O BRINCAR À LUZ DA PSICANÁLISE

O Brincar à Luz da Psicanálise

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“É no brincar, e talvez apenas no brincar, que a criança ou o adulto fruem de sua liberdade de criação. As brincadeiras servem de elo entre, por um lado, a relação do indivíduo com a realidade interior, e por outro lado, a relação do indivíduo com a realidade externa ou compartilhada”. (D.W.Winnicott).

A Importância do brincar

Neste texto, vamos falar sobre o papel do brincar à luz da psicanálise: o que significa, qual sua importância, o que disseram a respeito importantes psicanalistas?

Brincar é a nossa linguagem, é uma forma de comunicação, é uma necessidade, uma forma de expressão, de aprendizado, de crescimento, de experiência.

O brincar é uma das atividades mais prazerosas para as crianças; além disso, favorece os relacionamentos grupais. Segundo Dornelles (2001, p.104) “o brincar é uma forma de linguagem que a criança usa para compreender e interagir consigo, com o outro, com o mundo”.

É onde a criança apropria-se da realidade, atribuindo-lhe significado. Constrói seu próprio mundo, ressignifica e reelabora acontecimentos que deram origem à vivência e sentimentos.

O brincar e o desenvolvimento da personalidade

Através da brincadeira a criança se comunica, desenvolve seus afetos, sua imaginação, suas competências cognitivas e interativas; ganha experiência, exercita a fantasia, a imaginação e a criatividade.

Todas as crianças brincam, independentemente de sua condição socioeconômica, de possibilidade e de proibição. Brincam sozinhas, em pares, em grupos. Brincam com ou sem objetos.

Na brincadeira a criança vai aprender a compreender, dominar e produzir uma situação específica, diferente de outras situações. É onde a criança elabora conflitos e ansiedades; onde pode demonstrar sofrimentos.

Na brincadeira, o sentido da realidade pode variar, as coisas tornam-se outras e podem assumir diferentes papéis. Os objetos podem assumir diferentes papéis daquilo que representam: uma caneta pode virar um avião, uma caixa pode virar um automóvel…

Quando brinca, a criança manipula sua realidade, modificando-a e interagindo diretamente com os objetos (brinquedos). O objeto funciona como um vínculo entre a fantasia e a realidade; entre o mundo da criança e o mundo do adulto.

É uma relação íntima de construção e reconstrução do que é real para a fantasia e vice-e-versa, com uma comunicação valiosíssima, individual e própria de cada criança; comunicação essa que poderá ser verbal ou não verbal.

O brinquedo e seus estímulos

O brinquedo enquanto objeto, é o suporte da brincadeira, ele estimula a expressão de imagens, permite a representação de situações vividas, bem como aspectos da realidade deixando fluir o imaginário. O brincar torna-se um meio de expressão, dotado de significações.

O brinquedo é um substituto dos “objetos reais”, para que a realidade possa ser manipulada. Ele proporciona condições favoráveis ao desenvolvimento sócio emocional, cognitivo e afetivo das crianças.

Para Kishimoto, (2005, p.21) “O brinquedo contém sempre uma referência ao tempo de infância do adulto com representações veiculadas pela memória e imaginação. ”

O adulto e suas funções

As emoções desempenham papel fundamental na vida da criança; portanto, o adulto deve favorecer à criança, um ambiente agradável e acolhedor.

Para que isso aconteça é importante que o adulto interaja com a criança, reconheça suas emoções e sentimentos, fazendo um manejo correto e tranquilo, à fim de atender suas necessidades, compreendendo suas solicitações e necessidades; promovendo essa ligação da criança com o mundo que a cerca.

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    A criança necessita de adultos que consigam estabelecer um diálogo afetivo com ela; que “jogue” com ela.

    Gilles Brougère (2010) fala de um “ambiente indutor”, onde o adulto pode preparar o ambiente de forma que vá estimular a brincadeira em função dos resultados desejados.

    Será através de um ambiente organizado, com a oferta de diferentes objetos, jogos e brinquedos que a criança encontrará estímulo, apoio e acolhimento.

    A comunicação do brincar

    O brincar é visto como uma forma de se comunicar na psicoterapia; é um recurso técnico que permite o acesso ao mundo inconsciente da criança. É um meio para que a criança e o terapeuta se encontrem.

    No texto Além do Prazer (1975), Freud aponta que o brincar é a primeira atividade normal da mente e que, “através dos jogos, brinquedos e brincadeiras, as crianças reproduzem o que lhes causou maior marca na vida.

    Que é através destes, que a criança pode romper as barreiras do superego estabelecidas pela sociedade, expandindo seus instintos primitivos, sendo que os tipos de jogos e brincadeiras não são tão importantes quanto a situação que é reproduzida pela criança”. (SIRLÂNDIA TEIXEIRA, 2010, p.54)

    A visão de Freud sobre o brincar

    Freud foi o primeiro a descobrir as propriedades psíquicas das brincadeiras; que elas eram a ponte que liga o mundo interno ao externo da criança.

