entrevista psicanalítica o que é

Entrevista na Psicanálise

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Quanto à entrevista na psicanálise, precisamos contextualizar e nivelar nosso entendimento para compreender claramente o que será transmitido. 

Neste primeiro momento, é necessário esclarecer a natureza de uma entrevista.

Segundo alguns dicionários, a entrevista é: Conferência de pessoas marcada em um determinado local, para tratar de um determinado assunto.

Dada a tradução, a entrevista para a psicanálise é um meio do analista decidir se quer ou não pegar aquele caso. Em psicanálise, esse primeiro momento é de pouca comunicação por parte do analista.

Então, observamos o futuro ou não paciente, fazemos poucas e pontuais perguntas para entender mais do paciente e tentamos encaixá-lo em uma estrutura (perversão, neurose e psicose).

Nessa tentativa de conhecer mais da personalidade do paciente, Cunha (1986) propõe, que a entrevista tem alguns interesses, podendo ela ser:

  • Diagnóstica
  • Terapêutica
  • Aconselhamento

De acordo com Freud, inicia-se a entrevista com um assunto no qual o paciente escolhe, história de vida, história do problema e recordações de quando criança, informações essas pertinentes para elaborar a hipótese do diagnóstico assim como o plano terapêutico.

Para a entrada em análise, a entrevista preliminar é de suma importância, inicialmente com o nome de análise de prova ou tratamento de ensaio, onde Lacan contribuiu com o nome em que se é utilizado hoje.

Para Freud (1913) se faz necessária uma entrevista onde se descobrir se é válido ou não aceitar o paciente, bem como, descobrir qual caminho seguir para cumprir a promessa de cura.

Objetivos da entrevista psicanalítica

A entrevista psicanalítica preliminar possui múltiplas funções e objetivos que são cruciais para o possível início de um tratamento psicanalítico. Destacam-se os seguintes:

  1. Avaliar com cuidado a demanda do paciente: é preciso compreender os motivos que levaram o indivíduo a buscar a psicanálise, quais são suas queixas atuais, seus sintomas, seu sofrimento psíquico. Também é importante avaliar suas expectativas em relação ao tratamento, para detectar possíveis idealizações ou suposições errôneas.
  2. Situar o caso dentro de categorias psicanalíticas: por meio de uma escuta atenta e questões pontuais, o analista busca estabelecer um diagnóstico diferencial, identificando se a estrutura clínica do paciente se enquadra numa neurose, psicose ou perversão. Isso é fundamental para indicar ou não a psicanálise.
  3. Verificar a indicação da psicanálise: com base nos dados coletados sobre a demanda e diagnóstico inicial, o analista poderá indicar se a psicanálise é o tratamento adequado para aquele paciente específico, ou se seria melhor encaminhá-lo para outra abordagem terapêutica.
  4. Iniciar a construção do setting analítico: o primeiro contato já deve estabelecer algumas bases do enquadre clínico, como a postura do analista, a frequência e duração das sessões, o pagamento, as regras básicas da associação livre e atenção flutuante. A relação transferencial também se inicia.

Entrevista Preliminar ou Tratamento de ensaio

Sigmund Freud em seus artigos produzia também a importância do “tratamento de ensaio” para antes do tratamento analítico propriamente dito. 

No artigo sobre o início do tratamento (1913), é apontado por Freud duas razões pelas quais utiliza-se esse procedimento.

A primeira delas é fazer com que o analista conheça o caso e avalie a necessidade ou não, apropriado ou não a análise. A segunda é possibilitar o diagnóstico diferencial.

Freud estabelece então, “Estou ciente de que existem psiquiatras que hesitam com menos frequência em seu diagnóstico diferencial, mas convenci-me de que com a mesma frequência, cometem equívocos.

Cometer um equívoco tem muito mais gravidade para o psicanalista do que para o psiquiatra clínico, como é conhecido este último. Isso ocorre porque o psicanalista tenta fazer algo útil, independentemente do tipo de caso. 

Ele simplesmente corre o risco de cometer um equívoco teórico e seu diagnóstico não tem mais que um interesse acadêmico. No que concerne ao psicanalista. 

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    Contudo, se o caso é desfavorável, ele cometeu um erro prático; foi responsável por despesas desnecessárias e desacreditou o seu método de tratamento” (p. 166).

