esquizofrenia paranoide

Esquizofrenia Paranóide no filme Coringa: análise psicanalítica (parte V)

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Este texto sobre esquizofrenia paranoide continua uma sequência de artigos. Veja artigos anteriores:

A esquizofrenia paranoide

Arthur se vê diante de uma situação complicada; os detetives estão atrás dele. Ele se retrai – tanto é que entra na sua geladeira, como se isso fosse “esfriar” as consequências dos seus atos. Recebe uma ligação que o interessa; é do programa do Murray. Ele aceita a proposta de comparecer ao programa, marca a data.

“Arthur está no ônibus, vai ao asilo Arkham. Ele busca mais informações a respeito de sua mãe, do seu passado. O atendente diz que não pode ajudá-lo, mas ele insiste de uma forma menos ‘amigável’: ele mesmo começa a dizer que fez coisas erradas, mas que não se sentia desconfortável com isso. O atendente o questiona, diz que Arthur precisa de uma consulta, de tratamento. Mas Arthur diz que ‘cortaram’ tudo, todos os programas sociais.

O atendente encontra a pasta com o nome ‘Fleck’, disse que a paciente (Penny, sua mãe) sofria de alguns distúrbios – tanto que chegou a ser culpada de ter colocado o próprio filho (Arthur) em risco. O atendente diz que não pode dar mais informações, porque precisa de laudos e assinaturas para a liberação dos dados, mas Arthur consegue segurar e puxar a pasta das mãos do atendente. Sai correndo pelos corredores, desce as escadas, e observa os documentos sobre sua mãe.

A esquizofrenia paranoide e problemas psicóticos

Vê que ela tinha mesmo inúmeros problemas psicóticos, e o maltratava. Vê que ele era uma criança abandonada, e foi adotado por Penny. Descobre que o namorado da sua mãe batia nela, e abusava dele. Havia recortes de jornais, e diversas informações sobre eles – até sobre certa ocasião onde Arthur foi amarrado a um radiador, estava desnutrido e com marca de pancada na cabeça. Arthur ri muito descontroladamente, segurando a pasta de documentos junto ao seu peito. Ele sai do asilo, e está chovendo. Vai para casa, chega todo molhado no local onde mora, encontra Sophie fazendo sinal de revólver na cabeça.

Caminha até o apartamento de Sophie, e entra. Observa algumas coisas na parede, no sofá e sobre a mesa de centro na sala. Ela o encontra, e se assusta. Diz que ele está no apartamento errado, o reconhece. Diz para ele ir embora, mas ele não vai. Chega a citar que a filha está dormindo, mas Arthur diz que teve um dia péssimo. Sophie ainda pergunta sobre sua mãe, e ele nada diz sobre isso. Faz novamente o sinal do revólver na cabeça, tem ‘visões’ sobre ela. Ficamos numa dúvida, nesta cena: subentende-se que Arthur assassinou Sophie?”

Arthur quer maiores informações sobre Penny, vai ao asilo Arkham e consegue a pasta de documentos. Ele descobre que realmente Penny não é a mãe dele, além de descobrir os maus tratos que sofreu – incluindo até abusos quando era uma criança. Sim, ele foi adotado, Penny tinha mesmo problemas mentais, o namorado de Penny a espancava, e o maltratava também. Ele percebe em sua alma um sofrimento e angústia incomparáveis; mais um momento onde a fúria toma todo seu cerne, e mais um momento onde o “crescente” Coringa está se moldando. Ele tem raiva, tem ódio no coração – e mesmo assim ainda ri de tudo isso. Sai do asilo e vai até Sophie.

As visões

Tem uma reação no mínimo curiosa, no apartamento dela. Ela o vê, e se assusta. Pede para ele ir embora, ele não vai. Com o sinal do revólver na cabeça, e entre inúmeras “visões”, subentende-se que ele assassinou Sophie. Em verdade, podemos observar que Sophie PODE ter sido uma visão, durante todo o tempo. Ela deveria sim, ser uma vizinha de Arthur. Contudo, Arthur pode ter “realizado” em sua mente, fatos nunca antes acontecidos na realidade. A sua realidade era bastante distorcida, devido ao seu distúrbio psicótico.

“Arthur caminha de volta ao seu apartamento, pisando firme. Ele ri novamente, está no sofá.” Ele parece estar “bem” consigo mesmo. Mas a grande verdade é que sua personalidade está prestes a cometer o último ato, antes de se tornar definitivamente o Coringa.

“Arthur vai ver sua mãe. Fala com ela, mas ela está descansando. Ele está com raiva dela, diante de tudo que aconteceu e de tudo que descobriu. Está inconformado. Faz um monólogo, desabafa consigo mesmo. Diz várias coisas sobre o que realmente o faz rir. ‘Eu pensava que a minha vida era uma tragédia, mas agora entendo que a minha vida é uma puta comédia’. Ele mata Penny, sufocando-a com o travesseiro.”

A esquizofrenia paranoide de Arthur

No momento mais culminante, Arthur mata Penny – sua própria “mãe”, a qual sempre cuidou. Tudo chegou onde chegou, e Arthur surta de vez. É o último ato, antes dele se tornar o Coringa publicamente.

