filmes de terror

O prazer por filmes de terror: análise psicanalítica

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Hoje falaremos sobre filmes de terror. De acordo com a Psicanálise é comum que todos nós tenhamos angústias reprimidas ao longo do processo de aprendizagem para viver em sociedade. Essas angústias, relacionadas ao desprazer, são geradas pelo acúmulo de tensão resultante do aumento da excitação, presente tanto na mente como no corpo.

Os filmes de terror

O filme de terror tem a capacidade de elevar o nível de tensão, porém, de uma maneira “segura”, uma vez que se trata apenas de uma representação cinematográfica e não de uma ameaça real. Isso oferece um canal potencial para que as angústias previamente recalcadas no inconsciente possam ser liberadas.

Com essa liberação das angústias, o indivíduo experimentará prazer e alívio devido à eliminação da tensão desprazerosa.

Neurociência e filmes de terror

Um estudo conduzido por pesquisadores da Universidade de Pittsburgh, nos Estados Unidos, e publicado na revista especializada “Emotion”, indica que a experiência de assistir a filmes de terror pode promover uma melhoria no humor e uma sensação de relaxamento nas pessoas.

Os resultados sugerem que esse fenômeno tem semelhanças fisiológicas e neurológicas com a experiência de um atleta durante uma corrida profissional. Durante momentos de horror, o sistema nervoso autônomo é ativado, conforme explicado pela coautora do estudo, Margee Kerr, em entrevista à revista “Emotion”.

De acordo com a pesquisadora, quando a situação assustadora chega ao fim, o sentimento de alívio desencadeia a liberação de uma grande quantidade de endorfina no cérebro, o que leva ao bem-estar e ao apreço momentâneo das pessoas pelo gênero de terror.

Sobre a pesquisa

Para realizar o estudo, Kerr e sua equipe conduziram a pesquisa na fonte direta, uma casa assombrada chamada “ScareHouse”. Os pesquisadores recrutaram participantes que haviam adquirido ingressos para esse local, possibilitando a análise de pessoas que se submetem voluntariamente a atividades aterrorizantes por razões sociais ou recreativas.

Ao todo, 262 indivíduos preencheram questionários sobre seu humor antes e depois da experiência, sendo que cem deles utilizaram sensores cerebrais para monitorar a atividade cerebral antes e após passarem pela casa assombrada.

Os resultados mostraram que, após o passeio, metade das pessoas relatou ter experimentado melhora no humor, enquanto 33% afirmaram não ter vivenciado mudanças significativas. Os demais 17% relataram uma piora no ânimo. Vale ressaltar que não foram identificadas diferenças significativas entre os gêneros.

Após a experiência

A maioria dos participantes afirmou ter se sentido feliz após a experiência, com poucas pessoas relatando cansaço e ansiedade. Margee Kerr afirmou que após a experiência, as pessoas se sentem bem, destacando que a sensação de prazer após superar o medo é o que realmente atrai as pessoas, não o próprio medo em si.

A pesquisadora sugere que as conclusões desse estudo possam ser utilizadas em futuras pesquisas sobre terapia de exposição, uma prática comum na psicologia para o tratamento de fobias, que consiste em expor gradualmente as pessoas a situações que as assustam para reduzir seus medos ao longo do tempo.

Razões psicanalíticas do prazer pelo terror e filmes de terror

Segundo a perspectiva da Psicanálise, os filmes de terror podem servir como formas de lidar com questões psicológicas e emocionais. Alguns exemplos incluem:

  • Expressão simbólica de conflitos internos: Os filmes de terror frequentemente retratam situações aterrorizantes e ameaçadoras, o que pode representar de forma simbólica conflitos e traumas internos dos espectadores. Ao se identificarem com os personagens que enfrentam desafios assustadores, as pessoas podem processar e dar sentido a suas próprias angústias e medos.
  • Liberação de instintos reprimidos: Os filmes de terror muitas vezes desencadeiam emoções intensas, como medo, ansiedade e adrenalina. Essas emoções podem ser uma maneira segura de liberar instintos reprimidos ou reprimidos em ambientes controlados, permitindo que as pessoas vivenciem essas emoções sem consequências reais.
  • Necessidade de exploração do desconhecido: Os seres humanos têm uma tendência natural de explorar e buscar novas experiências. Os filmes de terror podem ativar essa necessidade de explorar o desconhecido, desafiando os espectadores a enfrentarem situações extraordinárias e aventureiras dentro do contexto seguro de um filme.
  • Identificação com personagens e narrativas: A atração pelos filmes de terror também pode estar relacionada à identificação com os personagens e narrativas apresentados. Muitas vezes, as histórias giram em torno de heróis ou heroínas que enfrentam perigos sobrenaturais ou situações extremas. Essa identificação pode reforçar a sensação de coragem e autoafirmação dos espectadores.
  • Satisfação da curiosidade mórbida: Algumas pessoas podem sentir uma curiosidade mórbida em relação ao desconhecido, à morte ou ao sobrenatural. Os filmes de terror permitem que elas explorem esses temas sem se envolverem diretamente, satisfazendo sua curiosidade de uma maneira controlada.

Conclusão: o que nos atrai nos filmes de terror?

Os filmes de terror oferecem uma ampla gama de benefícios psicológicos e emocionais, permitindo que as pessoas enfrentem seus medos, liberem tensões e angústias reprimidas, expressem simbolicamente conflitos internos e satisfaçam suas curiosidades mórbidas, tudo dentro de um ambiente seguro e controlado da ficção cinematográfica.

A preferência por filmes de terror não é necessariamente uma indicação de que alguém seja uma pessoa ruim, não necessariamente se relacionam ao caráter moral de uma pessoa. Em última análise, a preferência por filmes de terror é uma questão pessoal e complexa, e não é indicativa de características morais específicas.

A psicanálise enfatiza a importância de considerar a diversidade das motivações psicológicas e emocionais que influenciam as preferências individuais, e não fazer julgamentos precipitados com base em escolhas pessoais de cada indivíduo.

Viviane Rodrigues (instagram profissional: @vivipsica_analise), é Especialista em Neuropsicologia e atualmente se profissionalizando em Psicanálise. Professora há mais de dezoito anos e a vida toda intrigada pela mente humana.

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