transferência como resistência

Transferência como resistência no processo analítico

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Hoje falaremos sobre a transferência como resistência. O setting terapêutico pode promover mudanças em função das intervenções e dos recursos utilizados pelo profissional no decorrer do seu trabalho. É importante se preparar para lidar com os desafios de cada sessão.

O trabalho é complexo e, por isso é necessário se permitir sentimentos de dúvidas e incertezas. Além disso, a construção do vínculo terapêutico é fundamental para o desenvolvimento do trabalho. Entretanto, a construção do vínculo não é tarefa simples e, embora o mesmo seja construído na relação cliente/analista, cabe a este, como profissional conduzir este processo.

Entendendo sobre a transferência como resistência

A construção do vínculo terapêutico é tarefa dos envolvidos, não depende só do analista, no entanto, cabe a este a possibilidade e a responsabilidade de encaminhar e facilitar esse processo. Para tanto, alguns elementos são fundamentais: o contrato e uma postura acolhedora por parte do analista são alguns deles. Falar sobre dores, muitas vezes dilacerantes e angústias é algo extremamente difícil. Somam-se a isto, em alguns casos, a vergonha e a culpa que carregam.

Diante disto, o analista precisa ter uma postura acolhedora, reconhecendo e confirmando o sofrimento do cliente, evitando julgamentos, sem fazer juízo de valor. Ele precisa buscar respeitar o tempo do cliente, seus modos de expressão verbal e não verbal. Segundo Pichon-Rivière (2007, p.16): o vínculo é a maneira como cada indivíduo se relaciona com o outro, criando uma estrutura particular a cada caso e a cada momento, ou seja, uma pessoa pode ir ao psicólogo X e não se sentir satisfeita, mas outra pessoa pode ir ao mesmo psicólogo e se sentir bem, pois são vínculos terapêuticos diferentes que se estabelecem, uma vez que cada pessoa possui a sua história de vida e sua subjetividade.

Sendo assim, a teoria e a técnica são importantes para o processo terapêutico, pois são elas que guiam o analista, porém em um dado momento, não se trata mais de traduzir e interpretar o discurso do paciente, mas é preciso estar em sintonia com ele, compartilhar de sua angústia e de sua história. Como dizia o terapeuta Carl Jung “conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana”. Portanto, o espaço terapêutico precisa ser um ambiente de escuta e acolhimento, de empatia, de cumplicidade, ética, vivências e trocas que possam possibilitar a construção de novos sentidos e promoções de mudanças de vida importantes na manutenção da saúde mental e física do indivíduo.

Transferência como resistência e o analista

Desta forma, podemos refletir sobre a importância do analista fazer com que o analisando saia do papel de vítima, de uma posição passiva dos conflitos e passe a adotar a postura de autor da própria cura, a partir dos processos de transferência e contratransferência, sendo estas oportunidades fundamentais para análise das projeções, sensações, sentimentos e comportamentos que podem apontar para conteúdos inconscientes significativos.

A partir de seus discursos e ações o analista pode levantar questões pertinentes às resistências e mecanismos de defesas utilizados pelo analisando que podem esclarecer pontos até então imperceptíveis ao consciente do analisando. Para que o processo de análise realmente se inicie, o vínculo terapêutico deve ser consolidado, o ambiente deve propiciar confiança, dando oportunidade de ressignificar situações antigas e modificar outras com base no discurso, nas intervenções, nos insights e nos incômodos.

Esta relação dinâmica, uma vez estabelecida, garante ao analisando a segurança para falar de seus problemas ou conflitos, o que torna a terapia um lugar seguro, propiciando ao analista desenvolver suas funções de forma mais responsável e suas intervenções mais eficazes. Sem o estabelecimento eficaz do vínculo no processo terapêutico, não há construção de significado real para o analisando, podendo levar ao fracasso da terapia. Não são apenas as técnicas utilizadas pelo analista que tornarão a terapia eficaz, mas antes de tudo a forma como ele oportunizará o fortalecimento do vínculo no setting terapêutico com seu analisando.

