recalque

O que é recalque na Psicanálise?

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O recalque é um dos conceitos mais importantes da psicanálise, pois é o mecanismo que permite que os conteúdos inconscientes sejam mantidos fora da consciência.

O recalque é um processo inconsciente que ocorre quando uma ideia ou experiência é considerada inaceitável ou ameaçadora para o ego. Quando isso acontece, a ideia ou experiência é reprimida no inconsciente, onde continua a exercer sua influência sobre a mente.

Quando nos referimos à metapsicologia freudiana, o conceito de recalque se destaca como um dos mais importantes.

Em “A História do Movimento Psicanalítico”, o médico fundador da psicanálise, Sigmund Freud, afirma que “o recalcamento é o pilar fundamental sobre o qual descansa o edifício da psicanálise”.

Confira agora tudo sobre a definição de recalque, suas causas e consequências e qual a importância disso para a Psicanálise. Ficou curioso? Então continue a leitura!

O que é recalque?

Recalque é uma expressão em psicanálise que designa um processo que empurra para o inconsciente impulsos, desejos ou experiências que seriam dolorosas ou inaceitáveis para o consciente, com o objetivo de evitar a ansiedade ou outro conflito psíquico interno.

Ao mesmo tempo, esta energia psíquica recalcada busca se expressar de outra forma: por meio de fobias ou penamentos obsessivos, por exemplo.

O recalque, então, pode gerar sintomas neuróticos ou comportamentos considerados problemáticos, já que os conteúdos reprimidos continuam a influenciar o sujeito sem que ele saiba conscientemente disso.

O trabalho psicanalítico em clínica será promover diálogos com o paciente para que venham à luz possíveis experiências e padrões de comportamento que estejam inconscientes. Ao tomar consciência, o sujeito paciente poderá elaborar sobre isso e eliminar ou minimizar os transtornos psíquicos que estavam sendo gerados.

Podemos pensar da seguinte forma o significado de recalque em psicanálise:

  • O ego reprime para o inconsciente uma experiência traumática ou uma percepção que resiste em aceitar, sem que o sujeito tenha clareza dessa repressão. Isso caracteriza o recalque: a psique humana reprime um objeto inicial potencialmente doloroso, tornando-o inconsciente.
  • Isso ocorre para evitar que o consciente se depare com aquela dor, isto é, evitar reviver no presente o incômodo inicial tal como aconteceu; então, a consciência se descola do objeto inicial.

Mas esta energia psíquica que está no inconsciente não está desfeita. Ela busca caminhos inusitados para escapar e vir à tona.

E faz isso por meio de associações das quais o sujeito não tem consciência. Esta será já uma nova fase deste processo, que veremos como um retorno do recalcado.

O que é retorno do recalcado?

O retorno do recalcado pode ocorrer de várias formas, incluindo sintomas neuróticos, sonhos, atos falhos e chistes.

  • O conteúdo recalcado não fica calmamente reprimido. Retorna à vida psíquica de forma indireta, por meio de associações psíquicas e somáticas, isto é, podendo afetar a vida mental e também podendo ter manifestações físicas (como ocorre na histeria).
  • Esta “energia” encontra um representante (objeto) alternativo para se tornar visível ou consciente: os sintomas psíquicos (como fobias, histerias, obsessões etc.) são a forma que mais gera incômodo ao sujeito, embora essas transformações também possam se manifestar como sonhos, atos falhos e chistes.
  • O que é perceptível (consciente) é chamado de conteúdo manifesto, que é a parte do recalcado que retorna. Por isso, se diz que há um retorno do recalcado. Ex.: um sintoma que o sujeito percebe, ou como um sonho que ele relata.
  • Já o que foi recalcado no inconsciente é chamado de conteúdo latente.

Como trazer para a consciência um recalque?

