sobre a nova ordem

Sobre a nova ordem: contexto pós-pandemia

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Sobre a nova ordem, vamos para quarta-feira, 10h35mim. Tudo muito calmo numa típica cidade do interior. Pouco movimento de veículos na rua. Os trabalhadores da limpeza cuidando das praças. Algumas clínicas médicas com pacientes aguardando atendimento. O carro de som que anunciava a vacinação de crianças e a dose de reforço para adultos da vacina contra o COVID-19.

Entendendo sobre a nova ordem

Seguia lentamente na minha bicicleta para uma pequena loja de peças de um velho amigo de escola. Vou chamá-lo de ‘L’ para resguardar sua identidade. Somos conhecidos dos idos da escola. ‘L’ sempre foi mais atento as questões da cidade, muito mais politizado e preocupado com a assuntos dentro e fora da cidade. Lembro que em um dos encontros com os colegas, que fazíamos na porta da igreja matriz da cidade, falávamos dos tempos de ensino médio, das namoradas e das festas no final de semana.

No meio da conversa ‘L’ parou a todos e disse: – Pessoal começou a terceira guerra mundial. Será que dessa vez irão usar as armas atômicas? – ‘L’ referia-se aos inícios dos ataques da Guerra do Iraque em 2003, quando houve uma grande força militar de coalização liderada pelos EUA. O inicio desse conflito chamou atenção devido a cobertura em tempo real e as imagens de bombardeios sendo transmitidas ao vivo. Paramos a conversa. Ficamos em silêncio por algum tempo. – Vocês não acreditam? – ‘L’ completou.

A partir dali a gente falou sobre guerras, filmes de guerra e se estaríamos preparados para lutar num grande conflito. Ainda não tínhamos a mesma quantidade de informação de hoje, a televisão ainda era o meio mais influente de informação. Ainda quando nos encontramos fazemos questão de lembrar daquele fato: “Lembra daquele dia que falávamos da guerra?” Em geral rimos. Mas como tinha dito antes: Precisava comprar uma peça para bicicleta.

Sobre a nova ordem da pandemia

Depois de feito as compras com as devidas reposições na bike. Ficamos conversando sobre o cotiano, quando enfim ele me fez a pergunta: – Jorge. Você tomou a vacina? – ‘L’ me perguntou. – Tomei as três doses. Se tiver uma quarta, quinta, sexta doses vou tomar – respondi de modo natural, expressando minha concordância. – E essa vacina com crianças? – ‘L’ perguntou. – Meu filho se vacinou ontem. – Teve reação? – ‘L’ perguntou – Não. Está super bem. – E o que você acha da nova ordem mundial que tentam implementar? – ‘L’ fez essa pergunta com a mesma naturalidade das demais e continuou – Ainda não vacinei meus filhos. “Nova ordem mundial”.

Confesso que não sei do que se trata. Apesar de ter minha primeira formação em Ciências Sociais o termo sobre nova ordem não parecia está ligado ao que ele tinha chamado de “nova ordem”. Mas pergunta estava lá: “O que você acha sobre a “nova ordem mundial”? Depois de uma breve pausa respondi: – Não acho nada. Nem sei que nova ordem é essa. Acho que as pessoas falam de poder, de controle mas o que sabemos sempre é muito pouco.

Acho que independente de nova ordem há fatos que mostram que devemos nos cuidar, tomar vacina e, enquanto, não existir algo melhor, continuar seguindo as recomendações da ciência. – E essa coisa que falam das vacinas? – insistiu ‘L’. – Aquilo que não me prejudica, me ajuda. Não vejo porquê ter medo – respondi. Vi que nesse momento chegamos a posições bem diferentes sobre o que ele chamou de nova ordem.

O que seria essa nova ordem?

Depois deste assunto puxamos outras conversas e ideias e nos despedimos. Mas o assunto me deixou pensativo. Como estudante de psicanálise lembrei de alguns texto de Freud que trata do mal-estar na civilização (em Mal-estar da Civilização – minha tradução é da edição da L&PM), outro título que recordei foi “O futuro de uma ilusão (também da editora L&PM). Nas duas obras Freud faz uma reflexão sobre as causas do sofrimento, das angústias trazidas por um dado modelo de sociedade.

