homens vítimas de violência doméstica

Homens vítimas de violência doméstica: um estudo de caso qualitativo

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Artigo escrito por ANA LUZIA SANCHES VIEIRA CARREIRO SILVA (1) e JOSIMARA EVANGELISTA DE SOUZA (2). Título original: REPERCUSSÕES PSICOLÓGICAS DE RELACIONAMENTOS ABUSIVOS PARA HOMENS: UM ESTUDO DE CASO QUALITATIVO (Salvador, 2022). Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito parcial para conclusão do Curso de Psicologia do Centro Universitário Maurício de Nassau – UNINASSAU. Orientador: Prof. Me. Ramiro Rodrigues Coni Santana (3).

Resumo

O relacionamento abusivo, por abranger a violência em suas diversas formas e naturezas pode causar implicações na saúde física, sexual, patrimonial, moral e psicológica ou emocional de quem os vivencia. Nesse âmbito, trataremos o relacionamento abusivo enquanto violência doméstica. De acordo com o artigo 129, §9º, do Código Penal, tanto homens quanto mulheres podem ser vítimas de violência doméstica, não fazendo a lei restrição ao sujeito passivo. Contudo, observamos maior dificuldade por parte das vítimas do sexo masculino na busca pela denúncia da violência sofrida e na legitimação e equidade de direitos e, mesmo ao validar este direito, dando voz a violência sofrida pelo homem, caracteriza descontruir sua identidade de gênero em que somente o homem é o agressor. O presente artigo busca compreender a relação entre, as repercussões psicológicas do homem que passa por um relacionamento abusivo e os fatores da gênese da personalidade e/ou da construção social. O método utilizado foi o estudo de caso único. Em relação aos resultados identificamos que tanto a personalidade, como também o contexto social, que foi representado pelas heurísticas direcionadas para as questões da família e filhos, interferiram na vulnerabilidade do sujeito. Ademais, concluímos a necessidade de maior atenção ao tema relacionamento abusivo, entendendo que como psicólogas/psicológos devemos evidenciar a escuta do sujeito enquanto humano, sem restrições de gênero, condição sexual, dentre outras diversidades.

Palavras-chave: relacionamento abusivo; vulnerabilidade; homem; personalidade; contexto social.

(1) Graduanda em Psicologia pelo Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU), campus Pituba, Salvador, Bahia.

(2) Graduanda em Psicologia pelo Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU), campus Pituba, Salvador, Bahia.

(3) Psicólogo, Mestre em Psicologia do Desenvolvimento, Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal da Bahia. Professor do Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU), campus Pituba, Salvador, Bahia.

Abstract

The abusive relationship, as it encompasses violence in its various forms and natures, can have implications for the physical, sexual, patrimonial, moral, psychological or emotional health of those who experience them. In this context, we will treat the abusive relationship as domestic violence. According to article 129, §9, of the Penal Code, both men and women can be victims of domestic violence, and the law does not restrict the taxable person. However, we observed greater difficulty on the part of male victims in seeking to denounce the violence suffered and in legitimizing and equal rights and, even when validating this right, giving voice to the violence suffered by men, characterizes deconstructing their gender identity in which only the man is the aggressor. This article sought to understand the relationship between the psychological repercussions of the man who goes through an abusive relationship and the factors of personality genesis and/or social construction. The method used was the single case study. Regarding the results, we identified that both the personality, as well as the social context, which was represented by the heuristics directed to family and children issues, interfered in the subject’s vulnerability. Furthermore, we conclude the need for greater attention to the subject of abusive relationships, understanding that as psychologists/psychologists, we must emphasize listening to the subject, as a human being, without restrictions of gender, sexual condition, among other diversities.

Keywords: abusive relationship; vulnerability; man; personality; social context.

Introdução: Homens vítimas de violência doméstica

Inicialmente percebemos que conceituar relacionamento abusivo não é uma tarefa simples, pois este não ocorre a partir de um único fator, mas por um conjunto de fatores, que acontecem de diferentes modos e que podem ser descritos como o somatório de determinadas atitudes, agressões e limitações. Partimos então, para o âmbito jurídico. Entretanto, verificamos que não há também, uma lei específica sobre relacionamentos abusivos, mas sim, algumas leis dispersas que retratam de modos diferentes sobre proteção para com as vítimas. Dentre elas citamos a Lei Nº 11.340, de 7 de agosto de 2006, conhecida como Lei Maria da Penha, cuja principal finalidade foi proteger a mulher, no âmbito doméstico e familiar, de agressões e violências física, sexual, patrimonial e psicológica ou emocional (BRASIL, 2006).

A Lei nº 14.188, de 29 de julho de 2021 trouxe a devida regulamentação para a violência psicológica ou emocional, que atualmente tem pena de reclusão e multa, se esta não constituir crime mais grave. Essa lei também trouxe uma qualificadora no que se refere a lesão corporal contra a mulher por condição do sexo feminino, sendo possível a pena de reclusão (BRASIL, 2021). Segundo dados do suplemento de vitimização da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) referente a 2009, cerca de 1,3 milhão de mulheres são agredidas no Brasil (CERQUEIRA; MOURA; PASINATO, 2019).

Todavia, conforme Trípode (2021), o relacionamento abusivo em uma esfera de violência doméstica, não está relacionado ao sexo ou gênero do indivíduo, em que somente o homem é o agressor. Por este motivo, a autora reflete para a questão, de que homens também podem ser vítimas de violência doméstica familiar, alertando que esse é um assunto que precisa de mais atenção de nossos órgãos públicos, assim como já vem ocorrendo com as mulheres. Afirma assim, não há política pública específica, para tratar do homem vítima de violência doméstica. Ressalta que, de acordo com o artigo 129, §9º, do Código Penal, tanto homens quanto mulheres podem ser vítimas de violência doméstica, não fazendo a lei restrição ao sujeito passivo (TRÍPODE, 2021). De acordo com os autores Oliveira, Costa e Sousa (2015), a história nos remete a um sistema de dominação-subordinação, o qual dividiu o papel/atuação de cada sexo: homem como dominante e mulher como subserviente na sociedade.

Homens vítimas de violência doméstica: questões subjetivas

A base dessas constatações, remonta questões subjetivas e de comportamento que deveriam ser obedecidas e que se alicerçaram, durante muitas gerações, como se – a percepção de mundo, o corpo biológico, o sentimento e o pensamento – pudessem ser predefinidos, de modo incontestável e definitivo. Neste entendimento, o masculino como sujeito da sexualidade e o feminino como objeto é valor trazido de longas datas na nossa cultura ocidental. Conforme Minayo (2005, p.23-24): Na visão arraigada no patriarcalismo, o masculino é ritualizado como o lugar da ação, da decisão, da chefia da rede de relações familiares e da paternidade como sinônimo de provimento material: é o “impensado” e o “naturalizado” dos valores tradicionais de gênero.

