Sugestão Hipnótica

Sugestão Hipnótica: técnica de Freud

Publicado em Publicado em Psicanálise, Teoria Psicanalítica

Antes da fase da fase de maturidade de sua obra psicanalítica, Freud se valeu da hipnose para encontrar a raiz das dificuldades dos pacientes. Com o decorrer do tempo, a percepção de Freud sobre a técnica foi mudando, mas todo o caminho foi produtivo. Conheça a sugestão hipnótica, considerada o primeiro método usado por Sigmund Freud.

Entendendo o método da sugestão hipnótica

A sugestão hipnótica foi o método inicial usado por Freud, a partir de sua interação com Jean-Martin Charcot, em Paris, a partir de 1885. Em breve resumo, o método consistia em colocar o paciente numa forma de transe e sugerir a ele a rememoração do trauma e a superação do sintoma.

Quando Freud regressa a Viena, continua a usar o método, mas, insatisfeito, se junta a Josef Breuer. Juntos desenvolvem o método catártico. Posteriormente, Freud abandonaria de vez a sugestão hipnótica e também o método catártico, embora possamos dizer que retirou destes métodos os aprendizados para a Associação Livre, seu método definitivo.

Freud considera que nem todos os pacientes eram sugestionáveis ou hipnotizáveis. Freud convence-se que, pelo diálogo terapêutico propiciado pelo método da Associação Livre, era mais adequado rememorar episódios críticos e ir identificando causas do mal-estar, a partir da fala livre do analisando.

Nas Conferências Introdutórias, Freud diz que “O tratamento hipnótico procura encobrir e dissimular algo existente na vida mental; [enquanto que] o tratamento analítico visa expor e eliminar algo” (pág. 527, vol. XVI, Obras Completas).

É importante ressaltar que a hipnose pode ter sim sua validade nos dias atuais, dependendo do profissional e da forma como é aplicada. A ideia deste artigo é mostrar que a Psicanálise acabou se distanciando da hipnose, a partir das obras de maturidade de Freud e das teses de outros psicanalistas posteriores.

método da sugestão hipnótica de Freud e Charcot, definição

Sugestão hipnótica, catarse e associação livre: três métodos de Freud

Foram três métodos principais que Freud usou no tratamento de seus pacientes. Os dois primeiros foram no início da trajetória de Freud, chamado de período pré-psicanalítico. Esses métodos são a sugestão hipnótica e o método catártico, os quais Freud logo abandonou. O terceiro é o método definitivo de Freud, a Associação Livre, a partir de quando Freud cunhou o termo “psicanálise” e abandonou as técnicas relacionadas à hipnose. Vejamos:

  • Primeiro método de Freud: método da sugestão hipnótica, na atuação de Freud com Jean-Martin Charcot.
  • Segundo método de Freud: método catártico, na atuação de Freud com Josef Breuer.
  • Terceiro método de Freud: método da associação livre, que marcaria a existência da psicanálise propriamente dita.

Então, podemos entender que:

  • Os dois primeiros métodos freudianos possuem relação com a hipnose e foram abandonados por Freud em sua prática e teorização;
  • O terceiro método é o método que o psicanalista de fato deve seguir, ou seja, apenas o método da associação livre (que é algo bastante extenso, diga-se).

três método de Freud - síntese

Neste artigo, vamos falar da sugestão hipnótica e dos primeiros anos de atuação de Freud. Entender essa fase inicial de Freud é importante porque marca os primórdios do que seria a psicanálise.

O início

Um dos casos mais famosos é o caso de Emmy Von N. analisado por Freud. Ela era uma rica viúva que carregava problemas desde a partida do marido. Fanny Moser, seu verdadeiro nome, sofria de depressão, dores, insônia, crises de pânico e outros problemas. Sem contar a gagueira e os tiques na falha desse caso consagrado.

No início da investigação, os indícios apontavam para mais um caso de histeria, sendo essa uma causa genérica aos transtornos nas mulheres. Mesmo assim, Freud teria recomendado banhos quentes, massagens, internação e a sugestão hipnótica para tratá-la. Isso era algo de praxe na época, sendo quase um tratamento universal às desordens mentais.

Após condicioná-la a fixar seu olhar em um ponto, ela recebia orientações específicas para trabalhar seus sintomas. Isso o permitiu averiguar a origem dos problemas e entender as circunstâncias de cada situação. Emmy conseguiu compreender as origens de cada problema, fazendo suas conexões enquanto Freud promovia seu tratamento.

Relevância do caso

O desenvolvimento do caso Emmy Von N. com a aplicação da sugestão hipnótica foi muito importante à Psicanálise. Durante sete semanas, Freud desenvolveu o trabalho até dar alta à paciente. O peso desse trabalho pré-Psicanálise é relevante, por vários componentes, como:

A clareza de registro

Mostra a primeira vez em que Sigmund Freud usou a hipnose com bastante relevância e exposição. Sendo esta sua principal ferramenta do trabalho, entendemos melhor a participação da sugestão hipnótica no tratamento de Emmy.

