O filme “Parasita” é emblemático, ganhador de vários prêmios do Oscar. Revela metáforas da trama psicológica que compõem as relações humanas. Os TRANSTORNOS PSÍQUICOS, ultrapassando a esfera PSICOPATOLÓGICA, abrangendo questões sociais. Além do contexto e do contraste das três classes sociais: o rico, o pobre e o miserável, apresenta a realidade da desigualdade social e tudo o que vem agregado a ela.
Entendendo sobre o filme Parasita
Inúmeros choques entre contrários; uma guerra travada de forma subliminar, fazendo alusão “a sombra da sociedade”. Mostra pessoas que usam a inteligência, canalizando a libido para fins manipuladores em busca do poder. E, nessa obsessão doentia, se infiltram numa família, assumindo papéis idealizados (máscaras); fugindo do “PRINCÍPIO DA REALIDADE”.
Pessoas que encontram uma única forma de sobreviver, tirando proveito de tudo o que é alheio “custe o que custar”; os verdadeiros “parasitas em ação”.
Pessoas regidas pelo “PRINCÍPIO DO PRAZER”, que vão procurar satisfação a qualquer custo, sem a consideração da racionalidade, moralidade ou sociabilidade.
E o que seriam esses princípios, segundo a psicanálise de Sigmund Freud?
O princípio da realidade é a adaptação do ser humano à realidade e à ordem moral. Renúncia do prazer, criando vários conflitos interiores. O filme Parasita opõe-se ao princípio do prazer, que são processos inconscientes (processos primários). Buscar o prazer e evitar a dor, a tensão, o sofrimento. O filme mostra pessoas vivendo conflitos entre o ID, o EGO e SUPEREGO. Sabemos que o ID, o EGO e o SUPEREGO são as instâncias que formam a psique humana, portanto:
O ID é o componente nato do indivíduo, a parcela mais instintiva, aonde ficam armazenadas as pulsões e nossos impulsos mais primitivos. Guiado pelo PRINCÍPIO DO PRAZER, privilegia as vontades, os ímpetos, os desejos; portanto, ele cria as demandas. Fica localizado no nível inconsciente do cérebro e não reconhece os elementos sociais, os “freios” morais e éticos.
Possui algumas características, sinalizadas inclusive no filme, como: busca uma solução imediata para as tensões; não aceita frustrações e não conhece inibição; busca satisfação na fantasia, entre outras. A partir do ID, desenvolvem-se as outras partes que compõem a personalidade humana: o Ego e o Superego.
O filme Parasita e o EGO
Ele surge a partir do ID, da interação do ser humano com a sua realidade. Começa a se desenvolver já nos primeiros anos de vida do indivíduo, adequando seus instintos primitivos com o ambiente em que vive. Sua maior parte é consciente, mas também possui um espaço no inconsciente. É vinculado ao PRINCÍPIO DA REALIDADE; pois tem por funcionalidade mediar, harmonizar e integrar as constantes pulsões do ID, bem como as exigências e ameaças do SUPEREGO. É, portanto, o mecanismo responsável pelo equilíbrio da psique.
O superego se desenvolve a partir do EGO. Segundo Freud, começa a se desenvolver a partir do quinto ano de vida. É consciente e inconsciente. Consiste na representação dos ideais e valores morais e culturais do indivíduo. É conselheiro para o EGO, alertando-o sobre o que é ou não moralmente aceito, segundo os princípios que foram absorvidos pela pessoa ao longo de sua vida. O SUPEREGO é a censura, a culpa e o medo da punição.
Portanto, tem como característica impor limites de condutas e regras, consideradas adequadas à cultura e a boa convivência. Tramas e manipulações ganham força ao longo do filme, onde tudo passa a ser executado com muita astúcia, audácia e controle; sem escrúpulos e sem receio de machucar “o outro”. Utilizam-se de chistes, mentiras, fantasias, obsessão, crueldades, falta de empatia, desrespeito e falcatruas sem medidas.
