Neste texto, vamos responder à questão: o que é Neurose Obsessiva? Veremos a definição de neurose obsessivo-compulsiva, a questão da dúvida no neurótico, as características e o isolamento de afetos do neurótico.
O que é a neurose obsessiva?
A neurose se forma a partir de uma divisão que separa a representação do afeto. O que caracteriza os tipos clínicos de neurose é a localização desse afeto que se desligou de uma ideia.
Por exemplo:
- na histeria de conversão esse lugar para onde o afeto se desloca é o corpo, por isso chamamos esse processo de conversão;
- na fobia, o destino é um objeto e
- na neurose obsessiva o afeto é deslocado para uma ideia substitutiva.
A neurose obsessiva é descrita como uma doença do pensamento. Com muita frequência, o próprio pensamento assume uma capacidade de ser julgado e avaliado como um desejo.
Ou seja, pensar em que algo pode acontecer é imediatamente sentido como um desejo de que aquilo realmente aconteça, o que provoca angústia e medo no paciente.
Neurose Obsessivo-Compulsiva
Freud também associou a neurose obsessiva com processos ligados ao contágio e ao contato. É o caso de alguém que sabe que trancou a porta, mas volta para conferir se realmente a trancou, ou possui o hábito de contar azulejos, fazer listas ou alguém que lava repetidamente as mãos.
Nesses casos, o pensamento passa a adquirir propriedades fantasiosas, passam a ser obsessivos. Já os atos ligados às ideias obsessivas são comportamentos compulsivos.
A ideia obsessiva é um pensamento que adquire uma força de fixação, um desejo de que algo se realize. E quando o recalcamento, o desligamento entre duas representações, ou entre um representação e um afeto, como citado no início, ameaça ser desfeito, aparece uma defesa secundária: os atos.
São os atos compulsivos. Temos assim, a Neurose Obsessiva Compulsiva.
Quando o neurótico estabelece restrições de atos e pensamentos, do tipo “preciso andar apenas em cima da linha”, ficando implícito que se andar fora dessa linha algo ruim irá acontecer, esse algo ruim impõe uma dor psíquica por ser indeterminado.
Não se sabe o que pode acontecer de fato. Essa angústia faz com que o neurótico passe a ser dominado por suas obsessões e compulsões. O que pode, muitas vezes, restringir drasticamente a sua capacidade de amar e trabalhar.
O neurótico e a dúvida
Sigmund Freud retrata esse quadro em sua obra “O homem dos ratos”, onde seu paciente encontra-se em uma situação na qual não é capaz de tomar decisões. Ele não sabe se deve se casar com uma mulher ou com outra.
O quadro evolui para a indecisão de não saber se deve ou não casar. Posteriormente, evolui para a dúvida se ele deve ou não prestar a prova final de advocacia para ter um trabalho e, a partir disso, escolher se irá se casar ou não e com quem.
Com o caso, entendemos que as ideias obsessivas formam cadeias que se estendem, se prolongam, limitando a vida do paciente. A dúvida paralisa a pessoa neurótica.
Freud nos diz, ainda, que o neurótico parece criar um tipo de religião particular, ou seja, ele possui um sistema de crenças particular, e que se ele violar algo nesse sistema será punido. Então, para evitar a punição, ele precisa realizar certas tarefas. Passa a ritualizar a sua vida com regras.
Características de uma pessoa neurótica
Neuróticos obsessivos são pessoas excessivamente controladoras, possuem um sistema que não pode ser flexibilizado, por existir uma lei psíquica que impede. São pessoas com exigências muito detalhadas sobre a realidade onde vivem.
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É muito típico encontrarmos processos ligados à higiene, limpeza e temor em ser contaminado. Eventualmente, as pessoas neuróticas se tornam intolerantes com experiências sociais que consideram desagradáveis.
Criam um distanciamento onde tudo precisa estar limpo e sob controle, onde nenhum risco é tolerado.
Apesar de ser conhecida como a doença do pensamento, é também uma doença da culpa. Além de temer a culpa, a pessoa cria os pretextos para viver em estado de culpa.
O obsessivo teme muito o desejo e isso ocorre porque uma das faces do desejo é justamente o risco.
Por isso, o sintoma fundamental da neurose obsessiva, para Freud, é a dúvida!
A pessoa coloca-se em dúvida o tempo todo. Se mantém em uma condição em que possa alimentar esse estado de dúvida. Essa culpa, típica do neurótico, é gerada por uma covardia, um recuo, um temor em empenhar-se para alcançar o que deseja.
Outro traço marcante da neurose obsessiva é a forma como relações ambivalentes são construídas. Um amor excessivamente idealizado, em que a pessoa não se sente merecedora e, por isso, não consegue declarar-se para quem ama.
