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Sexualidade: algo muito mais humano do que possa parecer

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Como debatermos, aprofundarmos ou desenvolvermos mais e novos embasamentos sobre a sexualidade sem ao menos nos preocuparmos em imergirmos em nossa própria história evolutiva e a um importante objeto deste tema, o falo, o pênis.

Entendendo a sexualidade

Lidamos com uma ciência que tem como princípio a hermenêutica (interpretação do que é exposto), e assim sendo, se para sabermos mais sobre as pessoas e auxiliá-las a conhecerem mais e melhor sobre elas mesmas as ouvimos, as interpretamos, para sabermos mais sobre a humanidade.

Acredito que devemos “ouvir” a história para também melhor interpretar o que nos cerca, cercou, entendermos o impacto que estes fatos trouxeram ao nosso processo evolutivo como um todo.

Baseado nessa proposta de “fuçarmos” a história e entendermos um pouco mais de nosso comportamento quanto a sexualidade, vale resgatarmos estudos, registros, tradições, culturas e construirmos um racional que nos conduza a uma melhor interpretação de nossa construção física e psíquica.

Pois bem, vamos aos fatos:

Os antigos egípcios (3.100 a.C a 30 a.C) segundo dados históricos, encaravam a sexualidade sem nenhum tabu e a consideravam algo natural a vida. Acreditavam que o fluxo do rio Nilo originava-se da ejaculação de Atum, o deus da criação.

Todos os anos, o Faraó liderava uma cerimônia em homenagem a este deus que consistia em ir até a margem do Nilo, masturbar-se publicamente e ejacular em suas águas. Após o Faraó fazer isso, os outros homens presentes faziam o mesmo.

David Director Friedman, escritor, em seu livro Uma Mente Própria – A História Cultural do Pênis, descreve um ritual de veneração ao falo como símbolo de poder, força e coragem por volta do ano de 275 a.C.

A sexualidade na Grécia antiga

Moradores de Alexandria (um dos maiores impérios que a humanidade já conheceu e viveu) erigiam um monumental falo dourado com 55 metros de comprimento, enfeitado com uma estrela na ponta e o levavam pela cidade, onde milhares de pessoas entoavam poemas homenageando o astro da festa, suas qualidades e beleza.

Na Grécia antiga, pertencente a um período dos séculos XIV a IX a.C. até o fim da antiguidade em 476 d.C, homens mais velhos denominados “erastes” tinham relações com homens jovens entre 12 e 18 anos, os “eromenos” e adotavam esta prática como forma de ensinar-lhes o sexo. Porém, os gregos não aceitavam relações entre homens da mesma idade ou classe social, pois o sexo era visto como um ato de poder e quem ficava “por baixo” durante a relação perdia prestígio.

Na cidade de Pompéia, por exemplo, no antigo Império Romano (27 a.C a 476 d.C), era comum colocar uma imagem fálica na porta de entrada das casas, ao lado da frase: “Aqui mora a felicidade”. Não tratava-se de nada ligado a prostituição, mas somente de uma moradia que queria atrair sorte e afastar os espíritos das trevas.

Sexualidade e forças criadoras

Egípcios, gregos, romanos usavam a imagem do falo para representar as forças criadoras e fecundas do Universo, o poder gerador da natureza.

Falamos de civilizações, sociedades que através de seu domínio, desenvolvimento e evolução em inúmeras áreas do conhecimento influenciaram toda a humanidade em seus respectivos períodos nos deixando um imenso lastro histórico. (Fontes: www.revistabula.com/18340-10-tradicoes-sexuais-chocantes-ao-redor-do-mundo/ , www.super.abril.com.br/historia/com-voces-o-penis/ e www.historiadomundo.com.br/idade-antiga)

Um festival que acontece no Japão, baseado em mitos e crenças milenares (mais de 1500 anos) enaltece um pênis com 2,15 metros de comprimento e 320 quilos é carregado por 2km e exibido a uma multidão, em uma crença anterior sobre a fertilidade, prosperidade e proteção a população, mas que atualmente destaca a diversidade (Fonte: www.terraavista.blogsfera.uol.com.br/2019/04/06/no-japao-festa-do-penis-era-sobre-fertilidade-hoje-e-sobre-diversidade/ ).

O símbolo de poder

Existe abundante material sobre fatos retratando a importância e destaque dado ao falo, enquanto símbolo de poder, força, coragem, criação, vida e com isso toda uma cultura, costumes, valores, princípios, crenças geradas ao longo de milhares de anos e que possivelmente influenciaram e nos influenciam até hoje de várias formas.

Temos de nos atentar também aos mesmos comportamentos contrários e que por motivos claros, e de adequação social foram inseridos e impostos a humanidade, trazendo um choque, um movimento conflitante quanto ao que se tinha como “adequado”, livre.