Diante do que se subscreveu, apesar das denúncias que deflagram as mulheres na inversão de papel de vítima para a agressora, esta conduta coloca a masculinidade em ênfase como frágil e “afeminada”, agredindo a construção interna do papel e identidade desenvolvida e torneada ao longo dos tempos. A partir desse histórico refletimos que ainda é pouco comum a acusação de violência doméstica feita por homens como vítimas de suas companheiras. Salientamos que a Lei Maria da Penha, enquanto medida protetiva, poderá até ser aplicada por analogia em casos de abuso e violência contra o homem. Entretanto, ainda se observa maior dificuldade por parte das vítimas do sexo masculino na busca pela denúncia da violência sofrida e na legitimação e equidade de direitos.

Porém, ao validar este direito dando vozes a violência masculina equivale a descontruir sua identidade de gênero (DOTOLI; LEÃO, 2015). Conforme Fontoura (2008, p.3), Foucault assevera em Vigiar e Punir que, “em todo relacionamento humano o poder está presente… E concebe que o poder é um exercício regular de força de pessoas sobre pessoas”. O problema é que este poder poderá vir acompanhado de abusos e violências, forçando à subjugação da vítima. Fontoura (2008) afirma ainda que, as relações de poder são dinâmicas e instáveis, pois em determinado momento o sujeito que vem sendo abusado, toma consciência de sua subserviência: “o que Foucault oferece é uma topologia da formação do interior do sujeito a partir do seu exterior” (FONTOURA, 2008, p.3). Em complemento a essas constatações, partimos do pressuposto de que mulheres e homens podem ser vítimas de relacionamentos abusivos e, conforme

Relacionamentos abusivos

Coelho (2021), não temos uma quantidade considerável de dados para homens, como aos poucos fomos tendo para mulheres, além de ainda não existir um trabalho de órgãos públicos que enfatize tal questão. A importância desse estudo está em auxiliar o ser humano, independentemente de sexo/gênero, complementando as pesquisas já existentes com mulheres vítimas de relacionamentos abusivos, a partir da investigação de casos de homens cis heterossexuais, vulneráveis ao abuso e violência de suas companheiras. Nesse contexto nos questionamos, qual a relação entre as repercussões psicológicas do homem que passa por um relacionamento abusivo e os fatores de personalidade e de construção social?

Na busca por responder o problema dessa pesquisa buscamos na interdisciplinaridade, o estudo da gênese da personalidade em Reis; Magalhães e Gonçalves (1984), dado que esses autores discutem a teoria da personalidade, com base na Psicanálise, através dos conceitos de Sigmund Freud e as concepções de Wilhelm Reich, como também o contexto social em Spink; Figueiredo; Brasilino (2011), que organizaram temas da Psicologia Social e pessoalidade e por fim, as heuristicas de Fiske e Taylor, citadas por Rodrigues, Assmar, Jablonski (2016).

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    Objetivo Geral

    Compreender a relação entre, as repercussões psicológicas do homem que passa por um relacionamento abusivo e os fatores da gênese da personalidade e/ou da construção social.

    Objetivos Específicos

    Analisar os significados do sofrimento, de um homem, em um relacionamento abusivo; – Identificar se fatores da personalidade e do contexto social foram causa da vulnerabilidade psicológica para a violência sofrida. Estabelecemos esse estudo em cinco seções: na primeira seção, como visto, a Introdução contendo a justificativa, o problema e os objetivos desse

    trabalho, na segunda seção a Fundamentação Teórica, utilizando fontes históricas, da Psicanálise, em busca de questões da personalidade e da Psicologia Social dentro do contexto social, numa perspectiva comparativa; na seção terceira descrevemos o Método da pesquisa, na quarta seção os Resultados obtidos, e por fim a Conclusão, na quinta seção. 2

    Fundamentação teórica

    Nessa seção foi construída a fundamentação teórica, numa perspectiva comparativa entre as teorias da Psicanálise Freudiana e de Reich, com ênfase na personalidade e caráter, e a Psicologia Social, referenciada por Mead, especificando a cognição social através da heurística, citando os autores Fiske e Taylor – na busca de respaldar essa pesquisa. A teoria freudiana abarcou duas propostas relacionadas a organização do aparelho psíquico, denominadas tópicas freudianas. A primeira Consciente, Pré-Consciente e Inconsciente. A segunda Id, Ego e Superego. A psicanálise, freudiana, se organiza em torno do paradigma edípico sendo que, após a passagem dos Complexos de Édipo e o de Castração, a saída do indivíduo frente a esses conflitos, estabelece uma organização psíquica, ou seja, uma estrutura psíquica subjetiva (REIS; MAGALHÃES; GONÇALVES,1984).

    Para tanto, os autores apontam que a função das figuras parentais, (paterna e materna) exercem grande influência nessa passagem de Narciso a Édipo, pois ambos desempenham funções primordiais, as quais repercutirão na resposta do/a filho/filha, ou seja, na sua organização psíquica (REIS; MAGALHÃES; GONÇALVES,1984). A gênese da personalidade é o núcleo para o inconsciente, no qual estão as formações herdadas (parentais).

    Contudo, o que é rejeitado na consciência é o que está ativo no inconsciente – os traços mnêmicos, que são a base dos traços de caráter, natureza sexual (sendo mais ampla que o genital), ressaltando que o aparelho mental é submetido a excitações internas e externas e essas excitações/representações psíquicas são o que Freud determinou como TRIEB [impulso, pulsão (desejo de vida e de morte) e instinto] (REIS; MAGALHÃES; GONÇALVES,1984). Destacamos, nesse momento, o ‘Ideal do Ego’ em que os impulsos sexuais são sempre sujeitos a repressão. Por consequência a repressão é maior naquele indivíduo que fixou ou projetou um ideal em si mesmo, sendo o substituto do narcisismo (4) perdido da infância, projetado também nos filhos, ficando essa medida psíquica ‘ego ideal e ideal do ego’, como a base do que será um dia o superego.

    Ambivalência das reações amorosas

    Com efeito, a perda do objeto amoroso é uma excelente ocasião para que a ambivalência das reações amorosas se sobressaia – bastante observável na neurose obsessiva e depressão pós-morte de alguém (REIS; MAGALHÃES; GONÇALVES, 1984). Conforme Sigmund Freud (1996c) a melancolia é afetada pelo luto, mas, alertamos que a melancolia não se limita a perda em uma morte, e sim no desejo de recuperar algo que foi perdido (libido). Na própria melancolia, assim como na neurose obsessiva, o sujeito adoece por não se mostrar em sua hostilidade.

    Com isso, a melancolia experimentou o investimento de dois destinos a regressão e a identificação e, portanto, volta ao estágio do sadismo, inclinação ao suicídioimpulso, homicida contra o outro voltado contra si mesmo. Completamos então, que a base da clínica freudiana é fortalecer o ego. Além das concepções freudianas, Reis; Magalhães; Gonçalves (1984) também apresentam o psicanalista Reich, com a terapia que visava liberar a energia sexual reprimida que, segundo ele, era a causa de muitos dos males da sociedade, apresentando a gênese do caráter como a base das demandas pulsionais e o meio exterior.

