Suicídio Altruísta

Suicídio Altruísta: o que é, como identificar indícios

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Nossa pauta de hoje aborda o suicídio altruísta, uma modalidade de suicídio proposta pelo sociólogo Émile Durkheim. Em linhas gerais, trata-se da ocasião em que uma pessoa decide tirar a própria vida em nome de um senso de dever social.

Para entender o tema mais a fundo, esclarecemos a teoria de Durkheim acerca do suicídio. Ademais, discutiremos alguns indícios para que você tenha condições de identificar que alguém próximo a você está pensando em se suicidar. 

O que é suicídio altruísta?

Para começarmos a explicar o que é suicídio altruísta, não podemos deixar de apresentar os 4 tipos de suicídio da teoria de Émile Durkheim, o grande nome da sociologia responsável por trazer para a área o estatuto de ciência.

Em resumo, sua principal proposta se constrói em cima do conceito de anomia, isto é, a maneira como a sociedade se move a fim de criar momentos de interrupção das regras que regem seus indivíduos.

A anomia, nesse contexto, é o enfraquecimento da instituição social, isto é, o conjunto de regras e artifícios que conservam a organização de um grupo de pessoas.  

Um fato interessante sobre a criação do conceito é que a anomia é uma prerrogativa para que Durkheim explique as patologias sociais da sociedade moderna, pois com o tempo, ela se tornou mais fria, racionalista e individualista.

Assim sendo, é aqui que entra a teoria dos quatro tipos de suicídio, uma vez que eles são considerados consequências de um aspecto patológico, como veremos a seguir.

Entenda os 4 tipos de suicídio de Émile Durkheim

Como dissemos, Para Durkheim, o suicídio é um fenômeno social que possui um aspecto patológico. Isso significa que, para o sociólogo, suicidar-se é uma decisão que alguém toma como consequência de uma doença ou disfunção característica das sociedades modernas.

Os quatro tipos de suicídio são:

Egoísta 

O suicida toma a decisão de tirar a própria vida motivado por um individualismo extremo que é típico da atualidade, em que as sociedades se definem a partir de uma divisão de trabalho acentuada.

Por essa razão, o suicídio egoísta é mais frequente nas sociedades modernas. Ele se deve também a um sentimento de exclusão e falta de compatibilidade que acomete o indivíduo.

Anômico

Mais acima explicamos que a anomia é um termo relevante para a proposta de Durkheim. Esse termo retorna como uma modalidade de suicídio também.

Em uma situação de anomia social, isto é, na ausência de regras na sociedade que decorre de crises sociais como a falta de empregos, por exemplo, indivíduos podem sentir a motivação para tirarem as próprias vidas.

Tome como exemplo de contexto anômico momentos de advento de processos sociais como a modernização decorrente da Revolução Industrial. Ela representou uma substituição da mão de obra humana pelas máquinas. 

Veja que, desse contexto, surgem vários problemas que podem parecer fatais para uma pessoa doente, tais quais o desemprego e a superexploração do trabalho.

Fatalista

O suicídio fatalista, por sua vez, decorre do excesso de regulação da sociedade. Ou seja, o indivíduo vive em uma sociedade em que o excesso de regras e normas tornam a vida muito mais difícil de lidar.

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    Altruísta

    Por fim, temos a modalidade de suicídio que é foco do nosso artigo: o suicídio altruísta. Esse tipo decorre da obediência à força coercitiva do coletivo. 

    Ou seja, o indivíduo tem um envolvimento com a sociedade tão extremo a ponto de sofrer da ausência de valor próprio. 

    É como se a pessoa não enxergasse a si mesma e, em casos onde vê necessidade, tirar a própria vida é uma espécie de dever para com a sociedade em que ela está inserida. 

    Tipos de suicídio altruísta

    Uma curiosidade acerca do suicídio altruísta é que ele possui três subtipos próprios. Em todos os casos, tirar a própria vida é um dever social, isto é, a pessoa crê que o suicídio é uma forma de contribuição positiva apara a sociedade e a cultura em que ela se insere.

    No entanto, as motivações são distintas. Confira uma breve explicação sobre cada um deles logo abaixo. 

