viciado ou adicto

Viciado ou Adicto: linguagem e abordagem adequadas

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Hoje falaremos sobre viciado ou adicto. Na contemporaneidade, é urgente desconstruirmos preconceitos, desafiarmos paradigmas e rompermos estereótipos. Nessa revolução cultural, emerge a necessidade de reavaliarmos nossa comunicação, considerando a linguagem como uma ferramenta poderosa de transformação.

Entendendo sobre viciado ou adicto

Recentemente, confrontamos o profundo impacto das palavras que escolhemos. Um exemplo notável é a substituição do termo “índio” por indígena. Essa mudança transcende o simbolismo e reflete nosso respeito pela diversidade linguística e cultural dos povos originários. Enquanto “índio” perpetua estereótipos coloniais e distorcidos, indígena honra a conexão intrínseca com a ancestralidade e com o lugar em que vivem os povos originários. Representa, ainda que parcialmente, um esforço de reparação histórica aos indígenas.

Vício ou adicção? Viciado ou Adicto?

Nesse sentido, outra reformulação urgente se faz necessária na abordagem das dependências obsessivas e compulsivas. A expressão “vício” carrega consigo um peso negativo, frequentemente utilizado para marginalizar e humilhar os afetados. Durante anos, “viciado(a)” foi sinônimo de falta de caráter e uma forma depreciativa de se referir às pessoas que sofriam de algum tipo de dependência obsessiva e compulsiva, sobretudo aquelas com problemas relacionados às drogas, incluindo o álcool. Essas pessoas eram tratadas como “viciadas”, “alcoólatras”, ou simplesmente “drogadas”.

Surge, então, a relevância dos termos “adicto” e “adicção”, enraizados no latim arcaico, descrevendo aqueles que eram escravizados por suas dívidas, perdendo o controle sobre suas próprias vidas. Esses termos abrangem uma diversidade de dependências obsessivas e compulsivas, desde drogas até comportamentos e relacionamentos. Eles remetem à importância de compreender “quem, como e por que” alguém se torna um adicto, desviando o foco do objeto, coisa, comportamento ou pessoa desejada de forma obsessiva e compulsiva.

O adicto enfrenta um paradoxo: a busca incessante por prazer, seguida pelo anseio por alívio do sofrimento decorrente dessa busca. No cerne desse paradoxo está o ciclo de comportamento obsessivo e compulsivo que muitos enfrentam na luta contra a adicção. A mesma fonte de prazer se transforma em sofrimento, culminando em sentimentos de culpa e vergonha.

Dependências

No contexto brasileiro, embora os termos “adicto” e “adicção” sejam comuns, tendem a ser limitados à noção de dependência química. No entanto, é essencial compreender que a adicção abrange uma gama mais ampla de dependências obsessivas e compulsivas, para além do uso de substâncias psicoativas.

Podemos citar, por exemplo, jogos de azar e apostas, jogos eletrônicos, uso excessivo da internet, práticas de pornografia, compulsões alimentares, compras compulsivas, entre outros. Portanto, ao utilizarmos o termo “dependente químico”, corremos o risco de subestimar a abrangência e a complexidade da adicção como um todo, que vai além do uso de substâncias específicas e comportamentos tidos como problemáticos para uma determinada comunidade.

Compreender a complexidade da adicção é crucial. A classificação pela OMS de várias dependências obsessivas e compulsivas como doenças e/ou transtornos nos permite usar o termo “adicção” para descrever as condutas que se manifestam através dessas dependências, independentemente de estarem associadas a drogas ou não.

Experiências humanas

A esfera de aplicação deste conceito é ampla, abrangendo desde o alcoolismo e a dependência química até questões contemporâneas, como as dependências ligadas à internet e jogos eletrônicos, como a Nomofobia e o Gaming Disorder, entre outras formas de dependências extremas. Apesar das particularidades de cada caso, a adicção é o elo comum entre eles, evidenciando a persistência de padrões obsessivos e compulsivos em diferentes contextos.

Destacamos, assim, que a evolução na linguagem é uma jornada de empatia e respeito. Ao adotarmos palavras que ressoam com a verdadeira essência das experiências humanas, quebramos preconceitos e promovemos compreensão mútua. Ao celebrarmos nossa diversidade e abraçarmos a linguagem de forma consciente, erguemos pontes que superam barreiras e nos impulsionam a evoluir como sociedade.

