psicopatologia fundamental

Psicopatologia Fundamental segundo Pierre Fédida

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A Psicopatologia Fundamental, foi criada na década de 1970 por Pierre Fédida. Neste conceito, o psiquismo é um prolongamento do sistema imunológico. Ele se constitui graças à violência originária e é uma resposta defensiva do organismo a ela (BERLINCK, 2010).

Entendendo sobre a psicopatologia fundamental

A Psicopatologia Fundamental é um discurso (logos) sobre o pathos psíquico, que leva em consideração a subjetividade. Como tal, ela se distingue da Psicopatologia Geral, escrita em 1913 por Karl Jaspers Kant (1987), que leva em consideração as manifestações psicopatológicas conscientes (BERLINCK, 2010, p.1).

A psicanálise traz em seu contexto investigativo e psicoterapêutico, a subjetividade na psicopatologia, que não era conhecida por Jaspers Kant (1913).

Mesmo que, a subjetividade tenha sido uma preocupação médica, desde meados do século XIX, segundo Berlink (2010, p.2), depois de Freud, a psicopatologia não mais perseguiu caminhos kantianos, buscando assim, o que a psicopatologia é “fundamental” porque obedece ao Princípio do Fundamento.

Este princípio reza: nihil est sine ratione. Traduz-se: nada é na verdade sem fundamento

Zerbinati; Bruns (2019) evidenciam a forte relação entre a Psicopatologia Fundamental e a Psicanálise. Os autores confirmam que a Psicopatologia Fundamental de orientação psicanalítica “vai ao encontro da necessidade de se pensar propostas de investigação que sejam potentes à análise e compreensão da sexualidade além de uma compreensão patológica, naturalizante e reducionista” (ZERBINATI; BRUNS, 2019, p. 115).

Assim, a partir das regras essenciais da psicanálise, a pesquisa em Psicopatologia Fundamental pode tomar forma enquanto investigação clínica. Como destaca Silva (1993, p. 20):

[…] é a partir da associação livre e atenção flutuante que o pesquisador ou clínico se aproxima do seu objeto de modo a privilegiar uma posição em que se abstém de crítica, captando o material e organizando-o para se chegar, através da relação entre o jogo de fantasias de ambos interlocutores, a possíveis novas respostas e conhecimentos.

A psicopatologia fundamental e teóricos

A Psicopatologia Fundamental como proposta acadêmica-clínica busca prosseguir além dos limites teóricos da Psicopatologia Geral Kantiana (construção do filósofo Immanuel Kant), adicionando as contribuições da psicanálise, da filosofia, com também da psiquiatria (BERLINCK, 2010). Portanto, Psicopatologia Fundamental é “um discurso (logos) sobre o pathos psíquico, que leva em consideração a subjetividade” (BERLINK, 2010, p. 551).

Em relação à influência da Psicanálise fica evidente que ao levar-se em consideração a subjetividade da pessoa, o trabalho clínico na psicopatologia fundamental, ocorre com a percepção ativa da escuta.

Porém, essa escuta necessita ser ativa, e para tanto é preciso estar atento durante a exposição do sujeito, para assim, perceber o que vem nas “entre linhas”, sendo necessário a empatia e o calar, aguçando os ouvidos, se atentando a qualquer mudança até no respirar, no movimentar, no silenciar, etc. (OLIVEIRA; BERLINCK, 2015).

O psicopatólogo

O papel do psicopatólogo não é se ater a tais manifestações, mas sim, de se relacionar com o sujeito que se apresenta ali com toda a sua diversidade, sendo tais manifestações como expressões de sua subjetividade, que é ampla, impossível de se limitar a categorias impostas. A ideia é de não se ater a teoria e encaixar o sujeito em seus moldes, podendo considerar seu inverso, de utilizar a teoria para ampliar a visão sobre o que se manifesta ali (OLIVEIRA; BERLINCK, 2015, p. 170).

Para sintetizar as reflexões aqui expostas, a Psicopatologia na etimologia da palavra, traz o “Psiquê” – considerando Freud (1914) ‘a psique humana se faz presente desde os primórdios de seu trabalho, estando sempre a elaborar e ressignificar os estímulos ou a pulsão’; ‘e as formas de manifestação do inconsciente, que revelam o trabalho psíquico foram descritas por Freud (1917 [1916-17]) como os sonhos, neuroses, atos falhos e sintomas’ (OLIVEIRA; BERLINCK, 2015).