O filme Parasita e o recalque
Problemas não trabalhados, vindo à tona em forma de revolta, uma revolta disfarçada em engano e bondade. Pessoas recalcadas que fazem o que podem, o possível e o impossível, para adquirir o poder, para sair da situação de pobreza. A busca do poder, a ganância, mostrando que algumas pessoas não utilizam as formas honestas para vencer na vida.
A Psicanálise define RECALQUE, como: “Um mecanismo de defesa que remete para o inconsciente, emoções, pulsões e afetos que são considerados repugnantes para um determinado indivíduo. ” A pessoa recalcada fala mal dos outros e é capaz de outras atrocidades. O recalque faz com que a pessoa tenha inveja ou raiva de outras pessoas. E esse é um dos maiores pontos principais do filme!
No filme, encontramos pessoas que utilizam as fragilidades emocionais, os pontos fracos das outras, para tirar proveito e se infiltrar, demonstrando uma “falsa bondade”, utilizando planos destrutivos, minuciosamente elaborados e estudados, para agirem “sem dó, nem piedade”. Demonstrando sinais de NEUROSE, PSICOSE e PERVERSÃO.
Instintos e pulsões
Pessoas doentias, seguindo instintos e pulsões. Pessoas que conseguem lidar com suas emoções, apresentam autocontrole, em prol do “jogo de interesses”. “Rótulos estabelecidos erroneamente. ” Para compreender o ponto acima, é importante compreender que, segundo a psicanálise: A neurose é definida como a expressão de um conflito psíquico entre os desejos do nosso inconsciente, incompatíveis com a realidade exterior (ou impossíveis de serem realizados).
A pessoa sente esse conflito psíquico, por não conseguir obter a satisfação do seu desejo e a impossibilidade de realizá-lo imediatamente, ou seja, “a frustração de um impulso instintivo”. Entra em sofrimento, manifestando alterações comportamentais. Já a psicose é um transtorno psíquico que interfere na percepção do indivíduo.
O principal conflito do filme Parasita encontra-se no EGO e a realidade, onde a interpretação que o indivíduo tem sobre si e sobre o mundo, ficam desproporcionais quando comparadas a de outras pessoas. Apresentam delírios ou alucinações recorrentes; perdendo o contato com a realidade por conta dessas alterações na mente. Ouvem e veem coisas que os outros não conseguem, se tornam incoerentes na fala e com comportamento inadequado.
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Perversão é um desvio de comportamento
A perversão estrutura-se sobre uma vontade de transgredir a ordem natural das coisas, de perturbar a norma social ou sexual. Um indivíduo perverso busca o prazer continuamente, tanto em seus comportamentos com em suas fantasias. Se torna impulsivo, manipulador, sedutor e se sente superior. Mentiras e transgressão das normas fazem parte da rotina de um perverso e não há sentimento de culpa por parte do mesmo. Cabem aqui os ditados: “ Cuidado com as aparências.
Elas enganam! ” e “Nem tudo o que reluz é ouro”. O filme nos mostra que “um grupo” consegue exercer influência sobre “um indivíduo”. Vemos o jogo de manipulação pelo ganho (a ganância) e o poder, imperando e assumindo o controle, levando pessoas a se corromperem. Uma trama que ao ser revelada em seu “passo a passo”, vai nos apresentando a dimensão das atitudes humanas; no que o ser humano é capaz! Infelizmente, aqui cabe o ditado: “ Uma andorinha só, não faz verão”.
Porém, o filme nos revela que não são apenas as pessoas “pobres e miseráveis” que se “parasitam” nos outros; os ditos “ricos” também o fazem. Preferem acreditar em justificativas que reforçam a crença de que: “devemos confiar nas pessoas que os amigos indicam”, sem maiores investigações e esclarecimentos, mesmo percebendo contradições e sinais de estranheza. Assim, vão se emaranhando nessas contradições, evitando conflitos e posicionamentos, nutrindo uma “relação de uso e abuso”.
