sublimação e prática de lutas

A Sublimação por trás da prática de lutas

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Diariamente podemos identificar – em nós mesmos e em quem nos rodeia – formas de defesa da psique. A Sublimação é uma delas e pode estar presente em praticantes de esportes atuais. Desde a antiguidade até os dias atuais, a violência física aparece, constantemente, com diferentes nomenclaturas, assumindo diferentes apresentações.

Sublimação e história da prática de lutas

Na Roma antiga, por exemplo, escravos e indivíduos de famílias mais pobres eram postos para lutar, as vezes por dinheiro, fama e alguma forma de respeito para suas famílias, outras vezes por suas próprias vidas. Já na Grécia (com histórias datadas de até 3500 a.C.), cada tribo desenvolveu uma luta própria, utilizando dos mais diversos objetos para proferir os golpes.

Também temos, muito mais popularizada, a história dos samurais no Japão, guerreiros militares, treinados desde a infância com base em uma filosofia Zen e Budista e, principalmente, completa obediência e lealdade mostrada a seus mestres em busca de um desempenho perfeito em combate.

Podemos encontrar os mais diversos exemplos de nações especializadas na guerra ao longo da história humana, porém, tão comum quanto isso, são os casos de culturas que utilizaram dos conhecimentos desenvolvidos em guerras e transformaram isso em uma espécie de arte para entretenimento dos cidadãos, especialmente os mais ricos, normalizando assim uma cultura de violência, e deixando o questionamento de, seriam as artes marciais realmente um esporte ou apenas uma glamourização da violência?

Muay Thai

No século 16, na Tailândia, foi desenvolvida uma luta para ser praticada pelos soldados da época. Em um tempo de paz, os soldados conduziam apresentações quase artísticas da luta, com saltos, golpes giratórios e as mais variadas técnicas para encantar o público.

Ao longo do tempo também foram criadas algumas tradições, como por exemplo, o uso de um pedaço do tecido de roupa de um familiar que havia falecido como uma forma de homenagem. Monges budistas também passaram a abençoar pequenas tranças que ficaram amarradas aos braços dos guerreiros, além de também abençoar os locais onde essas “batalhas” ocorriam, como uma forma de aumentar a proteção.

A prática virou tradição nacional, criando mais e mais seguidores e praticantes e eventualmente se tornando a arte marcial que conhecemos hoje como Muay Thai.

Essa luta, que hoje é mundialmente difundida, tomou uma dimensão tão grande que atualmente é o ganha-pão de boa parte dos jovens tailandeses, isso trouxe diversas oportunidades, tirando famílias da miséria, garantindo uma vida estável e uma espécie de segurança, porém, também trouxe alguns pontos possivelmente negativos: a naturalização de crianças lutando entre si.

Em alguns casos é possível vermos crianças de apenas 5 anos lutando, e, apesar do treinamento e tratamento nas academias ser especialmente focado nisso, não deixa de ser uma forma de violência extremamente comum, entre jovens em fase de desenvolvimento que, sem sobra de dúvidas, terão seu desenvolvimento psíquico afetado de alguma forma por isso.

Jiu-jitsu

O Jiu-jitsu, outra modalidade de arte marcial, originada no Japão, também tem uma grande aderência de participantes de pouca idade, entretanto, é possível notar claramente o quanto a prática auxilia no desenvolvimento psicomotor, na formação de uma personalidade mais estável, controlada e forte, e principalmente o reflexo dos aprendizados em outras áreas da vida.

Crianças aprendem e são obrigadas a seguir um sistema de hierarquia no esporte, respeitando seus superiores e entendendo que eles são apenas alunos, aumentando sua disponibilidade aos aprendizados disponíveis. Além disso, tem se mostrado como uma excelente ferramenta para o amadurecimento – especialmente masculino – de pessoas que não tiveram alguma forma de guia mais experiente durante a vida.

O conceito de sublimação: qual relação com as lutas?

Ambas as modalidades (Muay Thai e Jiu-jitsu) – e outras artes marciais também – têm diversos pontos positivos e negativos, além de depender fortemente de quem conduz seus pupilos. Porém, é interessar trazer alguns questionamentos:

  • O que pode levar tantas pessoas a praticar uma atividade tão violenta?
  • O que tem atraído tantos de nós para algo que pode, possivelmente, ferir a nós mesmos e a outros?
  • Como identificar o limite entre esporte e violência?

Sigmund Freud em seus estudos sobre neuroses mostrou que a estrutura psíquica de uma pessoa neurótica pode vir a utilizar algumas formas de defesa quando o indivíduo desenvolveu algum desejo que não é aceito pelo superego (ou socialmente aceito) ou passou por alguma forma de experiência traumática, fazendo com que essa experiência ou pulsão seja recalcada ao inconsciente.

Uma das formas de defesa mencionada pelo psicanalista foi a sublimação: um mecanismo que faz com que a pulsão destrutiva seja transformada – ou sublimada – em algo positivo, socialmente aceito.

A sublimação nas lutas: um escape controlado

Assim, sabemos que a violência não é diretamente aceita pelo indivíduo comum, porém, encontramos uma forma de fazer isso em um ambiente controlado, com regras e até alguma forma de premiação para os vencedores, dando assim uma válvula de escape para um possível desejo reprimido e até primitivo de brigar por algo.

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Não é raro que em competições esportivas os atletas tenham que assinar um contrato isentando os organizadores do evento da culpa no caso de sua morte. Jovens colocando sua própria vida em risco, completamente cientes dos riscos envolvidos na prática, e ainda assim, vão com toda a confiança e prazer possível.

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    Temos crianças sendo educadas nesse meio, tendo sua personalidade desenvolvida ao redor dessas filosofias, e nesse caso a linha entre algo que está auxiliando a vida no geral e algo que pode ser extremamente destrutivo é extremamente tênue.

    O presente artigo sobre uma breve análise da possível Sublimação por trás da prática de lutas foi escrito por Gabriela Lauxen ([email protected]), estudante de Psicologia, atleta e professora de Muay Thai para mulheres.

     

    2 thoughts on “A Sublimação por trás da prática de lutas

    1. Mizael Carvalho disse:

      Parabéns, pelo seu belíssimo artigo!

    2. Texto que levanta alguns pontos, mas chega a poucas conclusões. Merece destaque pela honestidade em levantar questões. Poderia desenvolver melhor.
      Conhecendo um pouco da área competitiva da prática de lutas (inclusive do muay thai) creio que a prática, embora possa promover a mencionada sublimaçao em alguns contextos (geralmente fora da competição), acaba por, na maioria das vezes, apenas glamourizando a violência gratuita, o prazer de machucar o outro e trazendo muito mais danos psíquicos do que beneficios.
      Importante ressaltar que o fenômeno da sublimação pode correr de várias maneiras, inclusive não destrutivas para a sua saúde e do outro. Nunca esquecendo-se que a vida deve vir em primeiro lugar.
      Mas é uma discussão interessante devido à popularização recente dessas lutase a autora fez bem em aborda-la com neutralidade (algo nem sempre fácil, uma vez que é envolvida profissionalmente na área). Minha tendência é achar que essas atividades devam ser restritas e sua glamourização, evitada.

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