Negar para Fugir da Realidade

Negar Para Fugir da Realidade: a Negação para a Psicanálise

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Em psicanálise, negar para fugir da realidade é um dos mecanismos de defesa do ego. Ou seja, o indivíduo costuma rejeitar uma situação real, para fugir do desagradável momento vivido. Pode ser o término de uma relação. Uma doença ou até a morte de alguém querido.

Em seu artigo “ A Negação” de 1925, Freud escreve que a negação é a tomada de conhecimento do que foi reprimido. Quer dizer , quanto mais o sujeito negar uma situação, ali estará, inconscientemente, o objeto ou o fato reprimido.

Negar para Fugir da Realidade e para evitar o sofrimento

Ao se deparar com a realidade que traz frustração e descontentamento, o indivíduo usa da negação para evitar o sofrimento e se ilude com falsas verdades para escapar da dor. Uma pessoa, por exemplo, que descobre durante uma rotina de exames, uma doença grave, sua ou de algum familiar, pode acionar um mecanismo de defesa.

A primeira reação pode ser negar a doença. Sem acreditar na gravidade do resultado de um exame , procura outros médicos, na esperança de ouvir que o primeiro diagnóstico não passou de um equívoco. Os mais resistentes, além da negação da doença, podem culpar o mensageiro. No caso, o médico. Os apaixonados não correspondidos, por exemplo, usam o mecanismo da negação para evitar sofrimento .

Defendem-se do amor não correspondido, acreditando numa ilusão. Assim, constroem fantasias, na esperança de que, um dia, o outro, caia na realidade, e corresponda ao seu amor. Amar sem ser amado é doloroso. Daí fugir da realidade através de sonhos infantis, imaginando afetos não correspondidos torna a realidade menos dolorosa. Ser traído é pior ainda.

O maltrato em negar para fugir da realidade

Muitos traídos, apesar das evidências, fingem não ver, para viver na mentira. Mesmo desconfiando, há sempre dentro de si uma pontinha de esperança de que tudo não passe de um equívoco. Essa situação acontece muito em relações abusivas. Onde o parceiro maltrata o outro, através de jogos psicológicos, mas a pessoa abusada está tão envolvida na relação, que não consegue perceber o abuso.

A negação seria uma válvula de escape ?

Geralmente, os compulsivos, não admitem o vício de comida, sexo ou qualquer outro tipo de compulsão. Afinal, largar um vício é doloroso.

Abandonar a válvula de escape, que os ajuda a viver, é como abandonar um suposto prazer. Suposto, porque na verdade , causa desprazer, culpa e consequências desagradáveis para a saúde e as relações.

É como um hábito nocivo enraizado na personalidade do indivíduo. E até abandonar o lado ruim da nossa personalidade é complexo. Nada, porém, que uma terapia não tente resolver. Basta admitir o vício. Esta é a parte mais difícil e que encontra muita resistência por parte dos dependentes ou compulsivos.

Negar para fugir da realidade onde as mentiras sinceras me interessam

Compositores e poetas costumam fazer uso do tema dos amores não correspondidos, mas iludidos. O compositor Cazuza na música Maior Abandonado escreveu : “ Me ame como a um irmão/Mentiras sinceras me interessam/Me interessam. Ou seja, quem nega, se satisfaz com a mentira para não enfrentar a realidade. Tudo isso inconscientemente.

Pessoas que costumam mentir e enganar a si mesmas, não estão acostumadas a conviver com a frustração. Acreditam que a vida tem que ser como elas imaginam e não como ela realmente é.

Mentir pra si mesmo é sempre a pior mentira, já dizia o compositor Renato Russo, na música Quase Sem Querer. E quem mente pra si mesmo, acredita na mentira e nega a realidade. Já diz o ditado “ a verdade dói” e se a verdade dói, então por que não fingir que ela não existe, recalcando a realidade ?

Sonhar Não Custa Nada

Diz a letra do Samba enredo da música da Mocidade Independente de Padre Miguel de 1992: “ Sonhar Não Custa Nada, Ou Quase Nada.” Será mesmo que não custa quase nada? Verdade que precisamos sonhar para viver. Os sonhos nos levam a desejar, e o desejo nos impulsiona para novas e prazerosas conquistas, é o que diz Freud e Lacan.

Mas até para sonhar é preciso ter os dois pés no chão. Por exemplo, sonhar com relações perfeitas e ir em busca de eternos idílios amorosos gera frustração. Eles não existem. Portanto, o sonhador, ao invés de viver relações reais, projeta no outro seus sonhos e fantasias de vida perfeita.

Viver uma vida em negação , pode ser uma porta aberta para psicopatologias como a compulsão, a depressão e a melancolia. Afinal, quanto maior a ilusão, maior será a frustração ao acordar para a realidade. Ninguém pode viver em negação a vida inteira. Um dia é preciso despertar. Ou então, o indivíduo viverá uma vida de mentiras e fantasias e o resultado será um profundo vazio interior.

Negar para fugir da realidade, ilusões e Fantasias – A escuta analítica

Quanto mais fantasiamos, mais vendemos ilusões pela vida. Fantasiamos um amor e projetamos todos os nossos anseios nele. Ao nos apaixonarmos por alguém, na verdade estamos nos apaixonando pelas projeções de perfeição surgidas na nossa psique. Estamos recalcando os nossos defeitos e os defeitos do outro.

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    E negando a verdade de uma relação, que pode ter defeitos, todas têm, porém mais verdadeiras. Com gente de carne e osso. Ao nos depararmos com a realidade e com as “mentiras” sinceras do dia a dia, acabamos descobrindo, que o sujeito, objeto de nossas ilusões, não é tão perfeito como imaginamos.

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    Sendo assim, frente a frente com as imperfeições do outro, sofremos e nos desiludimos com o amor. Daí a importância da terapia. Através da terapia, aqueles sentimentos negados e recalcados no inconsciente e que nos impedem de levar uma vida plena, vêm à tona durante a fala no momento da análise. E você ? Agora que conhece um pouco mais do mecanismo de defesa da ” Negação” fará uma reflexão para saber se já fez uso dele alguma vez ?

    Referência

    Texto – A Negação ( 1925) – Sigmund Freud

    O presente artigo foi escrito por Celamar Maione([email protected]). Jornalista – Pós-Graduada em Direitos Humanos e Psicologia Forense. Autora de dois livros. Estudante de Psicanálise pelo IBPC.

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