QUERO INFORMAÇÕES PARA ME INSCREVER NA FORMAÇÃO EM PSICANÁLISE

    NÓS RETORNAMOS PARA VOCÊ




    A oportunidade no transe

    A partir do transe hipnótico, Freud aproveitava para utilizar técnicas distintas enquanto fazia o seu tratamento. De início, focava seu trabalho em fazer com que os sintomas pudessem ser sugestionados a desaparecer. Sem contar que descobria a origem dos distúrbios com mais clareza.

    A desenvoltura

    Enquanto se valia das sugestões hipnóticas, Freud exibia o seu conforto em explorar diversos caminhos ao tratamento. Tanto que utilizada de técnicas combinadas como dito acima para aprimorar o alcance da sua investigação.

    A busca e os novos inícios

    Foi no ano de 1881 que Freud terminou o seu curso de medicina dentro da Universidade de Viena. Carregava uma paixão por pesquisas feitas em laboratório, porém isso não lhe parecia tão promissor em termos profissionais. Por isso, começou a atender pacientes dentro de um hospital austríaco, para ter uma renda financeira.

    Freud percebeu que a psiquiatria ainda não era tão desenvolvida dentro do ramo entre os parceiros. Nisso progrediu com pouca concorrência e aprimorou a sua vista sobre as doenças nervosas. Tanto que em março de 1895 conquistou uma bolsa em Paris com duração de 6 meses.

    Foi aqui que conheceu Jean-Martin Charcot que posteriormente influenciaria muito o seu trabalho. Charcot era reconhecido por sua evolução dentro da psiquiatria e neurologia.

    A influência de Charcot

    Freud havia levantado uma admiração profunda por Charcot, descrevendo-o à sua esposa como brilhante, estimulante e instrutivo. Tudo se deve ao reconhecimento de Charcot dentro da França, como a descoberta de males neurológicos e identificação de distúrbios. Sem contar que o Charcot tinha proposto a sugestão hipnótica para trabalhar diversos sintomas em terapia.

    A sugestão hipnótica de Charcot consistia em colocar o paciente no transe e ordenar que este não mostrasse mais determinado sintoma. Feito isso, o paciente acordava e quase sempre o sintoma sumia por conta da hipnose direta. Nesse caminho, Freud concluiu que a histeria era um mal psicológico, e não do útero, e usou a técnica charcotiana para desenvolver essa hipótese.

    Voltando de Paris, Freud demitiu-se do hospital e montou seu consultório psiquiátrico, visando à quebra do tratamento padrão à histeria. De início, a sugestão hipnótica serviu de ferramenta ao alívio sintomático do público. Contudo, Freud foi abandonando-a gradativamente por não alcançar o papel que queria com ela.

    Ressignificação

    Em meados de 1889, Freud retornou à França, tentando aprimorar a técnica de sugestão hipnótica com Hyppolyte Bernheim. Por meio dele, Freud soube do resgate de memórias traumáticas através do transe colocado. Segundo Bernheim, havia uma vigília dos próprios pacientes que os impedia de relembrar de certos eventos.

    Entretanto, as sugestões hipnóticas eram capazes de desfazer essa parede e iniciar a rememoração do trauma. Com base nisso, Freud supôs que a mente estava dividida em níveis, escondendo algumas lembranças mais que outras. Em outras palavras, o futuro psicanalista estava descobrindo o inconsciente e desenvolvendo a Psicanálise.

    Porém, foi com Josef Breuer que Freud aprimorou o tratamento empregado com a ajuda da hipnose, desenvolvendo uma produtiva parceria. O chamado método catártico foi uma construção de Freud e Breuer na obra “Estudos sobre a histeria” (1895), que aprimorava o método hipnótico. Ao contrário de Bernheim, Freud passou gradualmente a não questionava diretamente sobre os traumas. Nesta obra, algumas técnicas explicadas por Freud parecem já direcionar ao que seria o diálogo terapêutico da associação livre. Pois Freud pedia que o paciente falasse o que vinha à mente. Só então quando o paciente falava sobre determinado fato que ele o levava a reviver lembranças negativas.

    Empecilhos

    O uso da sugestão hipnótica tinha a comprovação de funcionar e isso se mostrava inegável a qualquer pessoa. Contudo, havia problemas a se ver pelo caminho e principalmente após a sugestão pós hipnótica. Isso se concentra em:

    Funciona, mas…

    Após um período, o paciente tratado com a hipnose apresentava novamente os mesmos sintomas. Por exemplo, a própria Emmy Von R. que após um ano de tratada, em 1890, voltou a buscar pela ajuda de Freud. Mesmo tendo recebido alta e curada, os mesmos sintomas de antes voltaram.

    Prazo de validade

    O indivíduo melhorava, porém isso era passageiro e ele voltava ao que era antes. Concluiu que quando saía do transe não se lembrava do que externou quando estava sob hipnose.

