escuta psicanalítica

A Escuta psicanalítica no processo de terapia

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A escuta psicanalítica é o primeiro contato clínico entre analista e paciente. É um momento fundamental para o sucesso da terapia analítica. Em primeiro lugar, é preciso entender que primeira escuta começa com a entrevista inicial em psicanálise, que tem duas funções:

  • Compreender as dores e desejos do paciente: o que trouxe o cliente até a clínica?
  • Estabelecer o contrato entre analista e paciente: horários, formas de trabalho, formas de pagamento etc. Não precisará necessariamente ser escrito.

O que é? Qual diferença entre tipos de escuta?

A escuta psicanalítica é baseada na atenção flutuante do psicanalista e tem como objetivo levar o par analítico a construir livres associações sobre o analisando e sua condição. Difere da escuta em outras situações da vida, e até mesmo da escuta de outros tipos de terapias.

Não se baseia no aconselhamento, ou seja, o psicanalista não oferece conselhos. A terapia pode caminhar para o reconhecimento de certos padrões psíquicos do analisando. Este poderá construir uma percepção diferente sobre si e sobre seus padrões, o que se chama perlaboração.

Uma pessoa pode ser encaminhada ou orientada a procurar por atendimento psicanalítico por vários meios. Algumas possibilidades são, um médico, assistente social, colega de trabalho, amigo, um paciente da psicanálise ou, simplesmente, por ter “ouvido” alguém dizer que seria importante para sua vida.

Por experiência própria, é possível afirmar que o processo de expectativa com a Psicanálise se inicia imediatamente, ou seja, no momento do agendamento da consulta, sendo que , na maioria das vezes, tal agendamento se dá por telefone.

A escuta psicanalítica

Partindo da literatura, podemos compreender que a escuta é parte do processo de análise. O analista deve intervir o menos possível. Sendo assim, deve-se fazer as perguntas certas, na hora certa, para permitir que aparentes deslizes na fala do analisado venham à tona.

A entrevista psicanalítica inicial já é um processo de escuta, e diz respeito a:

  • Primeira comunicação verbal entre entrevistado e entrevistador;
  • Compreensão da motivação pela busca ao atendimento;
  • Escuta acerca do histórico de vida do entrevistado;
  • Orientações do entrevistador quanto a conduta Psicanalítica;
  • Acordos quanto a prosseguir ou se despedir.

A entrevista é a base da intervenção que se inicia e para o Psicanalista. Portanto, é essencial para encorajar e manter uma relação terapêutica a possibilidade de compreender algo sobre o paciente e sobre a relação que se inicia. Ela se baseia na escuta psicanalítica, que é diferente de uma escuta comum, do dia-a-dia.

Pode ser relativamente simples este primeiro momento, entretanto traz com ele muita complexidade. Sendo necessário haver, de ambas as partes, a clareza do que se deseja com a nitidez do que se oferece.

A Escuta Psicanalítica como conduta na entrevista

Para o paciente, as primeiras sessões, também chamadas de entrevistas psicanalíticas, tratamento de ensaio ou início do tratamento, representam a importância decisiva para o processo posterior de tratamento. O paciente normalmente mede se será escutado. Escutar não significa concordar com tudo o que ouve: o paciente não pode esperar concordância em tudo do terapeuta.

O terapeuta psicanalista não está presente para julgar, mas para indagar as revelações e incoerências que escuta. É recorrente o paciente dizer algo que ele próprio não escutou: cabe ao analista reprocessar a fala do paciente para que este compreenda o significado oculto daquilo que foi expresso.

É uma precondição para o sucesso desta continuidade no tratamento é o Psicanalista se aproximar dos conflitos inconscientes do paciente por meio da compreensão e da interpretação e seguindo por este raciocínio.

A partir do sucesso entrevista bem sucedida, entendo quão importante é registrarmos por onde passa a conduta do Psicanalista neste primeiro momento e em todos os outros que virão:

  • Escuta psicanalítica
  • Empatia
  • Curiosidade
  • Compreensão
  • Identificação
  • Interpretação
  • Conceitualização
  • Reação
  • Intervenção
  • Responsabilidade
  • Definição dos papéis
  • Atitude terapêutica

A escuta na entrevista psicanalítica

No texto “O início do tratamento”, Freud menciona o hábito de reservar um período com o paciente em atendimento. Pois, esse tempo serve tanto para fins de diagnóstico, quanto para poupar o paciente da falsa ideia de uma cura, se viesse a interromper o tratamento neste período (CUMIOTO, 2007).

Um trabalho prévio à Psicanálise

Segundo Quinet (1991), o termo entrevistas preliminares corresponde ao tratamento de ensaio em Freud, de acordo com Lacan.