“Arthur está em casa vendo televisão. Ele ‘ensaia’ para a sua apresentação no programa do Murray. Pensa em tudo que vai dizer ou fazer. Saca o revólver, coloca no queixo e dispara. O revólver está sem balas. Ele finge que ‘morre’.” Momentos delicados. Arthur já possui dentro de si sua própria alma controversa.

“Arthur está se preparando para o programa. Toma banho, lava os cabelos, dança. Ele se maquia, está sempre fumando. Vê uma foto da mãe com as iniciais ‘T.W.’ (Thomas Wayne) no verso. Ele amassa a foto. A campainha toca, ele vai atender – mas antes coloca uma tesoura no bolso da calça. São dois colegas de onde ele trabalhava, Randall e Gary (o anão). Eles entram, perguntam sobre o que ele está fazendo, dizem que souberam da morte da mãe e foram ‘animá-lo’.

Reações de Arthur

Conversam, dizem que os policiais sempre vão ao lugar onde ele trabalhava. Randall pergunta se ele disse alguma coisa – já que foi ele mesmo que havia vendido o revólver. Arthur ‘saca’ a tesoura do bolso e violentamente desfere golpes no pescoço e nos olhos de Randall. Bate diversas vezes a cabeça de Randall na parede, até matá-lo. Gary está MUITO assustado. Arthur diz que vai participar do programa do Murray aquela noite; Gary está no canto e pergunta porque Arthur fez aquilo. Arthur diz para Gary ir embora, e o assusta. Gary não consegue sair dali, pede a Arthur que abra a porta, porque ele não alcança. Arthur diz a Gary que ele foi o único legal com ele, dá um beijo na testa dele e volta para terminar de se preparar para o programa de Murray.”

Mais um assassinato. Desta vez foi o mais cruel, o mais brutal. Arthur já não vê mais em si a humanidade – a não ser pelo fato de dizer a Gary que ele foi o único legal com ele. “Arthur sai de forma imponente, pronto para o show! Desce os degraus da escada dançando. Parece estar feliz.”

“No entanto, a sua felicidade não dura muito tempo. Os detetives o encontram, e correm para capturá-lo. Arthur corre pelas ruas da cidade, com os detetives atrás dele. Arthur sofre um grave atropelamento, cai na rua. Levanta-se rapidamente, e continua novamente correndo. Sobe as escadarias do metrô, entra num vagão onde todos estão vestidos de palhaços. Ele se mistura, os detetives pedem para todos tirarem as máscaras, mas as pessoas os enfrentam. Arthur tira a máscara de um homem, o homem quer tirar satisfação com ele, mas acaba por começar um tumulto no metrô.

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    A esquizofrenia paranoide e a confusão

    A confusão cresce, generalizada. E Arthur consegue se evadir do local com êxito, enquanto os detetives sacam suas armas, e atiram dentro do vagão. Tudo se transforma num pequeno exemplo do caos onde a cidade se encontra.”

    Na perseguição, ele é até atropelado. Mas continua, acaba por entrar no metrô onde as pessoas estão todas com máscaras de palhaço. Todos estão revoltados, prontos para lutar contra o sistema. E é exatamente o que acontece; a confusão toma conta do metrô, os detetives se exaltam, uma pessoa vestida de palhaço morre, os detetives são espancados, e Arthur consegue se livrar deles. “Arthur caminha agora, mais tranquilamente. A polícia corre ao local do tumulto.”

    A tranquilidade de um “louco”!

    “Arthur já se encontra no camarim do programa. Murray vai ao seu encontro, falar com ele rapidamente. Arthur fica contente por ver Murray, mas Murray pergunta o porquê dele estar vestido e maquiado daquele jeito – se ele faz parte das manifestações e protestos. Ele diz que não, que nem acredita nisso. E que ele está vestido daquele jeito, porque faz parte da sua apresentação. O assessor de Murray fala que um palhaço foi morto no metrô; Murray diz que Arthur sabe disso. Mas Arthur diz que não.

    O assessor continua dizendo que as pessoas não gostariam de ver Arthur daquele jeito, no programa – diante de tamanha situação em que a cidade se encontrava. Mas Murray diz que vai dar certo. Pede que Arthur não diga palavrões, diz que é um programa ‘decente’. Dá seu boa sorte, e Arthur diz que – quando for chamá-lo – pede para apresentá-lo como Coringa. Ele novamente saca o revólver e coloca abaixo do queixo.”

    Prévia da apresentação de Arthur. Murray fala com ele rapidamente, para dar-lhe algumas poucas “instruções”. E Arthur pede para ser apresentado como o CORINGA.

    Maquiado como um palhaço

    “Murray diz que o próximo convidado tem problemas sérios, e que precisa de um médico. Novamente mostra a todos, o vídeo onde ele debocha de Arthur. Arthur se prepara para entrar no palco. Murray diz que sente muito pelo que está acontecendo na cidade, que todos estão arrasados, mas que seria bom as pessoas rirem – ele está se referindo a como Arthur vai se apresentar, vestido e maquiado como um palhaço. Uma salva de palmas, para o CORINGA! E Arthur entra, dançando com toda supremacia. Cumprimenta Murray, beija a Dra. Sally (que estava no palco antes, falando com Murray), e se senta. Murray concorda; foi uma entrada e tanto.”

