terceira ferida narcísica

A terceira ferida narcísica segundo Freud

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Hoje falaremos sobre a terceira ferida narcísica segundo Freud.

Origem do termo narcisismo

O termo foi baseado no mito de Narciso, que vem da cultura grega. Narciso era filho de Cefiso e Liríope. Com o nascimento do filho a mãe ficou impressionada com sua beleza, procurou Tirésias que tinha o poder de prever o futuro e lhe perguntou: “Narciso viverá até ficar velho?”

O sábio afirmou que sim mas ele nunca poderia ver sua própria imagem. Certo dia o rapaz foi até a beira de um riacho e viu seu reflexo nas águas daquela fonte, ficou tão impressionado com sua beleza que não conseguiu mais sair daquele lugar, ficou hipnotizado por sua imagem, tanto que ficou ali por dias e anos e ali morreu.

O corpo desapareceu e no lugar nasceu uma flor amarela de mesmo nome. O mito de Narciso nos relata na atualidade os efeitos da auto imagem, trazendo consequências desastrosas para a vida humana, o afasta de novas experiências, novos conhecimentos e de pessoas. A sua auto imagem basta para sua sobrevivência.

Em seus estudos, Freud nos relata as Três Feridas Narcísicas da Humanidade:

A primeira ferida: o ego humano é ferido por se constatar que o homem não é o centro do universo como a muito tempo se acreditava a partir dos estudos de Nicolau Copérnico e da astronomia moderna. O planeta que o ser humano vive é parte de um Universo muito maior e multicentralizado em galáxias e sistemas. O ego é ferido, pois somos parte e não o todo.

A segunda ferida: o ego é ferido por descobrir, segundo a teoria de Charles Darwin que o humano é uma parte da evolução das espécies. A constituição física do ser humano se assemelha com a de outras espécies. O ego é ferido pois, apesar da evolução racional que o ser humano alcançou, ainda assim, é uma espécie animal, que muitas vezes são irracionais em suas emoções, comportamentos e atitudes.

A terceira ferida: o ego humano é ferido por suas próprias emoções. Segundo Freud, a terceira ferida é de natureza psicológica. O ser humano é tirado do pedestal quando é derrubada a ideia que ele tem o controle de sua vida psíquica. O humano não é cem por cento consciente, ele traz uma porcentagem muito grande de inconsciente. Por essa razão não domina seu racional. Seus atos não se exercem sempre de forma consciente. Tem suas pulsões, desejos e emoções que são em certa medida, animalescos, não racionais.

O ego ferido e terceira ferida narcísica

O ser humano é um ser dividido, isto é, não tem pleno controle de seus afetos, medos, impulsos e desejos. Sua mente é formada por uma imensa porção não consciente, que ficam escondidos em caixinhas e só se abrem quando acessadas.

Ao analisar as três feridas narcísicas segundo Freud, o ego ferido é o maior medo que uma pessoa que traz comportamentos narcisistas carrega consigo. O sentimento narcísico é como um eco, ele não escuta o outro, apenas ouve a si mesmo, e eco do seu conhecimento e de suas decisões. Ser narcisista é possuir a si próprio.

Ter que ouvir e ser possuído por um outro é desesperador. Em Genesis 2,18 Deus nos diz: “Não é bom que o homem esteja só. Vou fazer-lhe uma auxiliadora que lhe corresponda.” No início da criação o homem já não conseguiria viver só. O homem depende um do outro, não há como sobreviver sozinho. A sociedade é um espaço de preservação da vida do indivíduo, onde se busca saciar suas necessidades e a do próximo. Já o narcisista não admite o outro devido ao sentimento de empoderamento e sensação de infinitude.

A terceira ferida narcísica: o narcisismo para Paul Nacke

Médico Psiquiatra, foi o primeiro a utilizar o termo narcisismo. Em 1889, Paul atribuiu o narcisismo como uma espécie de perversão: o corpo do narcisista é o seu objeto de desejo sexual. Ele ama a si mesmo, em outras palavras, não quer amar, mas ser somente amado.

A escolha amorosa do narcisista está sempre embasada a partir de si, na sua imagem. Não existe o reconhecimento da existência do outro. O narcisista é onipotente e indestrutível.

O que está tornando as pessoas narcisistas?

Brené Brown, em seu livro “A coragem de ser imperfeito” faz a seguinte pergunta: “Que está transformando tantas pessoas em narcisistas.” E em uma de suas respostas nos diz: “…encontram uma diminuição expressiva do uso de “nós” e “nosso” e um aumento do uso de “eu” e “meu”.

Ela está se referindo a música popular contemporânea. Pesquisadores também relatam que não se usa mais as palavras solidariedade e emoções positivas, houve um aumento significativo por palavras de ódio, ira, morte e medo. Vale lembrar que o ser humano está vivendo debaixo de uma cultura narcísica, onde o eu sempre prevaleço.

