incesto e abuso sexual

Incesto e abuso sexual: perturbação anedótica e estudo de caso

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Hoje falaremos sobre Incesto e abuso sexual. Perturbação é um termo bem conhecido dentro da literatura psicanalítica. Perturbação é algo mais conhecido ainda no âmbito da práxis psicanalítica – e psicoterápica de uma forma mais abrangente. Transtornos psicopatológicos tais quais: transtornos da ansiedade, síndrome de pânico, transtornos do sono, transtornos da alimentação, distimia e depressão maior, apenas para enumerar os mais comuns, de fato, provocam perturbação.

Entendendo o Incesto e abuso sexual

Em minha modesta experiência clínica, percebi que é benéfico para as pessoas compreender aquilo que acontece dentro de si, ou dito de outra forma, como funciona o aparelho psíquico. Eu escuto, sim, mas também falo, e explico. E os pacientes ficam mais aliviados.

Sim, porque, além da perturbação advinda de determinado transtorno, ou mais de um, ocorre que a paciente ou o paciente sinta-se compelido a descobrir aquilo que se passa em sua mente mais profunda. Logo, a pessoa começa a se atormentar implacavelmente para entender. E mais pensa, mais se perturba, sem chegar à solução, que não canso em dizer, não é racional, e sim, emocional.

É comum, para não dizer que é quase uma regra, o fato de receber pacientes cuja mente racional está bem acelerada. Claro, eles buscam respostas. Tentam compreender, por si só, sem dispor de uma bagagem teórica adequada, sem competência clínica e, principalmente, sem um psicanalista ou psicoterapeuta que os acompanhe psique adentro.

Relato sobre Incesto e abuso sexual

Mamãe, que era portuguesa, costumava dizer: “de (tanto) pensar morreu um burro”. É um ditado português. No Brasil as pessoas também falam. Trata-se de um ditado…datado! Me perdoem o trocadilho. Mas é sempre atual. Já disse isso para mim mesmo, e não é minha intenção ofender ninguém. Aplico a ética em todos os meus atendimentos. E, parafraseando o finado rapper Sabotage, “respeito é pra quem tem”. Parafraseando outro rapper, que por sua vez aprendeu com o malandro Bezerra da Silva: “tem que saber chegar” (Marcelo D2).

Não que eu seja muito chegado ao rap, porém, faz 17 anos que deixei minha Milão para vir ao Brasil, e para sobreviver neste país é mais do que útil, urgente e necessário, aprender sobre malandragem. Malandragem no sentido bom, positivo, e mais singelo. No começo de março de 2020, ia ministrar uma aula sobre este tema por meio de um estágio docência em Letras. Já doutor PhD, inventei de fazer uma segunda licenciatura. A aula, justamente, ia ser sobre malandragem, assunto que, como já frisei, é urgente e necessário.

Por que é urgente e necessário? Nesta digressão, urgente e necessária, apenas vou pincelar, pois até os digressivos entendem que parênteses (ou matrioska dentro da matrioska) têm que ter limites! Para entender o que é malandragem, a verdadeira e legítima, é preciso voltar ao Brasil da abolição da escravidão (1888) e surgimento da República (1889). Autores como Lilia Moritz Schwarcz, Sérgio Buarque de Holanda, Roberto da Matta, Clóvis Moura, entre outros, nos relatam o cenário da época.

Um Brasil rural

Pense em um Brasil predominantemente rural, no qual o morro carioca estava literalmente cheio de roçados. O êxodo rural começava a ocorrer. Mais e mais pessoas de várias partes do Estado do Rio e, também, de outras regiões do Brasil, chegavam à então Capital do País.

Pense naquele cidadão residente no morro da época, principalmente aquele de cor escura, em todas as suas nuances, mas havia outros outsiders, como era o caso de brasileiros vindos de outras regiões…pois a malandragem não tem cor. Hoje existe preconceito, e muito! Imagine à época… Sabemos, inclusive, que a escravidão não parou de vez…

Então, naquele cenário histórico, social e econômico, surgiu o tal do malandro. E o malandro, o legítimo, nada tinha e tem a ver com delinquência e marginalidade. Muito pelo contrário. O malandro era um “favelado”. E vale frisar, favela é uma planta, logo, transpondo o conceito para a linguagem nordestina, favelado significa “matuto”, ou para tornar a coisa inteligível para a leitora e o leitor do sudeste e do sul, favelado, em seu significado original, corresponde ao tal do “caipira”. É o cara da roça, é a mulher da roça. Sim, existe malandro ao feminino, malandra.

