A comparação e inveja são dos sete pecados capitais, e apesar de se ouvir falar muito sobre este pecado, a inveja é dificilmente confessada. É comum vermos diversas pessoas afirmando que são invejadas pelos outros, mas raramente vemos alguém assumindo que também sente inveja.
O fenômeno da comparação está diretamente relacionado à inveja e é sobre isso que discutiremos nesse artigo.
Entendendo a comparação e inveja
Já parou para se perguntar:
- Por que relutamos em dizer em voz alta que de vez em quando somos invejosos?
- Por que utilizamos um mecanismo de defesa para negar a existência da inveja ao ponto de nem reconhecermos que a possuímos?
- Por que ocultamos este pecado e o ignoramos?
Talvez porque não saibamos lidar com a verdade que está por trás deste sentimento tão amargo.
Definição de inveja e relação com comparações
A definição de Inveja de acordo com o dicionário Oxford Languages é: “desgosto provocado pela felicidade ou prosperidade alheia; Desejo irrefreável de possuir ou gozar o que é de outrem”.
As pessoas invejosas frequentemente são taxadas de infelizes e frustradas com suas próprias vidas. Recebem esse julgamento porque existe uma convenção social que diz: “só é possível se sentir feliz ao ver a conquista do outro, se formos contentes e satisfeitos com a nossa própria vida”.
Logo, os invejosos são aquelas pessoas insatisfeitas, rancorosas e ressentidas. Mas raramente eles conseguem perceber esses sentimentos em si mesmos. Normalmente são especialistas em projetar suas frustrações nos outros.
Mecanismo de defesa da projeção: relação com comparação e inveja
A projeção é um mecanismo de defesa em que se atribuem características intoleráveis em si ao outro. Transfere-se tudo aquilo que não é aceitável pelo ego.
Desejos e sentimentos recusados em si, são depositados no outro.
Então quando vemos pessoas constantemente anunciando que se sentem invejadas por todos ao seu redor, concluímos que há grande possibilidade de que ela seja a pessoa invejosa, que não aceita esse sentimento em si e o projeta no outro.
Somos invejosos? É difícil aceitar?
Aceitar a ideia de que somos invejosos é dolorosa por vários motivos. Um deles é porque se confessamos que sentimos inveja de determinada pessoa, assumimos nossos fracassos pessoais, confirmamos que realmente temos um problema em nossas vidas, que fomos incompetentes na resolução de nossas questões, que não estamos contentes com aquilo que conquistamos.
Se eu afirmo que sou invejoso, instantaneamente confirmo que existe uma falta em mim, falta de amor, falta de dinheiro, falta de espiritualidade, falta de inteligência e etc.
A presença de qualidades nos outros promove duas situações: ou eu me identifico com as qualidades, ou percebo que não as possuo. Esta última pode gerar o sentimento de inveja.
Como nossa mente evita a dor de reconhecer-se invejosa?
É neste momento que o ego entra em ação. Freud afirma que o ego evita a dor, evita o desconforto, ele existe para proteger a nossa psique de dores intoleráveis.
No caso da inveja, é difícil reconhecer que existem pessoas melhores do que nós, mais capacitadas, mais bonitas, mais inteligentes.
O ego quer manter as aparências, a autoimagem que temos de nós mesmos, e utiliza os mecanismos de defesa para recalcar todo sentimento que possa afetar nossa autoestima e nos deixar deprimidos.
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Os sintomas da comparação e inveja
O problema da inveja é que ela nos impede de olhar para as nossas fraquezas e faltas. Precisamos olhar para aquilo que ainda não temos, porque só assim podemos buscar soluções para nossas questões. A afirmação de que não temos problemas só os perpetua.
A inveja paralisa seus portadores, que enquanto vislumbram e cobiçam a vida do outro, não possuem tempo nem energia para atingirem seus próprios objetivos. A inveja corrói a alma, e impede não só de contemplar a falta, mas também aquilo que já foi conquistado.
Uma pessoa invejosa é também ingrata, pois não consegue contemplar as próprias conquistas e vive se comparando e convivendo com a insatisfação.
Quando a comparação se torna inveja
A comparação é a propulsora da inveja. No século XXI, com o surgimento das mídias sociais, o fenômeno da comparação se tornou mais comum.
As pessoas costumam compartilhar vidas perfeitas nas redes sociais, com o intuito de ostentar e provar para todos o quanto são felizes.
As comparações acontecem quando se está no trabalho e resolve dar uma olhada no instagram, e percebe que seu amigo desempregado está numa praia paradisíaca, tomando um belo drink, enquanto você está num escritório fechado com ar condicionado funcionando de forma indevida, suportando um chefe carrasco, clientes exigentes, recebendo um péssimo salário e não tem previsão de tirar férias.
Exemplos
A constatação é óbvia, e o sentimento quase que inevitável: “que inveja dele”.
Poderia citar várias outras situações semelhantes em que a inveja se alastra rapidamente pelo terreno dos sentimentos humanos, mas acredito que essa é suficiente para exemplificar que a inveja está presente em nosso cotidiano.
Como lidar ou tratar de comparação e inveja?
Para combatermos a inveja é necessário abrirmos mão da comparação. Rever o tempo que passamos em redes sociais contemplando a vida dos outros, enquanto poderíamos estar construindo nossa própria vida.
A gratidão também é um ótimo antídoto para inveja, já que através da gratidão conseguimos reconhecer nossas próprias conquistas e estar contentes com as mesmas. A inveja também pode ser substituída pela admiração.
Ao invés de invejarmos e desejarmos o mal ao outro, podemos admirá-lo e tomá-lo como inspiração para alcançarmos nossos objetivos. Sempre que puder, vá a um ambiente onde tenha pessoas mais inteligentes que você, elogie-os, aprecie a companhia deles e aprenda.
Conclusão
A humildade é o caminho para entendermos que sempre teremos faltas, e que sempre poderemos melhorar, e ao invés de enxergar o outro como um obstáculo, enxergue-o como um caminho, uma possibilidade.
Ao invés de invejar o seu amigo que sabe mais do que você, aprenda com ele, e assim ambos crescerão.
Este artigo sobre as relações e diferenças entre comparação e inveja foi escrito pela aluna do IBPC Ivana Oliveira ([email protected]), graduanda de psicopedagogia.
4 thoughts on “Comparação e Inveja: diferenças, relações e como lidar”
Muito bom artigo! Ouvi uma frase que diz o que incomoda as pessoas invejosas, ela diz assim: “A TUA FELICIDADE ME INCOMODA!”
Artigo perfeito, muito esclarecedor.
O que incomoda no invejoso não é o que ela tem … Mas o que ela é.
Confesso que já senti inveja de uma pessoa cuja inteligência me superava e muito. Tempos dolorosos aqueles! A cura veio quando aprendi a agradecer pelo pouco que eu tinha.