Neste artigo de opinião, falaremos sobre acessar ao inconsciente e vamos abordar um tema que tem sido um clássico tremendamente atual e que versa sobre as possíveis formas de acessar ao inconsciente humano.
O assunto é polêmico e divide o ‘establishmente’ (a parcela de intelectuais e estudiosos que dominam a teoria das ciências Psi) em todo o planeta. Vamos nos dedicar ao tema e ao final, ofertar uma resposta a problematização proposta e submeter ao crivo social.
Entendendo como acessar ao inconsciente
Este artigo de opinião tem como escopo (objetivo central e específico) examinar as possíveis formas viáveis de acesso ao inconsciente. O tema é polêmico e divide opiniões do establishment em convergentes, divergentes e indiferentes. Vamos examinar as seguintes questões-problemas: a teoria do inconsciente; as formas de acesso ao inconsciente; as ferramentas de Freud; o peso da pós-modernidade dos tempos líquidos e vaporizados; a carência das interfaces, considerações sobre o método e discussão; e na conclusão, vamos ofertar uma resposta a seguinte indagação: “Quais são as possíveis formas ‘mais viáveis’ de acesso ao inconsciente humano?
E como fecho, algumas observações sobre a bibliografia apenas consultada.
A teoria do inconsciente
Todas as formas possíveis e viáveis de acesso ao inconsciente humano estão ancoradas na validade da teoria do inconsciente. Se e somente se, ficar plenamente provado que o inconsciente não existe, não temos o porquê de esmiuçar a questão que seria uma mera ficção cognitiva humana.
Porém, muito importante salientar que foi Sigmund Freud (1856-1939) quem sistematizou e ajudou outros atores sociais pregressos ligados ao tema, a provar que existe o inconsciente. Muitos debates foram realizados sobre a validade da premissa, se foi ou não Freud quem descobriu o inconsciente.
Sabemos, por antecipação, de várias fontes, que não foi ele quem descobriu o inconsciente; porém, foi Freud que efetivamente ele quem sistematizou a teoria do inconsciente. Lugar comum afirmarem em academias e centros de formação leigos e especializados que seria ele, ‘em tese e a priori’, o descobridor e o desbravador do inconsciente.
A literatura
Existe consenso de que ele desbravou, mas, não foi o descobridor porque o inconsciente já existia desde os primórdios. A literatura até bíblica confirma e podemos inferir que o episódio em que Caim cogitou, organizou os atos preparatório, a execução e consumação do fratricídio do irmão, pois ele mata o irmão de sangue Abel, tenta ocultar o cadáver cavando uma cova com mãos, tapando com galhos e folhas e foge para lugar ermo, um recanto dele que entendeu que estaria em tese em paz de espírito.
Indagado por Deus, onde estaria seu irmão, ele nega e termina usando um mecanismo psicológico de fuga e verbaliza: ‘Senhor, acaso sou eu o guardião do meu irmão ?!” Ele falava com Deus por telepatia possivelmente, dizem especialistas estudiosos da Teologia e Ciências Religiosas, ou seja, por pensamento.
E escondia no seu íntimo (aqui entendido como inconsciente’’) o seu ato que gerou um fato adverso introjetado na consciência da humanidade. Vamos encontrar na história de vida de José filho de Jacó a questão da interpretação dos sonhos e percorrendo escrituras temos em vários livros a descrição do inconsciente, também em Jó, Davi, Salomão, em vários profetas, idem no Novo Testamento, temos vários episódios e até Jesus, quando fez uma oração e se transfigurou.
Livros apócrifos e como acessar ao inconsciente
Aliás, novas escrituras localizadas e classificadas como livros apócrifos, como Evangelho de Tomé, relatam a infância de Jesus, onde ele teria alguns transtornos e seria hiperativo. Importante, também, frisar, que assim como Alan Kardec (Hippolyte Léon Denizard Rivail, 1804-1869) está para o espiritismo como seu sistematizador e codificador, Sigmund Freud (1856- 1939) está para o inconsciente e Psicanálise, como seu sistematizador.
Freud construiu as suas ferramentas próprias para acessar ao inconsciente que vamos abordar no próximo tópico. Formas de acesso ao inconsciente. As academias e os centros de formação sejam eles leigos ou especializados, reconhecidos ou não, pelos poderes públicos, a nível global relatam as formas de acesso ao inconsciente como sendo a hipnose, interpretação dos sonhos, associação livre, lapsos, chistes, atos falhos.
Com exceção da hipnose os demais supracitados são produtos (frutos) dos estudos de Freud. Ele discordava do uso da hipnose e desenvolveu as suas ferramentas próprias numa visão em linha própria e solo, que depois se incorporaram nos estudos e práticas.