Para Freud a cultura, como base da fundamentação da sociedade exerce o papel de livrar o homem do medo do perigo da natureza, embora Freud afirmava que essa mesma cultura que nos serve como instrumento de construção de um projeto de civilização é a mesma que alimenta medos, culpas e misérias. Nas palavras de Freud: “Contra o temido mundo externo não é possível defender-se de outra maneira senão por alguma especie de afastamento, caso se queira resolver a tarefa por si mesmo.

Há, todavia, um caminho diferente e melhor: na condição de membros da comunidade humana, passar a atacar a natureza e a submetê-la a vontade humana com a ajuda da técnica guiada pela ciência” (FREUD, Sigmund. O mal-estar na cultura. Porto Alegre: L&PM. p. 65 – O mal-estar na cultura) Neste sentido o mal-estar estaria na incapacidade desses mesmos projetos darem conta da complexidade da existência do homem, as instituições com um papel de ajudar e regular são as mesmas que podem gerar medos, incertezas na vida das pessoas.

Conclusão

Quando meu colega de escola ‘L’ falou dessa nova ordem lembrei dessas duas referências. Freud como homem que conhecia seu tempo, percebia isso como consequência, claro que ele não estava falando de nova ordem, mas de um modelo de sociedade, de estrutura de sociedade em futuro de uma ilusão lê-se argumentos parecidos reforçando o papel das instituições em contradição com essa luta dos nossos instintos, ou melhor interpretando, com nossas pulsões.

Refletindo sobre essas questões vejo que a psicanálise continua mais atual e importante na compreensão não só da realidade social, mas, principalmente, na compreensão de nossos medos, nos ajudando a superar as dificuldades a partir do processo de análise, dos estudos produzidos nesse campo de conhecimento.

O presente artigo foi escrito por Jorge Alexandro Barbosa. Estudante de Psicanálise do IBPC; Mestre em Ciências Sociais; Professor; e-mail: [email protected]

3 thoughts on “Sobre a nova ordem: contexto pós-pandemia

  1. A questão da vacina é porque a da picada de cobras, sempre é difundido a modalidade soro e, não é por acaso: o sistema imunológico produziria anticorpos em tempo superior, ao despendido pelo veneno da cobra, para atuar! Isto posto, porque num contexto pandemico a população esteja sendo vacinada, em sua grande maioria, com formulação de “vírus (supostamente) atenuado”, onde a letalidade voltou naqueles que receberam mais doses e, se lembram que a prioridade, pasmem, foi dada a “organismos com comorbidades”, logo, enfrentando (dependendo de) medicações de uso continuo! Pois bem, quando começaram a ser difundidos os “efeitos colaterais” de febre alta e neuropatias, perguntei as autoridades em Saúde, se eu poderia contar com Cuidador, bancado pelo Estado, se viesse a precisar, já que pelo meu histórico médico, há grande possibilidade de precisar se me vacinar e não me foi dado resposta, expressa! Uma mãe de Blumenau, vacinada, mas que perdeu o filho em decorrência da vacinação, clamou ao Ministério da Saúde ser levado em consideração a situação de cada cidadão, para evitar que outras mães passem pela dor dela! O fato, foi como se diz “abafado”, afinal sabemos o lobby e a força da Indústria Farmacêutica, que conseguiu impor ficar isenta de indenizações como poderia, vir a pleitear, a mãe enlutada, anteriormente mencionada!

  2. Mizael Carvalho disse:

    Muito bom artigo! As palavras de Freud, nos diz tudo por esse período pandemico que passamos. “Contra o temido mundo externo não é possível defender-se de outra maneira senão de alguma espécie de afastamento. ” Apesar de criticarem o capitalismo, muitas vidas foram abreviadas por questões econômicas! Se não fosse verdade porque logo de início eles não assumiram a responsabilidade!

  3. Um tema bastante complexo e polêmico, portanto nada fácil. Essa questão de “nova ordem” é bastante atual e demanda conhecimento em áreas como a sociologia e a economia e o foco na psicanalise o torna mais atraente. Adoraria ler mais sobre.. Achei ótima inspiração para as redações, pois como aluna, no 7°módulo, ainda sinto dificuldade em formular ideias e construir textos com alguma consistência. Parabéns pela escolha do tema pelo artigo.

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