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Sintomas psíquicos: identificação e superação

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O presente artigo propõe-se a salientar algumas considerações a respeito da busca por superação de sintomas psíquicos considerando o gozo do sintoma, o processo de ressignificação levianamente por vezes entendido como uma cura, e a compreensão de que, uma vez sendo o sintoma reflexo das vivências de um indivíduo, faz-se então parte literalmente essencial da forma como o indivíduo é reconhecido e reconhece a si próprio.

Gozo do sintoma psíquico e sua ressignificação

“Enquanto o corpo biológico obedece às leis da distribuição anatômica dos órgãos e dos sistemas funcionais, constituindo um todo em funcionamento, isto é, um organismo, o corpo psicanalítico obedece às leis do desejo inconsciente, constituindo um todo em funcionamento coerente com a história do sujeito.” (Fernandes, 2003, p. 2)

São inúmeras as formas pelas quais podemos verificar o gozo do sintoma ou a partir do sintoma nos indivíduos neuróticos, uma vez que o próprio sintoma em si faz parte de como o neurótico reconhece a si próprio.

“O corpo, originalmente fonte ilimitada de gozo, torna-se lugar simbólico de trocas, ou seja, passa, a obter seus ganhos de prazer, pelo trabalho da fantasia e da fala. É por isso que se passa do gozo do ser ao gozo fálico, prazer mitigado, feito de afastamentos e decepções. Do gozo primeiro só testemunham os objetos fantasmáticos que produzem o desejo.” (Bidaud, 1998, p. 104).

Os sintomas psíquicos e o setting analítico

Por conseguinte não é incomum verificarmos tanto no setting analítico quanto em observações cotidianas alheias à posição de analistas, a grande exposição de discursos que salientem versões sintomáticas de formas de sofrer em demasia como consequência da busca por acolhimento, de modo que a manutenção do sintoma se torna condição “sine qua non” para assegurar o “conforto emocional” almejado.

“A castração significa que o gozo, estando perdido, deve ser significado, definido, cercado, evocado com o entretecido de fios significantes que desenham seus reservatórios, estagnam-no, acumulam-no, evitam sua dispersão. A castração é um condensador de gozo que o torna subjetivável, subjetivo e, ao mesmo tempo, estranho, extimo; vetoriza-o, canaliza-o, assina-lhe e lhe proíbe caminhos.” (Braustein, 2007, p. 145 e 146).

Como inúmeras vezes relatado na literatura psicanalítica, os sintomas fazem-se a mais alta expressão da história de um indivíduo, sendo então o sintoma a manifestação em essência desse mesmo indivíduo; o que nos leva novamente à proposição Lacaniana de que seriam os sintomas o mais próximo do Real por nós alcançável, a manifestação de um gozo fundamental ou o próprio gozo em si como conceitua Lacan ao definir que “por natureza, o sintoma não é como o acting out, que pede a interpretação, pois – esquecemos isso em demasia – o que a análise descobre sobre o sintoma é que ele não é um apelo ao Outro, não é aquilo que mostra ao Outro. O sintoma, por natureza, é gozo, (…) gozo encoberto (…), ele se basta.”.

A pulsão e os sintomas psíquicos

“Nesse momento originário e mítico, já se introduz o que podemos ler como sendo a divisão constitutiva do sujeito. Por um lado, algo do corpo, da vida que urge, exigindo uma satisfação e, por outro, a impossibilidade dessa satisfação plena e completa, na medida em que aos objetos do mundo faltará sempre um atributo que devolva essa satisfação total. […]

A pulsão, em sua exigência incessante, promove o trabalho significante do inconsciente e, ao mesmo tempo, aponta para o limite do que aí se constitui como saber. É esse limite que vem franquear a noção de pulsão de morte, um conceito que, obtido da compulsão à repetição, abrange o conjunto dos fatores que fazem obstáculo aos remanejamentos inconscientes da metáfora e da metonímia, regidos pelo princípio do prazer.

O conceito de pulsão de morte é indicativo de uma zona silenciosa que faz limite às possibilidades infinitas da rememoração e, por conseguinte, aponta para o limite da dimensão clínica da interpretação, solicitando uma outra operação, a “construção” em análise.” (Penna, 2003, p.51,66)

Termos psicanalíticos e os sintomas psíquicos

Por isso em termos psicanalíticos faz-se impraticável uma concepção “comum” de cura sintomática, uma vez que não existe outra forma de cura para a existência que não a morte.

Curar o sintoma seria em suma curar o indivíduo de sua trajetória histórica, trajetória essa pertencente a um passado por si só inalterável, porém acertadamente ressignificável, sendo assim, a dissolução do sintoma um fenômeno de ressignificação e não propriamente de cura, fazendo-se a partir da abordagem psicanalítica, uma nova proposição de convívio do indivíduo para com sua história, consequentemente uma nova proposição do indivíduo para com sua verdade essencial.

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“No caso de um paciente que se apresenta ao analista com uma ideia obsessiva que o faz sofrer, é preciso que esse sintoma, que é um significado para o sujeito, readquira sua dimensão de significante, implicando o sujeito e o desejo.

Considerações finais

O sintoma, aparecendo como um significado do Outro — s(A) —, é endereçado pela cadeia de significantes ao analista, que está no lugar do Outro — (A) —, cabendo-lhe transformar esse sintoma na questão que Lacan denomina “Que queres?” (che vuoi?), questão chamada desejo. O desejo é, pois, uma questão que cabe ao analista introduzir nessa dimensão sintomal.” (Quinet, 2009 p.17)

O presente artigo foi escrito por Daniel S é Psicanalista Clínico, autor, colunista, coordenador do espaço MinhaTerapia.org e colaborador literário em Psicanálise, Filosofia e Cultura. Perfil no Instagram dedicado à exposição de conteúdos Psicanalíticos autorais e clássicos: @psicanalise.br

 

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