formação do psicanalista

Como ocorre a Formação do Psicanalista?

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Vamos abordar a formação do psicanalista: o que é preciso para se formar e atuar como Psicanalista?

É unanimidade entre as escolas de psicanálise, o tripé psicanalítico, que é constituído por:

  • teoria acerca da psicanálise,
  • análise pessoal e
  • supervisão.

É imperioso salientar, elucidar e esclarecer a importância da análise pessoal e da supervisão analítica para a contribuição dessa formação do psicanalista.

 

A Formação do Psicanalista na origem da Psicanálise

Freud já buscava um interlocutor para quem falava sobre seus atendimentos e avaliava sua prática. Ele também foi muito procurado por seus seguidores. E também existia uma dimensão analítica na prática dessas “supervisões”, já que havia um laço transferencial entre os discípulos e Freud. Essa forma de ação é semelhante ao que hoje chamam de supervisão.

Segundo Vegh (2001/2008, p.42) um dos primeiros supervisionados da história da psicanálise foi Stekel, pois ao finalizar seu trabalho com Freud, solicitou a ele para que pudessem continuar se encontrando, com a intenção de discutirem sobre a direção da cura dos seus pacientes.

Assim surgiu a supervisão psicanalítica. Em se tratando de transmissão da psicanálise, “a formação do psicanalista”, a supervisão tem uma importância amplamente difundida atualmente, pois tem sido reconhecida como um dos pilares do tripé psicanalítico, por contemplar o que a análise, por si só, não é capaz de fazer.

A supervisão passa a ter a função de prevenção e de proteção, pois previne os erros dos novos analistas, protegendo os pacientes desses mesmos analistas.

 

A Supervisão na Formação em Psicanálise

O que os psicanalistas precisam estar atentos é para que a supervisão não se torne uma prática de controle e sim, de orientação e voltada para supervisionar os erros, com a intenção de auxiliar novos psicanalistas em suas jornadas.

Lacan, em 1964, procurou instaurar seu laboratório de psicanálise, com a fundação da EFP (Escola Freudiana de Paris), anulando todas as regras clássicas da IPA. Ele desejava instaurar uma escola genuinamente Freudiana, que preservava a liberdade do inconsciente.

Para Lacan, era imperiosa a necessidade de se manter a autonomia do analista, para autorizar-se por sua formação psicanalítica. E apresentou a passagem de psicanalisando para psicanalista, como o “ momento fecundo e teorizável de um possível término de formação didática”. Para ele, o fim da análise seria essa passagem de uma posição a outra, transformando o analisando em analista. Isso seria o Passe para Jacques Lacan.

Essa seria a “formação do psicanalista”. Nesse sentido, a noção de supervisão para ele, se aproxima de um modelo analítico, centrado no inconsciente, devendo ser exercida pelo próprio analista do candidato a psicanalista.

 

Associação que agrupa psicanalistas formados

Dessa forma, alguns antigos membros da EFP saíram e fundaram uma nova associação, onde foi desenvolvido um outro modelo de supervisão, denominado “ análise quarta”.

Valabrega, líder desse movimento de ruptura, afirmou que

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“é impossível falar da própria análise com alguém que seja designado para essa função (…). A única maneira de falar sobre a própria análise é a propósito de um objeto terceiro. E a situação mais indicada para ouvir alguma coisa sobre isso, existe: É a supervisão. “(J-P. Valabrega apud Roudinesco, 1998, p.483).

Nesse novo modelo, a análise quarta, são quatro elementos a serem levados em consideração:

  • o analista
  • o próprio supervisionado, que é o seu paciente;
  • o analista desse analista;
  • e o supervisor, que seria o quarto elemento.

Para Valabrega, existe uma zona surda que se refere ao que ele chama de “resto de início de análise”, algo que se mantém silenciado e que pode interferir na contratransferência do analisando em posição de analista.

A análise quarta viria a prevenir essa surdez em relação a si mesmo. Os psicanalistas possuem uma responsabilidade primordial, da participação do instrumento psíquico na tarefa de acompanhar o paciente no processo de autoconhecimento, para isso faz-se necessária a análise pessoal do psicanalista, já que este empresta seu instrumento psíquico, seu material de trabalha, na função de analisar.

Dessa forma, vejo a análise e a supervisão como uma simbiose, na medida em que o novo psicanalista relata seus casos para a supervisão, mas que também essa supervisão vai lhe dar um retorno de análise, que contribuirá para sua formação psicanalítica.

 

A importância da análise na formação do Psicanalista

Será o processo de análise, o lugar de encontro com os efeitos do próprio inconsciente, reconhecendo seus desejos, angústias, temores.

Assim, a força de um núcleo traumático pulsional, de natureza infantil, terá lugar na cena transferencial; identificações, dependências, demandas ancoradas em fantasias, emergirão e serão objetos de análise.

Não é possível pensar o trabalho de supervisão sem o suporte de uma transferência, principalmente em relação à escolha do supervisor. Mas o que ocorre, é que o supervisionando pode projetar no supervisor o seu ideal de ego, resultando em processo de idealização.

Durante a supervisão, podem surgir dificuldades quando o supervisionando tem resistência em aceitar o material transferencial que é passado pelo paciente, dessa forma, reproduzindo na supervisão, o que se passa durante o tratamento.

Alguns aspectos a serem considerados no que diz respeito à transferência, desde o enriquecimento e a eficácia da supervisão, a partir do desarrolar dessa transferência, pois através dela, emergem efeitos do inconsciente no discurso do supervisionando, o que possibilita insights importantes com relação a sua contra transferência.

Até a possibilidade de uma transferência resistencial de consequências negativas.

 

O Superego na Formação Psicanalítica

Um exemplo seria a configuração de “superego psicanalítico “dos supervisionados”, uma vez que se preocupam com o dever de serem psicanalistas e, por vezes, deixando de lado suas “percepções”.

Deve-se estar atento que, a construção da identidade do supervisionando, sofre muita influência dos modelos de identificação constituídos pelos supervisores. Assim, torna-se imperioso salientar a responsabilidade desses supervisores nessa construção de identidade, pois o psiquismo humano tende a uma busca amparadora, uma ilusão da proteção e garantia de um outro idealizado.

A supervisão terá um efeito na liquidação da transferência, da idealização do próprio analista, pelo analista em formação psicanalítica.

Devemos ter a consciência que o mestre, a clínica, a teoria, nossa análise e aqueles que alguma coisa nos ensinaram são nossas referências, nossos pontos de certeza provisórios, de onde partiremos para recriar nossa prática.

O analista se torna analista a cada momento, não há um fechamento da formação do psicanalista e é justamente esse estar aberto, que permitirá a continuidade da auto análise do psicanalista. E isso é de fundamental importância na formação do psicanalista.

Este artigo foi escrito por Karla Oliveira ([email protected]), psicanalista e psicoterapia (Rio de Janeiro-RJ).

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