Você já ouviu falar em retorno do recalcado ou simplesmente sobre o recalque?
Confesso que nunca gostei muito dessa palavra. E por muito tempo acreditei que recalque era sinônimo de inveja … Também pudera! Todo mundo se referia a alguém invejoso como alguém recalcado e vice-versa.
Então para mim era isso. E acredito que para muita gente continua sendo. Por isso considero realmente libertador o conhecimento!
O retorno do recalcado e Einstein
Einstein já dizia: “A mente que se abre a uma nova ideia jamais voltará ao seu tamanho original.” Acho fantástica essa frase! Se realmente foi Einstein quem disse não tenho certeza, porém sinto-me grata pela oportunidade que estou tendo de adquirir conhecimentos tão valiosos. Hoje sei que recalque é um dos mecanismos de defesa do Ego.
Para proteger nossa psique o Ego jogou para o inconsciente tudo aquilo que foi difícil e insuportável de lidar em determinado momento da vida. Fez isso para nos proteger e nos dar condições de seguir a vida. Para nos poupar de um sofrimento ainda maior. A existência seria impossível sem esse mecanismo!
O sofrimento seria tão intenso a ponto de nos paralisar e nos levar à morte. Conhecendo agora o significado correto, até me simpatizo mais com essa palavra. Ela deixou de ser algo negativo como inveja e passou a ser algo que nos protege.
O avanço e o retorno do recalcado
Um avanço e tanto eu diria! E assim, com nossas experiências recalcadas, fomos seguindo nossas vidas, não da forma ideal, mas da forma que foi possível de acordo com a personalidade que formamos. E aceitar-nos como somos e não como gostaríamos de ser já é metade do trabalho feito! O problema é que a barreira do pré-consciente não é tão forte assim …
Tal qual uma barragem em uma represa, um dia pode romper-se repentinamente e deixar tudo fluir para fora! Uma inundação de recalques! Isso seria um surto psicótico terrível, acredito! Porém o mais comum é que vá deixando escapar a água aos poucos, dia após dia, discretamente, sem fazer alardes.
Essa água que escorre lentamente seria o nosso sintoma que vai surgindo sem nos darmos conta já que acaba fazendo parte da nossa maneira de ser. É o chamado “retorno do recalcado”, segundo Freud. Saber disso fez muita coisa fazer sentido para mim.
O retorno do recalcado para Freud
Explicou por que as pessoas reagem de formas diferentes diante do mesmo estímulo. Cada qual tem seus gatilhos guardados no inconsciente… E eles podem ser disparados de formas diferentes de uma pessoa para outra. É o famoso: “Agora você pisou no meu calo”, ou “tocou minha ferida”, ditos popularmente. Estamos repletos desses gatilhos.
O problema é quando esses sintomas começam a atrapalhar demais nossas vidas. Nossos relacionamentos tornam-se problemáticos, aliás cometemos sempre os mesmos erros mesmo quando não queremos. Criticamos aqueles que possuem as mesmas características que temos recalcadas porque é doloroso demais vê-las refletidas no outro como se fosse um espelho.
A carreira profissional também não flui como se tivesse algo segurando. E tem. O retorno do recalque transformou-se em neurose. E não é simples admitirmos isso. Será necessário muita autoanálise e autoconhecimento. Na maior parte das vezes somente será possível com a figura do analista para dar suporte e, por que não, talvez um pouco de colo.
O Ego zela pela nossa integridade psíquica
O colo que faltou em algum momento para essa pessoa. Aliás quem está ali agora é a criança ferida e não mais o adulto neurótico. De qualquer forma, acredito que a terapia analítica não é indicada para todo mundo. Somente para aqueles que realmente buscam encarar seus monstros psíquicos, ou melhor, seus recalques.
Afinal, se essas experiências foram recalcadas com certeza havia um bom motivo para isso, pois, como sabemos, o Ego zela pela nossa integridade psíquica. Cabe ao analista perceber se seu cliente está realmente preparado para isso. Se já atingiu maturidade suficiente para ressignificar seus traumas, quer sejam reais ou fantasias, dessa vez de uma maneira adulta.
Do contrário será somente uma nova exposição ao sofrimento que o fará reviver todo um passado de angústia sem objetivo curativo. Somente quando estiver pronto e fortalecido poderá acolher sua criança ferida de uma maneira que nunca ninguém fez antes. E essa criança vive no inconsciente e assim como o recalque grita constantemente para ser ouvida.
Considerações finais
Manda sinais, sintomas físicos, atos falhos e sentimentos aparentemente desconexos da realidade para tentar ser notada. Ser percebida, dizer que está ali. Que sempre esteve. Que precisa de atenção, acolhimento. Quer ser ninada.
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É preciso silêncio e introspecção para ouvi-la. Saber quem realmente somos e principalmente porque somos assim. Somente podemos mudar aquilo que conhecemos. E se a mudança não for possível que haja aceitação. Mas uma aceitação consciente e consentida, não imposta.
Para que dessa forma cessem os conflitos internos e possa finalmente surgir a paz, ou ao menos a trégua já que o ser humano está em constante aprendizado e evolução. E novas experiências surgirão. E novos recalques. E novos retornos do recalcado.
O presente artigo foi escrito por Letícia Almeida([email protected]). Mãe, enfermeira, apaixonada pela psicanálise e pelos enigmas da mente humana.
6 thoughts on “O retorno do recalcado: conceito em Psicanálise”
Parabéns Letícia
Que conteúdo esclarecedor e executado com excelência . Estou muito feliz com a leitura e com contexto em geral.
Muito obrigada, Aline!
Que texto leve e prazeroso! Parabéns, Letícia, você tratou de um tema complexo com simplicidade e leveza e foi muito esclarecedor! Obrigada!
Eu que agradeço pelo feedback, Mary!
Seu texto é rico e ao mesmo tempo de fácil compreensão. Gratidão!
Muito obrigada, Gealdo! Fico feliz com o feedback!