O malando

Concluindo esta digressão urgente e necessária, malandro é aquele cidadão do morro da época – subúrbio rural do Rio de Janeiro – quando, em meio a um preconceito estarrecedor, desce o morro e mata seu leão por dia, buscando, cotidianamente, algum serviço (honesto) para fazer.

Para tanto, ele precisa ser aceito. Sim, existe a figura romântica do malandro que, entre outros “trampos” e “bicos” – como se chamariam hoje – encontra alguma maneira de ganhar o pão de cada dia através da música, tendo uma voz bonita e, claro, a jinga.

A figura meio que lendária do malandro-cantor ou bailarino – herdada por malandros contemporâneos quais Chico Buarque, Martinho da Vila e Paulinho da Viola (apenas para mencionar alguns malandros…) – que performa nas danças de salão, fazendo rodopiar as damas da sociedade carioca, ou encanta donzelas com a sua voz sedutora, pode ser considerado o auge semi-mitológico das várias e mais realísticas nuances que representam esse tipo peculiar de outsider que é o malandro.

Incesto e abuso sexual na cultura

Se pensar na situação, no contexto sociocultural da época, só o fato de descer o morro e encontrar algum “bico”, já é suficiente para considerar o cidadão um malandro. O resto é lucro!

Sei, é justamente aquele malandro galã e “estraga-fêmeas”, que foi herdado do âmbito pós-abolição e foi transformado em um ideal nacional. A esse respeito, uma música de Bezerra da Silva, afirma solene: “Malandro é quem sabe das coisas, malandro é quem sabe o que quer, malandro é um cara maneiro, que não se amarra com uma só mulher”.

Vale ressaltar que Bezerra era, ele mesmo, um malandro e tanto, mas foi bem-casado a vida toda, não usava drogas, e faleceu crente em Jesus Cristo. Este cantor não era malandro pelas letras das músicas, que nem sequer eram escritas por ele. Bezerra era um etnógrafo musical do morro carioca, um verdadeiro intérprete daquela realidade específica. Ele cantava música escritas por moradores, por “estabelecidos” da favela. Mas Bezerra era um outsider. Pernambucano, ele chegou ao Rio como tantos outros, mas conquistou a cidade maravilhosa (e o Brasil, e o mundo!).

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    Respeito é para quem tem

    Vale mencionar aqui Luís Gonzaga que, à época em que a música do sudeste ressoava nos altifalantes dos rádios nordestinos, conseguiu levar o baião, o xaxado e o forró pé de serra ao sudeste, cantando nos trens. A partir daí, a música nordestina foi que começou a ecoar pelos altifalantes cariocas e do Brasil todo (e mundo afora).

    Agora sim, concluo o parêntese: malandro é, justamente, aquele que sabe chegar. Ponto final. Malandro é quem sabe onde pisa, chega e cativa, é aceito. É o outsider bem-sucedido. Acaba transitando entre mundos. Vai e vem, desce à cidade e volta ao morro, e por onde ele passar, respeita e é respeitado. Fechando o círculo: “respeito é pra quem tem”.

    Naquele começo de março de 2020, ia ministrar uma aula sobre malandragem, tinha baixado músicas, trechos de filmes, ia citar autores da literatura…mas logo naquele dia, começou a quarentena, devido à Covid 2019. Talvez seja por isso que resolvi aproveitar parte da palestra neste artigo, que nada tem a ver com malandragem, admito, mas por associação, estava falando sobre ética, e ética remete para o respeito…e pela terceira vez cito Sabotage: “respeito é pra quem tem”.

    Homicídio, Incesto e abuso sexual

    A urgência e a necessidade – já que estava falando sobre perturbação – de se falar e explicar, principalmente aos jovens, mas não só, acerca do real sentido da malandragem, de ser malandro, é que, neste País, quem mais morre de morte violenta, ou seja, em decorrência de homicídio, são jovens entre 15 e 29 anos, de acordo com o Mapa da Violência. Fiz um documentário, em 2013, sobre a situação aqui na Paraíba. Triste realidade. Senti a necessidade, além do “doc”, de fazer a minha parte, e criei uma palestra sobre malandragem.

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    Ainda tem gente achando que ser malandro é “seduzir a mulher dos outros”! E depois lemos o resultado disso nos jornais, ou assistimos no noticiário. Desde o fascinador e, de certa forma, hipnoterapeuta Gregori Rasputin, parece que certos machos ainda não entenderam…A Bíblia explica, nos provérbios do Rei Salomão, quem quiser aprender…que aprenda…o resto vai para a estatística.