    “Em relação à ‘economia sexual’ Freud seguiu pela sublimação, usando a palavra. Reich, criticando-o, segue pela plena satisfação orgástica. Para Reich a sublimação mal compreendida é mais um artifício do que uma solução real” (REIS; MAGALHÃES; GONÇALVES,1984, p. 75). O caráter e atitude vegetativa não liberada não se descarrega totalmente e se acumula (tensão) com certos grupos musculares, se reflete na maneira de agir, sem a formação dos sintomas neuróticos, natureza da pessoa – sou assim mesmo (REIS; MAGALHÃES; GONÇALVES, 1984, p. 77-78).

    Homens vítimas de violência doméstica: narcisismo

    Narcisismo é um estágio comum no desenvolvimento sexual humano que se verifica, na criança, a passagem do autoerotismo para eleição de outro ser como objeto de amor, entrando no narcisismo do ego ou narcisismo secundário, sendo retirado dos objetos – a partir dos processos de identificação com as figuras parentais ou seus representantes (FREUD, 1914/1974).

    Para Reich, passa a existir uma mudança no objetivo da psicanálise. Agora, não interessaria transformar o inconsciente em consciente e sim reestabelecer o equilíbrio biofísico pela descarga da potência orgástica. O centro não é mais a fala, mas os afetos e sentimentos. Outro ponto a destacar é o abandono do divã: agora o analisando é olhado de frente, seu corpo também é analisado (REIS; MAGALHÃES; GONÇALVES,1984). Complementamos a fundamentação teórica, com reflexões sobre a Psicologia Social e a Pessoalidade conferida por Spink; Figueiredo; Brasilino (2011), cujos quais partem do pressuposto de que as experiências de quem somos são formadas a partir de nossas vivências em sociedade, respeitando os ‘processos de subjetivação’.

    Porém, os autores evidenciam, que diante de possíveis diferenças dentre as opiniões de: Mead, Vygotsky, Foucault, Freud, Berger e Luckmann, etc., é preciso entender que há distintos posicionamentos nesses processos: somos alguém para outros significativos; somos alguém para instâncias que disciplinam a vida social; somos alguém para nós mesmos. Temos a experiência de termos (ou sermos) um “eu”; somos porque pensamos. Em resumo, para expôr sobre essa experiência singular de processos de subjetivação, adotaram o termo inglês self (ou selves, no plural), traduzido como “eu”, ou à consciência de si e à identidade (SPINK; FIGUEIREDO; BRASILINO, 2011).

    A subjetivação nos acompanha

    Durante toda a vida, a subjetivação nos acompanha em um processo sem fim. Para que cada ser humano possa se relacionar consigo e com o outro, ele necessita vivenciar o processo de subjetivação que se compõe de práticas e técnicas que identificam o ser e suas particularidades, dando conta das diversidades de linguagens existentes. A Psicologia, enquanto ciência, não sustenta a possibilidade de diagnosticar a pessoa, enquanto indivíduo subjetivo, formado também pela multiplicidade de suas relações (SPINK; FIGUEIREDO; BRASILINO, 2011).

    Para Mead (1991 apud Spink; Figueiredo; Brasilino, 2011), o self não é uma estrutura inata é acima de tudo, social. Segundo o autor, o que nos diferencia dos animais é a constituição do self, formado a partir das interrelações humanas e de outras experiências. Os autores trazem mais uma vez Mead (1973 apud Spink, Figueiredo; Brasilino, 2011, p.141) e explicam:

    Eu e Mim apresentam-se como componentes indissociáveis do self. O Mim representa a imagem que o outro tem do indivíduo, (necessária para a apreensão da própria identidade) este último só se torna capaz de desenvolver o Eu a partir do julgamento sobre questões práticas, estabelecido na perspectiva do Mim. Isto significa que o Eu só existe a partir do Mim. Sendo assim, o self surge do movimento dialético, de uma interação social onde o outro torna-se indispensável para o ser entrar em contato com o mundo que lhe rodeia. Mead (2003 apud Spink, Figueiredo; Brasilino, 2011) define esse movimento como dualismo, (o self e o outro), no qual o ser se apropria dos objetos materiais e também dos significados sociais, levando-o a conscientização de si próprio “na condição de objeto e na medida em que ele aprende a perceber sua própria ação da perspectiva, simbolicamente mediada, de uma segunda pessoa” (MEAD 2003 apud SPINK, FIGUEIREDO; BRASILINO, 2011, p. 177).

    A criação na nossa subjetividade

    Em seguida a essas constatações podemos questionar: Como percebemos a realidade social? Qual a realidade social de fato? Para respondermos essas perguntas, buscamos Rodrigues, Assmar, Jablonski (2016) quando sugerem, através das leituras de Fiske e Taylor (1991), que formamos a nossa opinião diante daquilo que o ambiente “sociedade” nos fornece por meios de estímulos que conhecemos como esquemas sociais e, a partir desse ponto interagimos, socializamos com as pessoas e grupos.

    Foi com Fiske e Taylor (1991) que a Cognição Social sobre si é inserida, passando a ser considerada a partir de estímulos que são o modo como os indivíduos pensam sobre as outras pessoas e a forma como imaginam e organizam os próprios pensamentos diante do outro, contribuindo para a criação da nossa própria subjetividade – com as opiniões, julgamentos e etc. Com todas essas vivências e experiências, modelamos a nossa visão de mundo segundo a nossa percepção (RODRIGUES, ASSMAR, JABLONSKI, 2016).

    Mediante essas noções, Rodrigues, Assmar, Jablonski (2016) retratam a Cognição Social, afirmando que somos influenciados por três estruturas básicas: esquemas sociais, heurísticas e pensamentos automáticos. Aqui trataremos especificamente das heurísticas. As heurísticas são os atalhos que constantemente usamos para o conhecimento da realidade social. Se baseiam em experiências anteriores, frequências de casos, referências, dentre outras. Entretanto, quando utilizamos atalhos para conhecer e interagir com a sociedade de forma simples e rápida, estes podem nos levar a conclusões equivocadas e simplistas, pois, não somos ponto de referência para as opiniões sobre indivíduos, eventos ou outros objetos (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2016).

    O comportamento do outro

    Neste âmbito, os autores refletem que o comportamento social do outro, a observação sobre um objeto ou um evento, não devem ser reduzidos à representatividade do que o ‘eu’ sujeito tem sobre esses fatos. Acrescentam, que tais reações do sujeito ainda acontecem, pois, na maioria das vezes há o julgamento, a partir da facilidade do acesso mental sobre excessos ou falta de informações, de acordo com as suas próprias ideias, criando então um falso consenso sem mesmo confirmar aquilo se de fato é verídico, até porque se existir a análise com uma afirmação deixa de ser heurística (RODRIGUES; ASSMAR; JABLONSKI, 2016).

    Sintetizamos que o ponto positivo da heurística está na facilidade e agilidade de tomar as decisões, e isso, nos permite vantagens diante de tantas informações, todavia sem esquecer que um atalho pode ser perigoso. Ao refletirmos sobre tais autores, notamos o quanto cada teoria/ciência tem a sua especificidade. Contudo, todas elas convergem ao indivíduo e suas subjetividades, multiplicidades e diversidades. Na Psicanálise, Freud na relação sujeito-objeto dá ênfase ao objeto do desejo. A base da clínica freudiana é fortalecer o ego.

