o eu não é mais senhor em sua própria casa

O eu não é mais senhor em sua própria casa: Freud e autoconhecimento

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O eu não é mais senhor em sua própria casa” – Sigmund Freud. Uma frase simples, direta e objetiva, mas que carrega, em seu conteúdo implícito, muita bagagem para reflexão. A reflexão pode ser sobre si mesmo ou sobre os outros. Ou somos fruto do que os outros nos impõem? Vamos a uma conversa sobre o autoconhecimento?

Nascemos em famílias com valores já consolidados, com pais, mães e – talvez – irmãos mais velhos que já estão ali há muito tempo; em condições socioeconômicas específicas; em uma cultura existente há milhares de anos. Em suma, nascemos como seres únicos, mas a nossa personalidade é, com certeza, moldada pelo espaço, condições e pessoas com as quais convivemos.

O tempo passa: infância, adolescência, fase adulta. E passa rápido. Alguns decidem e possuem condições socioeconômicas para se aventurar no autoconhecimento.

Outros, ainda que possam, não se aventuram no conhecimento de si mesmo.

Quem sou eu? Sou fruto das personalidades que me criaram e do meio em que cresci ou detenho minha personalidade? É meio a meio?

Se conhecer ou não: eis a questão

Aqueles que decidem não se autoconhecer tendem a se incomodar menos com quem são, por mais contraditório que pareça. É difícil e doloroso conhecer a sua própria casa, cheia de traumas, mágoas e tristezas enrustidas.

Aqueles que não conhecem a si próprios aderem ao “inferno são os outros” de Sartre, e decidem, de forma unilateral, que os defeitos estão nos outros e não em si mesmos. Mais fácil, não é mesmo?

Aos que tomam a difícil decisão de tentativa de acesso ao inconsciente, deparam-se com a gigante ferida narcísica existente em todos nós, sejam aqueles que a acessam ou não. Como é difícil olhar para si mesmo e admitir defeitos, erros, traumas, mágoas, tristezas, sejam eles “culpa” sua ou não.

Enxergar que erramos – e acertamos também – é tarefa difícil. A psicanálise permite um autoconhecimento, à medida que você se conhece e se percebe como um ser humano e não como uma potência suprema de qualidades. Olhar para si e perceber que o inferno, muitas vezes, sou eu mesmo é doloroso.

O quem, o como e as questões sobre nosso eu

Perguntas que contribuem com o processo de autoconhecimento:

  • Quem sou eu? Quem são meus pais? A culpa é deles? Ou eles fizeram seu melhor e agora devo seguir como eu acho melhor?
  • Quem são meus irmãos? Comparo-me a eles?
  • Tenho um parceiro(a)/namorado(a)? Como ele(a) é? Nosso relacionamento é bom?
  • Como é a minha relação com a comida?
  • Como é a minha relação com a solidão?
  • Já perdi entes queridos? Como me sinto? Como foi o luto?
  • Gosto da minha profissão? Tenho profissão?
  • Consigo me relacionar bem com as pessoas?
  • Tenho sintomas como os de ansiedade e depressão?
  • Durmo bem?

Por que o eu não é mais senhor em sua própria casa?

Muitas perguntas surgem em um processo de autoconhecimento, com o acesso ao inconsciente. Inconsciente este que é assoberbado de aspectos emocionais, afetivos, passados, presentes e futuros.

A partir de questionamentos a si mesmo, descobre-se – rápida ou lentamente – que não temos controle nem de quem somos. Aliás, quem sou eu? Se não sabemos nem quem somos, fato é que não temos controle nem de nossa própria casa, de nosso próprio corpo.

Quantas vezes não comemos sem estar com fome e a boca é nossa? Nós que a controlamos. Controlamos? Quantas vezes estamos com sono e não dormimos? Faz sentido? Não.

Não somos nada. Não somos senhores, nem donos, nem de nós mesmos. O cérebro é incontrolável, a parte inconsciente é incontrolável. A vida é incontrolável. Só temos a única certeza de que morreremos.

A aventura do autoconhecimento

Àqueles que se aventuram na jornada do autoconhecimento: ela é morosa, dolorosa, intensa, triste e difícil.

Àqueles que se aventuram na jornada do autoconhecimento: ela é libertadora.

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    A partir do momento em que se percebe o quanto não temos controle de nada e que, portanto, não somos senhores nem de nós mesmos, a vida fica – um pouco – mais leve.

    E, nesse sentido, a partir do momento em que se depara que o inferno também somos nós, às vezes só nós, às vezes só o outro, às vezes um pouco nós e um pouco o outro, e nos dispomos a evoluir para melhor (sendo este melhor definido por você mesmo) podemos ter uma vida mais livre.

    Claro que isso é uma opção. Olhar-se no espelho e perceber que somos seres humanos, com inúmeros defeitos, traumas e mágoas é tarefa desafiadora.

    Olhar-se no espelho e não se apaixonar pelo seu reflexo e sim perceber que o seu reflexo é multifacetado, ora bom, ora ruim, ora tentando melhorar é libertador.

    A leveza de conhecer o Eu

    Recomendo fortemente àqueles que querem se libertar de si mesmos uma jornada de autoconhecimento e, àqueles que não querem, que sigam achando que o inferno são os outros e não você mesmo, meu/minha caro/cara Narciso(a).

    Por fim, o objetivo do autoconhecimento é que você tenha uma vida mais leve, ainda que possua defeitos incontornáveis. Desapegar da ideia de que a culpa é dos outros – da família, da condição, do parceiro – e focar em quem você é.

    Mesmo se autoconhecendo talvez você nunca chegue à resposta de quem você é. E que bom, que alívio. A vida é mutante, a vida é metamorfose, tudo é rio, como já diria Carla Madeira. Que a gente se conheça naquele momento específico e espere por mudanças, sejam elas boas ou ruins, você quem decide.

    Este texto sobre a frase de Freud “o eu não é mais senhor em sua própria casa” foi escrito por Lívia Maffei Costa, Advogada graduada na PUC/SP. Pós-graduada em Direito Administrativo pela FGV/SP. Mediadora pela Harvard Law School. Membra da Comissão de Direito Administrativo e de Mediação Empresarial da OAB/SP. Artigo publicado na 39ª Revista Brasileira de Direitos Humanos (Editora Lex). E-mail: [email protected]

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