Por isso, vale trazermos mais informações históricas e que retratam uma mudança “pesada” quanto ao mesmo objeto, o falo. Segundo dados históricos o caráter sexual quanto ao falo entrou em jogo por volta do século II a.C, quando começou a ser usado como arma de sedução.

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    A puberdade

    Sem cerimônias, os gregos mostravam-no publicamente (traços de exibicionismo) para conquistar donzelas e efebos e se exercitavam nus nas arenas esportivas. Na Europa, por exemplo, tudo ia muito bem, todos estavam felizes expondo suas formas, até o século V, onde com o crescimento da influência cristã, o pênis, um ícone da força pagã, ganhou o título de vara do demônio.

    “Em uma cultura na qual a virgindade passa a simbolizar a pureza, o membro masculino representava tudo que era maléfico, vergonhoso e destruidor”, diz David D. Friedman. Afinal, o próprio Cristo teria sido gerado sem a participação do pênis.

    Essa linha de pensamento tinha um porta-voz: Santo Agostinho (sempre ele). “O pênis é a gargaleira poluída por onde emerge o mais obsceno dos eflúvios, o sêmen”, escreveu o célebre pensador da Igreja. Até o século XV, para possuir, expor ou utilizar um “pinto” deveriam se seguir regras tão restritivas que infringi-las poderia acabar em prisão. Usá-lo para obter prazer sem procriar, por exemplo, era um pecado diante de Deus e um crime perante a sociedade.

    A sexualidade na Inglaterra medieval

    Na Inglaterra medieval, mais precisamente no século VI, assassinos eram condenados a sete anos de reclusão, enquanto homens que recebiam sexo oral podiam pegar prisão perpétua. O falo em riste, antes associado à fertilidade, poder, força, coragem, criação, passou a ser a imagem dos sofrimentos infernais. O rigor religioso tampouco poupava os homens com problemas de ereção.

    “A incapacidade de procriação era considerada um desvio de conduta moral, uma condenação divina. Falhas sexuais comumente serviam de justificativa para a dissolução legal do casamento”, afirma Friedman.

    Não era à toa que alguns homens adotavam medidas extremas, cortando o mal pela raiz. “Castrar-se chegou a ser uma prática comum entre religiosos e sacerdotes, que entendiam que dessa forma estariam eliminando sua faceta selvagem e mundana.” Durante séculos, em diferentes culturas foi comum a figura do eunuco.

    A sexualidade e castração

    A castração era feita geralmente na infância e consistia em abrir o saco escrotal e remover os testículos. Em alguns casos, também era retirado o falo. Na China, durante mais de 3 mil anos, os funcionários do palácio real eram eunucos. Treinados em técnicas militares, extremamente cultos e bem relacionados, em certos períodos eles tiveram mais poder que o próprio imperador.

    O último deles morreu em 1996, aos 94 anos. Na Itália, cantores de ópera tinham os testículos removidos para conservar o timbre agudo da voz. Os castrati surgiram no século XVI, quando as mulheres foram banidas dos palcos, e foram proibidos pelo papa Leão XIII, em 1878.

    Ainda hoje, na Índia, os hijra constituem uma casta de eunucos com mais de 1 milhão de pessoas (Fonte: www.super.abril.com.br/historia/com-voces-o-penis/).

    Nossa influência

    A ideia em trazer um pouco da história e suas vertentes quanto ao falo é não só “ouvirmos a história”, interpretá-la e com isso termos melhor embasamento sobre nossos fatos e influências, mas destacar como dentro de mesmos períodos damos como civilização, como humanidade, destaque, ênfase, características, crédito ou descrédito em relação ao mesmo objeto, como nós mesmos promovemos a ambiguidade diante da identificação de vantagens ou desvantagens que a “manipulação” daquilo que nos interessa e da forma que nos interessa pode promover.

    Se somos um produto do meio, se somos diretamente influenciados, modificados e internalizamos conflitos, reprimimos nossos traumas, sofremos com muitas de nossas questões, temos de entender mais sobre a origem das coisas, é uma questão de causas e efeitos, estímulos e respostas e tudo construído ao longo de um extenso período.

    Precisamos entender como nossa própria ambiguidade, como nossa divisão de interesses nos constrói, estrutura e depois se refaz diante do antagonismo sobre as mesmas situações. O exemplo está nestes dados históricos sobre toda associação de poder dada ao falo durante séculos, talvez milhares de anos, como isso não só influenciou e determinou a nossa sexualidade como espécie, mas fez evoluir em nós estruturas psíquicas direcionadas a essa valorização a essa associação do “ter poder através de algo natural e presente nos machos de nossa espécie”.