    Reich afirma que fazemos parte de um todo – corpo físico <=> pensamentos/emoções, necessitando de haver o equilíbrio. Na Psicologia Social, Mead, cuja teoria afirma que o self não é uma estrutura inata é acima de tudo social. Finalmente a Cognição Social retrata a heurística, a partir de Fiske e Taylor nos fazendo refletir sobre o modo como os indivíduos pensam sobre o outro e a forma como imaginam e organizam os próprios pensamentos diante do outro. O ‘outro’ torna-se indispensável para o ‘ser’ entrar em contato com o ‘mundo’ e assim, associamos essas reflexões com a Psicanálise, quando Reich traz a colaboração do social no indivíduo e Freud na relação sujeito-objeto, partindo do fato que são as relações com o outro que moldam o indivíduo desde a infância.

    Identificando o estudo

    Diante das constatações da fundamentação teórica aqui descrita, relacionamos a seguir teoria e dados, identificando no estudo de caso analisado, fatores de personalidade e construção social que por ventura puderam interferir na vulnerabilidade psicológica do homem cis heterossexual com relacionamento abusivo. Apresentamos o método da pesquisa e, na seção posterior, os resultados encontrados e as análises propostas.

    Método

    O método científico permite produzir ciência, servindo como orientação para realização da pesquisa científica, que consiste em delimitar um problema, realizar observações, criar hipóteses, analisá-las com base nas relações encontradas, fundamentando-se nas teorias existentes (PEREIRA, 2011). Assim, nesta seção descreveremos em detalhes o método utilizado para a consecução dos objetivos da presente pesquisa.

    Delineamento

    Esse estudo aplicou o método de pesquisa qualitativa, utilizando o estudo de caso como estratégia da pesquisa, incluindo a fundamentação teórica como apoio ao caso pesquisado. A abordagem qualitativa analisa perspectivas subjetivas do comportamento humano e de fenômenos sociais, em um tempo, local e cultura estabelecidos (GÜNTHER, 2006). As principais fontes bibliográficas aqui consultadas compreenderam, além de artigos científicos, três livros: o primeiro, Teorias da Personalidade em Freud, Reich e Jung, dos autores Alberto O. Advincula Reis, Lúcia Maria Azevedo, Waldir Lourenço Gonçalves.

    O segundo livro tem o título, Psicologia Social e Pessoalidade dos autores/organizadores Mary Jane P. Spink, Pedro Figueiredo e Jullyane Brasilino e o terceiro livro, Psicologia Social, dos autores Aroldo Rodrigues, Eveline Maria Leal Assmar, Bernardo Jablonski. A fundamentação teórica foi determinada como suporte às teorias da personalidade e o contexto social, numa perspectiva comparativa entre a Psicanálise, a Psicologia Social – heurística, no intuito de extrair informações para a análise do caso, identificando como a gênese da personalidade e/ou a construção social podem interferir na vulnerabilidade psicológica dos indivíduos do gênero masculino heterossexuais, enquanto vítimas de relacionamentos abusivos. De acordo com Robert Yin (2001), o estudo de caso como estratégia de

    pesquisa compreende um método que abrange ‘tudo’ – com a lógica de planejamento, incorporando abordagens específicas à coleta e análise de dados. Nesse sentido, o estudo de caso não é nem uma tática para a coleta de dados nem meramente uma característica do planejamento em si, mas uma estratégia de pesquisa abrangente, a partir de uma investigação mais ampla e detalhada, considerando o contexto analisado, com o propósito de conseguir informações e/ou coletar dados que não sejam possíveis de se obter com uma pesquisa bibliográfica (YIN, 2001).

    Homens vítimas de violência doméstica: Participante

    Observamos que, no estudo de caso clássico, um “caso” pode ser realizado com apenas um indivíduo (YIN, 2001). Nesse estudo trabalhamos com um sujeito do gênero masculino, heterossexual, de nacionalidade brasileira, natural da Bahia, soteropolitano, com idade de 37 anos, nível superior completo e atuando como funcionário público (concursado).

    A procura deste participante se deu, inicialmente, por internet, através de casos relatados em sites, blogs, e em seguida com a divulgação entre colegas sobre o tema do trabalho. Foram encontrados cinco casos refererentes ao assunto. Todos foram contactados e dois aceitaram participar da entrevista presencialmente. O estudo de caso único se deu pelo motivo da desistência de um desses participantes. O sujeito participante da entrevista, está em um processo de divórcio litigioso e em acompanhamento psicológico.

    Procedimentos de coleta de dados

    A coleta de dados foi realizada a partir de um roteiro de entrevista semiestruturada, aplicado e gravado em áudio, pessoalmente ao participante. A escolha desse tipo de instrumento se deu, pois, de acordo com Minayo (2009) o roteiro semiestruturado combina questões fechadas e abertas e o sujeito tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender à indagação formulada. Para a aplicação do roteiro relacionado ao estudo de caso dessa pesquisa, seguimos as orientações/definições do autor Robert Yin (2001):

    • quais questões estudar;

    • quais dados são relevantes;

    • quais dados coletar e

    • como analisar os resultados. Mais uma vez ressaltamos que: para a estratégia de estudo de caso são mais adequadas as questões do tipo “como” e “por que”.

    Técnica

    Utilizamos o roteiro semiestruturado com participante, previamente agendado. O roteiro de entrevista (Apêndice B) utilizado foi do tipo psicológico-social – relação atitude – comportamento, abrangendo: características da personalidade do indivíduo e/ou perfis de personalidade (MAY, 2004).

    Procedimentos de análise de dados

    Segundo May (2004) uma entrevista pode ter diversos aspectos na interação entrevistador-entrevistado. O autor esclarece que esse instrumento gera compreensões ricas das biografias, experiências, opiniões, valores, aspirações, atitudes e sentimentos das pessoas. Porém, chama a atenção que para o alcance de resultados satisfatórios, os pesquisadores devem compreender a dinâmica do roteiro em pauta, aprimorando a própria utilização de diferentes métodos de condução e de análise de dados, além de ter consciência de seus pontos fortes e limitações.

    Com relação a categorização dos dados do roteiro de entrevistas, conforme o autor, depende do objetivo teórico da investigação. “A análise de entrevistas, quaisquer que sejam os focos de estudo, pode ser um processo longo no qual a perseverança, a perspicácia teórica e, habilidade para enxergar detalhes – são fundamentais” (MAY, 2004, p.80). Enquanto pesquisadoras, também atentamos aos aconselhamentos de Yin (2001), quando explica que o pesquisador do estudo de caso precisa ter algumas habilidades a seguir:

    1. pessoa capaz de fazer boas perguntas e interpretar as respostas;
    2. deve ser bom ouvinte e não ser enganado por suas próprias ideologias e 16 preconceitos;
    3. capaz de ser adaptável e flexível, de forma que as situações encontradas possam ser vistas como oportunidades e não ameaças;
    4. deve ter uma noção clara das questões que estão sendo estudadas, mesmo que seja uma orientação teórica ou política, ou que seja de um modo exploratório;
    5. deve ser imparcial em relação a noções preconcebidas, incluindo aquelas que se originam de uma teoria;
    6. e por fim, uma pessoa sensível e atenta a provas contraditórias.