A quebra das resistências

Essa construção possibilitará a quebra de resistências e o avanço da terapia. Para iniciar esse processo de vinculação, o analista precisa explicar as etapas do acompanhamento e situar o analisando das questões que norteiam a terapia, estabelecer o contrato é uma parte essencial da relação terapêutica, uma vez que são definidas questões como dia e hora do atendimento, as melhores formas de pagamento, bem como questões relacionadas ao sigilo e à ética em geral.

Desta forma, o vínculo terapêutico precisa ser o primeiro objetivo a ser alcançado pelo analista dentro da terapia, uma vez que o estabelecimento do mesmo permite que a terapia transcorra a partir de transferências e contratransferências que farão toda diferença no processo. Enfim, podemos confirmar que é através do vínculo que a relação entre analista e analisando pode ser consolidada, tendo em vista que a partir do momento em que os dois se dispõem a tratarem as questões que angustiam o analisando.

A construção de vínculo terapêutico é um dos pontos principais que envolve a psicoterapia psicanalítica, é a partir dela que a transferência e contratransferência irão surgir, pois o analisando irá deslocar para a figura do analista todas as vivências não superadas, e cabe ao mesmo saber manejar os conteúdos de forma madura, agindo como ego auxiliar da relação, ajudando-o na compreensão dessas interpretações e progressão.

A transferência como matéria prima afetiva

O fenômeno da transferência é, para Freud, “um laço afetivo intenso, que se instaura de forma quase automática e independente da realidade, na relação com o médico, revelando o pivô em torno do qual gira a organização subjetiva do paciente” (MAURANO, 2006, p. 16). Nesse caso, a transferência se torna a matéria prima afetiva sobre a qual o analista terá acesso a fragmentos do inconsciente do paciente. Desta forma, é a partir da constituição da transferência que o paciente se colocará na atitude chamada “compulsão à repetição”, atualizando questões antigas, recalcadas e inconscientes.

É esse manejo que distingue a posição do analista em relação a outros profissionais, como, por exemplo, a posição do médico. Este se vale da autoridade conferida pelo paciente para suprimir o sintoma, desconsiderando as resistências. O psicanalista, ao contrário, analisa a transferência e as resistências que o paciente gera, com o intuito de trabalhá-las no sentido de uma cura permanente (MAURANO, 2006: 19).

Freud afirma que a transferência é alterada e transformada em neurose de transferência, que é a modalidade neurótica instalada durante o processo relacional de análise (FREUD, 1912a), por onde o paciente atualizará e renovará seus reprimidos e conflitos na relação com o analista, a fim de que este o compreenda e o ajude a lidar com suas dificuldades. São transferidos, durante essa neurose, os afetos, que fazem despertar e atualizar igualmente as resistências do paciente, fazendo com que ele abandone, em muitos casos, o tratamento antes mesmo do manejo técnico do analista acontecer.

Fatores que despertam a resistência

Segundo o autor, as resistências são despertadas devido a alguns fatores, tais como: Primeiro, as pulsões de morte que se conectam aos sentimentos edípicos que desapontaram a criança, durante o seu desenvolvimento infantil. O paciente pode reviver esses sentimentos na forma de uma compulsão à repetição, causando a interrupção do tratamento por se sentir “desprezado mais uma vez”. Segundo, o ego promove essa compulsão na intenção de se proteger de novas situações traumáticas, liberando angústia a cada sinal de perigo iminente.

E terceiro, os sintomas podem surgir, com o objetivo de encobrirem e dificultarem o acesso à situação traumática (FREUD, 1912b). Em todos os casos, Freud descreve que as angústias são vividas como “desamparo psíquico”, “perda do objeto”, “castração” e “perigo advindo do superego”. Freud aponta que “é sempre o temor latente da castração que envolve todas essas situações de angústia, na medida em que eles se referem ao medo da perda de um objeto precioso” (FREUD, 1912b).

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    Os afetos recalcados estão sempre à procura de um objeto ao qual eles possam se ligar. No processo de análise, essas antigas angústias podem ser então aplacadas e um punhado de afetos torna-se enfim disponível para o paciente. O paciente precisa projetá-los sobre algum objeto que se encontre no primeiro plano de seu campo de consciência. Durante o tratamento este objeto será o médico. No médico, o paciente ama e odeia a si mesmo, isso porque ele sempre se identifica com o médico ou dele se diferencia.