Chás hipnóticos e como acessar ao inconsciente
Entretanto, temos outras formas de acesso ao inconsciente que são viáveis, como uso de chás hipnóticos, que é o caso da raiz santo dai-me, entre outras folhas e cascas, além de raízes; que levam ao inconsciente; temos a anestesia em cirurgias, principalmente ao quase despertar, a pessoa fica inconsciente; a catarse, o surto, o soro da verdade, que é o ‘tiopental’ conhecido também como ‘escopolamina’ e ‘tiopentato de sódio’ ou ‘tiopental sódico’.
Um barbitúrico de ação rápida depressor do sistema nervoso central, utilizado também, em anestesias e que foi muito usado durante a 1ª e 2ª guerras para obter informações e confissões de capturados nas linhas de ataque e defesa; a arte, que inclusive houve experiência brasileira retratada até em filme. A reforma psiquiátrica permitiu práticas mais humanizadas no tratamento de sofrimentos psíquicos.
A arteterapia é uma dessas práticas e que foi utilizada para acessar ao inconsciente pelo estado de víglia consciênte e até o transe ou pós-surto e catarse. Vale destacar que a Dra. Nise Magalhães da Silveira (1905-1999) revolucionou a Psiquiatria no Brasil e no planeta com o uso do tratamento psiquiátrico contrário às formas agressivas usadas em sua época, como o eletrochoque; ela passou a usar a pintura (arte) para acessar ao inconsciente das pessoas ou para manifestar o inconsciente.
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O teatro e o inconsciente
A outra forma é o teatro, onde temos a peça Hamlet, de William Shakespeare (1616) poeta, dramaturgo e ator inglês, escritor do idioma inglês considerado dramaturgo da história de Bardo do Avon; idem filmes como gatilhos para despertar o inconsciente; a dança, como por exemplo, o passo de transe, ainda muito usada em casas de terreira, ‘pomba-gira’ com uso do tabaco e álcool que levam ao estado de transe.
A meditação; o ato de pressão, este usado em tribunais, que acessa o inconsciente, inclusive na esfera policial; o estado de remorso e culpa em confessionários religiosos, na esfera espiritual; existem relatos de como padres conseguiam acessar inconscientes fazendo as confissões de fiéis; houve o apogeu e declínio dos confessionários; o ato de ‘flash’ induzidos de lembranças, em autoanálise, que a pessoa acessa o seu inconsciente e revelam fatos passados recalcados como traumas; o efeito contágio coletivo também acessa o inconsciente e conflitos verbais fortíssimo induzidos.
No Brasil tivemos a explosão de revelações de violência sexual a partir de um efeito contágio coletivo onde até celebridades vieram de público confessar que foram violentados quando crianças. Todas essas formas listadas e arroladas são ‘viáveis de acesso ao inconsciente’, porém, tem suas peculiaridades e especificidade com suas limitações.
A telepatia
Outras pretenciosas formas se revelaram ineficazes e inviáveis como telepatia. Existem ainda uma gama de dados e informações sobre revelações extraordinárias não comprovadas, como visões e pressentimentos, sexto sentido, vidências, telergia que é o foco da Parapsicologia, uso de cartas, dados, búzios, e tantos outras que não lograram êxito em comprovar o acesso efetivo ao inconsciente.
Freud, como médico, se debruçou em cima de sua tese e provou ser possível acessar o inconsciente com as suas ferramentas. Por esta razão ele conseguiu consagrar e consolidar a Psicanálise. As ferramentas de Freud. O Sigmund Freud (1856-1939) discordou do uso da hipnose para acessar o inconsciente e desenvolveu as suas ferramentas próprias que testou empiricamente e após, difundiu aos interessados pelos seus escritos, pessoas que aderiram, aplicaram e comprovaram sua eficácia na clínica em seus consultórios e clínicas e escrevem artigos e livros tendo como âncora os seus analisandos (pacientes e partilhantes).
São as seguintes ferramentas da caixa d ferramenta de Freud, a associação livre ou livre associação; a interpretação dos sonhos; os chistes (piadas/humor); os lapsos, os atos falhos e a escuta flutuante. As demais formas de acesso continuaram a ser pesquisadas e testadas pelo mundo todo. Porém, as que se notabilizaram foram as estruturadas tecnicamente por Freud e que foi o vetor da Psicanálise.
Os analistas e como acessar ao inconsciente
Os analistas são unânimes em apresentar suas teses de que é preciso ficar bem claro que o objeto da Psicanálise é o inconsciente, o sujeito é o analisando. O seu ferramental são as formas que ele estruturou de acessar os inconscientes e o campo de aplicação são os clientes que procuram este tratamento no leque do repertório dos que são ofertados.