    Considerações éticas

    A ética nessa pesquisa foi tida como premissa, mantendo a idoneidade do trabalho, através do rigor, da honestidade e clareza na apresentação dos resultados. Salientamos ainda que foi adotado os critérios das resoluções 466/2012 e 510/2016, atendendo assim, aos princípios da autonomia, beneficência, não maleficência, justiça, privacidade, sigilo e anonimato e também foi aplicado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), junto ao participante.

    Resultados e análises

    Para responder a questão de pesquisa, primeiramente relacionamos a teoria aqui evidenciada, buscando fatores da personalidade e da construção social, analisando, através do estudo de caso – um homem cis heterossexual, que vivenciou um relacionamento abusivo, com uma mulher separada com uma filha de um ano e meio e que engravidou, durante os quatro primeiros meses de namoro com ele. O sujeito entrevistado viveu em torno de dez anos, maritalmente com esta mulher – criando, além de sua filha biológica, a primeira filha dela – como filha do casal.

    Apresentamos, nessa pesquisa, através de Reis; Magalhães; Gonçalves (1984), que na Psicanálise sabe-se que a Personalidade é conhecida como sinônimo do aparelho psíquico e possui um núcleo. Este é o inconsciente que são 17 as formações herdadas. Porém, o que nos interessa é que – o material que é rejeitado na consciência fica ativo no inconsciente, sendo denominado por Freud como natureza sexual – base dos traços de caráter. Segundo estes autores, a personalidade é considerada a partir de dois tipos de processos, sendo o processo primário no qual se localiza o modo de pensar que são as fantasias e o processo secundário no qual, o modo de pensar é consciente para atingir seus fins. Afirmam ainda que, a personalidade está para a pessoa e o caráter para a marca, ao longo do desenvolvimento do sujeito, a base do caráter se localiza através da sublimação no caráter genital e a formação reativa no caráter neurótico.

    Por fim, em 1914 com a introdução ao narcisismo passa a existir uma relação quantitativa da libido do ego, para libido do objeto – inversamente proporcionais. Nesse estudo de caso, em relação a fatores da personalidade, sugerimos a possibilidade de um narcisismo anaclítico (5) em busca de um “ego ideal”, que exemplificamos através da fala do entrevistado – “eu sou meio réu confesso, a minha educação, a forma que fui criado…, eu reconheço meus erros, o processo de evolução de erros e acertos, me foi ensinado assim… Por isso, não tenho dificuldades de ‘botar o rabo entre as pernas…’”.

    Homens vítimas de violência doméstica: O narcisismo secundário

    Na eventualidade de um narcisismo secundário o sujeito passa a ter uma escolha objetal que após o indivíduo resolver a questão edípica faz as suas primeiras escolhas objetais, porém inverte a escolha de objeto de amor para uma identificação oposta e isso, pode definir uma personalidade em duas formas de amar bem diferentes e projeta, levando em conta “o seu ego real e o ego ideal”: ‘Pensava sempre em dar o melhor de mim e salvar minha família… Hoje lembrei da frase – “’Amar ao próximo como a si mesmo’, para eu fazer com o outro preciso gostar de mim.

    Para eu dizer isso, precisei de ajuda médica, terapêutica, pois cheguei ao fundo do poço… Agora são mais de três anos de separação…”. A base que um dia será o superego, nesse estudo de caso a perda do objeto amoroso real ou ideal parte para uma sintomatologia melancólica. O entrevistado afirmou que o crescimento na relação foi unilateral, “hoje sei que eu assumi uma postura passiva: ceder, relevar, estender a mão… Se ela errava eu perdoava. E seguia. Para mim, isso deveria ser crescimento. Eu pensava: a gente

    Narcisismo anaclítico

    Compõe também o narcisismo secundário, designando um retorno ao eu da libido retirada dos seus investimentos objetais (Laplanche, 1992). está junto… Tenho que pensar na nossa família…”. Porém, o sujeito também afirmou que, quando ela errava, ela não pensava assim, como um crescimento e usava o equívoco para ‘passar na cara’: ele explicou que, se algum dia ele deixasse de fazer algo que ela pedisse e algum tempo depois, quando ela fazia qualquer coisa equivocada e que ele reclamava, ela dizia “e naquele dia que você esqueceu de fazer o que eu pedi?”.

    O entrevistado sabe quem é, mas, não consegue identificar o que perdeu nesse alguém, levando um grande empobrecimento do Eu – culpa, sentimento de pequenez… É um Eu que se consome, incapaz de se autocuidar, e aos poucos vai ocorrendo o remorso e a recriminação que carece de vergonha – diante do outro – ainda na função egóica, Freud começa a pensar/criar o superego onde as recriminações são introjetadas. Trouxe em sua fala, “…Eu me perguntava: Será que sou eu realmente? O problema era meu? Tinha uns 10 anos de convivência…

    Ela me fazia pensar que eu era culpado de tudo que ocorria. Daí eu tentava continuar, pois eu sou muito afetivo, fui criado assim… Eu pensava que isso iria fazer ela se transformar… Queria ter minha família… O que era um objeto externo volta-se para o próprio – Eu, servindo como identificação com o objeto abandonado, a perda do objeto se transformou na perda do Eu. Um ponto a destacar é que a melancolia toma parte das suas características, do luto, outra parte da regressão, da escolha do objeto narcísico para o seu narcisismo.

    A formação do superego

    A formação do superego deriva do complexo de édipo que por sua vez declina, dando o surgir do superego como base de todo ideal humano, no nosso entrevistado o ‘ideal de ego’ tem uma ênfase muito presente, um ideal elevado (ético, religioso, família, sou isto…) o Ego fica na articulação dos impulsos do Id e Superego. Para a psicanálise de Reich, segundo Reis; Magalhães; Gonçalves (1984), a base da gênese da couraça (proteção, o modo de se expressar, evitando a dor), a sua ênfase está no complexo de édipo onde mediante a sua posição do recalque torna-se crônico ou automático e esse modo fixo de defesa produz a couraça, levando então a formação de vários traços.

    Devido a falha defensiva de cada sujeito, apesar do sujeito satisfazer as exigências exteriores com seu caráter socialmente aceito, internamente ele vive intensa angústia e insatisfação, essa couraça atua como a condensação de histórias, dos conflitos enfrentados pelo sujeito. O ‘nosso’ sujeito afirmou que não se importa de trabalhar para dar o melhor para a filha, por isso é quem paga a alimentação, a escola, plano de saúde, roupas, remédios, transporte, enfim… “Ela não paga nada, pois diz que por ela minha filha pode ficar em qualquer escola, obrigação de plano de saúde é também minha… Ela não se importa…” No caso aqui apresentado aparece também, como uma tendência de hipótese masoquista.

