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Do caos ao cais: sobre o refúgio psíquico

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Hoje falaremos sobre o caos. Esses dias atrás, estava refletindo sobre algo que existe no interior das pessoas, bem na maioria delas, e nós a conhecemos como caos ou simplesmente como uma tormenta, onde as ondas vêm e vão a todo momento, de uma forma crítica; ventos violentos assolam o mar, que geralmente está calmo.

Entendendo sobre o caos

As tormentas vêm quando existe uma tranquilidade aparente, e as ondas de repente fazem com que o mar mude seu comportamento de calmo para violento muito rapidamente. Assim é o interior das pessoas, ou seja, elas possuem um mar calmo dentro de si, mas às vezes alguma tormenta faz com que as ondas, que são os pensamentos, comecem a se comportar de forma diferente do habitual.

Nessa hora, o caos se instala, trazendo destruição por onde passa. A única coisa que muitos fazem é esperar os ventos (situações adversas) se acalmarem, para que o mar volte à sua condição original. Mas, em meio a esse caos, pode-se encontrar um cais, um porto seguro, e esse refúgio se encontra no inconsciente.

Vou dar um exemplo prático: tenho um amigo, há algum tempo, ele tem Transtorno de Ansiedade, tem dia que ele é o caos em pessoa, mas segundo ele, basta dormir e ter algum sonho bom para que se sinta revigorado e tranquilo novamente.

O caos para Freud

O que Freud disse sobre os sonhos oníricos, que são desejos realizados, ilustra bem isso, porque dormindo se trazem pequenos fragmentos de algo que significou ou que significa na vida daquela pessoa.

Nem sempre nossa realidade condiz com aquilo que um dia planejamos que aconteceria em nossa trajetória; esses pequenos fragmentos, que surgem do nosso inconsciente, se tornam um cais, ou seja, um lugar seguro, para que a pessoa possa descansar em meio a toda essa tormenta que se abateu sobre seu mar.

Desse modo, ela pode, por seus próprios recursos, não acalmar os ventos, mas sim encontrar um equilíbrio entre o caos e o cais. Numa relação que ela consiga administrar todos os elementos que impelem a tormenta a sair do controle e causar destruição por onde passa.

Sonhos oníricos e o caos

Os sonhos oníricos representam pequenas frações do verdadeiro EU da pessoa, ou seja, eles vêm despidos de máscaras, porém com elementos disfarçados, através de imagens ou símbolos (conteúdo manifesto). E, juntamente com o relato do analisando, o analista e o analisando vão descobrindo a real interpretação destes elementos disfarçados, buscando encontrar um significado que está se refletindo naquela pessoa (conteúdo latente).

Eu não sei se esse meu amigo faz algum tipo de terapia, mas sempre ele está comentando comigo o medo de ficar sem medicamentos, porque eles o fazem dormir, e percebo que o dormir e o sonhar trazem uma grande mudança em seu comportamento.

No caso do meu amigo, os fragmentos dos sonhos realizados constituem um cais, no qual ele pode descansar e organizar este caos interno. Tenho outros amigos que, a maior parte deles possui algum tipo de caos e, agora no final do ano, eu perguntava:

  •  Como estão os planos para o ano novo? – e todos respondiam assim:
  • Me organizando, tentando me organizar ou simplesmente que seus planos eram “improvisar”.

Ou seja, administrar seu caos particular e encontrar a melhor solução diante dos fortes ventos.

O inconsciente

Isso me fez refletir no quão grande é o poder que o inconsciente exerce em nossa vida e muitas vezes nem demos conta disso. Acredito que a grande parte da população convive com frustrações, sejam elas em qualquer área da vida; sentimental, profissional, familiar etc., e não é preciso ter um transtorno mental para encontrar esse cais nelas mesmas.

Afinal, todos nós temos esse recurso, que são os sonhos, como disse Lacan: “os sonhos são compensatórios”, e acredito firmemente nisso pois ouvi isso daquele amigo do exemplo.

Muito já foi descoberto sobre a mente, tanto no campo material como no campo imaterial, mas certamente existe muito ainda a ser descoberto, e Freud sabia disso, por isso a Psicanálise é um campo de saber.

O caos e o sono

O sono e suas fases estão relacionados com a Psicologia, que estuda seu funcionamento, ou seja, é a parte material (concreto – aquilo que podemos ver e pegar – cérebro), mas o sonho onírico, que também faz parte do sono, é imaterial.

Ou seja, não se dá para ver nem pegar, apenas o sonhador pode relatar as imagens, sons e sensações que determinado sonho lhe causou; é através do sonho que o mundo psicológico do sonhador se abre para o mundo externo e, muitas vezes, para ele mesmo.

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    Conclusão

    Os sonhos se tornam uma das mais importantes ferramentas exploratórias, pois só podemos utilizar algo que seja imaterial na busca de algo que também é imaterial, como as emoções e sentimentos, de alguém que ainda não sabe como encontrar sozinho o seu cais e nem ter o controle sobre todos os elementos que fazem seu mar se agitar.

    Este artigo sobre caos psicológico e refúgio psíquico foi escrito por Sandra Perini, aluna do curso de Psicanálise Clínica.

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