Hoje falaremos sobre o virtual na psicanálise. A partir de Lévy, a palavra virtual passa a ser empregada com frequência, significando a pura e simples ausência de existência, a realidade supondo uma efetuação material. O virtual não se opõe àquilo que é atual.
O virtual na psicanálise
O pulsional talvez seja uma fonte que, virtualmente, em potência, produz vários devires subjetivos. A educação, por exemplo, não precisa mais do espaço físico da escola, que foi estabelecido num primeiro momento.
Esse processo de êxodo, desprendimento do aqui e agora é o que podemos chamar de virtualização. Além da desterritorialização, a virtualidade também passa pelo Moebius a passagem do interior para o exterior evice-versa, as relações entre o público e privado, comum e próprio, subjetivo e objetivo.
Tais questões passam a ser muito dialetizado nos processos de virtualização, causando confusão nos limites. A virtualidade acaba por colocar em causa a nossa identidade clássica num processo de acolhimento da alteridade.
O virtual na psicanálise e na educação
O contato com o outro nas redes sociais e na educação à distância, ajuda na reconstrução de si de uma maneira muito veloz e os nossos processos de subjetivação acabam marcados por essa velocidade.
Se o psicanalista está trabalhando com a fantasia de alguém, como o sonho, que se atualizou em um relato específico, tomamos isso como algo que pode representar e se renovar de vários jeitos, portanto, não acreditamos no conteúdo manifesto, pois o latente não se revela completamente.
O sonho sempre vai apontaroutra virtualidade que nos interessa.
Virtude e subjetivação
Têm aparecido processos como o cancelamento e a avaliação. Nas redes sociais o tipo de ideal que é produzido para impor determinados indivíduos, um modelo, inatingível, resultando em variadas psicopatologias.
O sadismo e o masoquismo ganham espaço provocados pela metapsicologia da distância a qual ajuda na ampliação da violência. Outra questão é que tomamos como absurdo alguém que ainda não tenha se conectado, como se o uso de redes sociais fosse um imperativo.
Apresença online parece preceder e condicionar a existência social. A estimulação excessiva do virtual aponta para aquilo que vai determinar muito daspatologias que temos visto. Precisamos aceitar o paradoxo, como Winnicott gostava de nos convidar a fazer: ser vigiado por câmeras, apesar de nos proteger de certas práticas, traz novas fantasias paranoicas ou persecutórias para a clínica.
Alienaçao e subjetivação
A psicanálise sempre apontou para a potencialidade daquilo que é virtual, tanto boa quanto ruim. Como dito por Freud, nós não acessamos a realidade, nós a traduzimos diversas vezes: as representações são primeiramente inscritas no inconsciente, traduzidas no pré-consciente e outra vez traduzidas para a consciência.
Um processo analítico é a capacidade de elaboração para efetivamente se apropriaria de um aspecto da realidade que está virtualmente proibido. A leitura das obras de Freud, que não podem ser feitas deforma linear, já que alguns conceitos foram recalcados, Laplanche, como estudo contemporâneo, desontologiza o inconsciente, na direção da afirmação pelo sexual.
A tarefa do psicanalista é apontar como os elementos de virtualidade vão ser pulsionalizados pelo sujeito.
Sujeitos psíquicos
No ponto de vista da subjetivação, as modificações nos modos de comunicação, produziram outro ser humano, com novas formas de enxergar e com outros desejos. O recado, alguém que comunicava, a princípio, de maneira precisa, mas ainda sem eliminar a subjetividade.
A internet trouxe a instantaneidade, e exige que o aparelho psíquico se molde na satisfação imediata. Por mais que não sejamos mais os mesmos, o processo de transformação de uma vivência de excitação nas relações não passa por um tramite psíquico neurótico e vai direto ao campo de descarga, como o bebê ao chorar, também precisa ser entendido a partir da história da psicanálise.
As neuroses se fragmentaram em diferentes manifestações descritivas no DSM. É preciso buscar um equilíbrio entre excluir, ou colocarem um novo lugar idealizado, como acontecido no mundo virtual. A partir de Winnicott, temos a noção de transitoriedade, eu e não-eu, que agora assume novos espaços, abarcandoo perfil na rede social.
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O virtual na psicanálise e a identidade
A identidade do eu era constituída a partir de uma lógica familiar, territorial e estável. Atualmente, essa formaçãonão é fixa, é um constante vir a ser. O eu virtual e, potencialmente móvel a todo momento, produz um novosofrimento.
Conlusão
Dessa forma, precisamos pensar na análise, no analista e na vida extra transferencial. A psicanálise é fruto de um tempo e segue reproduzindo suas resistências e potencialidades. A pandemia da Covid, mostrou que a relação entre o virtual e a psicanálise ganhou força, quando os atendimentos online se tornaram quase obrigatórios.
A ideia de acolhimento virtual está presente desde o início, quando Freud trocava cartas com seus pacientes, como o caso do pequeno Hanspor exemplo. Com a internet, o campo da supervisão e formação ganhou uma possibilidade que antes não era possível.
O que o paciente fala no divã ou numa chamada de vídeo parece ser diferente em alguns aspectos, mas do ponto de vista da psicanálise, se mantém. Até mesmo uma ligação que caia permite transferência, quando o analista busca entender como a dinâmica está se dando.
Artigo escrito por Elisângela. Professora, Perita criminal, Psicanalista, amante da psicanálise, ex-aluna do IBPC.