Psicanálise e Guerra

A Psicanálise e a Guerra: o que Freud pensava sobre as guerras?

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Neste artigo falaremos sobre a relação entre a Psicanálise e Guerra. Recentemente, os eventos no leste europeu, desencadeados entre a Rússia e a Ucrânia, tomaram as atenções de todo o mundo. O conflito desperta na sociedade os antigos fantasmas da guerra.

Psicanálise e Guerra

Sociólogos, filósofos, historiadores, analistas financeiros, e psicanalistas, se debruçaram em escrever textos nas últimas semanas, tentando trazer explicações para os fatos de acordo com sua ótica. Para a psicanálise, é natural buscar referências nos antigos mestres, principalmente em Freud. Obviamente busca-se o que Freud pensava sobre as guerras, ou o que Freud diria nessa situação.

É sabido que em 1932, a pedido da extinta Liga das Nações, Albert Einstein procura Freud, e o questiona se havia alguma forma de livrar a humanidade da ameaça da guerra. Einstein também quis saber de Freud, se ele conseguiria sugerir métodos e caminhos que resolveriam o problema da guerra, a ponto de tornar impossível qualquer conflito armado. Einstein desejava saber como seria possível, a ausência da guerra, a paz mundial à luz da Psicanálise, uma sociedade utópica.

As narrativas da psicanálise são sempre concentradas no homem enquanto indivíduo ou sujeito. A beligerância do homem, data dos tempos mais remotos da humanidade. Entretanto, as nações guerreiras do passado, como: Gregos, Romanos, Vikings, por exemplo, não precisavam explicar suas guerras. Era óbvio que a guerra se tratava de saques, dominação de territórios e escravos, e de conquista de poder. A guerra, portanto, era vital a sobrevivência.

Psicanálise e Guerra contemporânea

O mais necessário neste cenário contemporâneo, talvez não seja explicar a guerra, mas sim, refletir o porquê começamos a explicar a guerra. A necessidade de explicar as guerras é algo moderno, que surge com a modernidade e o capitalismo. Na medida em que a modernidade foi se configurando e ampliando a subjetivação do mundo, a explicação da guerra deixou de ter um caráter objetivo, explicado pela história, sociologia ou filosofia.

Os textos que surgem para explicar a invasão da ucrânia pela Rússia, a luz da psicanálise, utiliza-se de recursos subjetivos, são narrativas pertinentes à psicanálise e psicologia, se tenta explicar a guerra a partir de uma beligerância intrínseca do homem. Baseado-se no texto “Além do princípio do prazer” – escrito em 1920, que trata do Eros e Tanatos, oposição entre amor e ódio, atração e repulsão, preservar e destruir, pulsões de vida e de morte. Essa explicação parte dos conceitos da dita metapsicanálise freudiana.

Além dessa explicação dualista, entre o Eros e o Tanatos, pode-se também teorizar a guerra sob a visão psicanalítica, através do narcisismo fálico. O falo é um dos elementos do poder, o pênis é uma referência fálica, mas não a única. O falo aqui, pode ser representado por riquezas, terras, uma espada afiada ou um fuzil. Desde a guerra fria, existe uma disputa fálica entre oriente e ocidente. Os EUA, ocupam uma posição egocêntrica e narcisista em relação à economia e a política mundial, influenciando os países e suas políticas de acordo com seus interesses. Esse comportamento da nação norte-americana, despertou a ira da al-Qaeda em 2001, o resultado foi um ataque terrorista nos maiores símbolos fálicos do capitalismo ocidental, as torres gêmeas do World Trade Center e o Pentágono.

A relação da OTAN

De um lado, a OTAN avança sob países fronteiriços da Rússia, com intenção de ganhar posição territorial e criar bases militares. Do outro lado, o bloco da Ásia, ameaça o protagonismo ocidental na figura de ditadores como Putin, Kim Jong-un e Xi Jinping. Existe instalado no cenário global, talvez, uma disputa fálica entre esses líderes, ocidente (mocinhos) contra o oriente (bandidos), uma verdadeira necessidade de estar sempre com seus fuzis e seus mísseis eretos.

Na modernidade há uma febre de explicação das guerras, o capitalismo pertence a modernidade e a inaugura, o capitalismo não prevê uma sociedade guerreira. Por mais que existam guerras horríveis na sociedade capitalista, o capitalismo necessita de paz para que o mercado financeiro funcione. O capitalismo inaugura o fim da virilidade, embora precise de alguns homens como Putin para fomentar guerras que vão aparecer juntamente com a crítica da guerra, e explicações do porque uma determinada guerra surgiu.