Vale questionar e investigar quando se ouve a frase: “Por ele eu ponho minha mão no fogo!”
O filme parasita revela que nossa percepção capta sinais de estranheza importantes, que podem nos dar pistas sobre a dinâmica das nossas relações: “É preciso estarmos atentos”. Um dos recados, mais marcantes do filme, é fazermos exatamente o contrário do ditado popular que nos diz: “É melhor não mexer nesse vespeiro”. É melhor mexer sim! E seguir o ditado: “Amigos, amigos, negócios à parte” – investigando, analisando, pesquisando!
Em cena, aparecem a violência física, tendo como consequências os crimes (mortes) e agressões; situações de surtos e “histeria”. Onde o “verdadeiro eu” de cada um vem à tona. Personagens que denotam: quadro clínico de “NEUROSES” – por apresentarem distúrbios de personalidades, sentimentos e emoções negativas (termo proposto por William Cullen, no século XVIII); “ESQUIZOFRENIA”, como também “o papel dos transtornos mentais nos movimentos sociais”.
Parece que há “uma ligação inconsciente” entre os personagens, vítimas de situações traumáticas. De uma forma geral, o filme nos apresenta personagens com “caráter duvidoso” e persuasivos. Nos mostrando que não há” vilões” e “mocinhos” em sua totalidade.
Conclusão
Cabe um último ditado popular: “Quer conhecer uma pessoa? Dá-lhe poder! ” Convido a todos a fazer uma reflexão interna: sobre quem somos (de fato), o que queremos ser, nossos valores (éticos e morais), como nos colocamos no mundo, o que fazemos e como fazemos para mudar o que não gostamos (tanto em nós, quanto com as coisas e situações vividas).
E, especialmente a importância do “respeito” e de “se colocar no lugar do outro” em qualquer situação e fala. Que todos possam exercer, sempre, a seguinte frase: “Amar o próximo como a ti mesmo.” (Mateus 22:39)
Este artigo sobre o filme Parasita e o funcionamento da mente foi escrito por Fátima Quagliani([email protected]). Pedagoga, Professora do Curso Normal, Supervisora do Curso de Pedagogia, Orientadora Educacional e Vocacional, Especialista em Educação Infantil, Estudante do Curso de Psicanálise Clínica pelo IBPC. Rio de Janeiro.
2 thoughts on “Parasita (filme): reflexão sobre como a mente funciona”
O interessante em Genealogia é a gente buscar conhecer a personalidade de quem foi chegando na História Familiar! Numa ocasião a minha tia que Não casou, comentou sobre o enterro da irmã (minha mãe), que contou com a presença de muitos familiares por parte do meu pai; de como eles mantiveram o elo do cunhadio mesmo ela viúva há 38 anos! Já minha tia paterna, comentou que o irmão havia trazido para ela não uma cunhada, mas irmã! Ai que a gente percebe, nas “entrelinhas”, a expressão das pessoas e que as falas emergiram de suas essências! Hoje entre aliados, ouvimos a expressão “amigos de infância”, mas nas famílias, parece muitas vezes, que Não conhecemos com quem convivemos desde os primeiros anos de vida, assim como percebemos quem chegou a nós para “somar” na nossa trajetória! No final da minha carreira uma colega me deu uma isolada na Equipe e, por ter uma chefia/poder, conseguiu “simpatizantes”! Acabou a própria filha, logo por ela gerada, a dar uma situada na mãe, se despedindo de mim com abraço. O recado a colega entendeu, ao dizer que mesmo a filha tendo pai, ele não vai a escola no dia dos pais e, ele é da mesma geração que eu! Não fazia tanto tempo assim, que eu havia deixado o setor, sonho com a filha da colega, olhando para a mãe “cabisbaixa” e lhe disse: “Agora não adianta mais, ele já foi”! Por mais Insensíveis que as pessoas sejam conosco, sejam neuróticas ou psicopatas, mas acabam concluindo que momentos de euforia são e serão apenas momentos em suas vidas!
Parabéns pelo artigo!