    Contudo, nesse âmbito, horas o sujeito está no contínuo da neurose e outras horas retorna a posição masoquista – oscilando e não definindo caráter – personalidade. “Na relação de homem e mulher com ela, enquanto mãe de minha filha, venho me trabalhando para não ter pensamento de vingança, tenho mais compaixão, quando vem pedra e espinhos, eu vou com bombons de chocolate,… Minha filha está crescendo… 12 anos, vai ‘sofrer alguns danos’, mas eu vou fazer minha parte… Ensinar para ela escolher certo e não escolher errado… (Porta boa e porta ruim)… busco passar adiante esses ensinamentos como pai…”. É possível uma efetiva felicidade?

    Masoquismo para Freud e Homens vítimas de violência doméstica

    Para Freud o masoquismo sai do lugar de perversão, ampliando para um masoquismo primário e pensado como uma fase constitutiva da personalidade em que a culpa está presente como na melancolia, lembrando que a identificação do ego com o objeto perdido tem a perda do interesse pelo próprio – Eu. O atuante sadismo voltado contra o próprio – Eu, ou seja, masoquismo. Reis; Magalhães; Gonçalves (1984) demonstram que, esse ciclo repetitivo do sofrimento para Freud é uma tentativa de retorno ao orgânico e para Reich são tentativas de descargas, orgasmo, relaxação base fisiológica do prazer, no referido Estudo de Caso, a busca de excitações prazerosas através de um mecanismo específico (de defesa) tem a ver com sua história de repressão pulsional.

    Na busca de significados do sofrimento apresentado por esse sujeito analisado, assimilamos como fatores da sua personalidade: a passividade e como consequência a angústia, a ansiedade, a tristeza… Em sua fala destacamos: Hoje entendo que a minha passividade nessa relação gerou um atraso na minha vida…, …Estava no fundo do poço, …Agora tive que recomeçar. …Não tinha autocuidado nem físico nem psicológico… A passividade e o automenosprezo chocam-se com o ideal egóico fálico, ativo, exibicionista, reforçando o sofrimento masoquista embora que essa fixação anal passiva pode ser encontrada no caráter histérico e compulsivo, podendo incentivar alguns traços masoquistas, portanto, apenas em um estudo mais aprofundado pode se confirmar um caráter tipicamente masoquista ou não.

    Na identificação de fatores do contexto social, analisando o caso do sujeito entrevistado a partir de Spink, Figueiredo; Brasilino, (2011) e Rodrigues, Assmar, Jablonski (2016), especificamente através da heurística – esclarecendo que a heurística pode nos levar ao inconsciente, definindo como limitação cognitiva que reduzem nosso tempo de tomada de decisão – pudemos observar que o sujeito trouxe ‘atalhos’, durante a entrevista, para ‘solucionar alguns de seus problemas’: “Eu sou muito afetivo”, ou ainda, “busco passar adiante esses ensinamentos como pai…” –

    Questões heurísticas

    Observamos aqui também, a disponibilidade que ele citou, de modo rápido, exemplos que lhes são importantes. Notamos também, que ele fez a comparação de uma determinada situação do hoje com algo que vem representar seu modelo mental: “ela não se importa… Por isso, ela não paga nada”. Em outras respostas do entrevistado identificamos, questões da heurística, cujas quais se baseiam em informações mais recentes: “Ela me apoiava se eu fosse ganhar dinheiro”; “Ela mentia muito… Desde coisas simples como quebrar algo meu, até coisas maiores, como por exemplo: eu perguntava você saiu e deixou as meninas sozinhas? Ela respondia, claro que não.

    Depois fiquei sabendo por uma vizinha que ela saía e pedia para ela, a vizinha, dar uma olhada nas meninas…” Além desses e em outros momentos pudemos perceber como a emoção do entrevistado fê-lo responder, dentro do pensamento das heurísticas, de forma automática e diríamos um tanto inconsciente, a algumas das questões que lhe foram feitas: “Melhor arranjar uma ursa que acabou de ter sua cria do que lidar com uma pessoa insensata”; “Ela é do tipo: pega sua caneta não devolve, morde seu sanduíche e fica com o pedaço que tem mais recheio”; E ele refletia: “E o pior eu era apaixonado e não percebia e quando percebi, pensava nas filhas…”; “A família é muito importante para mim!”.

    Assim sendo, ao questioná-lo sobre o que era para ele um relacionamento abusivo, ele respondeu que hoje sabe que o relacionamento que vivia era um relacionamento abusivo. Mas, antes ele disse que não achava. E relatou o que ele pensava: “a pessoa tem processos difíceis…, pois, ela me contava todos os seus sofrimentos e que ela era assim, por causa da desestrutura da família dela…”; “Mas, hoje sei que toda pessoa tem escolhas e ninguém precisa ser assim, por causa do que passou enquanto criança ou adolescente…”.

    Após a percepção do relacionamento abusivo

    E em seguida ao perguntarmos: ‘…Conforme você respondeu, você antes não percebia que seu relacionamento era abusivo?’ Ele silenciou e nos disse, que às vezes percebia, a partir daí, “queria largar tudo”, principalmente quando eles discutiam, até em público… “não foi uma nem duas vezes que eu arrumei a sacola e saí sem rumo e dizer nunca mais eu volto… Falava com Deus, nunca mais eu volto para o lado dessa pessoa… Mas, a família pesava, as meninas, minha filha e nessa época eu sabia que não perderia minha filha caçula, mas perderia a minha filha mais velha – a filha que era dela e eu criei como minha também…”.

    Mediante a fala do entrevistado existia uma percepção de relacionamento abusivo, contudo a confirmação somente ocorreu após o processo do divórcio litigioso, no qual ele vivencia as atitudes de alienação, inclusive com o desaparecimento de sua filha, que o fez dar queixa na delegacia de menores, além das “falsas verdades” relatadas pela ex-companheira durante o tal processo, segundo o mesmo. Nesse contexto, citamos um recente artigo, ‘A violência doméstica contra o homem’ a autora Déborah Eppi Moraes (2021) apresenta, como ainda hoje é também difícil para o homem se desvencilhar de um relacionamento tóxico/abusivo: “a convicção que a vítima será julgada ao procurar a autoridade faz com que homens, que são vítimas de violência doméstica, deixem de fazer as devidas denúncias por medo de serem ridicularizados” Moraes (2021, p.31).

    Existem entretanto, algumas situações que o medo provém de outros fatores, tais como “o medo de perder o convívio com os seus filhos” Moraes (2021, p.31). Desse modo conseguimos observar nas palavras e no olhar expressivo do entrevistado, durante alguns momentos da entrevista uma repetição, no sentido da preocupação em tomar as providências cabíveis no que diz respeito às questões legais ou a sair da sua casa. Contudo, devido às ameaças que ouvia da sua ex-companheira dizendo-lhe que ficaria com as filhas se ele saísse, pois a justiça e todos iriam acreditar nela (enquanto mulher).