Para se entender o que é psicanálise e sua forma de tratamento, é importante perceber que:

  • O conteúdo manifesto consciente que se manifesta como sintoma é resultado de um conteúdo latente que está inconsciente.
  • Superar o incômodo demanda compreender esses mecanismos potencialmente inconscientes e elaborar uma interpretação  ressignificativa que seja condizente com o ego deste sujeito. Só assim será possível caminhar para uma condição de “cura” ou “melhora”.
  • Sozinho, o sujeito via de regra não consegue olhar para si e perceber o vínculo que existe entre o conteúdo manifesto (perceptível) e o conteúdo latente (inconsciente).
  • Daí a importância da psicanálise e do psicanalista. Usando do método da livre associação, psicanalista e analisando irão elaborar hipóteses para se compreender o sistema psíquico e para entender os sinais do inconsciente, a partir das informações trazidas pelo sujeito-analisando na clínica.

Causas e consequências

O recalque pode ser causado por uma variedade de fatores, incluindo:

  • Experiências traumáticas ou dolorosas: O recalque pode ser uma forma de proteger o ego de experiências que são muito dolorosas ou ameaçadoras para serem enfrentadas diretamente.
  • Conflitos internos: O recalque pode ser uma forma de lidar com conflitos internos, como desejos que são considerados inaceitáveis pela moral ou cultura do indivíduo.
  • Censura social: O recalque também pode ser influenciado pela censura social, que nos ensina a reprimir certos pensamentos e sentimentos que são considerados inadequados.

O recalque pode ter uma variedade de consequências, incluindo:

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    • Sintomas neuróticos: O recalque pode levar ao desenvolvimento de sintomas neuróticos, como fobias, obsessões e ansiedade.
    • Distúrbios de personalidade: O recalque também pode contribuir para o desenvolvimento de distúrbios de personalidade, como o narcisismo e a paranóia.
    • Problemas de relacionamento: O recalque pode dificultar o desenvolvimento de relacionamentos saudáveis, pois pode levar a problemas de comunicação e confiança.

    Entendendo melhor o conceito de recalque

    Embora na identificação precisa em alemão, o termo “recalque” encontra variações terminológicas quando expresso em outros idiomas.

    • Em francês: refoulement
    • Em inglês: repression
    • Em espanhol: represión
    • Já em português apresenta três traduções: repressão, recalque e recalcamento.

    Segundo o Vocabulário de Psicanálise, de Jean Laplanche e J-B Pontalis, os autores optam pelos termos “recalque” e “recalcamento”.

    Se nos referirmos aos termos “repressão” e “recalque”, observaremos que o primeiro faz referência a uma ação exercida sobre alguém, a partir da exterioridade. Isso ocorre ao passo em que o segundo refere-se um processo intrínseco ao indivíduo, posto em movimento pelo próprio eu.

    Dessa forma, “recalque ou recalcamento” são os termos que mais se aproximam do sentido utilizado por Freud em seu trabalho.

    Não obstante esta constatação, é necessário ressaltar que o conceito de recalque não prescinde dos acontecimentos externos vivenciados pelo indivíduo. Neste caso, estes aspectos são representados pela censura e a lei.

    Conceito de Recalque na História do Pensamento

    Numa perspectiva histórica, Johann Friedrich Herbart foi quem mais se aproximou do termo utilizado por Freud quando o assunto é recalque. Partindo de Leibniz, Herbart chega a Freud, passando por Kant. Para Herbart, a representação, adquirida através dos sentidos, e como sendo o elemento constituinte da vida anímica.

    O conflito entre as representações era, para Herbart, o princípio fundamental do dinamismo psíquico. Para delimitar as semelhanças entre este conceito e o termo utilizado por Freud, devemos destacar que o recalcamento não destrói nem reduz a força das representações tornadas inconscientes. Mas sim, enquanto inconscientes, permaneceram batalhando para se tornarem conscientes.

    Ainda sob a perspectiva histórica, em seus importantes escritos, o próprio Freud afirma alguns fatos sobre a Teoria do recalcamento por ele promulgada. Segundo ele, a teoria corresponderia a uma total novidade, pois até então não constava nas teorias sobre a vida anímica.

    Recalque na Obra Freudiana

    Embora apresentam pontos de semelhança, é importante destacar que as teorias não podem ser tomadas como unívocas. Haja vista que Herbart não fizera, como Freud o fez, o feito de atribuir ao recalcamento a clivagem do psiquismo em duas instâncias diferentes.