O neurótico tem dificuldade em articular a dimensão do desejo com a da demanda. O amor superestimado frequentemente inverte-se em ódio e essa alteração em seu contrário leva a uma alteração de humor, alternação das relações, a cortes bruscos e sumiços inexplicáveis.
Outra característica importante são as formações reativas. Pessoas que falam de forma muito puritana, que são muito críticas, mas que fazem desse excesso uma formação reativa, ou seja, um excesso feito para negar e encobrir uma falta.
No fundo, a pessoa se acha inferior ou incapaz, julga ser ou ter justamente aquilo que está criticando. A formação reativa faz o contrário do que o sujeito pensa que está fazendo. Como exemplo podemos citar um maníaco por limpeza que, na verdade, possui algo muito sujo em sua vida, e que não é capaz de perceber.
Pessoas acumuladoras que acreditam ter tudo em ordem, mas juntam cada vez mais caixas cheias de objetos e bagunça. Há uma contrariedade, uma contradição nesse sintoma secundário. É o que chamamos de formação reativa.
O isolamento de afetos
Mais um mecanismo de defesa utilizado pelos neuróticos é o isolamento. Para eles, as coisas estão resolvidas quando elas estão isoladas. O que tem a ver com separar afetos e representações. O isolamento é separar pensamentos e sentimentos. Registrar com extrema independência esses dois.
Exemplo: Uma pessoa que em uma determinada situação age de forma fria, indiferente ao outro ou sem empatia simplesmente por ele estar seguindo regras, está seguindo o regulamento, fazendo o que é certo.
Acredita que é a maneira como todos deveriam se comportar. Isso é um isolamento de afeto. Ao longo do tempo, gera-se um esgotamento dessa estratégia devido à pessoa não conseguir efetuar o isolamento em todos os campos de sua vida.
Há um momento em que as duas coisas, sentimento e representação, se aproximam e a pessoa sente angústia, ansiedade. Começa a produzir mais estratégias de isolamento.
Um exemplo atual muito frequente dessa situação é quando a pessoa imagina que irá resolver os conflitos de sua vida mudando de cenário.
Muda-se de emprego, de cidade, de país, de namorado, etc. Fazer uma alteração na realidade que irá justificar o isolamento de afetos. Como se pudesse colocar uma pedra em cima da situação, anulá-la e ela simplesmente deixará de existir, como mágica. Porém, sabemos que continua existindo dentro da gente.
Não ocorre o luto, não há a transição de afeto, mas sim uma brusca ruptura.
Considerações finais sobre a neurose obsessiva
A histeria é um campo mais amplo das neuroses, e a neurose obsessiva é um tipo de subgrupo da histeria. É um quadro difícil de tratar e o tratamento é longo, por ser uma estrutura verdadeiramente particular e complexa. Com frequência, o paciente começa a racionalizar os seus próprios processos como se assim fosse sair dessa situação, controlando-a. Passa a ser, então, obsessivo com a própria terapia.
Passa a comportar-se a partir do que o analista diz, a partir do que lê sobre o assunto, a partir do que entende sobre si.
É uma atitude esperada no processo de transferência e que faz parte do tratamento. Mas, nem sempre esse é o caminho para a saída, para a cura desse sintoma tão presente e tão sofrido que, às vezes, associa-se com o TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), à depressão, à ansiedade, à hipocondria e às fobias.
Este artigo sobre neurose obsessiva foi escrito por Thaise Reis (instagram: @_thaisereis), psicanalista clínica e psicolinguista.
3 thoughts on “O que é Neurose Obsessiva”
Pelas pessoas que conheci, a neurose nesses casos, ocorre como estágio seguinte à obsessão instalada e, ocorre um estágio de “sobriedade”, preliminar a pessoa ser considerada vencida pelo sofrimento. Elas reconhecem que há um empenho “do obssessor” em incutir que não são amadas por ninguém e que tais pessoas só tem a presença “dele” que “alerta”! E geralmente quem causa essa neurose o faz por “transferência”, é uma espécie de parasita! Num dia, inicio de ano até, meu ex chefe, encaminhou um SMS, logo após eu ler num site, uma reflexão do comportamento dele: acorda para um novo dia, Sem paz e na busca por encontrar alguém que possa extravasar essa “sensação”! Depois que finalizei a carreira, uma colega em poucos meses pediu aposentadoria, mesmo ele/chefe dando a ela liberalidade do inicio e fim da jornada de trabalho! Para uma pessoa maior de 60 anos, provavelmente Não estava tendo mais “gás” sendo “vampirizada energéticamente”! Numa ocasião ela chegou para a Missa, longe daquela “dependente” de pilates, bem empolgada, diferente daquela expressão cansada para a manhã de trabalho, de outrora!
Muito bom artigo, parabéns! Conheço uma amiga que de tanto lavar e esfregar as mãos, estão todas as mãos feridas.
Assitiu ao vídeo do Dunker, né? rs