    Murray mostra a todos o porquê daquele novo “convidado” estar ali. Lembra a todos sobre o caos que a cidade se encontra – e por isso seria interessante todos rirem um pouco. E o Coringa é chamado! Sua entrada é triunfal! Arthur tem a leveza de uma pluma ao vento, dançando e maravilhando a vista da plateia! A sua primeira loucura no palco, é beijar a Dra. Sally, para a surpresa de todos. Realmente, até Murray concorda que foi uma bela “entrada” no palco.

    “Arthur está maravilhado com o programa, o palco, as câmeras, a plateia. Arthur e Murray começam a conversar, Arthur diz que é comediante (apesar de Murray não acreditar), e Arthur ri. Arthur tira o seu diário do bolso, Murray diz que é o diário de piadas, que não tem pressa, já que eles tem a noite toda (risos da plateia…). Sua piada é: ‘toc-toc’, Murray pergunta se realmente precisa de um diário para isso. Mas Arthur quer fazer direito, então prossegue dizendo a piada: ‘- é a polícia, seu filho foi atropelado por um bêbado’. Mas é repreendido, dizem que isso não é humor.

    A esquizofrenia paranoide e o deboche

    Arthur diz que as últimas semanas foram difíceis, e que foi ele quem matou os rapazes no metrô. Murray desconfia, mas Arthur diz que é a verdade. Arthur diz que não tem mais nada a perder, que a vida dele não passa de uma comédia. Murray pergunta se há alguma graça em matar pessoas. E Arthur faz um discurso sobre o certo ou errado, sobre o que as pessoas decidem ou deixam de decidir sobre sua vida. E Murray o questiona sobre o movimento na cidade, mas Arthur diz que matou os rapazes porque eles eram péssimos.

    E porque as pessoas se abalam com a morte deles? Se ninguém o nota (Arthur)? Arthur pergunta se Murray conhece a vida, como é lá fora. Ele se exalta, fala sobre empatia e até sobre Thomas Wayne. Fala sobre a hipocrisia. Murray diz que é autopiedade, e que as pessoas não são assim tão horríveis. Arthur diz que Murray é horrível, fazendo o que fez: mostrou o vídeo a todos, na televisão, debochando dele. Murray não gosta, rebate o que Arthur diz. Então Arthur diz que fará outra piada: sabe o que acontece quando você encontra um doente mental, numa sociedade que o abandona e o trata como um lixo?

    Murray pede para chamarem a polícia; Arthur diz que ele terá o que merece. E Arthur atira à queima-roupa, na testa de Murray, explodindo a sua cabeça. Para o espanto de todos no programa, Arthur ri de uma forma ‘feliz’. Atira novamente, e joga a arma. Dança, dá boa noite em frente a câmera. Enfim, há o corte e as notícias já começam a pipocar em todos os canais sobre o ocorrido.”

    Conclusão sobre a esquizofrenia paranoide

    A vida é feita de “camadas”. Algumas destas camadas, vêm já desde a infância. Algumas podem ser boas, outras nem tanto. A mensagem que Arthur deseja passar, tem muito a ver com isso. Com o seu sofrimento de uma vida, com a dor de ter passado toda sua vida sendo jogado de lado pela sociedade. E a sociedade está cheia de hipocrisia; a sociedade finge que se preocupa – mas só se preocupa mesmo com os seus próprios interesses, e com aqueles que podem ajudar a atingir seus objetivos.

    Quando há quem não “acrescenta” nada, este é deixado de lado, excluído e reprimido. E muitos traumas ou medos que vêm da própria infância, são exatamente a consequência destas “camadas de dor e sofrimento”, causadas muitas vezes pelos mais próximos – como no caso de Arthur, Penny – sua própria “mãe”, que entre outros fatos mais, fez moldar quem Arthur é hoje – quem ele se transformou, não só pelos traumas da infância, mas também por toda uma vida onde foi tratado como um nada, como um “lixo” – até também mesmo por ter seus problemas mentais, o que também pode ter sido causado pelos espancamentos, pela batida na cabeça que o fez ter o problema do afeto/distúrbio pseudobulbar. Sim, Arthur agora é o Coringa.

    “Eu pareço o tipo de palhaço que poderia começar uma manifestação?” (CORINGA, 2019, 1:46:43-1:46:47)

    “E o programa do Murray foi desligado”.

    Este artigo foi escrito por César Samblas Boscolo, 49 anos. Capivari – SP. Diretor do Departamento de Patrimônio Imobiliário, Secretaria de Projetos, Convênios e Captação de Recursos, Município de Capivari. Consultor Imobiliário, Psicanalista Clínico, Administrador de Empresas. Músico, Arranjador Musical; já foi Relações Públicas para eventos/shows/apresentações musicais. Bom leitor, adora artes como cinema e música. “Curioso” e sempre pesquisando um pouco sobre tudo que interesse, sem futilidades. Aprecio a vida!

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