    Muitos novinhos acabam se metendo com coisas infinitamente maiores do que eles, e não sabem chegar, tomam uma cerveja a mais e, para se gabar de sua “posição” dentro de determinada facção, ficam falando coisas que não deveriam, na mesa de bar, ou para alguma mulherzinha…e acabam se tornando parte da triste estatística.

    O documentário

    Outros pedem dinheiro emprestado e, como acham que são “malandros”, acabam não pagando. E, também, entram na estatística. E assim por diante.

    Falo com respeito, e a cena mais triste e impactante do meu documentário de 2013 foi uma mocinha em seus 19 anos, limpando o túmulo do irmão, que estava cheio de folhas, e enquanto isso estava chorando sem parar. Filmei discretamente, com uma lente teleobjetiva, me mantendo a uma certa distância. O irmão tinha dezoito anos. Outro irmão dela, viciado em craque, não podia mais aparecer na comunidade, pois ele tinha aprontado alguma coisa séria, como roubar ou algo assim. E a estatística cresce.

    Desculpe, leitora e leitor, o tema do artigo não é a morte prematura de jovens, muitos dos quais se achavam malandros. Mas aproveitei para educar, para explicar o que é ser malandro, porque tudo indica que as pessoas não sabem. E esta ignorância faz aumentar a triste estatística trazida pelo “Mapa da violência”.

    Digressão explicada, necessária e urgente, vamos voltar ao tema da perturbação, se bem que a própria digressão, ao menos, manteve certa coerência “perturbatória”. Ética no exercício da profissão é fundamental para nós psicanalistas e psicoterapeutas. E eu, pessoalmente, faço questão de zelar neste quesito.

    Psicanálise, Incesto e abuso sexual

    Sem embargo, Freud nos ensinou muitas coisas, e tantos outros e tantas outras depois dele, por terem escrito e descrito, enfim, por terem relatado sobre casos clínicos e situações reais. Sim, sem fazer o nome da pessoa, ou utilizando um nome fictício. Era aqui que eu queria chegar. Por óbvias razões, não podemos e não devemos expor os nossos pacientes ou pessoas que compartilharam conosco as suas aflições e perturbações.

    Correto, mas podemos e devemos compartilhar com as colegas e os colegas os casos clínicos e as situações que, indiretamente, vivenciamos juntamente aos pacientes ou às pessoas que se abrem com a gente.

    Parêntese, mas desta vez serei mais do que breve: a gente aprende até a “esconder” a profissão, em certos âmbitos sociais, porque senão somos literalmente “alugados” para ouvir pepinos de amigos, conhecidos e…até, no meu caso, mulheres com quem, pessoalmente, eu teria outros “assuntos” e objetivos! Quando sabem que você é psicanalista, acabou o sossego! Bom, neste quesito aprendi a ser bem direto: sou psicanalista só na clínica, só no consultório. E quanto às paqueras e candidatas a namorada, peço para escolher: ou sou paquera, ou sou psicanalista! Dito de outra forma: ou a tal moça é minha paquera, ou é minha paciente. As duas coisas juntas não dão certo!

    Ciência, Incesto e abuso sexual

    Precisamos e devemos compartilhar com as colegas e os colegas. Os “cases” com quem os colegas se deparam, nos ajudam e tanto, porque, porventura, podemos vir a nos deparar com a mesma situação. A ciência, e a Psicanálise é uma ciência propriamente dita, procede de maneira cumulativa. É inexoravelmente dialógica e, também, intertextual.

    Daí senti a necessidade de compartilhar algo um pouco perturbador que aconteceu comigo, ou para melhor dizer, que alguém relatou para mim. O nome fictício que escolhi para a pessoa é Cláudia. Anteontem à noite, tinha acabado de assistir uma Missa de Libertação quando recebi uma mensagem no Whatsapp.

    Perguntei logo se a pessoa queria marcar uma consulta, e ela disse que sim. Aprendi a fazer isso, a ir logo ao ponto, porque há pessoas que nos “alugam” no Whatsapp para, no final, dizer que a conversa já ajudou muito, e que não têm condições de pagar pelo atendimento. O próprio Freud já disse que não é para atender gratuitamente. Há pessoas que mesmo pagando não se comprometem com a análise, imagine se a gente atendesse de graça.