    Uma vulnerabilidade psicológica

    No contexto social identificamos como causa da vulnerabilidade psicológica sofrida pelo sujeito entrevistado, a crença do que é família, a religiosidade e a criação que os pais deram no que se refere a valores morais e sociais. No sentido amplo de proteger suas filhas e manter-se perto das meninas, o entrevistado deixa bem claro que a única coisa que o segurava nesse relacionamento eram as crianças, em alguns momentos repetia “elas são inocentes, vai saber como ela vai cuidar das crianças porque muitas vezes as meninas não tinham os cuidados básicos como o que comer – eu saia do trabalho perguntava, já tomaram café? Respondiam não papai… Onde está a mamãe? Dormindo…”. E continuou: “Então eu suportava, mas no fim eu fui derrotado.

    E na minha fraqueza, pois assumo minha responsabilidade, ela me tirou a filha mais velha (a que criei como pai) e tentou não deixar eu também ficar com a mais nova. Chegou a sumir por 26 dias com a minha caçula… Nesse momento dei queixa, inclusive de alienação parental… Mas, a justiça ainda assim, foi lenta… Somente depois de muita luta, pois ela me colocou na justiça, dizendo muitas mentiras – e eu provei o inverso do que ela falou – é que tenho conseguido ficar com a minha filha… E a luta ainda continua…

    Com esse relato, a partir da separação das filhas, aparece uma maior amplitude das repercussões psicológicas no sujeito entrevistado – angústia, ansiedade, tristeza, falta de motivação para frequentar o trabalho, isolamento afetivo, levando o sujeito a aceitação do acompanhamento psicológico. Sugestionamos aqui, que este acompanhamento psicológico pode ter contribuído para a disposição deste sujeito, em participar do processo de entrevista presencialmente.

    Homens vítimas de violência doméstica e a lei

    Finalmente, buscamos mais uma vez Moraes (2021), para respaldar o nosso estudo de caso, concluindo que efetivamente – homens também podem ser vítimas de relacionamentos abusivos – e por essa razão, reforçamos o que relata a Constituição Brasileira datada de 1988, que cita no “Art. 5º · I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição”. No âmbito da Psicologia, que tem o propósito de cuidar da integridade psicológica do ser humano, sugerimos uma escuta atenciosa e cuidadosa para o sujeito/humano, este que sofre, independentemente de sexo, gênero, cor, raça, classe social, religião, ou quaisquer outras condições.

    Portanto, no caso específico aqui apresentado, tanto no domínio jurídico e principalmente na Psicologia é premente um ambiente em que esses homens tenham o direito de serem escutados sem pré-conceito, sem normatizar a queixa da vítima, colocando julgamentos a parte, escutando a dor e o sofrimento de uma pessoa que está a sua frente, para que com isso, o nosso trabalho seja mais humanizado.

    Dessa forma, concluímos que ambas as abordagens Psicanálise e Psicologia Social, com os autores aqui pesquisados, nos deram uma adequada fundamentação, demonstrando ser possível a interdisciplinaridade de áreas distintas. Enfatizamos que, diante das situações analisadas, tanto fatores da personalidade como do contexto social influenciaram na vulnerabilidade psicológica de um homem cis heterossexual com relacionamento abusivo. Contudo, constatamos nesse estudo de caso sobre relacionamento abusivo, uma variável passível de aprofundamento em futuros estudos – ‘a promoção do sofrimento psíquico à vítima’.

    Considerações finais sobre homens vítimas de violência doméstica

    Consideramos que qualquer relacionamento humano é passível de conflitos. Entretanto, quando ocorre um relacionamento abusivo, este revela-se como uma relação nociva, na qual a maioria dos agressores não enxerga suas atitudes como abusivas e os que são vítimas, durante um determinado tempo, não se vêem como tal. No estudo de caso analisado, percebemos que a personalidade do sujeito, assim como o contexto social, interferiram direta e indiretamente na condição de vulnerabilidade psicológica de um homem cis heterossexual com relacionamento abusivo.

    Dentre os limites do estudo, encontramos a maioria dos casos relatados em artigos da área de Direito e somente alguns poucos casos da área de Psicologia, referentes a homens como vítimas de um relacionamento abusivo. A maior dificuldade, no entanto, foi entrevistar pessoalmente homens cis heterossexuais, que experienciaram um relacionamento abusivo, apesar de existirem, conforme referências, inclusive em sites e blogs. Por conseguinte, optamos pelo Estudo de Caso único, sendo devidamente justificado e respaldado dentro da nossa pesquisa.

    Como sugestões futuras para novos estudos a partir desse trabalho, conforme apresentamos nos resultados, identificamos a variável relacionada à promoção do sofrimento psíquico da vítima. Sendo crucial que esses homens também venham a ter, de igual forma, o direito a serem validados em seu sofrimento, humanizando a nossa prática enquanto Psicólogas(os). Nesse sentido, nossa pesquisa apresenta uma proposta de mudança no âmbito social ao escutarmos o sofrimento do sujeito humano, produzindo novos referenciais simbólicos, perpassando pelo respeito, integração e autonomia.

    Vítimas de violências relacionais

    No sentido acadêmico não somente em questões de abusos em relacionamentos, mas também, atentarmos para não estarmos segmentando as pesquisas, ao invés de identificar o ser humano com todas as suas matizes. É de fundamental importância que a Psicologia – enquanto ciência que trata dos processos mentais, do comportamental do sujeito e suas interrelações com o meio sócioambiental – dilate sua visão para essa questão, principalmente por não ser somente as pessoas que se relacionam que entram em sofrimento psíquico, como também quem está em torno desse relacionamento.

    Retomando nossas reflexões, com o pressuposto de que qualquer relacionamento humano é passível de conflitos, sugerimos que sejam planejadas ações, ampliando os serviços que possam dar suporte a casais, tanto para homens como para mulheres, vítimas de violências relacionais.

    Consideramos também pertinente, que possam ser realizadas intervenções preventivas, tanto presenciais – com palestras em instituições de educação, como on-line através de lives, dentre outros. Acreditamos que esse apoio, juntamente com ações educativas-preventivas, possam trazer o sujeito a uma conscientização sobre o que é um relacionamento abusivo, na tentativa de reduzir ou dirimir sofrimentos, com a possibilidade de contribuir para relações humanas mais saudáveis.

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    YIN, Robert K. Estudo de Caso: Planejamento e Métodos. Trad. Daniel Grassi. 2ª Ed. Porto Alegre. Editora Bookman. 2001.

    APÊNDICE A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

    TCLE Pesquisadores Responsáveis UNINASSAU: Ana Luzia Sanches Vieira Carreiro Silva e Josimara Evangelista de Souza. E-mail: [email protected]. Prof. Ramiro Rodrigues Coni Santana. E-mail: [email protected].

    O Sr.(a) está sendo convidado(a) como voluntário(a) a participar da pesquisa sobre: “REPERCUSSÕES PSICOLÓGICAS DE RELACIONAMENTOS ABUSIVOS PARA HOMENS: UM ESTUDO DE CASO QUALITATIVO”.