A psicanálise precisa perceber essa historicidade, e entender que a explicação da guerra é algo datado, por isso não é muito aconselhável explicar a beligerância humana baseada em uma maldade intrínseca, numa ganância pela guerra. A psicanálise por conta da subjetivação, naturalmente tenta explicar a guerra na Ucrânia através desse conceito estreito. Contudo, nesse contexto de guerra específico, o que colocou o homem em movimento não foi o falo, e nem a dualidade Eros e Tanatos, o que move Putin é o capital e os interesses dos oligarcas russos, que por outro lado pode mantê-lo no poder. Essas duas narrativas da psicanálise, podem ser enrriquecidas com a visão da filosofia política, da sociologia e da história.

O capitalismo, Psicanálise e Guerra

Na guerra da sociedade capitalista o homem já não é mais o sujeito da guerra, mas se torna objeto de uma máquina que é o capitalismo, e que tem uma necessidade de acúmulo. Os oligarcas Russos estão alimentando a virilidade de Putin em troca de interesses políticos.

Quanto ao estado mental de Putin, até aonde se sabe, sendo ele um ex agente do serviço de inteligência da URSS, traz consigo lutos, melancolias, neuroses de guerra e corpos mutilados, resultantes da atuação de Tanatos durante sua vida.

E se as guerras surgem devido às questões políticas, psicológicas, sociais, culturais e econômicas, a maldade intrínseca de um ditador é um elemento que explica as guerras, mas não é o único. Freud em sua sabedoria se desvencilha da responsabilidade de propor medidas práticas, e endossando o que foi colocado por Einstein, seguiu seu raciocínio, ampliando-o com seus conhecimentos e com a narrativa psicanalítica, mas jamais colocando a psicanálise como única via possível.

Conclusão

Freud portanto, não concluí seu raciocínio idealizando um sociedade pacífica, até porque a dinâmica das instâncias psíquicas é caótica e se reflete na sociedade, contudo, Freud acreditava que a medida em que a civilização fosse evoluindo seus instintos destrutivos estariam mais controlados: “Os civilizados são pacifistas e repudiam a guerra intelectual, emocional e constitucionalmente”(Freud,1933).

Além do mais Freud deixou claro sua opinião acerca da guerra : “É sabido que a guerra destrói vidas, as esperanças, avilta o homem, estimula o assassinato, arrasa os patrimônios culturais dos povos, porque pode significar a destruição da raça humana” (Freud,1933).

O presente artigo foi escrito por Igor Alves([email protected]). Formado em psicanálise pela IBPC, é graduado em Letras e Filosofia.

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    2 thoughts on “A Psicanálise e a Guerra: o que Freud pensava sobre as guerras?

    1. Maximiliano Furtado Moço disse:

      Bom artigo, mas discordo que a guerra seja um instrumento prejudicial ao capitalismo.
      Óbvio que muitos segmentos podem ser prejudicados, sobretudo no que tange ao abastecimento de recursos básicos às populações atingidas e ás de outros países também, cuja restrições de importações e exportações de insumos prejudicam as demais economias mundiais ( no caso do Brasil, a importação de fertilizantes pela Rússia). Porém, alguém sempre lucra com o caos ( bilionários ficaram ainda mais ricos, como Jeff Bezos, dono da Amazon, durante a pandemia de Covid-19)!
      Nas guerras ou rumores de guerras, a poderosa indústria bélica se beneficia enormemente. Os países beligerantes ou vizinhos tendem a realocar seus investimentos públicos para a compra de armas, em detrimento de outros setores importantes para seus povos, como Saúde e Educação. E tudo isso com apoio político e popular!
      Não é de se estranhar que praticamente todo conflito das últimas décadas teve a participação efetiva ou apoiada pela Rússia(e ex-URSS) e EUA: Vietnã, Coréia, Irã, Iraque, Afeganistão, Síria, Líbano, etc? E se levarmos em conta que EUA e Rússia são os maiores produtores de material de bélico em número e de tecnologia de ponta do mundo, começamos a ligar os pontos.
      Se pensarmos que o sistema bancário financia a aquisição dessas armas pelos países interessados nelas e que, a guerra, é um modo de liquidar potenciais concorrentes em diversos setores industriais, aliado ao fato que a guerra gera destruição e depois dela, reconstrução (com gasto e endividamento do país perdedor), podemos avaliar que a guerra é apenas mais uma “operação capitalista”.
      Para não dizer que não falei sobre Psicanálise, julgo que a guerra é, dentre as inúmeras ações destrutivas da humanidade, um acontecimento previsível e será ainda frequente, pois a elite financeira e política mundial ainda padece do adoecimento psíquico (neuroses e psicoses), com sede de domínio e ganância exacerbados, com baixa empatia e alta dose de narcisismo.

    2. Mizael Carvalho disse:

      Muito bom artigo e muito atual!

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