    Ou seja, ao Sistema Consciente e Pré-consciente. De igual forma, Herbart também não enunciou uma teoria do Inconsciente, tendo se mantido restrito a uma Psicologia da Consciência.

    Embora o termo em alemão “Verdrängung” esteja presente deste os primeiros escritos de Sigmund Freud. O recalcamento começa a se delinear em um momento posterior. Ganhando relevância apenas a partir do momento em que Sigmund Freud se defronta com o fenômeno da resistência.

    Como e Por Que Existe o Recalque?

    Para Freud, a resistência representa um sinal externo de defesa, com o objetivo de manter fora da consciência a ideia ameaçadora.

    Ademais, destaca-se que o Eu exerce a defesa sobre uma ou um conjunto de representações que, ao serem despertadas, provocariam sentimentos de vergonha e dor. Originalmente, utilizou-se o termo defesa para designar uma proteção contra uma excitação proveniente de uma fonte interna, como as pulsões.

    Em seus escritos de 1915, Freud questiona “Por que uma moção pulsional deveria ser vítima de semelhante destino (recalcamento)?” Isto acontece porque o caminho para a satisfação desta pulsão pode acabar por acabar por produzir mais desprazer do que propriamente prazer.

    É sempre necessário termos em consideração, no que diz respeito à satisfação de uma pulsão, a “economia” presente no processo.

    Uma vez que uma satisfação que proporciona prazer em um aspecto, pode significar em grande desprazer sob outro aspecto. Tem-se estabelecida a partir desse momento a “condição para o recalque”. Para que este fenômeno psíquico aconteça, é necessário que a potência do desprazer seja maior que a da satisfação.

    Conclusão

    Por fim, é preciso ter presente que o recalque impede a passagem da imagem à palavra, embora isso não elimine a representação, não destruindo a sua potência significante.

    Ou seja, é como se a experiência ou ideia recalcada ficasse sem uma face nítida no inconsciente, gerando incômodo. Em outros termos, o que o recalque opera não é a eliminação do inconsciente, mas, ao contrário.

    Ele opera a sua constituição e este inconsciente, em parte constituído pelo recalque. E então, continua insistindo no sentido de possibilitar uma satisfação da pulsão.

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    17 thoughts on “O que é recalque na Psicanálise?

    1. Maria Isabel disse:

      Excelente. Obrigada. Muito comprensivel.

      1. Psicanálise Clínica disse:

        Olá, Maria Isabel! Gratidão por sua mensagem e sua companhia! Continue acompanhando nosso site, há atualizações diárias por aqui! Equipe Psicanálise Clínica

        1. Paula Tavares disse:

          Ótimo!!! Muito obrigada pelo espaço

    2. Joyce Peixoto disse:

      Olá, muito bom esse espaço! Muito grata pela explicação aqui apresentada.

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      1. Psicanálise Clínica disse:

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    4. Ronaldo Joaquim de Brito disse:

      Artigo muito bom.
      Objetivo , claro.

      1. Susana chianello Correia de Melo disse:

        Muito bom!
        Bem objetivo e claro!

    5. Francisco Goulart disse:

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      1. Psicanálise Clínica disse:

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    6. Samuel Ponce disse:

      Sem esquecermos que o termo veio da adaptação que Freud fez do principios de hidráulica para a Psicanálise.

      1. Bem interessante. Precisei ler várias vezes para mergulhar nesta compreensão, mas admito que gostaria de ir mais a fundo. Acho que compreender em mim como esses recalque acontece!

    7. Não achei objetivo. Por ser um texto pequeno.

    8. Ricardo Arantes disse:

      Muito claro o artigo! Me ajudou ainda mais na minha caminhada.
      Estou muito satisfeito com o curso.

    9. Jeremis Mussivi disse:

      Grato por este conteúdo,muito importante na minha carreira de estudo.
      Porém,continuai-vos partilhar os vossos sentimentos para nós.

    10. Geraldo Korndorfer disse:

      O Português do artigo deixa a desejar. Infelizmente, uma embalagem defeituosa depõe contra o produto. Mas, sem dúvida, o conteúdo do artigo é interessante.

    11. Mizael Carvalho disse:

      Parabéns! Muito bem explicado!

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