    O relato da situação

    Então perguntei a Cláudia se era algo urgente e ela disse que sim. Eram 22:22, eu estava caindo de sono, mas resolvi perguntar a ela se queria ser atendida logo, de forma online, já que ela mora em outro Estado. Ela disse que queria.

    Só que, ainda via mensagem de Whatsapp, ela começou a relatar a situação. Me falou da filha dela, que chamaremos de Miss M. Não lembro se a mulher falou o nome real da filha. Sei que ela me falou a idade dela, 52. E daí ela não segurou mais e me disse que a filha tinha se declarado para ela. Ou seja, Miss M. falou para a mãe que a amava, que tinha atração sexual por ela, e a beijou na boca.

    Perguntei a Cláudia quem ela queria que eu atendesse, se ela mesma ou a filha, Miss M. Ela respondeu que queria que atendesse a filha. Perguntei se a filha estava ciente, se ela queria ser atendida e expliquei que só podemos atender pessoas que queiram ser atendidas. Ela disse que ia conversar com ela. Cláudia continuou descrevendo o seu mal-estar, a sua perturbação.

    A situação de Claudia

    Logo, sugeri a ela que também fosse atendida. Sugeri que, caso a filha não quisesse ser atendida por mim, que a Cláudia se tornasse minha paciente. E, caso a Miss M. quisesse ser acompanhada por mim, que a Cláudia procurasse logo outro profissional.

    Cláudia, porém, relatou um segundo episódio, bem mais aflitivo que o primeiro. Segundo a sua descrição dos fatos, ela (Cláudia) estava deitada no sofá, de bruços, relaxando um pouco. Foi quando a filha chegou e começou a masturbá-la. Ou seja, Miss M. masturbou a mãe, Dona Cláudia. Cláudia relatou que não opôs resistência, apenas chorou. E chorou durante todo o ato sexual.

    Pessoalmente, já acompanhei pacientes que foram abusadas pelo pai, pacientes que foram estupradas, e uma paciente relatou que, quando era criança, testemunhara atos de depravação praticados pela babá com os priminhos dela, que tinham 4 ou 5 anos. A babá praticava sexo oral neles em frente à priminha, e os convidava a “trocar o favor”, ao lamber as suas entranhas (da empregada), ou seja, a praticar sexo oral nela.

    O caso da filha

    Entretanto, nunca tinha ouvido um caso de uma filha abusando sexualmente a própria mãe. Sim, fiquei perturbado. Não foi nem tanto por questões morais ou religiosas. Sei que acontece cada coisa neste mundo. Fiquei perturbado por não ser recíproco, por se tratar de um “abuso”. Verdade, a mãe não impediu, mas aqui vale recorrer à uma ciência próxima, a Hipnose.

    Sei que muitas colegas e muitos colegas não querem nem ouvir falar em Hipnose. Freud ficara frustrado em algum momento, e abandonou esta prática. Tudo bem, eu não quero convencer ninguém sobre os benefícios da Hipnoterapia e sobre o fato de não ser antagônica à Psicanálise. Eu pessoalmente uso ambas.

    Hipnose não requer necessariamente a alteração do estado de consciência do paciente. Existe Hipnose conversacional. O Dr. Milton Erickson era expert nisso, e trabalhava com anedotas, analogias e metáforas. Sim, também induzia…mas trabalhava com estados leves, a saber, com o estado Alfa (tem a ver com o número de ciclos por segundo das ondas cerebrais: alfa vai de 14 até 7).

    Hipnose, Incesto e abuso sexual

    Em meu último artigo publicado neste portal do IBPC, fiz questão de trazer informações sobre o José Silva, mexicano que criou o método ESP Ultramind. Silva ensinava as pessoas a entrar em Alfa “at will” (toda vez que as pessoas o desejassem). E ele foi testado em laboratório por um acadêmico da Universidade do Texas. O eletroencefalograma disse que Silva estava em Alfa, mas ele conversava de olhos abertos e resolvia problemas matemáticos (todos corretamente!).

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    Hipnose tem a ver com entrar em Alfa (bem, não é só isso…). Logo, eu pergunto aos/às colegas: a Hipnose comporta necessariamente na alteração do estado de consciência? Resposta comprovada cientificamente: não! Hipnose é um estado da mente (ou mais de um, para sermos precisos). É algo natural do ser humano. É o estado ideal de aprendizagem, no qual, é possível alcançar o Subconsciente e reprogramar padrões comportamentais.