Neste período de transformação, entendemos que nossas palavras moldam nossas realidades. Ao romper com preconceitos e abraçar a diversidade, ao adotar uma linguagem consciente, abrimos caminho para um futuro inclusivo, compassivo e verdadeiramente fraterno.

Freud, viciado ou adicto

Contudo, é importante destacar que a psicanálise, desde seu início, tem desempenhado um papel relevante no entendimento e tratamento da adicção. Freud foi pioneiro ao reconhecer como a psicanálise pode oferecer insights valiosos sobre a dependência química, destacando a interação entre prazer e tensão no aparelho psíquico humano.

Além disso, psicanalistas contemporâneos, como Joyce McDougall, Winnicott e Gerard Pirlot, entre outros, dedicaram uma parte significativa de suas pesquisas ao tratamento da adicção, frequentemente compreendendo-a como uma doença psicossomática.

Eles enfatizaram a importância de explorar as raízes e as possíveis causas da adicção, influenciadas por uma complexa interação de fatores biológicos, psicológicos, sociais, culturais, ambientais e emocionais, incluindo experiências de abuso, traumas, estresse, ansiedade, depressão, baixa autoestima etc. Nesse contexto, a psicanálise oferece uma abordagem terapêutica aprofundada, permitindo uma compreensão abrangente das origens e dinâmicas subjacentes à adicção, essencial para um tratamento em um nível mais profundo e abrangente.

Abordagem multidisciplinar

É vital reconhecer, no entanto, a importância de uma abordagem multidisciplinar, integrando diversos campos para oferecer suporte especializado aos indivíduos afetados pela adicção.

Além disso, é fundamental reconhecer o papel extraordinário desempenhado ao longo das décadas por grupos de ajuda mútua, como Narcóticos Anônimos, amplamente reconhecido por oferecer um programa eficaz que propõe aos membros a total abstinência de drogas, incluindo o álcool. Isso requer a participação regular em reuniões e a prática dos 12 passos, que, entre outros benefícios, também permitem que os membros acessem o que está recalcado no inconsciente.

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    Ao promover a prática dos princípios espirituais, juntamente com o foco em viver um dia de cada vez, o bordão “só por hoje” se tornou uma filosofia de vida reconhecida mundialmente, proporcionando uma nova maneira de viver que é considerada transformadora pelos seus membros devido à prática contínua desses princípios.

    Conclusão

    Diante das reflexões sobre a linguagem e a abordagem da adicção, é necessário reconhecer o papel inestimável da psicanálise no entendimento e tratamento dessa complexa condição. Desde os primeiros passos de Freud até as contribuições contemporâneas de psicanalistas renomados como Joyce McDougall, Winnicott e Gerard Pirlot, entre tantos outros, a psicanálise tem iluminado os caminhos profundos da adicção, revelando suas origens e dinâmicas subjacentes.

    Combinando uma abordagem terapêutica aprofundada e a necessidade de uma perspectiva multidisciplinar, a psicanálise continua a oferecer insights valiosos para compreender e abordar a adicção de maneira abrangente e profunda. Ao mesmo tempo, os grupos de apoio, como os Narcóticos Anônimos, desempenham um papel notável ao fornecer um programa de recuperação e uma filosofia de vida transformadora para aqueles que lutam com a adicção.

    Ao abraçarmos essa integração de abordagens e valores, desconstruímos preconceitos, desafiamos paradigmas e rompemos estereótipos, apresentando um caminho mais solidário e empático onde é possível a recuperação para aqueles que enfrentam a adicção, construindo uma sociedade mais inclusiva e fraterna para todos.

    Este artigo sobre significação dos termos viciado ou adicto foi escrito por Alexandre Baptista. É graduado em Filosofia e encontra-se em formação como Psicanalista Clínico. Possui uma sólida trajetória de mais de duas décadas dedicadas ao campo de tratamento da adicção. Além disso, exerce um papel ativo como Palestrante, com o objetivo de informar, conscientizar e prevenir acerca das problemáticas envolvendo as dependências compulsivas e obsessivas. Tem compartilhado seu conhecimento e experiências tanto com empresas e seus colaboradores, quanto com instituições de ensino e seus alunos, abordando questões pertinentes ao alcoolismo, dependência química e adicção. Para entrar em contato, você pode enviar um e-mail para [email protected].

    One thought on “Viciado ou Adicto: linguagem e abordagem adequadas

    1. Elizabete Carvalho disse:

      Muito bom artigo! Obrigada professor Alexandre Baptista.

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