Sublimação

Sublimação e Sociedade: o Ego em função do coletivo

Publicado em Publicado em Teoria Psicanalítica

Hoje falaremos sobre a Sublimação. A instância do Ego é um dos temas centrais da psicanálise freudiana por compreender que o comportamento racional e toda a forma de lidar com o meio externo é realizado por esse componente da psique.

Sendo um moderador entre Id e o Superego, a instância da razão deve manter o equilíbrio entre as vontades do Id e da censura do Superego dispondo para isso de mecanismos de defesa que colaboram para um melhor funcionamento da saúde mental como um todo.

Neste artigo, iremos apresentar um dos nove mecanismos de defesa do Ego estipulado por Freud denominado sublimação.

O que é sublimação e seu funcionamento social?

Entre todos os mecanismos, a sublimação é tida por Freud, e pela teoria psicanalítica, como a mais nobre por transformar a energia da pulsão em atividades socialmente aceitas que valorizam fortemente o sujeito.

Enquanto as outras formas de defesa do Ego, quando excessivas, prejudicam a vida da pessoa, a sublimação retorna à sociedade atividades grandiosas como a ciência, a arte, a religião, a música etc.

O objetivo desse texto é propor uma reflexão a respeito desse mecanismo de defesa como forma de pensarmos soluções viáveis para a sociedade do século XXI.

O que é pulsão e o que é instinto?

Quando Freud retorna à Viena depois de ter estudado o fenômeno da histeria em Paris, ele inicia seus atendimentos com mulheres que apresentavam o diagnóstico de histeria. A experiência em lidar com pacientes com essa condição fez com que o médico neurologista concentrasse sua atenção nos comportamentos das pessoas para elaborar, após alguns anos, a teoria psicanalítica.

A partir da observação clínica, Freud postulou que os seres humanos são dotados de uma energia psíquica em particular que provoca estados de tensão no corpo que precisam ser satisfeitos para a realização de um desejo.

A essa energia, Freud deu o nome de pulsão e definiu que essa manifestação é dinâmica e se expressa de múltiplas maneiras e em diferentes vontades sendo mutável durante todo o percurso da vida.

Sublimação e pulsão

Neste sentido, é importante diferenciar a pulsão do que é considerado instinto, que em uma visão mais generalizada, pode parecer o mesmo conceito, porém são de bases distintas. Entende-se por instinto uma reação biológica padronizada, isto é, que se manifesta no corpo sempre da mesma forma e nas mesmas condições.

Um exemplo de instinto é a fome. Quando o nível de glicemia começa a baixar, o organismo apresenta determinados comportamentos que induz a busca por alimento. Tais comportamentos incluem o movimento involuntário do estômago, dor de cabeça e tontura que são cessados quando o corpo é alimentado.

O instinto da fome sempre procede dessa maneira e sempre sob a mesma condição sendo possível prever os acontecimentos e agir sobre eles. A pulsão é uma energia psíquica não previsível e altamente dinâmica que manifesta desejos diferentes a todo momento.

Sobre a pulsão

Se pensarmos na pulsão quando se tem fome, podemos compreender que ela age no desejo específico por um tipo de alimento. Ter necessidade de alimentar o corpo é instinto, mas ter vontade de comer uma pizza ou um hambúrguer ou macarrão é a pulsão agindo sobre a fome.

O mecanismo da sublimação

A teoria psicanalítica propõe que a pulsão está presente desde o nascimento até o fim da vida sendo proveniente do Id que é a instância mais primitiva da mente e que anseia pela realização dos desejos. Quando um bebê nasce, ele é um conjunto de pulsões desorganizadas que serão “moldadas” com a formação das outras instâncias como o Ego e o Superego.

Devemos compreender que a pulsão é uma energia psíquica poderosa que, segundo Freud, precisa ser canalizada para não permitir comportamentos agressivos ou socialmente não aceitos como violência, as perversões entre outros.

Freud considerava que, para driblar comportamentos dessa natureza, o Ego utiliza de uma maneira muito própria de concentrar a pulsão em atividades mais aceitas. Este mecanismo de defesa do Ego é chamado de sublimação, pois evita que a pulsão solta se manifeste inadequadamente de acordo com a cultura e a sociedade.

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    Outros exemplos

    Fonte das maiores manifestações artísticas, culturais e científicas, a sublimação é o mecanismo de defesa que mais traz benefícios ao coletivo e a pessoa conduzindo-a a um caminho de intensa produção e satisfação. Apesar das outras formas de defesa do Ego serem também necessárias, muitas delas podem trazer prejuízos como o transtorno de ansiedade e a depressão por saírem do objetivo de proteção da mente dependendo de cada caso.

    Em contrapartida, a sublimação tem como resultado uma produção real de conteúdos e subjetividade úteis à sociedade promovendo conhecimento e diversidade para a história. São vários os exemplos de sublimação, mas pode-se compreender de forma geral todo comportamento agressivo ou mal-visto socialmente sendo reconduzido para um bem maior.

    Podemos considerar algum tipo de vício como bebida ou jogos que, quando sublimados, podem ser convertidos em ações positivas como a pesquisa sobre vícios ou mesmo a prestação de serviços de ajuda a quem sofre com esse problema.

    A sublimação e as exigências da vida em sociedade

    Entretanto, considerando as diversas transformações sociais e tecnológicas das últimas décadas, as pessoas vêm apresentando cada vez mais dificuldade em canalizar suas pulsões para atividades benéficas fazendo com que essa grande quantidade de energia não receba um direcionamento adequado.

    Sensação de vazio, sentimento de solidão, depressão profunda e fobias podem ser indícios de pulsões mal canalizadas e que precisam ser revistas sob a ótica da terapia psicanalítica.

    Por natureza, o ser humano tem a capacidade física e mental de ser motivado a produzir múltiplas atividades importantes para o meio onde vive, mas para isso, precisa de autoconhecimento para gerir o que sente e saber quem é reconduzindo melhor a poderosa pulsão que carrega consigo.

    Conclusão: sublimação e sociedade

    Neste texto, discutimos a diferença entre o fator biológico do instinto e a manifestação psíquica da pulsão apresentando suas diferenças com o objetivo de compreendermos como cada uma opera na vida de um indivíduo.

    Considerada a mais nobre dos mecanismos de defesa, a sublimação reorienta a energia da pulsão para atividades socialmente aceitas e benéficas a um número maior de pessoas promovendo avanço na coletividade.

    Destacamos, por fim, que a sublimação é um mecanismo de defesa importante que é esperado das pessoas para que o convívio dentro de uma sociedade seja mais proveitoso e duradouro.

    Este artigo foi escrito por Renan Gaudencio Vale([email protected]), Professor, linguista, mestre em semântica, terapeuta homeopata e futuro psicanalista, sempre tive intenso interesse pelo funcionamento da mente humana. Acredito que a linguagem é parte constitutiva do sujeito e a psicanálise a forma mais íntegra para a compreensão de nós mesmos.

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