transtorno de personalidade narcisista

Transtorno de Personalidade Narcisista e Transtorno Obsessivo-Compulsivo

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Entenda sobre transtorno de personalidade narcisista. A combinação de mais uma psicopatologia em um indivíduo nos traz boas oportunidades de trabalhar com a complexidade da mente humana. Aqui, tratarei da coexistência de Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN) e Transtorno Obsessivo-Compulsivo(TOC) em um único paciente, um exemplo fascinante dessa complexidade. Essas são duas das condições psicopatológicas que frequentemente desafiam os profissionais de saúde mental e os pesquisadores.

Entendendo sobre o transtorno de personalidade narcisista

Embora sejam categorias distintas, esses transtornos podem coexistir em um indivíduo, originados em desafios únicos de diagnóstico e tratamento. Quando esses dois transtornos se manifestam em uma única pessoa, tão complexos entre suas características, gatilhos e relações sociais podem criar um cenário psicológico intrincado e desafiador.

Neste texto, exploramos esses dois transtornos, avaliando suas características, gatilhos, relações sociais e possíveis abordagens de tratamento para pessoas que enfrentam tanto o TPN quanto o TOC.

Características do Transtorno de Personalidade Narcisista

O Transtorno de Personalidade Narcisista é caracterizado por um padrão duradouro de grandiosidade, por uma necessidade excessiva de validação e por falta de empatia. Indivíduos com TPN frequentemente têm uma autoimagem inflada, buscam constantemente validação e acreditam que merecem um tratamento especial, por ser único, merecedor de regras especiais / estar acima das regras.

Eles tendem a exibir comportamentos manipuladores e, ao se envolverem em relacionamentos, buscam dominância constante. A sensibilidade à crítica é outra característica marcante, muitas vezes levando a reações desproporcionais a um feedback negativo.

Características do Transtorno Obsessivo-Compulsivo

O Transtorno Obsessivo-Compulsivo é caracterizado por padrões repetitivos de pensamentos intrusivos (obsessões) e comportamentos ritualísticos (compulsões) realizados para aliviar a ansiedade associada às obsessões. Indivíduos com TOC muitas vezes lutam contra pensamentos exóticos e angustiantes que os levam a realizar ações específicas para neutralizá-los.

Esses comportamentos compulsivos fornecem apenas um alívio temporário e podem interferir significativamente nas atividades cognitivas. Sua visão de si é de um ser responsável, confiável, competente e obstinado. Ele tem plena certeza que sabe o que é melhor e que todos os detalhes são cruciais.

Da combinação dos transtornos e seus gatilhos

Para uma pessoa com ambos os transtornos, os gatilhos podem variar amplamente. No caso do TPN, a crítica ou falta de proteções podem apresentar reações defensivas e comportamentais de superioridade. No TOC, qualquer coisa que desafie as compulsões abrangidas pode levar a altos níveis de ansiedade.

Quando coexistem o Transtorno de Personalidade Narcisista e o Transtorno Obsessivo-Compulsivo, seu comportamento costuma ser bem complexo. Os comportamentos compulsivos do TOC podem ser alimentados pela necessidade de perfeição e controle que muitas vezes caracterizam o TPN. Por exemplo, um indivíduo com esses transtornos pode ficar obcecado com a ideia de que precisa manter uma imagem perfeita, levando a comportamentos compulsivos relacionados à aparência física.

Aqui, o TOC pode manifestar obsessões relacionadas à sua imagem pessoal e realizar compulsões meticulosas para atingir a aparência “perfeita” que acredita merecer. Ou ainda, quando o indivíduo tem obsessão pelo acerto de seus atos ou atividades profissionais, desperta a necessidade de uma entrega perfeita e acima de qualquer possibilidade de crítica.

Ações meticulosas

Além disso, a sensibilidade à crítica e a busca pela validação do TPN podem levar a obsessões relacionadas a serem julgadas ou rejeitadas por outros. Essas obsessões podem, por sua vez, permanecer comportamentos compulsivos destinados a evitar a rejeição, como a busca constante por aprovação e realização de ações meticulosas para evitar possíveis críticas.

A busca pela perfeição, comum no TOC, pode ser alinhada com a necessidade de grandiosidade e validação do TPN.

Impacto nas relações sociais

Indivíduos que lidam com o Transtorno de Personalidade Narcisista e o Transtorno Obsessivo-Compulsivo podem enfrentar desafios inesperados em suas relações sociais. A natureza egocêntrica do TPN pode dificultar o desenvolvimento de relacionamentos autênticos e fortes, uma vez que a busca constante por resguardo pode afastar os outros. Além disso, a falta de empatia característica do TPN pode tornar difícil para essas pessoas compreenderem as necessidades emocionais dos outros.

No contexto do TOC, os comportamentos compulsivos podem consumir muito tempo e energia, tornando difícil para uma pessoa se engajar plenamente em atividades sociais. Isso pode levar a sentimentos de isolamento e espera, à medida que os indivíduos se veem presos em padrões de comportamento que interferem em sua capacidade de interagir naturalmente com os outros.

