Ao retomar os estudos de psicologia ou, mais precisamente, ao iniciar os estudos da psicanálise, enfrentei algumas dificuldades, tais como: ter ritmo e disciplina para estudar, saber que quando um fala e o outro escuta, compreender os inúmeros conceitos, dar conta das leituras teóricas, procurar ler todas as indicações opcionais.
No entanto nada disso fez com que diminuísse meu prazer e dedicação para absorver este novo arcabouço de conhecimento que o estudo da psicanálise proporciona. Diante disto, venho cada vez mais me dedicando a assistir filmes, conversar com amigos psicanalistas, participar das lives…. tudo o que puder contribuir para me tronar uma profissional mais preparada.
Entendendo mais sobre quando um fala e o outro escuta
De todas as leituras, fiquei muito impactada com as diversas referências encontradas nos textos sobre a “cura pela fala”. Nunca havia ouvido esta expressão e em vários momentos me pego pensando sobre o processo da descoberta dos primeiros estudos freudianos da psicanálise e sua frase: a psicanalise “é um trabalho pelo qual levamos à consciência do doente o psíquico recalcado nele”. Impactante! Isso não saiu, ou melhor, não sai dos meus pensamentos.
Como trazer à consciência o que está recalcado? Como Freud caminhou para seus estudos e descobertas? Como será que ele repensava sua vida? Como ele caminhou para dentro de si? Eu venho repensando a minha: minhas lutas, minhas vitórias, meus sucessões e fracassos, meus sofrimentos e perdas… uma delas, a minha irmã que perdeu a luta para um câncer de estômago aos 45 anos.
Coincidentemente, Anna. Anna Cláudia. Nada histérica. Uma mulher – entre outras características – linda, saudável, emocionalmente estável, vibrante, alegre, divertida e digna de um frescor juvenil.
Ainda sobre quando um fala e o outro escuta
Dia desses refleti longamente sobre minha irmã e seu câncer. Creio que não seja suficiente apenas analisar as comunicações não verbais do nosso corpo, o corpo fala! Nossas expressões, gestos expressam sentimentos, concepções, ou posicionamentos internos, mas que nem sempre revelam o que está aprisionado no inconsciente. As dores e sofrimentos inconscientes se manifestam, também em forma de doenças. O câncer é uma delas.
Dizem que os distúrbios gástricos estão associados às pessoas que guardam os problemas apenas para si. São pessoas que não falam, não dividem suas angustias, dores e medos com o outro, com um amigo, quiçá com um psicanalista.
A fala retida se transforma em fel que por sua vez agride e envenena o aparelho digestivo e se esconde no inconsciente. Sim, a fala cura! Ou poderia tê-la curado.
A cura pela fala é libertadora
No momento que nos dispomos a ouvir, incentivamos a pessoa falar e divagar sobre seus pensamentos, sobre seus desejos, sobre suas angustias, suas raivas e frustrações. Desta forma abrimos a possibilidade para criação de novos significados (conotativos e denotativos) para as deias, memórias, feridas. Desta forma é possível aprender a entender o que se passa no dia a dia, conviver com o passado e olhar para o futuro.
Um fala e o outro escuta. A escuta do psicanalista é diferente da de um amigo, de um confidente. A escuta de um profissional deve ser sempre atenta, focada, mas ouvida pelo inconsciente, pois o conceito de inconsciente é inerente à psicanalise.
É através dos desbloqueios do próprio psicanalista que torna possível que ele seja capaz de ler nas entrelinhas e escutar o que não ouve; por isso não se faz necessária a preocupação com a memorização das histórias dos pacientes. É necessário, ouvir e entender sem preconceitos, arrogância ou falta de humildade. Uma escuta sobre si.
Saber que quando um fala e o outro escuta e a Psicanálise
Assim como o corpo fala, a boca esconde. O trabalho do psicanalista está centrado em encorajar o paciente a descobrir, decodificar e assim verbalizar seus sofrimentos e angustias. Esse é o encanto transformador da psicanálise. Como trazer o recalque à consciência, como fazer com que o paciente seja capaz de encontrar as origens de suas dores e dissabores. Como levar o paciente à ab reação?
Tão empolgada com a fala, com a escuta que quase me esqueço de falar da ab reação. No processo de da “cura pela fala” é esta descarga emocional que muitas vezes leva o individuo se libertar da dor, angustias e sofrimentos após reviver os sentimentos de um momento passado. Um ataque de choro, um acesso de raiva podem ser as melhores e mais cultas e eloquentes frases de um paciente durante seu processo psicanalítico.
Anna Cláudia não teve tempo para sua ab reação. Creio até que suas dores e angustias estavam no consciente, no entanto ficaram cerradas dentro de sua boca, do seu estomago e posteriormente do seu corpo inerte. Findaram seus sofrimentos na vida terrena, suas dores não foram expurgadas.
Conclusão
E eu? Eu sigo aqui dedicada aos estudos, mas principalmente dando voz interna às minhas falas, buscando minha autoanálise, buscando descobrir “quem está aqui”. A partir dos estudos venho compreendendo e transformando alguns aspectos das minhas dores e dificuldades.
E é nesta trilha que pretendo caminhar para tornar minha escuta aguçada e afinada para poder, como disse Freud “levar à consciência do doente o psíquico recalcado nele”.
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O presente artigo foi escrito por Mônica Carvalho, historiadora, relações públicas e atualmente estudante de psicanálise. Autora do livro “O Sétimo Passo”, Ed Revinter. [email protected]