    Droga

    Com base no que percebeu, Freud conclui que o processo se tornaria uma espécie de droga terapêutica. Ou seja, cada paciente ficaria viciado na técnica porque, após voltarem, os sintomas os forçariam a retomar o tratamento.

    Abandono e progresso

    Depois do seu longo processo de busca e crescimento da sugestão hipnótica, Freud foi severo ao avaliá-la. Segundo ele, não havia sentido em investir em um processo inútil como aquele, relembrando o caso de Emmy em carta. Mesmo assim, a Psicologia reaproveitou a hipnose no século XX.

    Freud partiu na busca por novos métodos de investigação, até achar a associação livre. Agora em estado de vigília (isto é, sem estar submetido ao transe hipnótico ou sugestionado de qualquer forma), o paciente falaria o que bem entendesse ao analista. Com isso, o psicanalista poderia analisar seus desejos, temores, pensamentos e as suas lembranças traumáticas.

    Considerações finais sobre sugestão hipnótica

    Ainda que tenha rompido com ela, a sugestão hipnótica foi essencial no início da trajetória de Freud. Por meio dela, conseguiu elaborar conclusões importantes e que até hoje reverberam na comunidade terapêutica.

    De todo modo, essa dedicação foi vital porque contribuiu diretamente a um dos maiores trabalhos sobre a mente humana. A partir daqui consolidou como esperava uma técnica para promover a cura duradoura dos males apresentados na mente humana.

    A fim de clarear a sua percepção sobre si mesmo, se inscreva em nosso curso online de formação em Psicanálise Clínica. Não apenas desbrava o seu autoconhecimento, como também pode responder suas questões internas e desbravar o seu potencial interno. Diferente do que se acreditava na sugestão hipnótica, você agora de fato construirá as pontes que precisa para arranjar seus caminhos de crescimento e mudança.

    12 thoughts on “Sugestão Hipnótica: técnica de Freud

    1. Susana chianello Correia de Melo disse:

      Compreender todas as etapas que Freud passou, desde a hipnose até chegar chegar ao método da associação livre, é muito importante para se obter um entendimento da historicidade da psicanálise nos dias de hoje.
      Boa leitura!

    2. Evangelista Damasceno Santos disse:

      Muito esclarecedor

      1. José Bôsco de Lima disse:

        Os artigos da Psicanálise Clínica são muito bem escritos, fundamentados e bem elaborados inclusive na diagramação. Parabéns e muito obrigado!

        1. A clareza em relato da caminhada de Freud é muito inspiradora.

    3. O método da associação livre é o que todo psicanalista Freudiano segue.
      Mas a hipnose realmente me encanta.

    4. Samuel Ferreira disse:

      Belo resumo sobre os pilares que chegou a psicanálise de Freud. Parabéns!
      Estou amando esse curso de formação!

    5. Carlos Titton disse:

      Sou hipnoterapeuta, e se me permite transmitir uma modesta contribuição, entendo que o assunto ficou polêmico por Freud não acreditar na perenidade do tratamento. Todavia, pelo que venho estudando ao longo dos anos, concluo que o tratamento na grande maioria dos casos apresenta resultados permanentes. Ocorre que a hipnose trata questões pontuais e a psicanálise trata de mais de uma questão/trauma. Talvez por isso Freud entendeu que o sintoma volte, mas afinal, quando volta, não necessariamente volta pela mesma arquitetura e sim por outros motivos do que o tratado inicialmente. Mas novamente, assunto bastante polêmico e debativo por diversos autores.

    6. Um artigo até razoável, porém nada construtivo, hipnose e baseado em 3 aspecto.
      1- construção
      2- subjugar ou manipular ( som, toque, aspecto e ambiente)
      3- progressão e criação baseada no comando com isso manipulando e mondando uma ou recriando uma nova realidade……

      1. Psicanálise Clínica disse:

        Adolpho, obrigado por sua mensagem. O foco do artigo foi mais no sentido do INÍCIO DA HIPNOSE enquanto terapia. A sugestão hipnótica foi um método trabalhado por Charcot e Freud, depois Freud abandonou a sugestão hipnótica. Claro que, posteriormente, a hipnose teve muitas derivações e formas de atuar. Grande abraço.

    7. Romulo Caixa Ferreira disse:

      A hipnose apenas faz o paciente melhorar dos sintomas, mas com o tempo eles voltam. Já a associação livre faz o paciente sentir e elaborar aquelas questões.

    8. EXUPERIO MENDES DE OLIVEIRA disse:

      Acredito na hipnose porque contra fatos não há argumentos. Muitos pacientes meus já se libertaram de traumas, fobias, lutos, até fibromialgia. Assim como nem toda doença é curável, nem todo trauma é superável, isso não significa que a hipnose seja impotente, mas que depende de cada caso ou pessoa. Se o indivíduo não cooperar, terapia nenhuma será eficaz.

    Deixe um comentário

    O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *