uma garota de muita sorte

Uma Garota de Muita Sorte (2022): resumo e análise do filme

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Neste artigo vamos fazer uma análise do filme Uma Garota de Muita Sorte, adaptado do livro de Jessica Knoll. O filme conta a história de Tiffani, que mudou de nome quando adulta por Ani.

Ficha técnica do filme Uma garota de muita sorte

O filme tem a direção de Mike Barker. O roteiro foi escrito por Roteiro Jessica Knoll e Jessica Knoll. O elenco conta com os destaques de Mila Kunis, Chiara Aurelia e Finn Wittrock. Trata-se de um filme lançado em 2022, sob o título original em inglês “Luckiest Girl Alive” (traduzindo literalmente: A mais sortuda garota viva).

Interpretando Ani Fanelli, a atriz Mila Kunis, surge no filme parecendo ter tudo: um noivo de família tradicional e fluente, uma carreira em direção ao cargo de seus sonhos em ascensão, um armário de colocar inveja, uma aparência dita linda para sociedade e, em rumo a vida confortável elegante que sempre sonhou ter. Uma mulher que guarda segredos terríveis. Uma mulher invejada por todos, com a vida perfeita, mas que no fundo lida com fortes traumas do passado.

O filme revela o lado sombrio da alma humana. Ao longo do filme podemos ver que nada disso, nenhuma dessas conquistas é suficiente para fazê-la esquecer tudo o que passou, todos os seus traumas do passado. Podemos vê-los introduzidos na história através de lembranças de sua adolescência. Nestes momentos conhecemos duas versões diferentes de Ani.

Filme Uma Garota de Muita Sorte e seus monólogos

Podemos citar seus monólogos ao longo do filme, sempre carregados de angústia, desconfiança, obsessão pelo dito “sucesso” e uma Ani como pessoa para a sociedade, que sempre está a postos para atender as expectativas alheias, sempre sabe exatamente o que fazer.

Vemos ao longo do filme, Ani ser convidada por um documentarista para ouvi-la como uma das únicas sobreviventes do famoso tiroteio ocorrido em sua escola, causado por um de seus colegas de turma, que sofria bullying, assim como Ani também sofria e, que que também ficou como acusada, mesmo sem ter nada haver com o tiroteio. Ani é silenciada até pela própria mãe e diretor da escola, quando tentou denunciar o que ocorreu com ela. Neste momento é possível analisar e perceber que aos poucos a personagem de Milas Kunis começa a falar, a contar sua história e, confrontar seu silêncio diante de sua própria história.

Ao recordar essas histórias e revisitar essas memórias traumáticas e conturbadas de sua adolescência, percebe-se o quanto isto definiu sua personalidade quebrada. Ani vai revelando todos os terríveis abusos sexuais (esse crime tem o nome de estupro de vulnerável) ao qual foi submetida em sua juventude, e aos poucos entende que é preciso encarar também seu pior agressor, que também foi um dos sobreviventes do tiroteio.

A superação e sobrevivência

O filme trata como centro de sua história a experiência de superação de uma mulher que sobreviveu a violência sexual e, estender a mão a todas as outras que ainda vivem sob o medo e silêncio. O filme também aborda assuntos de extrema importância e gravidade em nossa sociedade atualmente, porém sem muita profundidade. Bullying nas escolas, preconceitos sociais e armamento são alguns destes temas. Além de temas sociais importantíssimos como silenciamento, cultura do estupro, e potência da fala.

Os temas aparecem sempre em lugar de solidão e desamparo das vítimas, que não conseguem recorrer a alguém. É sempre ótimo qualquer iniciativa de romper o silêncio e desnaturalizar todas essas violências citadas que atravessam vítimas, mas também vejo que o filme faz isso de forma pouco original. Fica-se esperando uma grande reviravolta, que não acontece.

Se entende que a libertação da personagem Ani é apenas uma questão de resiliência, ignorando os privilégios conquistados por ela e reforçando ideais tradicionais de gênero. Outro ponto muito importante do filme, que não podemos deixar de citar é o personagem do político conservador que no final era um estuprador. O filme, não mostrou um espetáculo quando trata do estupro.

A personagem do Filme Uma Garota de Muita Sorte

Foi posto no filme de uma forma que ajuda a desconstruir o estereótipo de beco escuro, lugar abandonado. Pois muitas vítimas não sabem nomear as violências que sofrem ou sofreram. Mostra também a forma como a sociedade ainda compactua e é conivente com a violência. O homem sempre aplaudido e a mulher sempre questionada.

Podemos ver que Ani, apesar de ter conquistado tudo o que a sociedade dita como a “vida perfeita”, ela não era feliz, se sentia uma personagem de si mesma, comia escondido, não gostava de escrever sobre o que escrevia em seu trabalho e, não deseja tanto assim se casar. Em um momento Ani diz: “Eu não sei o que sou e o que eu inventei para as pessoas gostarem de mim. Sou uma boneca de corda. Vire a chave e eu falo exatamente o que quer ouvir.”

Engolia toda a raiva que sentia, como ela mesmo cita em um momento de conversa com seu grande algoz, evitava falar sobre a violência que sofreu, mas a sentia visceralmente a todo tempo. No primeiro momento do filme vemos a protagonista tentando ter a dita vida perfeita da mulher moderna. E, aos poucos, ao longo do filme ela vai encontrando seu real desejo.

Relação com a Psicanálise

Ela continua sendo ela, sobrevivente de muitas violências diferentes, mas como diz Clarice Lispector: “serei sempre eu mesma, mas jamais serei a mesma.” Esse é o movimento que a psicanálise faz em terapia. Você não deixa de ser quem é, você se conhece, se apropria de tudo o que te compõe e a partir daí consegue usar o seu passado e, não ao contrário. O seu passado deixa de te consumir.

Vemos que a personagem tem estresse pós-traumático, distúrbios alimentares e bastante insegurança. Já falamos que ao longo do filme essa vida perfeita vai se mostrando ser uma fachada. Mas é importante pensarmos como ainda é reforçado em filmes a perfeição dentro do que o patriarcado diz ser ideal. A própria Ani é determinado momento diz que só será ouvida devido a essa posição.

E, enquanto Ani não fala sobre o que passou, ela não tira isso dela, se repete e repete e acaba por se tornar o centro fixado do trauma. Quando Ani decide falar, colocar todos seus traumas em palavras, falar sobre seus abusos, coloca o trauma em palavra. Denunciou seu abusador, que até então era dito como “homem de família”, devolveu um bom tanto da raiva que tanto engoliu e decidiu gritar. Terminou o noivado, com o noivo que conhecia a Ani, mas que nunca olhou para Tiffany. Devolveu a si seu nome, Tiffany. Falando por si e dando voz a muitas outras mulheres.

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    Este artigo sobre o filme Uma garota de muita sorte (2022) foi escrito por Pamella Gualter ([email protected]), estudante de Psicopedagogia e Psicanálise. Amo descobrir e conhecer como funciona a mente humana para a partir disso junto com o indivíduo chegarmos a um equilíbrio entre o que se é e, o que precisa ser para convivermos em sociedade, evitando sempre anular nossos desejos reais.

    1 thoughts on “Uma Garota de Muita Sorte (2022): resumo e análise do filme

    1. Mizael Carvalho disse:

      Sim! Realmente uma garota de muita sorte. Só que a “sorte ” começou mesmo quando ela se libertou dos seus traumas! Parabéns pelo artigo!

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