traumas humanos

O que são traumas humanos universais

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Estamos com meio corpo já dentro da pós-modernidade dos tempos líquidos, da era digital e do algoritmo, um período de revisões e rupturas que vem levando a modernidade a reboque e ao epílogo, mas ainda estamos bifurcados entre dois macros paradigmas: o criacionismo (‘haja luz e houve luz’) versus o evolucionismo (‘big-bang ou, no começou houve uma grande explosão de matéria e energia como ponto de origem’), e ainda não superamos grandes traumas humanos universais.

Os traumas humanos

O primeiro trauma humano universal pelo paradigma ‘haja luz e houve luz’ refere-se à falta de ancestrais aos pais originais. Adão e Eva não tinham pais, nem avós, não tinham uma árvore genealógica, não tinham uma historicidade humana. Adão criado do barro (em última análise, do pó e prometido ao pó voltar) e Eva a partir de uma das costelas carnal de Adão.

Ambos não precisaram de leite materno e segundo os livros apócrifos já foram criados queimando etapas. Não foram crianças e adolescentes, pois sem pais. Consta que Adão ao ser criado já foi conformado adulto. Idem Eva.

O segundo grande trauma humano universal foi o incesto. Os filhos de Adão e Eva tiveram que passar pelo rito do incesto para procriar. Ato que mais tarde vamos constatar no Egito, na realeza e em algumas sociedades remotas, irmão acasalando com irmã e após, numa segunda linha, os primos entre si. Lembrando que procriação é ato psicanalítico.

O terceiro entre os traumas humanos

O terceiro trauma foi à questão de saber que Maria, mãe de Jesus, o Cristo, o Messias prometido, fora concebido sem concurso do pênis masculino e do sêmen humano; ela não foi fecundada por ato humano, mas teria sido um ato da providência divida. Vejam como a Psicanálise por mais que neguem foi e continua sendo uma das maiores revelações do campo do saber humano porque mergulhou nesse psiquismo todo.

A Filosofia, mãe de todos os saberes, continua sendo ato de reflexão e desveladora, porém, a Psicanálise adentrou nesse campo que até então outros saberes não se atreviam. Nem a Teologia adentrou apenas a Psicanálise após Freud.

Esses traumas estão gravados no inconsciente humano. Os positivistas não aceitam de forma alguma mais o criacionismo tendo como motivação essas percepções e indagações à luz do racionalismo iluminista.

“Haja luz e houve luz”

Um cientista numa palestra disse que não aceitava um ser humano com metade dos cromossomas só se conseguissem o sangue de Jesus, uma gota do Sudário ou da toalha de Verônica e submetessem a um teste de DNA e tipologia. E isso evoca a figura de um dos apóstolos que desafiou todos seus colegas apóstolos: ‘Só acredito vendo Jesus e as marcas da crucificação’, que foi São Tomé (n.?, Galileia- f. 72 DC).

Consta que colocou o dedo na palma da mão no furo dos cravos. Os seres humanos seguindo a senda do paradigma ‘haja luz e houve luz’ que é premissa-chave do criacionismo se defrontaram com o relato do primeiro homicídio da história da humanidade, Caim que coloca em óbito o irmão, num fratricídio. Vamos ter um pai, Adão, na dor, sepultando um filho, Abel, nas origens.

Caim pega uma irmã e foge para os confins, remoendo sua culpa. No futuro será alvejado e morto por uma flecha desferida por um parente. Vivia vagando pelos matos, não dormia, estava em permanente tensão da aflição, angústia, culpa e remorso. Essas circunstâncias são os insumos de análise da Psicanálise que Freud nos legou.

Traumas humanos e sentimentos

Vamos entender as palavras de Stefan Zweig,(1881-1942) no ato de sepultando de Sigmund Freud (1886-1939) em Londres, Reino Único (Inglaterra), quando disse: “Estão aqui os restos mortais de um homem de quem se pode afirmar que, antes dele, o mundo era diferente.’” A Psicanálise nos permitiu mergulhar nos traumas humanos mais recuados. E quando ele faleceu iniciava-se outro grande trauma, a 2ª grande guerra mundial.

Freud conseguiu esclarecer bem que estamos todos durante nossa jornada existencial diante do fato e dos atos psicanalíticos. A morte é um dos atos psicanalíticos mais emblemático e doloroso, rito de passagem. Os sentimentos que são íntimos e as emoções que são expressões dos sentimentos são atos psicanalíticos.

Um dos maiores desafios da humanidade é lidar com as emoções que são tão antigas e tão atuais, como amor, paixão, ódio, fé, vida e morte, ilusão e desilusão, frustrações, ciúmes, invejas, ambição, soberba, arrogâncias, teimosias, felicidade, infelicidade, raiva, medo, entre outras emoções, são atos psicanalíticos. Não conseguimos fugir dos atos psicanalíticos.

Ato Psicanalítico e o pecado

Pecado que é um conceito teológico religioso é um ato psicanalítico. Crime é um ato psicanalítico. O suicídio que o Stefan Zweig praticou contra si em 1942, a pessoa que fez um belíssimo discurso por ocasião do sepultamento do Freud é um ato psicanalítico. Isso nos leva a refletir que os traumas humanos nos conduziram e ainda nos conduzem para vários tipos de atos psicanalíticos.

Namoro, noivado, casamento, divórcio são atos psicanalíticos. O grande mérito do Freud foi colocar em evidência o fato e os atos psicanalíticos. O fato como sendo o objeto da Psicanálise, que é o inconsciente e todas suas implicações e os atos psicanalíticos que guiam nossas vidas. E muitas explicações dos atos estão nas raízes dos eventos humanos. Pois, parafraseando Tomás de Kempis (1380-1471) no seu tomo XIII, nº 4: ‘Aquele que só tira o que vê e não arranca a raiz pouco aproveitará”.

A Psicanálise tem e teve o grande mérito de nos levar às raízes. A Psicanálise nos mostra como nós estamos longe de nós mesmo e nos revela os paradigmas. Muitas coisas estão enraizadas na historicidade de nossos traumas humanos universais.

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    Considerações finais

    Com o advento do positivismo muitos passaram a ter a percepção aguçada de que é melhor esquecer esse paradigma do ‘haja luz e houve luz’ e se livrar de dores e partir para um novo paradigma. Afinal enterrar a dor sempre foi uma das melhores opções humanas usando a hipocrisia e evasivas.

    O grande desafio do paradigma ‘haja luz e houve luz’ é justamente aceitar analisar esses traumas humanos que envolve também fé que é um ato psicanalítico além de fato teológico e uma grande potencia universal.

    Pois a fé, um ato psicanalítico seria a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos, invisível. O grande legado, portanto, de Freud foi abrir muitas portas, e uma delas, para tentarmos compreender os traumas humanos universais.

    O presente artigo foi escrito por Edson Fernando Lima de Oliveira ([email protected]) é licenciado em Filosofia e História. Possui PG em Ciências Políticas, realizando PG em Psicanálise. Realizando PG em Farmácia Clínica e Prescrição Farmacológica; acadêmico e pesquisador de Psicanálise Clinica e Filosofia Clinica.

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