O manejo clínico do transtorno de personalidade narcisista e do transtorno obsessivo-compulsivo

O manejo clínico de um paciente com a combinação de Transtorno de Personalidade Narcisista (TPN) e Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) requer uma abordagem cuidadosa e integrativa, considerando as características únicas de cada transtorno e como eles interagem. Aqui estão algumas diretrizes para o tratamento e manejo desses transtornos coexistentes:

1. Avaliação Detalhada: Comece com uma avaliação completa da história do paciente, incluindo histórico familiar, seus eventos de vida seguidos, sintomas atuais e padrões de comportamento. A compreensão das origens e dos fatores desencadeantes de ambos os transtornos é crucial para desenvolver um plano de tratamento eficaz.

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    2. Estabelecimento de Relação Terapêutica: Dado o narcisismo típico ao TPN, é fundamental estabelecer uma relação terapêutica sólida e empática. Isso ajuda a construir confiança e minimizar a resistência à mudança. No entanto, o terapeuta também deve ser capaz de estabelecer limites claros para evitar que o paciente domine a terapia.

    3. Definição de Metas Terapêuticas:

    Colaborativamente com o paciente, defina metas claras para a terapia, abordando tanto os aspectos da TPN quanto do TOC. Isso ajuda a focar no tratamento e a monitorar o progresso ao longo do tempo.

    4. Abordagem Integrativa: uma boa estratégia pode ser desenvolver uma abordagem terapêutica integrativa que combina técnicas da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) para o TOC e da Terapia Psicanalítica para o TPN. O TCC ajudará a lidar com as obsessões e compulsões do TOC, enquanto a terapia psicanalítica explorará as origens do narcisismo e promoverá a empatia.

    5. Foco na Autocrítica Construtiva: Trabalhe com paciência para desenvolver habilidades de autocrítica construtiva. Isso pode ajudar uma pessoa a reconhecer pensamentos e comportamentos problemáticos, sem mergulhar em autocondenação ou negação.

    6. Exposição Gradual:

    No tratamento do TOC, uma exposição gradual às obsessões, sem executar as compulsões, é uma técnica fundamental. Isso ajuda o paciente a desenvolver tolerância à ansiedade e perceber que seus medos não se concretizam.

    7. Promoção da Empatia: Para lidar com o TPN, é importante trabalhar no desenvolvimento da empatia e da capacidade de compreender as perspectivas dos outros. A terapia psicanalítica pode explorar experiências passadas que contribuíram para a formação do narcisismo e da falta de empatia.

    8. Exploração das Dinâmicas Interpessoais: importante investigar as dinâmicas interpessoais do paciente, tanto nas relações pessoais quanto profissionais. Isso pode ajudar a identificar padrões de comportamento prejudiciais e desenvolver estratégias para lidar com conflitos e desafios.

    9. Transtorno de personalidade narcisista e o trabalho com Distúrbios de Imagem Corporal:

    Se o TOC envolve obsessões relacionadas à imagem corporal devido ao TPN, é importante abordar essas questões de forma sensível. Terapias específicas para distúrbios de imagem corporal podem trazer bons resultados.

    10. Incorporação de Medicamentos: Em alguns casos, a medicação pode ser considerada para aliviar os sintomas do TOC, como antidepressivos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (ISRS). No entanto, a decisão de usar medicamentos deve ser cuidadosamente ponderada e concomitante por um profissional médico.

    11. Trabalho em Grupo e Habilidades Sociais: Participar de grupos terapêuticos ou programas de desenvolvimento de habilidades sociais pode ajudar o paciente a melhorar suas sensações interpessoais e praticar a empatia em um ambiente controlado.

    12. Monitoramento e Ajuste Constantes:

    O tratamento desses transtornos coexistentes é um processo contínuo. Monitore o progresso do paciente, ajuste as abordagens conforme necessário e esteja preparado para lidar com desafios que podem surgir ao longo do caminho.

    Necessário lembrar que cada pessoa é única, o manejo clínico deve ser adaptado às necessidades específicas do analisando. Uma abordagem multidisciplinar, envolvendo terapeutas, psiquiatras e outros profissionais de saúde, é essencial para fornecer o suporte necessário em todos os aspectos desses transtornos complexos.

    Referências Bibliográficas

    CALLIGARIS, Contardo, Introdução a uma clínica diferencial das psicoses.

    FIGUEREDO, Luis Claudio Mendonça e JUNIOR COELHO, Nelson, Ética e técnica em psicanálise.

    MACEDO, Monica Medeiros Kother (org) (et al), Neurose: leituras psicanalíticas / CASTIEL, Sissi Vigil, pág. 359, MORAES, Eurema Gallo, pág. 371.

    LOUZÃ, Mario Rodrigues, CORDÁS, Táki Athanássios – Transtornos da Personalidade. VASQUES, Fátima et al, pag. 372.

    Este artigo foi escrito por Alfredo Martini, Psicanalista e com formação original em Administração.Sólida experiência no trato dos desafios do cotidiano corporativo como burnout, transição de carreira, depressão no trabalho, autoestima, stress, desmotivação profissional, inteligência emocional e relacionamento. Psicanalista pelo IBPC, Pós Graduado em Neurociências e Comportamento e Psicanálise e Análise do Contemporâneo. Especialista em Relacionamentos. contato: [email protected] e https://zenklub.com.br/psicanalistas/alfredo-martini/

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