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    Prática da Psicanálise e a transferência como resistência

    Feitas estas considerações iniciais, temos como objetivo verificar como a transferência se expressa na prática da psicanálise. Tomemos como exemplo o simples caso de uma moça sofrendo de histeria de angústia que, durante o tratamento, expressou sérias dúvidas sobre o sucesso da cura e que “por amor a seu marido e por não querer deixar de tentar o último recurso” (pois ela não queria então sentir-se culpada) submete-se ao tratamento. Ela então chega com claras resistências à cura.

    Aparece com quinze minutos de atraso, o que é sempre um sinal preocupante para o futuro [do tratamento], e caçoa das diferentes perguntas colocadas pelo médico. Pedimos a ela então para que [simplesmente] comunique o que lhe ocorre, mas não lhe ocorre nada. Finalmente, ela consente em dar uma palhinha da sua história clínica e isso seria tudo o que ela teria a dizer. Passam-se assim alguns dias e uma dúvida paira sobre a possibilidade de uma psicanálise. Eis que certo dia ela chega cerca de quinze minutos mais cedo, explicando que já se encontrava visivelmente aliviada após aqueles poucos encontros.

    [Então], de uma só vez, ocorre-lhe uma porção de coisas, ela tem agora diversas coisas pra contar, e o tempo da consulta se torna curto. Assim segue por alguns dias e com o tempo essa moça vai ficando desmotivada ou distante, ou com uma pequena motivação, o que tende a acontecer quando não agimos na hora certa chamando a atenção para a transferência. O que aconteceu? A paciente se apaixonou pelo médico e, no esforço inconsciente de não colocar sua dignidade em risco — um princípio orientador na maioria dos neuróticos — ela parte em retirada.

    O deslocamento de afeto

    O médico tinha que ter chamado a sua atenção em um momento preciso para o deslocamento de afeto que havia sido gerado. Ele teria que tê-lo exposto — já quando a paciente se mostrou pela primeira vez ‘diferente’ e que ela o fazia por amor ao médico, que ela estava a ponto de se apaixonar por ele, [enfim], que este amor constitui um fenômeno legítimo na psicanálise, que na verdade seria um pseudo amor e que o médico teria assumido o papel de um ente querido por meio da identificação. Os fenômenos da transferência e da resistência são compreendidos como ações subjetivas que são constituídos na relação terapêutica.

    São posicionamentos afetivos do analisando para, no caso, o analista. O contrário também acontece, sendo chamado, nesse caso, de contratransferência. Lourenço aponta que é possível confirmar, nas obras de Freud, que a transferência sempre possui um conteúdo sexual, e que o “sentimento transferencial já é dado, já está pronto, só aguardando a oportunidade de dirigir-se à figura de um outro, o qual, por sua vez, ocupa na transferência o lugar de algum personagem importante na história do paciente”. Já Zimerman chama esse sentimento “pronto” de “pré-transferência”, sendo “um investimento afetivo que o paciente realiza nas primeiras manifestações de interesses em seu próprio tratamento” (1999, p. 335).

    No processo de construção da “aliança terapêutica”, o paciente investe seus sentimentos afetivos na figura do analista. Estes sentimentos são sempre ambivalentes, contraditórios, sentimentos hostis e de afeição, que são transferidos para o analista no momento em que este é exposto, inconscientemente, no “lugar de uma das imagos primordiais do indivíduo: imago paterna, imago fraterna e imago materna” (LOURENÇO, 2005 p. 145).

    O conceito de contratransferência

    A contratransferência foi pouco abordada por Freud ao longo de sua obra. Poucas foram as citações do termo e mesmo nessas situações seus comentários foram breves, apesar de ser possível encontrar considerações sobre o tema de forma indireta em diversos textos de sua obra. O termo originalmente utilizado por ele no idioma alemão para definir o fenômeno da contratransferência foi gegenübertragung, a composição de Übertragung – transferência – e gegen – que pode ser compreendido como contra, algo em direção a, ao redor de.

