A frase “ser ou não ser, eis a questão” é uma citação shakespeariana conhecida e referenciada no mundo todo. Mas, paradoxalmente, muitas pessoas parecem não conhecer seu verdadeiro significado. Embora Shakespeare seja o autor da frase “ser ou não ser” , na realidade ela não veio da boca de Shakespeare. Você sabia disso?
Quem citou a frase foi Hamlet, o protagonista da peça de mesmo nome, onde ele o personagem faz um monólogo. No entanto, a citação, que se tornou referência universal na literatura e na arte dramática, convida a perguntar: qual é o significado profundo por trás desta frase? Para saber, continue a leitura e confira o significado de ser ou não em Shakespeare.
Ser ou não ser Hamlet
A história contada na obra shakespeariana se passa no século XVI. Ela relata a história de Hamlet, príncipe da Dinamarca. Hamlet descobre pelo fantasma de seu pai que seu irmão, Cláudio, o envenenou para se tornar rei.
Como se não bastasse, apenas dois meses após o assassinato, Cláudio se casou com a rainha Gertrude (sua mãe), o que é inaceitável para o jovem príncipe. Dúvidas, no entanto, tomam conta do pensamento de Hamlet: ele realmente viu o fantasma de seu pai ou a visão foi fruto de sua imaginação ?
Se for verdade, ele vingará seu pai e se tornará um assassino? Ou é mais digno provocar a própria morte do que matar o tio? Com todos esses questionamentos que ocorrem durante a trama, o príncipe se vê confuso e pensa em tirar sua própria vida. É daí que surge a citação no monólogo três: “ser ou não ser”.
Significado de ser ou não ser
No geral, o significado de ser ou não ser de Hamlet se refere à vida. Diante de todos os acontecimentos, Hamlet se pergunta: “Ser ou não, eis a questão. ” Em outras palavras significa: Continuar existindo ou acabar com a vida? Viver nas adversidades da existência ou ir ao encontro da morte e abandonar-se ao nada?
Nesse ponto inicial do texto, fica claro que Hamlet está pensando nos benefícios e nos inconvenientes de acabar com a própria vida. Contudo, logo mais tarde, ele reconhece que o suicídio é um crime aos olhos de Deus.
Adiante, Hamlet se pergunta sobre a natureza de sua morte e pensa por um momento que ela pode ser como um sono profundo. Essa ideia parece aceitável a princípio, até que ele especule sobre o que virá em um sono tão profundo.
A reflexão de Hamlet sobre a morte ser como o sono
Hamlet compara a morte a espécie de sono e, vista dessa forma, não parece tão assustadora. Mas, ele chega a esses questionamentos justamente porque é uma pessoa muito reflexiva. No entanto, colocando-se diante de situações com uma atitude filosófica, ele se questiona sobre o que poderia ser após a morte, após o sono eterno.
É assim que, na segunda parte da reflexão de Hamlet, ele se concentra mais no medo inato de todo ser humano sobre a morte. É o local do qual nenhum viajante jamais retornou. Dessa forma, Hamlet teme as dores que a vida após a morte pode trazer.
Como não existe uma certeza de que haverá um alívio de seus sofrimentos terrenos através da morte, ele se forçou a questionar a morte mais uma vez. Logo, acabou desistindo de cometer suicídio e ficou preso na dúvida: “Ser ou não ser, eis a questão”?
Hamlet aos olhos da psicanálise
A temática do indivíduo que se coloca como único juiz de sua morte ou vida é uma temática considerada “moderna”, muito à frente da época de Shakespeare. Será por textos como Hamlet que Shakespeare será (séculos depois) lembrado:
- pelos autores do Romantismo como sendo um romântico avant la lettre;
- pelo Iluminismo como uma inspiração ao que há de valioso no humano, que não deve se subordinar a crenças, nem se limitar às regras sociais ditadas por outras pessoas.
Sem Hamlet, sem Shakespeare, sem o Romantismo e sem o Ilumunismo, seria difícil pensar as dimensões do talento, da liberdade humana e dos movimentos realizados pela vida psíquica interior, aspectos fundamentais para a psicologia e a psicanálise.