A opção pela Psicanálise como meio de tratamento e cura envolve a aceitação de que a resposta está alojada nos arquivos do inconsciente. O psicanalista é um detetive do inconsciente que consegue mediante uma ferramenta acessar o inconsciente, entrar num porão escuro, iluminar, chegar no arquivo, abrir a gaveta certa, descobrir a causa e regressar para uma solução de remissão (cura) ou que venha a debelar o quadro clínico nosológico.
O peso da pós-modernidade dos tempos líquidos e vaporizados. O Brasil evoluiu muito saindo de uma situação pré-moderna e moderna retardatária e ingressou fortemente na pós-modernidade dos tempos líquidos.
A sociedade moderna
Costuma-se dizer que o prédio da escola é pré-moderno em muitos lugares, os professores via de regra são analógicos e conservadores, cheios de regrinhas tolhendo os jovens e os jovens são pós-modernos nativos digitais muito avançados configurando uma situação quase que explosiva dentro de várias escolas que ainda se negam a investir em quadros eletrônicos, uso de notbook’s, idem celulares em sala.
Os jovens se recusam a brincar como nos velhos tempos, desejando joguinhos de celular. Um conflito em sala viraliza em minutos, com fotos e gravações de vídeos e podem ser judicializados; professores partem para defensiva e ofensiva tentado limitar e apreender aparelhos ou impor normas.
Alunos são encaminhados para psiquiatras da velha escola que ainda tem a visão da ‘disritmia’ ou TDH (hiperativos) receitando remédios pesados que levam alunos a se babar em sala ou ficarem sonolentos, sedados. E o tempo flui numa rapidez imensa, vaporizando. O ainda-não é rejeitado em nome do já-provisório e do aqui-e-agora. Jovens reivindicam um novo normal e buscam uma pós-verdade em tudo e a tecnologia avança muito.
Como acessar ao inconsciente e a imaturidade
O fenômeno de jovens se chocando nos corredores concentrado em celulares virou algo comum. E o peso dessa pós-modernidade reflete na vida das pessoas e nos seus inconscientes que muitas vezes até ‘grita’ e tenta ‘falar’ com os mestres através da arte, da dança, das letras de músicas, dos surtos e catarses, peças de teatro escolar, sonhos contados em sala, lapsos e atos falhos, livre associação tudo mal interpretado porque carecem do saber psicanalítico e uma imaturidade ou ausência ou déficit de uma interface mais forte.
As pessoas acabam não sabendo mais o que fazer e o jeito é apelar para o chavão do jargão pop, ‘deixa como está para ver como é que vai ficar’. Se instala a hipocrisia e negligência na base do não sei de nada, não vi nada, não ouvi nada e não sei de nada. O ‘déficit’ das interfaces.
Existe uma carência imensa de interface por todo país e é um fenômeno global. A primeira forma de interface foi a interdisciplinaridade, que funcionou bem até quando também entrou no tecido social, em quase todas as esferas, a multidisciplinariedade, a segunda forma de interface.
A polidisciplinariedade
Após, algum tempo, muitos mestres e pesquisadores passaram a defender a pluri e transdisciplinariedade que não conseguiram se estruturar de forma geral, ficando nicholada (aprisionadas por segmentos) em certos setores tanto educacional como mercadológicos. Sobreveio a visão da meta e polidisciplinariedade que se expandiram com a pandemia, principalmente a metadisciplinar.
Por fim, com a crise ambiental surge iniciativas de ecodisciplinariedade. As interfaces são importantíssimas e precisam se expandir para sociedade melhorar e necessitam de pessoas proativas e ativas. As pessoas de perfis reativos, passivos e inativos travam os processos de mudanças conhecido como os ‘tranca tudo’ ou ‘tranca-ruas’, que se traduzem em mentalidades que não deixam os processos fluírem.
E muitos retratam isso como podem por alguma ferramenta de inconsciente, geralmente, teatro, filmes, novelas, crises em geral, como surtos, catarses. Alguns usam o termo psicoideologico progressistas versus conservadores que polarizam as lutas sociais e trancam avanços pro-sociedade ou que venham a beneficiar o máximo possível de pessoas em busca da qualidade de vida e até saúde mental.
A manifestação do inconsciente
É um processo muitas vezes inconsciente que escolhe uma via para ser acessado e se manifestar, geralmente pela arte. O método utilizado no presente artigo de opinião foi a consulta aos artigos publicados na rede social e estudos que corroboram muitas das observações, pragmáticas com escoamento de alguns temas pela via das bibliografias, livros publicados, e estudos com pesquisa de campo que visam confirmar teses e premissas suspeitadas pelo senso comum.