    O símbolo pagão

    E, posteriormente, o conflito gerado quanto a uma nova abordagem sobre o falo, tendo-o como símbolo pagão, gerador de pecado, gerador de influências negativas, gerador de sofrimentos.

    Como essa introdução ambígua quanto a algo que até então era fiel imagem e culto ao poder, força, coragem, prosperidade, fertilidade ganha tons conflituosos, problemáticos e adotado e difundido por uma instituição de extrema influência e poder na época e que se estende até os dias atuais.

    O pensamento é o quanto carregamos como civilização, sociedade, como espécie dessa carga hereditária biológica em todos os sentidos, cultural, psicológica e mesmo espiritual. Somos claramente um subproduto de nós mesmos, e reforçando, modificado e influenciando pelo meio desde nossa concepção, trazemos em nós fatores inerentes a nossa espécie como a sexualidade.

    Freud e a sexualidade

    Freud trouxe isto à tona, tentou tratar com maior ênfase, porém e talvez em função dos costumes e ainda mais limitações de sua época, a tratativa foi extremamente velada e com isso a evolução de algo tão importante à nós, não tenha sido desenvolvido como deveria.

    Aparentemente há ainda muita confusão entre sexualidade e sexo na interpretação das pessoas e somente quebrando este tabu e até mesmo confusão mental, poderemos evoluir mais neste importante e definidor aspecto da nossa espécie e assim nos entendermos melhor, atenuarmos nossos conflitos naturais. Penso e afirmo que nossa sexualidade, assim como inúmeras espécies, começa na concepção do ser.

    Quando falamos das fases do desenvolvimento psicossexual, sendo elas a oral, anal, fálica, latência e genital cabe provocarmos uma linha de pensamento mais enfática sobre nosso comportamento e tudo que nos cerca. Falamos e vivenciamos complexos, Édipo (Freud) e Electra (Jung), fases onde no simples ato da alimentação de um “incapaz”em sua fase oral, temos a identificação de traços de prazer; ou melhor dizendo satisfação por saciar a fome?

    A busca pela sobrevivência

    A questão é que dentro de nossas fases a solução ou não daquilo que as cerca, influenciará ao longo de nossas vidas, porém se tivermos a nossa capacidade de entendimento sobre nós mesmos ampliada e tratada sem maiores traumas, talvez possamos resolver conflitos simples gerados talvez pelo não entendimento daquilo que somos como animais. Animais territorialistas e em busca de sobrevivência, preservação e satisfação que somos, carregamos verdadeiramente complexos como Édipo e Electra?; ou diante de nossa necessidade de economia de energia (“Lei do mínimo esforço”), de nossos instintos naturais atuando, bem como a convivência sob a ótica da preservação dada a nós por nossos “cuidadores” durante fases impactantes e determinantes de nossa vida.

    Visualizamos nestes mesmos “cuidadores” a facilidade da extensão de nós mesmos, da nossa perpetuação, até mesmo de nossa satisfação e com isso iniciamos uma disputa de território que envolve “machos e fêmeas” e tudo isso dentro de ambientes por nós mais conhecidos (o familiar por exemplo), ambiente apresentado com maior amplitude e opções de facilidade até então?

    Como citado mais acima, qual a carga hereditária, em todos sentidos, quanto a atribuição de poder, força, coragem, etc…, bem como toda a carga de negativa e suas consequências dadas ao falo durante séculos, talvez milênios influenciou toda nossa estruturação?

    A fase de latência e a sexualidade

    Observamos por exemplo que a fase de latência (6 até puberdade) apresenta-se como um período de “dormência de nossa sexualidade”, onde direcionamos nossa energia pulsional para outros objetos, a libido ganha outro fluxo.

    Mas se pensarmos socialmente no que ocorre nessa fase de nossas vidas, como exemplo a idade em que, como vias gerais, vamos para escola e ganhamos acesso a um novo território, somos apresentados, expostos, mais envolvidos e já capazes de maior participação espontânea a novas situações de interação como “igreja”, amigos da rua, condomínio, o curso de idiomas, instrumentos musicais, reuniões com “amigos dos pais”, reuniões familiares, a própria interação como grupos variados de forma digital em função da alfabetização.

    Posteriormente a fase genital, a identificação natural de que estamos mais “prontos” e então a ebulição dos instintos e desejos sexuais, e aparentemente, com nossos conflitos, complexos da fase fálica “mais resolvidos”.

    O questionamento e provocação que fica é:

    Quanto o mundo atual, de comportamentos sociais cada vez mais “individualizados” tem provocado em nós maior dificuldade de vivenciarmos e resolvermos nossos conflitos/complexos?

