fazer com esse analisando e seu sintoma ?” Ficam se sentido como se estivessem presos num labirinto sem saída.
A visão pré-moderna sobre a Psicanálise Atual
O debate para derrubar o ato médico como monopólio só de médicos segue sua marcha, mas muitos psicanalistas não querem essa possibilidade nas suas caixas de ferramentas bem como novas técnicas e métodos. Entretanto, os tempos mudaram, estamos com um pé na pós-modernidade.
Toda a visão pré-moderna faleceu quando chegou a modernidade. E agora, vivenciamos a visão moderna na UTI já falecendo e cedendo espaços para a pós modernidade dos tempos líquidos e da disruptura da era do algoritmo.
Tudo esta se tornando digital. A era do algoritmo não tem mais volta. Muitas coisas vão mudar. O fim do livro de papel, o fim do jornal tradicional, o fim de tudo o que ainda é analógico e resiste.
A modernidade e o psicanalista
O fim da fotografia como era antes. O fim de cinemas clássicos já foi uma crise grande. Fecharam grandes cinemas. O teatro por vídeo será uma nova realidade futura. A telemetria não tem mais volta também. E tantas outras situações foram emergindo.
O psicanalista precisa começar a dominar fitoterapia, cromoterapia, homeopatia, uso de sons, noções de nutrição, uso do lúdico como por exemplo, o plano de viagens. E ir esgrimindo com novas vertentes, como a análise a distância por vídeo, por celular e tablets, até estar com o ato médico plenamente conquistado.
O ato médico para os psicanalistas será uma nova fronteira. Isso não significa que o psicanalista necessite obrigatoriamente ter condições de receitar, mas esse instrumento precisa estar disponível dentro de sua caixa de ferramentas. O psicanalista vai ter que conquistar o ciclo completo da clínica que não domina ainda.
O analisando
Se o psiquiatra se formar psicanalista ele terá o domínio do ciclo completo. O inverso não tem sido uma verdade, os psicanalista tem esse óbice de restrição dessa ferramenta, o receituário para não incidir no ato ilícito.
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O analisando procura o psicanalista e relata que não dorme e que não quer mais a alopatia e usa uma expressão típica: “chega, estou dando uma pancada forte no meu fígado, nos meus rins, enfim, estou urinando diferente, preciso mudar”; e, encerra pedindo o socorro clássico: ‘me ajude a sair dessa situação’. O analisando quer novos rumos.
E o psicanalista não tem a visão do ‘ciclo completo’ clínico e começa a recomendar o paciente a fazer um périplo. O psicanalista não consegue abrir as fronteiras, sair da bolha, quebrar a casca do ovo muitas vezes argumentando ser refém da ética. Alguns psicanalistas estão mudando esse perfil.
Psicanálise Atual e o analista
Recomendam se a pessoa já experimentou trocar as cores das paredes e teto do seu quarto onde dorme; sugere que faça uma reforma e se harmonize melhor; se já escutou sons em escalas Hertz e se nunca tentou; se tentou dormir ouvindo chuva no telhado de zinco; se já tentou buscar a homeopatia, a fitoterapia; se já pensou nas cores e efeitos das luzes ao dormir; se já usou software de conto de estórias para dormir.
Se já pensou num plano lúdico de viagens. E como está a expressão da espiritualidade. O psicanalista começa a buscar a historicidade da pessoa e uma nova direção rompendo fronteiras.
O analista vai examinar o inconsciente, a estrutura do ego, o superego, mas, ele vai buscar novas fronteiras, mais instrumentos para suas caixa de ferramenta e uma sinergia dentro de visão meta ou poli disciplinar.
Considerações finais
A velha visão e percepção de uma mera inter disciplinariedade cheia de amarras foi cedendo para multi e pluridisciplinariedade chegando na transdisciplinariedade.
E na pós modernidade será o momento da visão meta e poli disciplinares rumo a uma visão eco disciplinar que será o meio ambiente sustentável.
Isso vai gerar uma expansão das fronteira de todas as ciências, artes, técnicas e métodos. O perfil da Psicanálise vai sofrer transformações na pós-modernidade dos tempos líquidos e da era do algoritmo.
O presente artigo foi escrito por Edson Fernando Lima de Oliveira ([email protected]) é licenciado em Filosofia e História. Possui PG em Ciências Políticas, acadêmico e pesquisador de Psicanálise Clinica e Filosofia Clinica.