O que seria melhor para a vida mental de uma pessoa: ter um relacionamento complicado ou não ter relacionamento? A abordagem do artigo irá pensar a temática do namoro complicado, casamento complicado ou outra forma de relação afetiva que seja turbulenta.
Definição de relacionamento complicado
Trata-se, relacionamento complicado, de algo que é a regra hoje em dia – quando muito, como se verá. Seja pelas tentações do mundo digital, seja pela exigência e expectativa de perfeição e pleno atendimento de anseios e desejos – ou ainda de completude por parte dos interlocutores do amor.
Uma planilha com prós e contras e peças por repor (os outros, pretendentes ou mesmo alternativas hipotéticas) a tiracolo.
Não há mais resiliência e firmeza de propósito na escolha e manutenção de uma relação, ouve-se por aí. De fato não o há. Perdeu-se. Era a regra. Era.
Relacionamentos complicados na realidade atual
Com a independência feminina a galope, não há mais razão para permanecer em relações ruins ou intermediárias – aqui há o traço de inovação da nossa era.
A busca da felicidade a qualquer custo, até ao custo dela própria, definitivamente não auxilia a reverter tal cenário. As comparações instagrâmicas, idem. As facebookianas, ibidem.
O traço de imaturidade reinante nos adultos tardios vai na mesma linha.
Hesita-se em crescer e amadurecer por medo e receio da responsabilidade, dos revezes da vida, do fracasso ou dos fracassos e perdas em potencial – que só é experimentado por quem joga o jogo da vida e sai da tela de proteção e resguardo, do escudo narcísico do tablet ou smartphone.
Ali, onde se bloqueia e se afasta ao menor sinal de não confirmação da câmara criada para tanto, onde só se quer receber inputs e opiniões favoráveis – e posições políticas e posições em geral sobre tudo e nada – igualmente consonantes com o que pensa o agente em questão, o isolado ser por detrás de sua tela-escudo, seu gregário solitário com 5.000 amizades de pixels.
Amores líquidos, relações complicadas
Enfim, um anátema ao postulado do amor líquido, de Zygmunt Bauman. A confirmação de sua visão aterradora, para quem amizade, no máximo em número de dedos de – uma – mão.
Amores líquidos, sociedade líquida, interações líquidas. Nada mais subjaz. Nada se torna pétreo ou perene. Apenas o anseio de perfeição da autoimagem com os filtros dos apps.
E os relacionamentos seguem a mesma toada. O que sempre foi um desafio, hoje se mostra quase uma tarefa de Sísifo, da mitologia grega. Rola-se a pedra pelo próprio rolar desta.
Apps, encontros às cegas, eternos primeiros encontros, relações de uma semana, intensidades de fim de semana e ghosting às segundas. E às sextas. E duplicidades. E poliamores não chancelados em meio a pretensas relações acordadas ou não nas entrelinhas. Estranhos que convivem.
Lustros do ego a cada curtida e sensação de desdém pelo parceiro real. Palavras ao vento em conversas vazias e bons dias idem. Manutenção fictícia de crushes com cozinhar de emojis de segunda a sexta. E quem sabe um momento de realidade dentre o rol cozinhado.
A psicanálise e os relacionamentos complicados
Nesse cenário se insere o tema dos relacionamentos complicados – que, como se nota, nem começam, a exemplo da exposição neste texto.
Haja psicanálise. Haja autocrítica e saída do espelho. Haja conselhos de avó. Estamos na era da não relação como relação típica. Não por escolha, mas por inviabilidade do mero decolar e se fechar com alguém, dado que o verbo está em crise. Relacionar-se.
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Não se sai mais de si. A relação é com os jogos de imagens internos narcísicos e com os pixels e idealizações mutáveis dos outros, dos insignificantes outros.
Assim, os valentes a manterem relacionamentos complicados já merecem nossos aplausos. O normal seria jogar a toalha. Seria estar no rol dos crusheadores flertadores idealizadores. Dos insatisfeitos eternos, pois o último parceiro não lhes granjeou a felicidade plena e a superação das próprias mazelas e vazios internos.
As denominações do outro seguem a mesma toada, com o deixar dos nomes e apelidos de outrora e a adesão a siglas e termos genéricos. A acompanhar um bom dia já impessoal com emoji e ghosting relativo. Reflete-se sobre o futuro das relações no século XXI quando, como aventado, os que se relacionam de forma complicada – e real – já são vencedores. Talvez não haja espaço mais para tal conceito. Relação é cringe.
Idealização e relacionamentos complicados
O lance é autoidolatria e flashes curtidas. Seguidores. Cortejos do sexo oposto sem nenhuma garantia. O brilhar momentâneo do ego ganha mais importância que a realidade lá fora. Nas câmaras de confirmação das panelinhas próprias das redes sociais.
Com o excluir ao toque de um dedo. E difamar, ostracizar, aniquilar, cancelar.
Eis o cenário do relacionamento complicado. O pano de fundo que se torna o palco principal. Se o conceito de relação está em crise, o que dirá materializá-lo a bom termo, a contento.
Hoje em dia, a regra é teorizar sobre relação estando em uma miragem de uma no máximo. E está tudo bem. Talvez aí, ao se reconhecer ilha, autosubstrato de si, esteja a possibilidade de uma mudança de contexto e vontade de relação, alteridade, conexão real.
Ao sentir da mais profunda solidão da alma. Ali está a esperança. Ali está o início da relação do século XXI. A nova forma de troca. Seja no metaverso ou no Verso. Na poesia. No real. Boa sorte.
Este texto sobre relacionamentos complicados foi escrito por Luís Freitas (Instagram: luis2049edu), arquiteto e viajante de moto; interesses por filosofia, psicologia e filmes de classe.
1 thoughts on “Relacionamento complicado ou não relacionamento?”
É uma pessoa narcisistas, se acha superior às outras pessoas l Parabéns pelo trabalho!