    Me parece que a nossa exposição a ambientes diversificados, associados a evolução do conhecimento nos faz naturalmente enxergar e gerar em nós mesmos a identificação de possibilidades, opções e de direcionarmos nossa energia pulsional, nossa libido para rumos, para fluxos mais amplos e diferentes.

    Uma criança, um “incapaz”, que vive sob proteção exagerada, que não vivencia possibilidades, opções, que tem suas necessidades, suas demandas resolvidas por seus provedores com frequência, de que forma internalizará e vivenciará o ambiente?

    As parafilias

    As parafilias, este ato em buscar prazer de outras formas que não o contato dos órgãos genitais propriamente dito, os traços de sadismo (obter prazer causando algum sofrimento, dor), masoquismo (obter prazer recebendo algum sofrimento, dor), exibicionismo (mostrar-se e obter prazer, excitação antes e depois do ato), fetichismo (a fixação em objetos que promovem a excitação, prazer), pedofilia (o prazer, excitação de atos sexuais com crianças, e certamente o mais grave entre todos sob a ótica da incapacidade do ser envolvido), etc…, como elas vem se desenvolvendo ao longo do tempo e perante a nossa atual sociedade, uma vez que não só a preservação, a proteção exagerada de cuidadores, provedores, pais em relação às crianças, a própria individualização do ser tornado-se cada vez mais presente e aparentemente tomando uma forma desestruturada?

    Falamos e damos voz cada vez mais as questões de identidade de gênero, homosexualidade, criamos cada vez mais siglas, geramos parâmetros de identificação e opções quanto a tentarmos “identificar” as pessoas, criamos opções de identidade à quem já tem identidade muito bem definida, “SER HUMANO”.

    Como direcionarmos tudo isso da forma mais assertiva e menos conflitante possível, se nossa sexualidade como espécie, sua identificação sem tabus, paradigmas sofre com a própria identidade? Usamos ainda o termo sexualidade infantil, quando e talvez, devêssemos tratar não simplesmente, mas complexamente como sexualidade humana.

    Provocações sobre a nossa sexualidade

    Freud fez emergir todo este conteúdo provocativo sobre nossa sexualidade, assim como outros estudiosos fizeram e vem fazendo suas colaborações, mas atrevo-me a dizer que parecemos negligenciar aquilo que somos de fato e ainda colocamos essa determinante questão de nossa espécie sob camadas protetoras.

    Talvez façamos isso embasados na mesma motivação passada, onde por um longo período exaltarmos o falo e diante da identificação e motivação de alguns de nossa espécie quanto a possíveis ameaças particulares ou sociais, passamos a discriminá-lo e a gerarmos o tal conflito de interesses, conflito que geramos em inúmeras frentes e não só quanto a sexualidade.

    Para pensarmos:

    – Somos uma espécie, e é só uma percepção pessoal, que parece operar sob um regime binário, isso mesmo, sob SIM ou NÃO.

    E lidamos bem com isso, pois SIM ou NÃO remete a um princípio simples, básico, objetivo e definidor, algo que de fato nos alimenta, nos serve como combustível e não nos confunde, que é a chamada VERDADE.

    A questão é que para satisfazermos nossas vontades, desejos, mesmo que de forma parcial e sem darmos como resposta SIM ou NÃO, bem como assumirmos as consequências deste ato simples e direto, nossa inteligência, nosso sistema de defesa gerou o TALVEZ e abrimos a nós mesmo um leque de opções.

    Conclusão

    O TALVEZ nos desequilibra, nos gera conflito, nos coloca em um looping constante na busca por soluções que muitas vezes, não chegam, e não as encerramos, não resolvemos, todo sistema entre em um looping, e sabemos bem que todo sistema em constante fluxo dentro dele mesmo sem encontrar a solução, a resposta, buga. Por que trazer esta proposta à tona?

    Porque para todas as nossas questões criamos cada vez mais opções e se para uma questão tão importante quanto a nossa sexualidade, não criarmos um ponto definidor em relação a nossa espécie, o que teremos cada vez mais é a busca em gerarmos cada vez mais opções de identificação, sem atuarmos na real causa e com isso, certamente abriremos as portas para cada vez mais conflitos internos.

    Este artigo sobre sexualidade humana foi escrito por Alison Marcolongo([email protected]), paulista, nascido em 1976 na cidade de Araraquara. Apaixonado por pessoas e constantemente motivado a tentar auxiliar de alguma forma o melhor entendimento do ser humano por ele mesmo. Tentando aprender e ser mais sábio diariamente, bem como trocar esta sabedoria adquirida com o meio constantemente, visando um legado construtivo e colaborativo. Administrador de empresas com MBA em Gestão Estratégica de Pessoas pela FGV. Um apaixonado por pessoas.

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