    O primeiro registro do uso do termo contratransferência por Freud (1909, citado por McGuire, 1976) pode ser encontrado numa carta dirigida ao seu discípulo Carl. G. Jung após receber um comunicado de Sabina Spielrein – paciente de Jung – que solicitava um encontro para tratar de sua relação amorosa com seu analista. A carta foi publicada na compilação das correspondências de Freud com Jung e a seguir será apresentado trecho no qual Freud enfatiza ao seu aluno a questão didática da situação: […] embora penosas tais experiências sejam necessárias e difíceis de evitar.

    É impossível que, sem elas, conheçamos realmente a vida e as coisas com as quais lidamos. […] Elas nos ajudam a desenvolver a carapaça de que precisamos e a dominar a contratransferência que é afinal um permanente problema (Freud, 1913, citado por McGuire, 1976, p. 281; grifos nossos). A posição clássica da contratransferência surgiu com base na primeira publicação do termo em texto científico de Freud (1913) intitulado “As perspectivas futuras da terapêutica psicanalítica”.

    As inovações da técnica da psicanálise

    No artigo ele trata das inovações da técnica da psicanálise e aborda a contratransferência como um aviso aos terapeutas a fim de evitar que cometam o mesmo erro de Jung: sucumbir aos desejos inconscientes e tornar-se inapto para tratar os pacientes pelo método analítico. As palavras de Freud (1913, p.150) são as seguintes: As outras inovações na técnica relacionam-se com o próprio médico. Tornamo-nos cientes da “contratransferência”, que, nele, surge como resultado da influência do paciente sobre os seus sentimentos inconscientes e estamos quase inclinados a insistir que ele reconhecerá a contratransferência, em si mesmo, e a sobrepujará.

    A contratransferência é definida como um fenômeno relacional da clínica analítica, pois surge “como resultado da influência do paciente” e, portanto, está intimamente vinculada à transferência, aspecto central do método analítico. Sua definição, nesse momento inicial, engloba as reações emocionais inconscientes do analista frente às investidas afetivas do paciente. Entretanto, tais reações emocionais são consideradas por Freud (1913) como obstáculos ao tratamento analítico e como tal devem ser reconhecidas, ou seja, diferenciadas das emoções do paciente e por fim dominadas.

    No artigo “Observações sobre o amor transferencial”, Freud (1915) retoma a ideia de transferência como resistência e aborda duas dificuldades sobre seu manejo. A primeira dificuldade diz respeito ao uso da transferência pelo paciente como resistência, a qual pode comprometer o processo de associação livre do paciente e desviar todo investimento do tratamento para uma relação fantasiosa e sintomática com o analista.

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    A contratransferência

    Essa resistência geralmente surge no momento de recordar alguma situação aflitiva e fortemente recalcada, parte incógnita do psiquismo referente à época primeva. Assim, o paciente, incapaz de recordar o que esqueceu, reproduz em ação ao invés de lembranças e se expressa por meio de atuações (acting-out) ao colocar em cena seus conteúdos psíquicos (Freud, 1914 / 2006f). A segunda dificuldade referente à relação transferencial diz respeito ao analista. Freud (1912a) afirma ser a resistência na situação transferencial uma advertência contra qualquer contratransferência presente na mente do terapeuta.

    O contexto analítico pode provocar certos tipos de transferências no paciente, ou seja, algo do inconsciente do analista pode provocar reações, também inconscientes, no paciente (Freud, 1912a). Dessa forma, o segundo princípio básico da psicanálise torna-se aspecto essencial para qualquer analista, isto é, “quem quer analisar os outros deve, em primeiro lugar, ser ele próprio analisado” (Ferenczi, 1928, p. 26). Dito de outra forma, para analisar os outros é necessário, primeiro, tomar consciência dos próprios movimentos inconscientes e processos transferenciais, pois podem influenciar o psiquismo do paciente.

    Freud e a transferência como resistência

    Portanto, o manejo da contratransferência – dentro e fora da análise – tem importância crucial para a continuidade do tratamento. Nas palavras de Freud (1912ª p. 150), “nenhum psicanalista avança além do quanto permitem seus próprios complexos e resistências internas”. Assim, Freud (1912b) afirma ser a análise pessoal essencial para o controle da contratransferência dentro do processo analítico, pois parte do trabalho do analista tomar conhecimento desses sentimentos contratransferenciais e manejá-los adequadamente para manter a postura de neutralidade frente à transferência do paciente.

