A interpretação dos “sonhos a porta do inconsciente” do qual Freud se dedicou a estudar nos diz que os sonhos são, “a principal estrada que leva ao conhecimento dos aspectos inconscientes de nossa vida psíquica” (FREUD, 1900, apud ESTEVAM, 1995, p. 44). Freud concebe a ideia de que um insight (intuição) de algo proibido (desejo inconsciente) só ocorre uma vez na vida.
Entendendo sobre os sonhos a porta do inconsciente
O sonho é também chamado de onírico o que é fundamental para a psicanálise, pois é através dele que é feito grande parte da interpretação do “conflito” que o paciente traz para a análise. Através da descoberta de Freud, de que os sonhos têm conteúdos fundamentais para análise de um paciente, é através do mesmo que podemos gozar pelos nossos verdadeiros prazeres, fugir de uma sociedade que censura e dita leis, tanto de caráter quanto de conduta, é nele e através dele que podemos vivenciar o que realmente gostaríamos de viver.
Chamamos de sonho manifesto, a experiência que é consciente durante o sono, que a pessoa pode ou não recordar depois do despertar. Os conteúdos latentes do sonho é aquilo que ameaça a acordar a pessoa. “O sonho é uma ferramenta muito interessante que nos fala de nossa vida mental e emocional. Portanto, se prestamos atenção a eles e os levarmos a sério, possivelmente teremos um indicador importante sobre as situações que estão afetando nossa vida.
Da mesma forma, eles nos ajudam muito a elaborar nossas questões emocionais passadas e presentes, assim como nossas possíveis tarefas futuras. A interpretação dos sonhos é uma prática muito individualizada. Diferentes sonhos podem compartilhar os mesmos símbolos, mas, dependendo do que estiver acontecendo na vida do indivíduo, o significado específico daquele símbolo irá mudar. Portanto, uma casa com a pintura descascada pode indicar um desejo de melhoria externa, mas o que exatamente a pessoa quer melhorar diz respeito ao próprio indivíduo.
Subconsciente e os sonhos a porta do inconsciente
Ter um diário de sonhos para registrar suas visões noturnas pode ajudar a começar a entender como seu subconsciente trabalha e o que está tentando comunicar. Primeiramente se deve “caminhar em volta” de um sonho específico — ou seja, observar atentamente o que está acontecendo no sonho, onde você está e quem mais está presente, e então comece a examinar como você se relaciona com outras pessoas e como se sente com o sonho. “Um sonho que retorna mais de uma vez pode ser seu subconsciente insistindo para que você aborde algo, diz Goodin, do Psychology Center, da Flórida.
Frequentemente, sonhos recorrentes estão apontando para algo não resolvido, e um pouco de análise pode revelar um bloqueio psicológico que o está segurando ou um conflito persistente que precisa de sua atenção.”(Goodin) Os sonhos nos oferecem a principal via para adentrar ao inconsciente. Sua linguagem simbólica proporciona um desafio ao psicanalista. Procuramos realizar os nossos mais profundo desejos em nossos sonhos, que se feitos à luz do dia seriam a causa de julgamento e aversão para aqueles que junto conosco formam uma sociedade com valores e conceitos já estabelecidos.
Os sonhos trazem do nosso inconsciente para a consciência desejos mais reprimidos e “proibidos”, desejos recalcados, no qual a pessoa sublima, ou seja, inibimos nossos objetos de desejo. E é através dos sonhos que temos a capacidade de vivenciar esses objetos. Entrando profundamente nesse vasto e misterioso mundo de desejos reprimidos, fazemos um mergulho ao nosso inconsciente, mergulhando para dentro de nós mesmos, tentando procurar o máximo de satisfação e realizações.
A lucidez de vigilância
Portanto a interpretação dos sonhos é subjetiva, onde o que é interessante nos sonhos é o seu caráter narrativo, sua linguagem e sua interpretação. Assim sendo, dificilmente um sonho irá significar exatamente o que mostrou, ele precisa ser interpretado pelo analista juntamente com o paciente. E essa interpretação precisa fazer sentido ao paciente. Devemos ainda considerar que a própria lucidez faz parte do sonho e que mesmo que a consciência nos ditos “sonhos lúcidos” esteja em estado de vigília, ela ainda permanece sob domínio do sonho, o sonhador está sempre necessitando “alterar” as situações criadas pelo sonho.
Essa lucidez de vigilância, mesmo que transportada para o sonho, nada mais é que a consciência dual de separação sujeito/objeto, eu/mundo. Nesses tipos de sonho, o ego onírico funciona de maneira similar ao ego na vigília. A realidade interior não é confundida com a realidade exterior pois o ego onírico compreende o que está ocorrendo. Os sonhos recorrentes estão intimamente ligados a situações emocionais, e que no geral não foram bem resolvidas e por isso elas acabam aparecendo para nós em nossos sonhos.
Para saber qual é a experiência que se trata o sonho, entra a psicanálise, que irá interpretar de forma minuciosa e correta o sonho. O sonho consegue interpretar a vida emocional e mental da pessoa, e quando escutado por um psicanalista, pode apontar a qual problema está relacionado, qual a situação que envolve.
Considerações finais
Esses sonhos então são as ferramentas que o inconsciente possui para mostrar a necessidade de se resolver algum problema pessoal interno, que apesar de ser algo intimo, está interferindo na vida daquela pessoa em seus aspectos diários.
Eles podem estar relacionados com inúmeras coisas, como por exemplo, uma angustia antiga, um trauma, uma situação que está sendo evitada pelo sonhador, um problema que não foi resolvido, um comportamento que incomoda, um problema no relacionamento, e diversas outras situações. Quando essas coisas ocorrem essa pessoa terá sonhos onde apareceram símbolos que podem ser interpretados por um psicanalista.
Por fim, dar atenção aos sonhos é uma forma de dar atenção a si mesmo, e a medida que isso acontece vamos nos conhecendo, aprendendo mais sobre nós com nosso inconsciente. Isso pode melhorar a vida nos tornando mais despertos, mais observadores e menos “vítimas” de nós mesmos.
O presente artigo foi escrito por Sheila Ghiasson. Em seu Blog : lifebysheila.com ela conta um pouco de sua trajetória de vida e reflexões sobre a psicanálise.