    O estado hipnótico pode ser suscitado de várias maneiras. No mais, adentra-se neste estado quando ocorre a quebra ou ultrapassagem do “fator crítico”. Simplificando, é possível afirmar que entramos em transe hipnótico quando algo ocorre de maneira diferente do esperado. O transe pode durar apenas alguns segundos. Ou pode durar mais e pode, inclusive, ser aprofundado.

    Uma moção pulsional

    E o que tem a ver isso com a atitude incestuosa de Miss M. com relação à mãe, Dona Cláudia? Tudo! Cláudia não reagiu, como muitas vezes ocorre, inclusive em casos de estupro, devido à ação repentina da filha, que quebrou (mais) um padrão, e ultrapassou o “fator crítico” (referente à mente consciente e racional) da mãe.

    A senhora já tinha ficado perturbada devido ao beijo. Ainda estava digerindo, elaborando…quando a filha, vendo-a deitada de bruços no sofá, compelida por alguma moção pulsional aflorada por meio de uma boa quantidade de libido (energia sexual, intrapsíquica), pulou para cima da mãe – assim como a fera ataca a presa movida pelo instinto mais primordial – e a masturbou, enquanto a senhora, aflita, só fez chorar.

    Possivelmente, o choro de Dona Cláudia aponta para a sua frustração e, de certa maneira, para a culpa. Ela se sentiu culpada por ser a mãe da menina depravada, por tê-la educado, por ser responsável pela sua “moral”, mas ao mesmo tempo se sentiu culpada por estar gozando, por estar sentindo prazer, mas um prazer aflitivo, e que não condiz com aquilo que é moral e socialmente permitido.

    O superego

    Sabemos que a culpa é inerente ao Superego e vale ressaltar que a instância psíquica superegóica de Miss M., naquele momento, ficou completamente inerte. Não funcionou. E nem o Ego teve como conter, por si só, a avalanche passional de energia libidinal repleta de desejo e luxúria para com a própria genitora.

    E Dona Cláudia apenas conseguia chorar, tornando-se consciente de seu fracasso, de sua impotência e – isso não podemos confirmar, apenas colocar em termos hipotéticos – de seu próprio desejo e paixão e luxúria para com a filha, no caso dela (Dona Cláudia), inconsciente e reprimida.

    O recalcado da mãe tomou conta do inconsciente da filha, e nela encontrou menos resistências para se manifestar, até às consequências extremas do ato libidinoso e incestuoso? Não temos como afirmar.

    Após os relatos

    Dona Cláudia, após ter relatado os fatos, recebeu o meu cartão de visita digital, onde constam informações, links e os valores das sessões e pacotes. Sem, ao menos, ter agradecido por tê-la escutada, ela simplesmente sumiu. Apagou o meu contato do Whatsapp (não vi mais a foto dela) e se retirou em sua perturbação e, quem sabe, em sua relação incestuosa com a filha.

    Resta a questão: como devemos nos comportar em um caso como aquele relatado por Dona Cláudia? A literatura aponta quais soluções? Neste caso, vejo a sugestão hipnótica como uma solução (mas, no caso, ia sugerir o quê?). Todavia, ainda prefiro a livre associação, pois acredito se tratar de algo que, Dona Cláudia, precisa resolver consigo mesma, e a filha também.

    A análise do Complexo de Édipo ou, ao tratar-se de mulheres, do complexo de Electra, pode ser crucial para compreendermos algumas questões básicas. A atração homoafetiva incestuosa, inclusive, pode ser anterior ao Édipo, e pode ter surgido em alguma fase anterior do desenvolvimento psicossexual de ambas, mãe e filha. Pode se tratar de algo mais regredido, mais arcaico.

    O desejo de Cláudia, Incesto e abuso sexual

    Longe de apontar o dedo contra a mãe aflita, aproveito para refletir, juntamente com a leitora e o leitor, sobre o fato que tanto se fala em pedófilos, mas nunca em pedófilas. E não é raro que a pedofilia acometa (também) mulheres, inclusive mães, tias, avós.

    Como já fiz questão de sublinhar, não podemos afirmar nada, não temos elementos para sugerir que a mãe, em algum momento do desenvolvimento psicossexual de Miss M. teria tocado ou abusado a filha. Isso pode ter acontecido, como pode não ter ocorrido.