    O primeiro momento para Freud, designa-se também a uma escuta, essa escuta receptiva seria para Freud (1913) “atenção uniformemente suspensa” ou atenção flutuante. Então o analista não deve tirar interpretações e conclusões precipitadas, pois o paciente quem dá sentido nesse primeiro momento.

    Por que usamos o termo “Entrevista”? 

    Lacan empregou o termo Entrevista Preliminar para o que Freud chamava de Tratamento Ensaio. Tratando os dois de um tempo de trabalho fora da análise, mesmo que esteja dentro do consultório do analista.

    Lacan (1971) era absoluto ao dizer: “Cada um de vocês conhece – muitos o ignoram – a insistência que faço junto aos que me pedem conselho, sobre as entrevistas preliminares em psicanálise.

    Certamente elas têm uma função essencial para a análise. Não há entrada possível em análise sem entrevistas preliminares” (p. 27).

    Tipos de entrevista na psicanálise

    Diferentes tipos de entrevista existem, cada uma com características distintas e propósitos variados. Esses modelos de entrevistas fornecem dados para análise, resultando em um micro diagnóstico. 

    • Entrevista fechada ou diretiva é formada por uma sequência de perguntas planejadas e programadas, essas perguntas trabalham para a obtenção de informação e dados sobre o inconsciente. Sendo observado desde a chegada, se foi por indicação ou não, reações, linguagem verbal ou não e etc.
    • Entrevista não-diretiva, aberta ou livre, nesse modelo de entrevista, o entrevistador pode fazer de maneira recorrente perguntas, muito mais flexível analisando muito do futuro paciente. Por ser dinâmica, se torna flexível para ir em assuntos que em uma entrevista fechada o paciente não abordaria.
    • Entrevista semidirigida, é livre a iniciativa do paciente para abordar qualquer assunto, o entrevistador só faz perguntas e intervenções pontuais em prol de conhecer mais a fundo, entender pontos que habitam a dúvida, esse método de entrevista fica entre os dois métodos anteriores, podem se aproveitar do melhor de cada um deles.

    Sugerimos que você se aprofunde sobre o tema em dois artigos mais completos:

    Considerações éticas 

    A entrevista inicial também deve atentar para importantes aspectos éticos, visando proteger os direitos e o bem-estar do paciente:

    • Confidencialidade: primeiramente, o analista deve garantir a absoluta confidencialidade das informações fornecidas pelo paciente durante a entrevista e todo o processo terapêutico. Além disso, nenhum dado pode ser divulgado sem o consentimento explícito do paciente.
    • Consentimento informado: cabe ao analista explicar com clareza a proposta de tratamento, suas regras, limites e alcances possíveis. Essas informações possibilitam que o paciente decida de forma esclarecida se deseja iniciar e dar continuidade ao trabalho analítico.

    Considerações finais 

    Enfim, percebe-se que a entrevista inicial em psicanálise possui múltiplas funções vitais para o possível início de um tratamento bem sucedido.

    Entre seus principais objetivos, destacam-se: a avaliação cuidadosa da demanda do paciente; o estabelecimento de um diagnóstico diferencial situando o caso em categorias psicanalíticas; a verificação se a psicanálise é o tratamento indicado; e o começo da construção do setting analítico.

    Além disso, o profissional deve assegurar aspectos éticos como sigilo e consentimento informado nesse primeiro contato.

    Por fim, a dedicação à qualidade e ao cuidado na entrevista preliminar é fundamental para aumentar as chances de êxito da análise a longo prazo, influenciando inclusive a possibilidade de seu início. 

    5 thoughts on “Entrevista na Psicanálise

    1. Estou fazendo um trabalho sobre Psicanálise e este artigo foi muito útil para mim, realmente satisfeita!

      1. Izaias Bitencourt Moraes disse:

        Foi útil sim. Talvez, um pouco mais de detalhes sobre a entrevista enriquecesse o artigo. Ou talvez o meu pouco conhecimento leve-me a esse argumento.

    2. Evangelista Damasceno Santos disse:

      Muito bom sim e esclarecedor em relação as entrevistas.

    3. Sueli Bobowski disse:

      Foi muito esclarecedor, pontos importantes abordados neste artigo!

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