    Associava a brincadeira a um playground; uma área necessária onde a criança poderia se expandir com liberdade.

    O local aonde poderia acontecer a transferência, para que a análise pudesse operar; uma área intermediária entre a doença e a vida real, revelando ao analista os instintos patogênicos escondidos na mente da criança.

    Para Freud, é através dos jogos que a criança consegue descarregar fantasias agressivas, sem nenhum risco; que consegue elaborar suas angústias ante situações inevitáveis, impostas pela realidade.

    O brincar nos tratamentos

    Dentro do tratamento com crianças, percebe-se que um mesmo brinquedo ou jogo pode ter diversos significados, dependendo da situação em que ele está sendo utilizado.

    Os jogos mostram muito sobre a relação da criança com o espaço, seu esquema corporal, com as pessoas, com os fatos e acontecimentos.

    Quando a criança brinca, ela busca representar alguma coisa (é como se estivesse tentando falar), portanto todos os pontos devem ser observados e interpretados com bastante calma.

    Muitas vezes faz-se necessário correlações com outros jogos ou outras técnicas (desenho, sonho) para conseguir chegar as mais profundas regiões da mente da criança.

    Essa visão de atividade lúdica, de jogos, brinquedos e brincadeiras, foi expandida por vários psicanalistas, mas foi Melanie Klein, a primeira a utilizar uma caixa de brinquedos como técnica para o tratamento terapêutico com crianças (técnica denominada Ludoterapia); a fim de compreender melhor o mundo infantil, uma vez que nem sempre as crianças conseguem expressar oralmente seus problemas, dificuldades e conflitos emocionais.

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

    ALVES, Rubens. A alegria de ensinar. Ouro Preto: ARS Poética Editora Ltda., 1994.

    ARMINDA ABERASTURY: Psicanálise da criança – Teoria e técnica. Tradução: Ana Lucia Leite de Campos. Porto Alegre: ARTMED, 1982.

    BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e Cultura. 8 ed. São Paulo: Cortez, 2010

    DORNELLES, Leni Vieira. Na escola infantil todo mundo brinca se você brinca. In: CRAIDY, Carmem; KAERCHER, Gládis E. (Orgs). Educação Infantil Pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001.

    KISHIMOTO, Tizuko Morchida (org.) Jogo, Brinquedo, Brincadeira e a Educação. 4 ed. São Paulo: Cortez, 2005.

    KLEIN, M. (1928). Estágios iniciais do conflito edipiano. In Amor, culpa e reparação: e outros trabalhos (1921-1945). Obras completas de Melanie Klein. Vol. 1. Rio de Janeiro: Imago.

    ______ (1930). A importância da formação de símbolos no desenvolvimento do ego. In Amor, culpa e reparação: E outros trabalhos (1921-1945). Obras completas de Melanie Klein. Vol.2. Rio de Janeiro: Imago.

    ______ (1991). A técnica psicanalítica através do brincar: sua história e significado. In M. Klein, Inveja e gratidão e outros trabalhos (L. P. Chaves et al., trads., p.149-168). Rio de Janeiro: Imago. (Trabalho original publicado em 1955 [1953]

    ______ (1997). A psicanálise de crianças (L. P. Chaves, trad.). Rio de Janeiro: Imago. ( Trabalho original publicado em 1932).

    MEYER, Ivanise Corrêa Rezende. Brincar e viver: Projetos em educação infantil. 2 ed.  Rio de Janeiro: Wak, 2003.

    MOREIRA, Paulo Roberto. Psicologia da Educação. Interação e Individualidade. São Paulo: FTD, 1999.

    TEIXEIRA, Sirlândia Reis de Oliveira. Jogos, brinquedos, brincadeiras e brinquedoteca: implicações no processo de aprendizagem e desenvolvimento. Rio de Janeiro, Wak Ed. 2010.

    WAJSHOP, Gisela. Brincar na escola. 3 ed. São Paulo: Cortez, 1999.

    WINNICOTT, D.W. A criança e seu mundo. São Paulo: Zahar, 1979.

    ______ Uma exposição teórica. In O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1968.

    ______ O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1971.

    O brincar e a psicanálise. 28/05/2021, <www.gestopsicanalise.com.br> Acesso em 12/02/2023.

    O brincar como modelo do método de tratamento psicanalítico. Revista Brasileira e Psicanálise. Março/2008.< www.pepsic.brsalud.org>  Acesso em 08/02/2023.

    Este texto sobre a importância do brincar à luz da psicanálise foi escrito por Fátima Quagliani, Psicanalista clínica, formada pelo IBPC. Especialista em Relacionamentos e Psicanálise Infantil. Atuando na área humana desde 1990. Contatos profissionais através do WhatsApp Business: (021) 96930-3122. Siga meu Instagram @psifatima.quagliani.

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