É uma busca desenfreada pelo sucesso, pela necessidade de admiração. Hoje as redes sociais estão contribuindo de forma grandiosa para a geração de comportamentos narcisistas. A fonte que Narciso olhou e ficou encantado com sua imagem, hoje ela é virtual. Há uma preocupação excessiva de quantos seguidores se tem, quantos likes recebi.

As Insatisfações do indivíduo

Nunca a opinião do outro valeu tanto para alimentar o ego e as satisfações do indivíduo. A busca pela perfeição física, a aparência do corpo e tudo que é externo traz um vazio tão grande que leva o indivíduo a tirar sua própria vida. Um narcisista grave não provoca a morte nos outros, mais causa a sua própria.

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Um narcisista saudável é o que contribui para a auto estima do indivíduo. É o respeito e o carinho pelas próprias ideias ou sentimentos e principalmente aceitar o que é diferente. O narcisismo mortífero está ligado com o excesso.

É esquecer o outro e viver sob o próprio umbigo, é o que faz o indivíduo esquecer a fragilidade e finitude que existe dentro dele.

O narcisismo enquanto transtorno de personalidade

O indivíduo com o transtorno de personalidade narcisista gere uma ideia exagerada de sua própria importância, causando alguns problemas de relacionamento, falta de empatia, tendência a depressão e uso de drogas. Acredita-se que as causas desse distúrbio sejam tanto genéticos quanto ambientais, que pode ser passado de geração em geração.

Acredito ser mais ambiental do que genético, pois o ser humano nasce vulnerável, o ambiente em que está inserido vai moldar o seu caráter, comportamento e suas crenças. Somos parte do ambiente e somos influenciados devido a uma cultura de obediência, respeito, princípios e valores que nos são passados.

O próprio mito de Narciso nos mostra que sua mãe ficou encantada com a beleza do filho. Atualmente os pais estão colocando seus filhos em pedestais, sem deixar que sintam emoções como frustrações, medos, vulnerabilidade e outras. São príncipes e princesas vivendo um conto de fadas solitário em si mesmos.

A epidemia e a terceira ferida narcísica

Filhos que nascem em um ambiente narcisista tende a ser tornar um. Ainda no relato do mito de Narciso, o preço que ele pagou foi muito alto. Narciso morreu afogado, como consequência de um amor desmedido por si próprio.

Dois pesquisadores, autores do Livro (The Narcissism Epidemic (A epidemia do narcisismo), argumentam que a incidência do transtorno de personalidade narcisista mais que dobrou nos Estados Unidos nos últimos 10 anos. Será que estamos vivendo em um mundo cercado de pessoas egoístas e pretenciosas que só pensam em si, no sucesso, nas curtidas, na beleza? Será que o ego está tão inflado que acreditamos ser seres superiores? Nesta visão, qual a nossa contribuição? O que estamos produzindo de valor para a sociedade?

Se temos uma epidemia, então temos uma patologia a ser tratada. As consequências do distúrbio da personalidade narcisista são enorme, tudo o que se torna exagero e foge do controle das emoções causa dor e muito sofrimento.

O narcisismo e o medo da vulnerabilidade

Brené Brawn ainda em seu Livro (A coragem de ser imperfeito) relata que: “…quando analiso o narcisismo sob esse ponto de vista, enxergo o medo da humilhação de ser alguém comum.” O medo de ter que expressar sua vulnerabilidade é algo assustador.

Por esse motivo dificilmente o narcisista irá procurar ajuda por si próprio. Em alguns casos somente quando os problemas como a depressão, o luto pelo término de um relacionamento e a dependência de drogas começam a motiva-lo a buscar ajuda de um profissional. A psicoterapia é a forma de tratamento mais recomendável para esse distúrbio.

Considerações finais sobre a terceira ferida narcísica

De acordo com a Terceira Ferida Narcísica, a grande parte de nossa mente e a que mais nos define não seria racional, não seria acessível a razão consciente. O filósofo Santo Agostinho já dizia: “não há nada mais perto de mim do que eu mesmo; no entanto, não há nada que eu desconheça mais o que a mim mesmo.”

O auto conhecimento nos livra de confrontos com nós mesmos, pois não temos controle sobre nosso irracional, nosso inconsciente.

Artigo escrito por Henriqueta. Casada, tem 1 filha. Formada em administração, pos graduada em Gestão de Pessoas. Trabalha com RH em empresas. Sempre sonhou com a área de psicanálise e psicologia, entender a mente humana. Hoje tem a oportunidade de estudar e quer se aprofundar para ter sua clínica. Seu maior objetivo é ajudar as pessoas a terem uma qualidade de vida psíquica melhor. Instagram: henriqueta.biasi

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