psicanálise e novas tecnologias

Psicanálise e novas tecnologias

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Já li em artigos e livros sobre o termo “crise da psicanálise” e a Psicanálise e novas tecnologias.

Entendendo a Psicanálise e novas tecnologias

Entre tantos pontos que esse tema traz, o que me chamou mais atenção foi o que diz respeito ao próprio fim da psicanálise. Esta “derrocada” segundo críticos se daria em função do avanço de medicamentos que cumpririam o papel de amenizar e até mesmo acabar com as dores e os sofrimentos psíquicos dos pacientes. Claro que não podemos desconsiderar a eficácia dos fármacos para os diversos tipos de transtornos, que requer – de acordo com as mais diversas áreas do conhecimento da mente – uma intervenção química.

A grande maioria dessas medicações, no tempo que Freud organiza os conhecimentos e a prática psicanalítica, – praticamente. não existiam. Tanto hoje, mas principalmente, ao tempo de Freud a psicanálise é revolucionária porque traz as noções de inconsciente, mostrando que ação do sujeito não segue apenas um principio racional estabelecida por um padrão biológico. Freud – até mesmo por ser médico – não irá abandonar fatores biológicos.O inconsciente traz esse padrão biológico. Se formos pesquisar no google textos sobre “psicanálise e neurociência” encontraremos muitas pesquisas e relatórios.

Talvez, o ponto mais negativo possa está no fato de muitos verem apenas a medicalização como único recurso. Segundo o Conselho Federal de Farmácias, o ano de 2020 registrou aumento de vendas de antidepressivos de 17%*. O que fica implícito neste processo não são os números em si, mas o que ele representa.

Covid-19, a Psicanálise e novas tecnologias

Considerando o contexto social o aumento destes medicamentos vem em meio a pior crise sanitária dos últimos cem anos, com a Covid-19, no caso do Brasil agravado por uma forte crise financeira. Antidepressivos e controladores de humor podem sim serem vistos como uma das consequências do contexto que vivemos. Pensando nisso podemos até nos perguntar: qual a relação desses números com a psicanálise? A psicanálise surge entre o final do séc. XIX (1882) e inicio do séc. XX a partir das ideias e teorias de Sigmund Freud.

O contexto de sua formação é marcado por grandes transformações na sociedade europeia, portanto, não só de avanços em vários campos de atuação da sociedade, mas igualmente, de grandes inquietações e incertezas. A psicanálise surge como um “remédio” que não existia. A teria de Freud é inovadora porque vai buscar para além do biológico aquilo que está na alma. Então, acredito que falar em crise da psicanálise não é algo que faça sentido, tendo em vista que seu contexto e suas características emergem como respostas às inquietações mais profundas do sujeito que está em sociedade.

O que fica evidente neste processo é que a terapia psicanalítica tem um tempo que é bem diferente do tempo que a sociedade estabelece para resolução de problemas. Tudo tem que ser rápido porque não se pode parar. Cheguei a presenciar esse tipo de situação. Tenho uma amiga que depois de três sessões, me confidenciou que tinha abandonado a terapia porque queria uma resposta rápida as suas questões.

Freud, Psicanálise e novas tecnologias

Por mais que tivesse dito a ela que os resultados de uma terapia levasse tempo e dependia muito mais dela do que do analista, ela se mostrou cética quanto a esperar, ou seja, para ela o que contava era uma resposta rápida. Importante destacar que a psicanálise não é um campo de conhecimento que tem suas origens sem influências de outras áreas de conhecimento. Freud antes de desenvolver a “a cura pela fala” como método da psicanálise foi estudar as técnicas de hipnotismo com as influencias do Dr. Breuer.

A cura da histeria passava pela recordação induzida de lembranças que pela sugestão da hipnose poderia ir descobrindo suas causas, buscando, igualmente, suas curas. Porém, a partir do caso Anna O., Freud vai abandonado a hipnose para adorar a associação livre. Esse método é a base da psicanálise, porém, outros autores depois de Freud não deixaram de aperfeiçoá-lo e até mesmo de fazer críticas, dentro e fora da psicanálise.

Em alguns momentos, essa definição de teorias e métodos chegou a colocar em cheque o próprio futuro da psicanálise enquanto um campo de saber e de prática terapêutica. Felizmente, o desenvolvimento de teorias e tecnologias faz parte do crescimento de qualquer campo de saber e, porquê não afirmar, até nosso tendo em vista que sempre precisamos aprender. Acredito que o avanço de novas tecnologias trazendo a formação online, com métodos de educação a distância seja o outro lado de um imediatismo que se recusa a deitar no divã.

Conclusão

Quanto mais pessoas tem oportunidade de estudar as obras de Freud e seus seguidores, mais se amplia um leque de informação e formação necessários para que a psicanálise continue sendo um conhecimento inovador. A busca do autoconhecimento não é um tema que nunca esteve em crise.

O avanço de fármacos e de outros campos da mente humana só vem a somar dentro desse processo. A nós estudantes de psicanálise, cabe pensar para além da crítica e está aberto a estes novos campos de estudos, como uma possibilidade a mais de conhecimento, nesse permanente exercício que é tornar consciente o que é inconsciente.

O presente artigo foi escrito por Jorge Alexandro Barbosa de Lima( [email protected]). Estudante Psicanálise do Ibpc. Cientista Social – UFPE Mestre em Ciências Sociais – FUNDAJ

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