    A postura de neutralidade e a abstinência do analista na relação analítica são pontos fundamentais para o processo investigativo do inconsciente a fim de permitir ao analista ater-se à contrapartida do princípio básico da psicanálise, a atenção equiflutuante (Freud, 1912). A neutralidade frente aos conflitos emocionais do paciente funciona como defesa contra a carga emocional advinda da transferência e permite a liberdade de atenção na escuta.

    Além disso, possibilita ao analista utilizar seu inconsciente como instrumento de captação e contenção e, a partir dessa recepção, deixar os elementos inconscientes do paciente tomarem espaço dentro do próprio psiquismo para, por fim, poder reconstruir esse inconsciente. A terapêutica analítica cria, portanto, exigências aparentemente contraditórias para o analista (Ferenczi, 1928).

    Elementos inconscientes

    Pede que ele se torne receptor e receptáculo dos elementos inconscientes do paciente, deixando seu próprio inconsciente tomar livre rumo na reconstrução desse psiquismo (Freud, 1912a) e, ao mesmo tempo, exige o domínio absoluto e a construção de uma máscara sobre os processos contratransferenciais com uma postura autorrestritiva no contexto analítico (Freud, 1912a).

    Dessa forma, como seria possível ao analista manter postura de censura sobre os próprios elementos inconscientes, enquanto permanece em atenção equiflutuante e sem julgamento em relação aos elementos inconscientes do paciente?

    Freud não formula resposta clara a essa pergunta e mantém ao longo de sua obra a perspectiva clássica em relação ao manejo da contratransferência, em relação à qual enfatiza o dever do analista de controlar seus próprios sentimentos contratransferenciais e manter postura de neutralidade e abstinência com a finalidade de evitar a “tentação de projetar para fora algumas peculiaridades de sua própria personalidade” (Freud, 1915).

    Conclusão

    Os conceitos de transferência e resistência em psicanálise caminham juntos, são elementos fundamentais para se alcançar o sucesso durante o processo de análise. Justamente por isso, compreender o que são resistência e transferência transforma qualquer atuação psicanalítica, possibilitando a criação de novos caminhos, a identificação de diferentes sintomas, o reconhecimento de dores e o trabalho da angústia, em direção à cura.

    A resistência e transferência em psicanálise são conceitos que sustentam a atuação do analista, dando base para a compreensão das dores no processo terapêutico. Desse modo, saber trabalhar com esses dois elementos e compreender os caminhos da resistência e seu potencial inconsciente, faz toda diferença no processo de análise. A questão que embasa todo o processo analítico não é remover sintomas, mas atingir suas causas, afetá-las.

    No início Freud pensava que ao se tornar consciente, o produto inconsciente seria ressignificado e deixaria de “incomodar”. Todavia, logo perceberia que este método induziria o analista a incorrer em um erro primário, uma vez que … o nosso conhecimento acerca do material inconsciente não é equivalente ao conhecimento dele; se lhe comunicamos nosso conhecimento, ele não o receberá em lugar de seu material inconsciente, mas ao lado do mesmo; e isso causará bem pouca mudança no paciente.

    Transferência como resistência e a repressão

    Devemos, de preferência, situar esse material inconsciente topograficamente; devemos procurar, em sua memória, o lugar em que se tornou inconsciente devido a uma repressão. A repressão deve ser eliminada – e a seguir pode efetuar-se desimpedidamente a substituição do material consciente pelo inconsciente. (…) Primeiro, a busca de repressão e, depois, a remoção da resistência que mantém a repressão”. (1916-1917a, p. 509)

    Sendo assim, podemos perceber que o procedimento para a remoção da resistência é idêntico ao da supressão da repressão: descobri-la e comunicá-la, via interpretação, ao paciente, já que, na verdade, toda resistência deriva de uma repressão.

    Bibliografia

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    Este artigo sobre transferência como resistência no processo psicanalítico foi escrito por Andrea Pierre dos Reis para o blog Psicanálise Clínica.

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