Também, pesquisa exploratória em dados e informações veiculadas pela imprensa falada e escrita, rádio e televisão. Ainda, por entrevistas em geral de pessoas ligadas as ciências sociais e psicológicas que dão respaldo e embasam muitos juízos de valor.
Conclusão sobre como acessar ao inconsciente
Diante do que acima foi exposto, para conhecimento e análise do crivo social e de acordo com os dados e informações levantados, face ao questionamento proposto, qual seja, afinal, ‘Quais são as possíveis formas ‘mais viáveis’ de acesso ao inconsciente humano?’.
E todas que foram listadas e apresentadas, entendemos que as mais viáveis são a livre associação, a interpretação de sonhos, a análise de lapsos, os atos falhos, os chistes e a escuta flutuante, que se caracterizam como as mais viáveis de acesso ao inconsciente em face do sintoma visando a formação de um juízo técnico e clínico que leve efetivamente ao diagnóstico correto e a remissão dos seus sintomas.
Ou pelo menos, debelar o quadro clínico e minimizar o sofrimento. Outras formas de acesso ao inconsciente estão sinergicamente vinculadas e tem nexo lógico coerente, porém, como manifestação psíquicas carecem de comprovação efetiva; e algumas, que tem uma expressão forte e estão encaixadas ou conectadas as psicoterapias precisam de mais estudos. Elas não estão descoladas.
Como acessar ao inconsciente e Freud
Entretanto, efetivamente foi Sigmund Freud (1856-1939) quem de certa forma, que era considerado um gênio, conseguiu isolar cada técnica de análise e ir testando até obter confirmação isenta, sem a concorrência de conflitos de interesses ligados a uma subjetividade, coletividade e até nacionalidade.
Para Freud, se o objeto da Psicanálise é tão-somente o inconsciente, ele então foi muito assertivo em isolar cada técnica e ir examinando e registrando suas impressões ligados a contextos reais, concretos, numa práxis, o que foi se consolidando com o tempo face confirmações clínicas.
A percepção e visão da Neurociência em argumentar que tais situações precisam de uma confirmação por imagem cerebral não se coaduna com a Psicanálise, porque passa a ser o foco da Neuropsicanálise e não da Psicanálise gerar a prova cabal de imagem cerebral em parcerias, interfaces, com outros ramos do saber.
A Neuropsicanálise
A Psicanálise tem seu foco em conseguir entrar no arquivo (inconsciente) do sujeito com seu ferramental e fazer a aplicação com vistas a levantar a etiologia da nosografia para propor caminhos, ao passo que a Neuropsicanálise é que deve tentar demostrar a ação pela formação da prova de diagnóstico por imagem, usando a tomografia e ressonância magnética, biomarcadores, entre outros.
Isto não isenta a Psicanálise de fazer interfaces até necessárias. E outras formas de se tentar acessar o inconsciente, elas trazem para o exterior e olhar de todos os sintomas, ou seja, é o pus psicológico. Era o que Freud não desejava, ele queria ir além de tudo isso, com outras ferramentas senão ele teria se contentado com a condição hipnótica.
E quanto aos marcadores biológicos, cabe a Biomedicina realizar e apresentar os dados e informações em interface. Nesse sentido a Psiquiatria Psicobiológica evoluiu bastante em parceria com a Neurologia e Radiologia, em interface, apontando os desequilíbrios bioquímicos cerebrais de muitas patologias como foi no caso da esquizofrenia.
O papel do Psicanalista
Contudo, nada invalidou a Psicanálise que está voltada para o seu norte magnético verdadeiro e correto, que é entrar no arquivo inconsciente dos sujeitos e ir na gaveta certa buscar (revelar) a causa. O psicanalista ingressa no inconsciente, pela ferramenta adequada, por analogia, um porão escuro, onde estão todos os arquivos, ilumina, acha a gaveta correta, abre, lê a causa, fecha a gaveta e volta para preparar as ações pró remissão.
E não lê o que tem em outras gavetas fechadas que não se manifestaram. Este é o papel ético do analista. Não cabe jamais a Psicanálise ingressar na esfera de biomarcadores e busca de diagnósticos por imagens cerebrais e nem da aplicação de receitas alopáticas. Porém, poderá realizar uma ou mais interfaces se possível e cabível.
O operador da Psicanálise precisa entrar no inconsciente do analisando e achar respostas sem receio do partilhante (analisando) de que ele vá espionar toda sua intimidade. Esse é o papel do Psicanalista. Segue para consideração de todos.
Artigo escrito por Edson Fernando Lima Oliveira. Formado em Psicanálise pelo IBPC, com PG em Psicanálise pela UCAM, com especialzação em Neuropsicanálise, Filosofia Clínica, cert A, e em Teologia Clínica. [email protected]