Há também a questão das forças psíquicas internas que não são completamente dominadas pelos personagens shakespeareanos. Este aspecto seria um prenúncio da energia pulsional e do inconsciente, aspectos tão caros para se entender o que é psicanálise.
A frase “ser ou não ser” em Shakespeare, dita por Hamlet, serviu como objeto de estudo para grandes psicanalistas. No livro “Interpretação dos Sonhos”, Freud postula a teoria de que os sonhos são manifestações de desejos inconscientes e reprimidos.
Logo, ele afirma ainda que as crianças do sexo masculino muitas vezes têm um desejo edipiano inconsciente de matar seu pai e substituí-lo por estar com sua mãe. Dessa forma, Freud menciona que no Hamlet de Shakespeare, o personagem-título experimenta esse desejo e se manifesta de várias maneiras oníricas.
QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE
Em outras palavras, como seu tio Cláudio já realizou as ações que o próprio Hamlet desejava, Hamlet luta com raiva. Além disso, ao mesmo tempo que luta com ciúme e confusão, tenta suprimir esses sentimentos e chegar a um acordo com eles.
Entenda
Os desejos conflitantes do personagem Hamlet, se manifestam em comportamentos estranhos que tomam como loucura. Dessa forma, as experiências oníricas de Hamlet assumem várias formas.
Contudo, à medida que seu subconsciente assume o controle, os desejos reprimidos de Hamlet se manifestam. Por essa razão, a primeira instância disso é a aparição do fantasma de seu pai e a discussão de Hamlet com esse fantasma.
Se o fantasma é ou não um fantasma real, ele desempenha o papel do subconsciente de Hamlet para ele. Ou seja, o fantasma é capaz de dizer coisas que são suprimidas no subconsciente de Hamlet. Logo, ele é incapaz de admitir para si mesmo até que o fantasma as diga em voz alta.
A Influência formativa de Shakespeare em Freud
Antes de finalizar a leitura, vale destacar que as peças de Shakespeare ocuparam um lugar significativo na estante de Sigmund Freud durante a maior parte de sua vida. O psicanalista começou a ler Shakespeare quando tinha apenas oito anos.
Além disso, Freud citava as peças em cartas para seus amigos, colegas e sua amada. Durante suas reflexões sobre teorias, ele usou peças de Shakespeare para ajudá-lo a entender questões difíceis em sua vida. Em especial a frase “ser ou não ser, eis a questão ” fez com que Freud refletisse a respeito do fracasso e morte.
De modo geral, as peças de Shakespeare são parte da matéria-prima a partir da qual Freud construiu a psicanálise. A relação intertextual do psicanalista com Shakespeare assumiu muitas formas, incluindo citação, alusão e interpretação literária.
Considerações finais de ser ou não ser, eis a questão
Espero que tenha gostado de saber o significado de ser ou não ser em Shakespeare. Se você deseja aprofundar seus conhecimentos sobre a psique humana, em especial ao do personagem Hamlet, temos um convite para você. Se inscreva em nosso curso online de psicanálise clínica 100% EAD!
O nosso curso de Psicanálise clínica prepara você para atuar no mercado de trabalho como psicanalista ou trazendo os conhecimentos adquiridos para sua ocupação atual. Através de aulas remotas, você também poderá estudar as obras de Shakespeare para aprimorar suas habilidades interpretativas. Ademais, essa é uma ótima oportunidade para aprofundar sua compreensão sobre conflitos psíquicos. Faça a sua matrícula para aprender mais!
One thought on “Ser ou não ser, eis a questão: significado em Hamlet”
Muito bom texto! A preocupação do ser humano, após a morte é constante. Parafraseando “Ser ou não ser, eis a questão ” seria assim: Viver ou não viver, eis o dilema. Penso que temos duas fases,a vida e a morte. Vamos viver da melhor forma possível, para quando a morte chegar, o SER DIVINO, possa nos receber com alegria. A morte é uma questão Sobrenatural!