    Compulsório

    No suicídio altruísta compulsório, a sociedade exige o suicídio do indivíduo de certa forma porque pouca ou nenhum alternativa a ele seria honrosa. Logo, a motivação é a honra. 

    Vale destacar que para essa modalidade a frequência é maior em países asiáticos, sendo que os maiores exemplos são os soldados kamikazes japoneses, na Segunda Guerra Mundial, e os samurais que participavam do “Sepukku” ou “Haraquiri”, um suicídio ritualístico japonês.

    Opcional 

    Neste caso, o suicídio não ocorre por pressões sociais declaradas, mas porque a pessoa sente que já cumpriu suas obrigações com a vida. Por isso, o sentimento que o indivíduo passa a nutrir é o de que ele é um fardo para a sociedade

    Agudo

    Por sua vez, no suicídio altruísta agudo, a pessoa tira a sua vida por prazer, com convicção nas próprias crenças em nome de uma religião, por exemplo.

    Um exemplo claro desse tipo de suicídio foi o suicídio coletivo de Jonestown, cometido por 918 membros da seita Templo dos Povos, liderada pelo pastor Jim Jones

    Outro exemplo clássico é o dos ataques suicidas do Estado Eslâmico e do Talibã, principalmente em países como Afeganistão e Paquistão.

    Indícios de que alguém próximo a você pode estar pensando em suicídio altruísta

    De modo geral, os indícios de que uma pessoa está pensando em suicídio altruísta são semelhantes aos dos demais tipos. Contudo, a motivação não é facilmente identificável com uma doença ou transtorno mental como a depressão, o transtorno de personalidade borderline e o transtorno bipolar.

    No entanto, é fundamental começar a prestar atenção se os seguintes sintomas aparecerem e se tornarem frequentes:

    Declarações verbais 

    Em primeiro lugar, se um indivíduo começa a expressar verbalmente a vontade ou a possibilidade de se suicidar, não ignore esse sintoma.

    Comportamentos que indicam uma falta de apreço pela vida

    Hábitos estranhos ao cotidiano de alguém como dormir demais e comer muito ou pouco também são dignos de atenção. 

    Além deles, observe se a pessoa em questão tem tratado com desleixo a própria aparência e a higiene, deixando de tomar banho, escovar os dentes e pentear os cabelos.

    Um comportamento que também se encaixa nesse sintoma é o hábito de proferir palavras que sugerem falta de apreço por si mesmo.

    Isolamento 

    O isolamento começa a se tornar uma questão digna de suspeita quando a pessoa começa a faltar nas atividades que desempenha, como escola, faculdade ou trabalho.

    Agressividade 

    Considere ainda o comportamento agressivo tanto verbal quanto não-verbal. 

    Envolvimento com seitas religiosas em que o suicídio não é um tabu

    Por fim, considere com cautela o envolvimento do indivíduo com organizações sociais de origem e qualidade duvidosa. 

    Considerações finais sobre o suicídio altruísta

    No artigo de hoje, você aprendeu sobre o suicídio altruísta e como Émile Durkheim construiu uma proposta sobre patologias com fundo na sociologia.

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    3 thoughts on “Suicídio Altruísta: o que é, como identificar indícios

    1. Aqui em SC, um Diretor Universitário, parece ter querido, salvo melhor juízo, mandar “um recado” ao Judiciário, ao cometer suicídio, no Shopping central da Capital, ao “cair” do piso superior! Autoridades do meio jurídico, prestaram homenagem: de acusado de corrupção passou como que a “mártir”! A realidade dos fatos ou a verdade sobre eles, só Deus sabe! Lembrando, que é sabido, de casos, em que o óbito do acusado Não encerra a demanda jurídica!

    2. Mizael Carvalho disse:

      Muito bom artigo! Os detalhes sobre os sintomas do suicídio altruísta, nos ajudará bastante a compreender acerca do mesmo.

    3. Romulo Caixa Ferreira disse:

      Em todos os casos, o suicídio é evitável com o tratamento adequado à cada caso, mas muitas vezes a solução não chega a tempo.

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