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Psicanálise e Educação: o mal-estar no espaço escolar

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Leia o artigo até o final e entenda a relação entre Psicanálise e Educação.

Psicanálise e Educação: o mal-estar no espaço escolar

Era por volta das 15:30 do dia 30 de setembro de 2019, na escola Castro Pinto, situada no município paraibano de Jacaraú. Era a culminância do projeto de intervenção pedagógica, cujo tema era: Caminhos para a prevenção e combate à depressão e ao suicídio (estrategicamente no mês do “Setembro Amarelo”).

De repente, muitas lágrimas começaram a cair do rosto de vários estudantes, até que uma cena atípica ocorreu: A aluna Maria N. (nome fictício) desabou ao chão, aparentemente desacordada, apresentando espasmos e prantos constantes. Aquilo assustou a muitos da plateia, que sem saber do que se tratava, buscavam as explicações mais bizarras possíveis: de um simples desmaio a uma… possessão espiritual.

Após o incidente, me veio à mente o quão importante é intensificar o debate acerca da aliança entre psicanálise e educação no espaço escolar. O que aconteceu à aluna Maria N. nada mais foi do que um fenômeno comum em pessoas que carregam uma sobrecarga de sentimentos, gerando desgaste no próprio organismo.

Catarse, Psicanálise e Educação

Em resumo, Maria N. sofreu uma catarse. E o tema do evento foi apenas um gatilho para que o seu inconsciente tentasse se livrar daquela sobrecarga emocional. Este fenômeno pode ser entendido como um processo de “limpeza” psíquica e emocional. A própria palavra vem do grego “kátharsis”, que significa “purificação” e ocorre quando temos muito acúmulo de sentimentos aprisionados, que não podem ser manifestados.

Ou, em casos mais extremos, desejos reprimidos. Uma hora o corpo não aguenta mais e libera o excesso, gerando uma limpeza. Um grande exemplo é o ato de desabafar com alguém. Quando estamos muito carregados por um sentimento que gera angústia, parece que algo está entalando nossa garganta e provocando uma carga pesada em nossos ombros.

Porém, o desabafo nos torna mais leves, como se um excesso de energia tivesse sido descarregado. O desabafo, nada mais é do que uma catarse. Através desse caso, ocorrido em uma escola de ensino médio, com alunos que estão sendo cobrados diariamente no espaço escolar e no ambiente familiar, surgem duas reflexões acerca do propósito de educar: o boletim positivo vale mais do que o bem-estar e a saúde mental dos alunos? Pode a psicanálise ser uma ferramenta positiva para nós, professores?

Psicanálise e Educação: desenvolvimento cognitivo e afetivo

Em primeiro lugar, o rendimento acadêmico é importante. Não significa priorizar uma coisa, em detrimento da outra, mas sim, equilibrar ambos (desenvolvimento cognitivo e afetivo). Segundo, a psicanálise, por ser uma área que trabalha na perspectiva de tratar neuroses, mediante o autoconhecimento, pode servir como uma boa ferramenta para que os professores possam analisar os comportamentos e linguagens dos alunos, a fim de contribuir para que conheçam a si próprios e entendam seus medos, angústias, traumas, motivações, permitindo que sejam capazes de lidar e de promover o gerenciamento das suas próprias emoções.

Tal prática pode contribuir, de forma significativa, não só no bem-estar, como também no desempenho cognitivo. Segundo Ivan Izquierdo, um evento é gravado no cérebro de forma mais intensa quando possui maior carga emocional. Sendo assim, nosso estado afetivo é determinante nas memórias e, consequentemente, na aprendizagem.

Muitas decisões que tomamos podem ser, na maioria das vezes, influenciadas por emoções, tal qual explicou o neurocientista António Damásio, ao formular a hipótese do marcador somático. Podemos ser muito habilidosos e competentes em quaisquer áreas que exijam intelecto, raciocínio, cognição. Mas, se estivermos abalados emocionalmente, tendemos a bloquear, de forma momentânea, nossas habilidades.

A sobrecarga de sentimentos

O mesmo ocorre com um aluno que não esteja bem consigo mesmo. A tendência é que a angústia e mal-estar, provocado por uma sobrecarga de sentimentos negativos, interfira na sua concentração, motivação e, consequentemente, no seu desempenho escolar.

O processo de aprendizagem e consolidação da memória depende, de forma crucial, do processamento das nossas emoções, pois a chamada memória de longo prazo é consolidada no hipocampo e sofre grande influência da amigdala, ambos pertencentes ao sistema límbico (área cerebral responsável por processar as emoções).

Se, por um lado, a psicanálise pode ser uma excelente ferramenta para auxiliar no processo de aprendizagem, por outro também é de grande valia para o próprio docente. Em um país que tem, em muitos casos, o professor como inimigo, ao invés de aliado na construção do conhecimento, é comum haver a desmotivação e desilusão para com a profissão.

Considerações finais

Somado a isso, as salas superlotadas e a necessidade de trabalhar em várias instituições para se ter um salário digno, expõe o profissional da educação a situações de estresse, ansiedade, depressão. Professores estão entre os grupos com maior potencial para explodir em uma reação catártica, interferindo no seu melhor desempenho possível, enquanto profissional.

Nesse caso, o conhecimento da psicanálise pode servir para a busca da autorregulação e resiliência. Contudo, a psicanálise não deve ser encarada como uma panaceia, capaz de solucionar todos os males da educação.

Porém, sua aplicação no contexto escolar, não como metodologia para o ensino (a didática é quem se ocupa desta área), mas como uma ferramenta auxiliar na busca pelo conhecimento dos conflitos emocionais, não só pode ser um elemento de grande ajuda, como também uma forma de analisar a sala de aula através de um olhar mais humano e menos técnico. Transvalorar o modelo tradicional de ensino vai além de simplesmente moldar o processo de ensino-aprendizagem. É, sobretudo, perceber na educação a empatia e o respeito ao outro.

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    O presente artigo foi escrito por Dhierclay Alcântara: professor de História e Psicanalista, com foco em psicanálise e relações socioemocionais na escola. Atua na rede pública de ensino pela Paraíba e pela prefeitura de Parnamirim-RN, onde reside atualmente. Além disso, também atua como psicanalista e hipnoterapeuta na Grande Natal. Email: [email protected]

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