É um desafio falar sobre o amor. Afinal, o amor é falado em todo lugar, embora não saibamos bem o que é amor. Quando vemos o que outra pessoa pensa do amor, podemos até nos sentir “atacados”, pensar: “isso não é amor”. Às vezes você já percebeu que não há amor onde o outro acredita que exista, você tem outra visão, ou nem sentiu nada disso, pensa ser uma fantasia.
Diferentes janelas
Cada um tem uma noção de amar. Se alguém apenas viu pessoas reclamando sobre não serem amadas, exigindo amor para terem uma postura ética, e não o dando a ninguém, provavelmente vai se questionar onde está amor nisso. Se não viemos de lares onde havia amor, será mais difícil perceber o que é amar ou até acreditar que ele exista.
Frequentemente repetimos padrões do ambiente no qual fomos criados. Quando crianças podemos até perceber o que não é amor, mas, ao mesmo tempo, vamos assimilando a ideia de amor que vemos para sobreviver.
Assim, amar é perceber que cada um está tendo uma trajetória de vida, vendo o tema amor por janelas diferentes. Quem sabe, um dia, todos já vão ter passado por todas as janelas, e nem vão estar olhando para fora, mas para dentro, buscando o ele em si mesmos.
Afeições
Na vida desenvolvemos uma sequência de diferentes afeições. A criança tem interesse por seu dedo, seu brinquedo, no envolvimento entre seu pensamento e o meio. Nisso, as primeiras trocas entre o seio materno e o bebê são, como sabemos, muito importantes.
O grau de envolvimento passa pelas necessidades de alimento e prazer. Em algum momento da infância poderá vir o pensamento de que “não é bom amassar o brinquedo”, “não é bom morder pessoas”, desenvolvendo a consideração pelo que o outro sente, a empatia. O amor se desenvolve dessas formas, inclusive o amor ágape, o amor incondicional, ao desejarmos o bem do próximo, apesar das próprias frustrações.
Ter pensamento de respeitar todas as formas de vida, e que cada um atinja o seu potencial, sem expectativas, sem pedir nada em troca, nem mesmo o prazer de ver isso acontecer. E o amor provavelmente vai além, com considerações cada vez mais abrangentes sobre diversos aspectos, que o pensamento humano ainda nem conseguiu atingir.
A ética sobre o Amor
O amor, em geral, poderia ser visto como função que engloba o autoamor e o coletivo, pedindo mais inclusão. Não há barreiras emocionais para quem sente amor.
Imaginemos um responsável não avisar uma criança sobre seu comportamento agressivo com outras crianças. Ou não proteger a criança do perigo. Essa falta de orientação aqui e ali acabará impactando bastante aquela vida em formação.
Com o amor sabemos que estamos em processo contínuo de aprendizado e tentamos perceber o impacto de nossas ações sobre nós mesmos e sobre todos. O amor vai dando cada vez mais coragem para não aceitar benefícios do caminho sem ética.
Evolução psíquica
No amor também levamos em consideração a evolução psíquica das espécies. Imaginemos o que seria de nós se os homens das cavernas sempre agissem de modo a não avisarem seus parceiros de algo ruim, entre tribos ou filhos, estando mais preocupados com alguma vantagem pessoal.
Se fosse assim, não estaríamos aqui hoje, ou viveríamos num mundo muito mais violento. Então, que bom que pessoas no passado nos amaram, mesmo sem nos conhecer, até sem perceber que estavam fazendo isso.
Pessoas amaram o coletivo para que estivéssemos aqui, apontaram equívocos, mesmo que muitos não gostassem disso.
Libertar-se de ideias fixas
Se até pessoas desconhecidas já nos auxiliaram com suas decisões sobre o amor, ainda há os que aprenderam que somente “determinadas pessoas amam, ou amam mais”. Às vezes essas são ideias fixas sobre pessoas e amor.
Se pensarmos assim, não evoluiremos como espécie, colocaremos um limite no amor e deixaremos a tarefa de amar apenas para algumas pessoas, o que é um peso grande e injusto.