Em seguida a Psicopatologia traz o “Pathos” – que busca a relação do sujeito com o pathos que deriva das palavras sofrimento e paixão – “diz respeito a algo que vem de longe e de fora, que invade o sujeito, o toma e o arranca de si, o deixando a mercê do sofrimento e da intensidade” (Berlink, 2008 apud Oliveira; Berlink, 2015, p. 174).

O discurso e a linguagem

O Psicopatólogo deverá ampliar a visão do patológico, considerando a psique e suas manifestações em prol de abranger sua visão diante do que surge (OLIVEIRA; BERLINCK, 2015). Por fim, a palavra Psicopatologia traz o “Logos” – O discurso e a linguagem (verbal ou não verbal) revelam a dimensão de seu conteúdo, ainda que incompleto pela castração. A linguagem então, vem como constituinte da psique, em que há o marco da castração pelo simbólico (OLIVEIRA; BERLINCK, 2015).

[…] tornamo-nos escravos dos significantes. O sujeito constitui-se ao se separar dele mesmo; a linguagem vem como a cisão que afasta o sujeito de si, ao mesmo tempo em que o aproxima. O ser foge das sensações ao tentar exprimi-las através das palavras, mas o faz na tentativa de se reencontrar nas mesmas. A dualidade perda-encontro se faz através da marca do faltante, que instiga o desejo numa busca incessante (OLIVEIRA; BERLINCK, 2015, p. 171).

Oliveira e Berlink (2015) acrescentam, contudo, que há a conexão dos inconscientes (psicoterapeuta-paciente), através da ocorrência da associação livre, trazendo a subjetividade do paciente e na contratransferência, revela também a do psicoterapeuta, atingido pelo discurso…. Sendo que, “ é justamente na exposição do caso, que o clínico pode colocar em palavras as suas vivências, elaborando o modo como foi impactado por elas” (OLIVEIRA; BERLINCK, 2015, p. 171).

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    Conclusão sobre a psicopatologia fundamental

    Analisando as reflexões trazidas pelos autores estudados, podemos sugerir que a Psicopatologia Fundamental tem o propósito de que o encontro entre psicopatólogo e paciente seja firmado pela escuta e a possibilidade de permutação, de entrega – o logos e a psique humana.

    Porém, para tanto, a escuta deve transcender o pathos, levando-o também em consideração, para que a vivência/experiência entre subjetividades se estabeleça.

    Referências bibliográficas

    BERLINCK, Manoel Tosta. A noção de subjetividade na Psicopatologia Fundamental. Editorial • Rev. latinoam. psicopatol. fundam. 13 (4). Dez 2010 https://doi.org/10.1590/S1415-47142010000400001 Disponível em: https://www.scielo.br/j/rlpf/a/hqRYLp4c4kTzVztPNX76Dqf/?lang=pt Acesso: 18/08/2022.

    OLIVEIRA, Christiana Paiva de; BERLINCK Manoel Tosta. Os cinco sentidos na Psicopatologia Fundamental. Psic. Rev. São Paulo, volume 24, n.2, 167-179, 2015. Disponível em: file:///C:/Users/DocenteDEN/Downloads/27794-Texto%20do%20artigo-73251-1-10-20160510.pdf Acesso: 17/08/2022.

    SILVA, M.E.L. Pensar em Psicanálise. In: SILVA, M.E.L. Investigação e Psicanálise. Campinas: Papirus, p.11-25, 1993.

    ZERBINATI, João Paulo; BRUNS, Maria Alves de Toledo. Psicopatologia Fundamental: por uma compreensão despatologizante da diversidade sexual. 2019. ECOS | Volume 9 | Número 1. Disponível em: http://www.periodicoshumanas.uff.br/ecos/article/view/2696/1638 acesso: 18/08/2022.

    Este texto foi escrito por JOSIMARA EVANGELISTA DE SOUZA. Como Psicanalista estou disponível para atendimento em Salvador BA e online, me encontre no instagram @josimaraevangelistade para conversarmos.

     

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