mito de Édipo

Mito de Édipo e o Inconsciente

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O mito de Édipo fala do Inconsciente Humano. Uma das molas mestras no embasamento da Teoria Psicanalítica proposta e desenvolvida por Freud é o mito grego de Édipo, classificado na literatura como tragédia grega.

O mito de Édipo e o Inconsciente

Alfredo Naffah Neto em seu livro O Inconsciente, Um Estudo Crítico lançado em 1985, faz uma análise crítica minuciosa desse mito abordando várias nuances trazidas por um fio invisível, na busca de uma origem mais aprofundada do que se apresenta à primeira vista.

O autor coloca em cheque á princípio, se seria mesmo possível que um mito ocidental pudesse ser material universal, abrangendo todas as culturas e povos, fomentando o Complexo de Édipo de forma a abarcar a grande massa humana.

Num processo de fragmentação e estudo de algumas passagens do mito, o autor salienta as duas vozes que direcionam as condutas do personagem Édipo: de um lado uma voz que parece confundir-se com sua consciência, de outro, uma que parece transcendê-la, vindo de além de si, de um outro lugar.

O mito de Édipo e as reflexões de Naffah Neto

Esse contexto se delineia nas questões que se sucedem nas escolhas que o personagem Édipo faz, e que serão cruciais para o desenrolar trágico da história.

Nas reflexões de Naffah Neto pairam perguntas que refletem o questionamento que poderia se manifestar em muitos de nós: por que Édipo não retorna ao país de seus pais adotivos? Por que Édipo desposou uma mulher com idade suficiente para ser sua mãe, se já havia sido prevenido pelo oráculo? Por que procura sem cessar o autor da morte do rei do qual ocupava o trono?

São questões que mostram, quando transportadas para o recorte individual, como as pessoas estão a mercê de ceder a seus desejos disruptivos, desejos que acreditam serem seus, mesmo havendo sido advertidos por instâncias diversas que optando por determinado caminho, haveriam de encontrar problemas.

O mito de Édipo e o discurso que não é o consciente

Podemos imaginar duas forças que se desdobrariam no psiquismo de Édipo, onde um discurso se sobrepõe ao outro, alternando-se, fazendo com que a trajetória do personagem na história ocorra ora de acordo com um dos discursos, ora de acordo com outro.

Perguntarmos de onde vem o discurso que não parece provir da mente do próprio personagem – mas de algo ou alguém além – é a luz que nos guiará para entendermos o esboço do Inconsciente proposto por Freud e desdobrado por mais de um século pela teoria e prática da psicanálise. No mito de Édipo, esse discurso que não é o consciente, parece vir dos deuses.

Esse expediente – uma voz desnaturalizada do real imediato – é bastante utilizado como recurso estilístico e mesmo estrutural das obras gregas daquele período, muitas vezes representado pelo “coro” de vozes que se elevam além do personagem.

O Inconsciente

Dessa forma, em meio à dois discursos distintos, Édipo se desvela ante nossos olhos e se presta a ilustrar a Teoria do Inconsciente, uma vez que esse segundo discurso, o que não parece ter sua origem no próprio solo da mente consciente, esse seria o discurso do Outro, do Inconsciente.

Essa cadeia discursiva de personagens pode dar uma ideia de um conteúdo inconsciente constante no aparelho psíquico. No mito de Édipo, o discurso do Outro está situado em uma cadeia sucessiva que se baseia cada qual no discurso de um personagem anterior, no sentido de que o autor do mito – Sófocles – tinha uma perspectiva anterior com respeito aos personagens de Laio, o pai biológico de Édipo, referindo-se a sua história particular, como ponto de partida para as desventuras pelas quais Édipo iria passar.

Assim, na história, Laio teria ficado em alguma espécie de débito com o Rei Pélope, de Pisa, que se queixou à Apolo, que encarnava o Oráculo que falou tanto à Laio quanto a Édipo sobre a maldição, e então, ainda outras vozes são somadas a essa antecedência, dando substrato para esse grosso caldo de vozes que aparecem no discurso do Inconsciente.

O mito de Édipo e o Discurso do Outro na obra de Jacques Lacan

Englobam-se deuses e homens e é onde se encontra o Discurso do Outro na obra de Jacques Lacan, uma instância não centrada na consciência, mas que se mostra nas lacunas do discurso. Não se poderia dizer que o Inconsciente seja nem individual, nem coletivo, uma vez que é uma experiência perspassada por cada um, com toda essa gama de elementos externos e filogenéticos que o compõe, em uma unidade singular.

Por essa ótica, posicionamos os desejos pessoais e individuais em um lugar de ambiguidade e desse lugar depreendemos que deles nasce o movimento que levará a concretização ou não dos fatos e eventos da vida dos indivíduos. O filósofo Deleuze nos empresta uma perspectiva onde afirma que o desejo (dos humanos) se apresenta para melhor entendimento quando são enunciados na forma infinitiva dos verbos.

Assim teríamos a questão que permeia todo e qualquer desejo que provocaria a seguinte reflexão: “quem deseja em mim?” implicando então em uma produção desejante sem sujeito. A reflexão que se segue é a da pouca incidência de nossa “própria” vontade nos atos que somos compelidos a engendrar, não em um sentido de desresponsabilizar o sujeito, mas de ampliar o escopo da motivação para tal.

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    O Desejo e o psíquico

    A constatação do Desejo do outro implica em compreender uma instância que, como disse Freud em sua icônica frase “Não somos senhores em nossa própria casa”, pois se trata de uma instância composta de fragmentos, de histórias, de imagens, de sonhos, fantasmas e fantasias que, apesar de residirem em nosso domínio psíquico, dele não são totalmente originários.

    Assim, lançando mão do Complexo de Édipo, a psicanálise assenta uma de sua bases fundamentais, em correspondência com a Filosofia da Representação, utilizada por Platão em seus diálogos há mais de 2.000 anos, onde todos nós, seres humanos atuantes no palco da vida, podemos ter nossa constituição psíquica individual perscrutada pela fórmula mamãe-papai-eu.

    Considerações finais

    Porém, há de se perceber que não são simplesmente ideias cooptadas para servir de matéria prima para uma Teoria. Delas se fez também uma verdade que se construiu em uma realidade que se institucionalizou.

    O Inconsciente então se qualifica como uma realidade composta de uma sabedoria profunda, mas em constante modificação, implicando que a verdade jamais é estanque, mas um desfile infinito de verdades não absolutas.

    No Inconsciente cabem “todos os mistérios do mundo” e cada um de nós se articula de um local individual e não compartilhável no tocante a sua essência. O Inconsciente é de todos e ao mesmo tempo, individual e terra de ninguém.

    O presente artigo foi escrito pela autora Milena Morvillo, formanda em Psicanálise pelo IBCP. É especialista em Acupuntura pela ABA. Pesquisadora em Filosofia da Psicanálise e Artista Visual. https://www.instagram.com/psicanalise_milenar/

    One thought on “Mito de Édipo e o Inconsciente

    1. Mizael Carvalho disse:

      Parabéns pelo trabalho! A cada revelação do inconsciente, ficamos fascinado pelo o que nos foi transmitido. E ficamos sempre na expectativa, do próximo mistério a ser revelado!

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