    Neste estudo pretende-se coletar informações – em entrevista gravada em áudio – sobre como o(a) senhor(a) percebe o seu relacionamento e possíveis abusos.

    Seu nome ou o material que indique sua participação não será identificado. Este termo de consentimento encontra-se impresso em duas vias, sendo que uma cópia será arquivada pelos pesquisadores responsáveis, UNINASSAU e a outra lhe será fornecida.

    Eu,_________________________________________ fui informado de maneira clara e detalhada, sobre os objetivos desta pesquisa sobre “Repercussões psicológicas de relacionamentos abusivos para homens: um estudo de caso qualitativo”.

    Declaro que concordo em participar desse estudo. Recebi uma cópia deste TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido e me foi dada à oportunidade de ler e esclarecer as minhas dúvidas.

    Salvador/BA, de _____________________de 2022

    Nome e Assinatura do participante.

    APÊNDICE B – ROTEIRO DE ENTREVISTA CENTRO UNIVERSITÁRIO MAURÍCIO DE NASSAU CURSO DE PSICOLOGIA ROTEIRO DE ENTREVISTA

    Este documento refere-se ao roteiro de entrevista semiestruturada (combina perguntas fechadas e abertas), que faz parte do Estudo de Caso que integra o Trabalho de Conclusão do Curso de Psicologia – “REPERCUSSÕES PSICOLÓGICAS DE RELACIONAMENTOS ABUSIVOS PARA HOMENS: UM ESTUDO DE CASO QUALITATIVO”, visando identificar, como fatores de personalidade e construção social podem vir a interferir na vulnerabilidade de homens cis heterossexuais com relacionamentos abusivos. A entrevista será realizada presencialmente com o participante.

    DADOS PESSOAIS

    Gênero Masculino

    Idade

    Natural de

    Estado Civil

    Filhos?

    Quantos?

    Grau de Instrução

    Bairro que reside

    1 – Em uma relação saudável podemos ter abertura para errar e crescer. Você concorda com essa alternativa?

    a) Nunca. b) Concordo pouco. c) Nem concordo nem discordo. d) Concordo. e) Concordo bastante.

    2 – Caso você concorde ou concorde bastante, com a questão anterior, ocorria essa abertura no seu relacionamento?

    a) Nunca ocorria. b) Às vezes ocorria. c) Não sei se isso ocorria. d) Sempre ocorria.

    Como?

    3 – Partindo do princípio de que todo relacionamento tem algum tipo de desentendimento. No seu relacionamento você foi responsabilizado ou culpado pelos motivos de desentendimentos?

    a) Nunca. b) Não sei se sim ou se não. c) Sim. Às vezes. d) Sim. Quase sempre. e) Sim. Sempre.

    4 – Caso a resposta da questão anterior tenha sido uma das alternativas SIM, Como você se sentia sendo responsabilizado/culpado?

    a) Não percebia naquela época que eu era responsabilizado/culpado. b) Não sei como eu me sentia. c) Me sentia um pouco responsável/culpado. d) Me sentia muito responsável/culpado.

    Por que?

    5 – O que é para você um relacionamento tóxico/abusivo?

    a) Um relacionamento um tanto quanto natural. b) Não sei exatamente como é esse tipo de relacionamento. c) Um relacionamento onde os parceiros brigam, discutem, mas podem voltar atrás por se arrependerem. d) Relacionamento desagradável, com violência emocional e até física, onde uma pessoa é a vítima e a outra pessoa é a tóxica-abusiva.

    Por que?

    6 – Partindo do pressuposto de que discussões e brigas podem ocorrer entre um casal. Como ocorriam essas situações no seu relacionamento?

    a) Não ocorriam. b) Não sei como ocorriam. c) Eram situações bobas. d) Sempre ocorriam. Iniciavam do nada e se transformavam em um tumulto. e) Outros

    7 – Durante o seu relacionamento como sua ex-companheira, ela te apoiava?

    a) Nunca me apoiava. b) Me apoiava em poucas situações. c) Me apoiava somente no que lhe interessasse. d) Sempre me apoiava independentemente do que fosse. e) Outros

    8 – Durante o seu relacionamento você apoiava sua ex-companheira?

    a) Nunca a apoiei. b) A apoiava em poucas situações. c) A apoiava somente no que me interessasse. d) Sempre a apoiava independentemente do que fosse.

    Caso sim, como você a apoiava?

    9 – A comunicação entre ambos existia?

    a) Não nos comunicávamos bem. b) Poucas vezes nos comunicávamos. Somente quando necessário. c) Sempre nos comunicávamos bem. d) As comunicações muitas vezes eram cobranças.

    Como ocorriam?

    10 – O ciúme excessivo estava presente no seu relacionamento?

    a) Não existia ciúme de ambas as partes. b) O ciúme excessivo era por parte dela. c) O ciúme excessivo era por minha parte. d) Ambos eram excessivamente ciumentos.

    Caso esteve presente, dê exemplo(s):

    11 – O controle da sua companheira era frequente ou ela te deixava de lado?

    a) Nunca me controlava, nem me deixava de lado. b) Às vezes um pouco dos dois. c) Sempre me controlava. E sempre me deixava de lado. d) Sempre me controlava. E, me deixava de lado quando eu não realizasse seus desejos. e) Outros

    Como isso ocorria?

    12 – Em relação a honestidade algo te incomodava?

    a) Não havia honestidade. Eu me incomodava. b) Não sei quando houve honestidade. c) Sempre havia honestidade. d) Sempre me incomodava a falta de honestidade. Mas, eu fingia que não existia. e) Outros

    Se te incomodava, explique o porquê?

    13 – Em relação às mentiras?

    a) Não havia mentiras. b) Eu não me importava. c) Ela mentia muito. d) Ambos mentiam muito. e) Outros

    Como ocorriam?

    14 – Como era sua posição diante das suas necessidades e/ou preferências?

    a) Sempre dei preferências para realizar o que ela desejava. b) Não realizava minhas necessidades e/ou preferências, quando ela queria outra coisa. c) Algumas vezes realizava minhas necessidades e/ou preferências. d) Eu realizava minhas necessidades e/ou preferências, mesmo que ela não quisesse. e) Outros

    Por que?

    15 – Você chegou a se afastar algum momento de seus Familiares e amigos durante esse relacionamento?

    a) Nunca me afastei. b) Em alguns momentos me afastei. c) Cada vez mais fui me afastando deles. d) Fiquei extremamente afastado deles. e) Outros

    Por que?

    16 – Como era o seu autocuidado físico e psíquico?

    a) Nunca me cuidava. b) Pouco me cuidava. c) Me cuidava muito. d) Cuidava sempre dela e de filhos/as. Pouco me cuidava. e) Outros

    Por que?

    Sobre o(a) Autor(a): Sou Josimara, resido em Salvador- BA , atuo como Psicanalista e em formação na area de Psicologia. Me encontre no instagram @josimaraevangelistade para conversarmos.

     

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