    O desejo de Cláudia pela filha pode ter permanecido latente, recalcado. Ou talvez, Cláudia não tenha algum desejo sexual pela filha, e a morbidez incestuosa seja apenas um atributo de Miss M. Admito que fiquei um pouco perturbado com o relato de Dona Cláudia, creio que nem tanto pela coisa em si, e sim, por ter sentido em minha pele a aflição dessa mãe. A práxis psicanalítica faz com que o psicanalista aprenda a se conectar com o inconsciente do outro, sentindo a perturbação deste em sua própria psique e em seu próprio soma.

    Conclusão: Incesto e abuso sexual

    Vale frisar que, além do mais, Dona Cláudia me enviou várias fotos de ambas, dela e da filha. Apaguei tudo do meu celular e, ao colocar no “papel”, estou apagando também do meu Subconsciente.

    Concluindo, fiz questão de compartilhar com as colegas e os colegas psicanalistas e o Instituto Brasileiro de Psicanálise Clínica, como se costuma dizer, para quem interessar possa… Sugestões, comentários, desabafos? Escrevam para o meu e-mail ou pelo Whatsapp (abaixo no perfil), assim que tiver tempo, será um prazer trocarmos umas ideias.

    Vou terminar com uma anedota, mais uma digressão, mas totalmente dialógica com relação ao tema aqui tratado. Terça-feira levei meu filho ao psicólogo. Enquanto ele estava sendo atendido, a secretária saiu por alguns minutos e apareceu uma psicóloga que tinha terminado de atender uma mocinha (que foi embora com a mãe).

    Caso de Incesto e abuso sexual

    Na TV da clínica estava passando o jornal local e assisti uma matéria sobre abusos sexuais de crianças. Um homem foi esfaqueado pelo irmão da vítima de uma menininha. O homem é o padrasto de ambos. Daí a emissora fez questão de debater o tema durante o jornal.

    Perguntei para a psicóloga se havia muitos casos, e elas disse que sim, mas que isso acontecia mais com colegas do setor público. Eu disse que sou psicanalista e que trabalho com adultos. Ou seja, eu me deparo com as sequelas dos abusos sofridos por algumas pacientes quando eram crianças ou adolescentes.

    Disse a ela que deve ser muito aflitivo. E aproveitei para falar esta “minha” teoria de que tanto se fala em pedófilos (homens), e nunca em pedófilas (mulheres). Daí perguntei se eles (psicólogos) também são atendidos por colegas, assim como nós, psicanalistas. E se há alguma ferramenta para não se perturbar com estas coisas, porque são bem aflitivas.

    Uma frieza analítica, Incesto e abuso sexual

    Até então a psicóloga interagiu e conversou comigo, mas do nada ela mudou de expressão e não falou mais nada. Começou a interagir com a secretária, sem sequer pedir desculpas por não dar continuidade à nossa conversa. Fiquei um pouco perturbado, ou provavelmente foi ela que ficou, e eu senti a perturbação dela na minha pele, assim como acontecera com Dona Cláudia.

    Longe de mim querer chegar às conclusões. Ainda tenho muito que aprender sobre o funcionamento da psique humana, mas pela minha (modesta) experiência já sei que é proibido se deixar levar pelo entusiasmo, pela intuição, por uma pista ou outra. Precisamos agir com a frieza analítica de um delegado ou de uma delegada policial, considerando todas as pistas, porque seguir uma delas à toa pode prejudicar toda a “investigação”.

    Mas fiquei um pouco perturbado, e a perturbação não era minha…

    Este artigo foi escrito por Riccardo Migliore ([email protected]) Doutor PhD em Letras pela UFPB, Psicanalista formado pelo IBPC e pós-graduado em Psicanálise pela Faveni, Master Hipnoterapeuta com 10 formações em Hipnose Clínica, Master Practitioner em Inteligência Emocional (5 formações), PNL Practitioner, Mindfulness e Flow Practitioner, Reprogramador Bioneurocomportamental, Prof. de Meditação, Coach, Autor, Copywriter, Pós-graduando em Gestão de Marketing, e Pós-graduando em Marketing Digital. Atendo presencial e online: https://taggo.one/institutoportaldaalma.

    2 thoughts on “Incesto e abuso sexual: perturbação anedótica e estudo de caso

    1. João Carlos Pijnappel disse:

      Minha impressão é que o autor quer iniciar uma discussão sobre o tema, que ele tem alguma dificuldade em abordar, em vista de todas as digressões, circunlóquios e rodeios de que se utilizou para chegar ao assunto, que ele confessa ser perturbador para ele. Só não sei se a seção de comentários seria o lugar indicado para essa discussão.

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