Essa expressão indica que existe um divisor, ou seja, uma porta de entrada na análise totalmente diferente da porta de entrada do consultório. Em suma, trata-se de um tempo de trabalho prévio à análise propriamente dita, cuja entrada é concebida não como continuidade, mas como uma descontinuidade, um corte em relação ao que era anterior e preliminar.

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    Esse corte corresponde a atravessar as dificuldades desse processo. Para que, então, seja possível entrar no discurso analítico. Dessa forma, conforme afirma Lacan, não há entrada em análise sem as entrevistas preliminares.

    As funções da entrevista psicanalítica

    Segundo Quinet (1991), podemos dividir as entrevistas preliminares (aquelas feitas como etapa inicial do processo de análise) em três funções:

    • função sintomal (sinto-mal)
    • função diagnóstica
    • função diferencial

    A primeira função de escuta psicanalítica na entrevista

    Dentro dos conceitos de Jacques Lacan, só existe uma demanda verdadeira para se dar início a uma análise: a de se desvencilhar do sintoma. Visto que é a elaboração de tal sintoma é o que irá transformá-lo em sintoma analítico. Sendo assim, pode-se dizer que a analisibilidade é função do sintoma, não do sujeito.

    Então, tal sintoma será questionado pelo analista, que irá investigar a função que ele vem delimitar. Então, pensando no ponto de vista freudiano, as questões seriam as seguintes: o que fez fracassar o recalque e surgir o retorno do recalcado para que fosse constituído o sintoma?

    O sujeito se dirige ao analista com perguntas a respeito do sintoma. Pois, supõe que o analista detém a verdade sobre ele. “A transferência em relação ao grande Outro que nos fundou e nos alienou como condição para a humanização”. (CUMIOTO, 2007, p.5 ).

    O grande Outro remete ao conceito de Sujeito Suposto Saber, a partir do estabelecimento do processo de transferência, que é o vínculo formado entre psicanalista e paciente.

    A segunda função de escuta psicanalítica na entrevista

    Já a segunda função, que seria a diagnóstica, segundo Quinet (1991), só tem sentido em servir para a orientação da conduta da análise, a partir das questões fundamentais do sujeito.

    Um exemplo disso, é o sujeito psicótico, que precisa que o analista saiba que a condução da análise não poderá ter como referência o Nome-do-Pai e a castração. Além disso, pensando no efeito esperado da análise, pode-se partir do conceito de Lacan de que um sujeito é incurável, no sentido de que não pode ser curado do seu inconsciente.

    Por isso, nas entrevistas preliminares, é importante, então, no que diz respeito à direção da análise, ultrapassar o plano das estruturas clínicas (psicose, neurose, perversão) para se chegar ao plano dos tipos clínicos (histeria — obsessão), ainda que “não sem hesitação”, para que o analista possa estabelecer a estratégia da direção da análise sem a qual ela fica desgovernada (QUINET, 1991, p. 25)

    A terceira função de escuta psicanalítica na entrevista

    Sobre a terceira função citada, Antonio Quinet (em seu livro de 1991) menciona que a entrada em análise se configura com a instalação da transferência onde o sujeito é vinculado ao saber (a função transferencial das entrevistas preliminares).

    Portanto, justamente a decisão do sujeito em procurar um analista, é entendida como hipótese de que há um saber em jogo, no sintoma ou naquilo que a pessoa quer se desvencilhar.

    Nesse sentido, segundo o autor, não basta a demanda de se desvencilhar de um sintoma; é preciso, igualmente, que este apareça ao sujeito como um ciframento — portanto, algo a ser decifrado — na dinâmica da transferência, pelo intermédio do sujeito suposto saber.

    Conclusão: sobre a escuta em psicanálise

    A partir das considerações do processo de entrevista e da conduta profissional, um tratamento será bem sucedido. Porém, levando em conta sempre que um psicanalista, mesmo com grande experiência, necessita estar atualizado com sua formação.

    Assim sendo,  é óbvio o quanto o profissional da Psicanálise é exigido em sua conduta profissional para que o paciente seja bem compreendido. E para que, em vista disso, acima de tudo, consiga, através das intervenções, encontrar o que buscou em seu tratamento.

    Dessa forma, é possível concluir que não há um método ou uma forma correta para se iniciar um tratamento. Contudo podemos afirmar que é sempre necessário seguir, através da literatura, os registros das formas que foram realizados, e, ainda, seguindo o princípio do respeito e da escuta ao outro.

    Como visto, escuta psicanalítica é a essência do processo terapêutico em Psicanálise. Portanto, ela está presente desde a primeira entrevista feita entre analista e paciente.

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