Reconhecer a natureza dos seres sobre o Amor
Muitos não sabem que aqueles que amam não têm capacidade de amar. Alguns esperam um amor que nunca vão receber, adoecendo com isso.
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Existem pessoas, como nos casos de transtornos de personalidade antissocial, narcisista e condições neurológicas, que não têm como amar.
Alguns exigem da criança em desenvolvimento uma capacidade de compreender palavras, atitudes, que ainda são incompatíveis com a idade, o que também é algo injusto. Assim, perceber a natureza do outro faz parte de amar.
Apegos
Quando o universo se formou, no “Big Bang”, as partículas foram cada qual na sua trajetória, realizando combinações estáveis aqui e ali, mas seguindo um caminho de expansão contínua. Podemos perceber que não há apego nessa concepção, da qual surgimos.
Quando estamos sobrecarregados por relações abusivas, ou quando quisermos que alguém fique conosco, independentemente do que esta pessoa esteja sentindo, podemos nos lembrar disso. Às vezes o amor já pode estar pedindo algum afastamento, para que o autoamor possa se fortalecer.
União sobre o Amor
Simbolicamente, podemos notar que é possível nos prendermos pela sombra, ou nos unirmos pela luz.
Quando há falta de algo em nós, podemos nos aproximar de pessoas e coisas buscando esse algo. Assim, essa afeição fica de alguma forma atrelada a uma falta, ainda que inconscientemente.
Quando amamos sem a necessidade de um suprimento, podemos notar um caminho mais livre, sem tantas prisões emocionais, que é o que em grande parte faz as pessoas sofrerem no amar.
Aceitação
Muitos sofrem com o que outros escolhem para si. Amar é saber viver sem o benefício que aquela pessoa nos daria se ela fosse e fizesse o que queríamos.
É fácil amar esse alguém da nossa imaginação, difícil é amar aquele que não nos dá satisfação e saber liberar essa pessoa. Nem sempre o que queremos é o que o outro deseja, às vezes o que queremos é algo que pode levar o outro ao desequilíbrio.
Aceitar que cada um possa fazer suas escolhas para amadurecer de forma independente é uma das faces do amor.
Transformar a comunicação
Um motorista consciente levará em consideração diversas variáveis para não provocar um acidente, ele provavelmente não irá pressionar situações ao volante.
No amor também há essa preocupação, a começar com a comunicação. Consideramos que a comunicação imatura ou violenta do outro possa colocar outros em risco.
Dessa forma, não nos engajamos em situações assim, mas buscamos um espaço saudável de convivência.
A importância do amor
Às vezes percebemos que uma pessoa tem uma visão um pouco restrita de amar. O que podemos observar é se essa visão ainda é importante para ela, naquele momento da sua trajetória.
É como se a pessoa andasse por um caminho sem calçamento ou precisando de reformas, mas ainda sobre um chão. Podemos refletir se não seria falta de amor “tirar o chão” dessa pessoa, sem outro estar ao seu alcance.
Construímos o amor com decisões pessoais de amadurecer. Por mais que falemos em amar, cada um irá buscá-lo da forma que sabe e consegue. Às vezes é como dar um salto rumo ao desconhecido. A decisão de dar esse salto é de cada um.
Sobre a Autora: [Regina Ulrich, [email protected]] é autora de livros, poesias, tem PhD em Neurociências, e gosta de contribuir em atividades de voluntariado.
1 thoughts on “Sobre o Amor: o que é, como funciona”
Primeiramente Gratidão por compartilhar.
O texto acima é de grande relevância.
Creio eu, diante as vivências praticadas no exercício do amor, que de fato percebe- se também que o amor é doação. Porém muitos, o ofertam dentro dos parametros daquilo que recebeu.
A manifestação diante as formas de amar, podem ser transmutada a partir de novas vivências relacionais, mas para que isso ocorra é necessário que o mesmo desenvolva ante a primacia amor próprio , afim de que possa pratica-lo com outro, apartair deste momento, o Ser humano será capaz de se identificar e se enxergar no outro, permitindo uma troca recíproca e compreensiva, livres de conflitos de carência e sentimentos excêntricos e excessivos.