Viva o Hoje! No livro autobiográfico de Agostinho de Hipona (Santo Agostinho), ele comparou presente, passado e futuro. De acordo com Agostinho,” o passado é a reconstrução de uma memória no presente. Mas não exatamente como aconteceu — é uma memória presentificada pelo que você é hoje.
O futuro é a presentificação do que ainda não foi vivido. Algo que não existe e que poderá nunca existir. E mesmo que aconteça, não será como imaginado. Porque essa antecipação é presentificada pelo que você é hoje, e não pelo que você será amanhã.”
Presente, passado e futuro? Viva o hoje!
De acordo com a tese do pensador, apenas o presente existe e é o único tempo que realmente é experienciado. É no presente que a vida de fato acontece, com tudo o que é bom ou ruim, assim como as alegrias e tristezas.
Portanto, a consciência deve fixar moradia no presente. Trazer a consciência para o aqui e agora acaba diminuindo as ansiedades causadas pelo futuro e ainda ajuda a ressignificar o passado.
Viva o Hoje e o que acontece se a consciência se projetar para o futuro?
Protelando o presente, projetando desejos e metas para o futuro, deixamos de vivenciar o agora. Só que muitas vezes as oportunidades estão logo aqui, bastando só esticar um pouco a mão para pegá-las. Só que como o futuro é mais confortável, ainda que ele nunca venha a acontecer, o presente passa a ser o plano B.
Quantas vezes planejamos fazer algo para depois de uma graduação, para depois da aposentadoria ou para depois que os filhos sairem de casa? Quantas vezes idealizamos comprar uma casa fantástica ou mudar de emprego ou mesmo de ter um filho?
E, quando nos damos conta, nada disso aconteceu. O futuro é uma ótima desculpa para paralisar o presente. Só que é no presente que as coisas começam e acontecem. É no presente que damos os primeiros passos rumo aos nossos sonhos.
E o que acontece com todo aquele tempo de espera? E o que foi vivido durante todo esse tempo?
O futuro prega peças. Especialmente quando o presente é sem graça e meio que sem grandes perspectivas. Nesse caso, o futuro funciona como uma espécie de fuga ou zona de conforto. Mas temos de convir que um pouco de futuro não faz mal a ninguém. O problema é quando o futuro passa a ser o “porto seguro” eterno.
Voltando para o trecho do texto destacado de Santo Agostinho, ele foi muito profundo ao dizer que o futuro é uma espécie de projeção, que pode ou não acontecer, mas que certamente nunca será exatamente como o projetamos, porque essa projeção é feita por quem somos hoje.
Pode ser que amanhã, com todas as experiências adquiridas ao longo da vida, mudanças dêem novos rumos ao futuro. Então, por que se apegar a algo tão mutável?
Viva o Hoje! Não fique preso ao passado!
Às vezes, o presente é tão distante do que desejamos que fosse, que muitos de nós acabamos buscando refúgio no passado. Há muitas pessoas que praticamente não conseguem viver no presente, porque ainda estão presas aos “tempos de glória” do passado, da juventude, dos tempos de riqueza e assim por diante.
Para quem vive no passado, não há a aceitação do que o indivíduo é no presente, porque ele não aceita as transformações vindas com o tempo, com o desgaste natural da mente e do corpo devido à maturidade, com os revezes, com os amores que se foram .
Os idosos são um ótimo exemplo de consciência no passado. Quem nunca ouviu uma pessoa da terceira idade contar e recontar histórias de seus tempos de juventude, de quando se consideravam bonitos, fortes, profissionais valorosos, de seus feitos e de seus amores avassaladores? Por isso, viva o hoje!
Viva o Hoje!
Quando isso acontece, pode se dizer que o indivíduo abandonou o presente em algum lugar escondido e procura esquecê-lo, porque o passado tem mais alegrias e contos interessantes.
Sem nos darmos conta, quando a consciência estaciona no passado, muitas vezes passamos a ser mal agradecidos com a própria vida, deixando de valorizar as bênçãos que temos no presente e não raro, deixamos de experimentar sentimentos, sensações ou fatos incríveis que estão acontecendo nesse exato momento.
Voltando ainda a Agostinho, o passado é a reconstrução de uma memória no presente. E essa memória não é exatamente como ela aconteceu, até porque o tempo passou e quem você é hoje, pode não ser nem sombra do seu eu que ficou no passado.
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Considerações finais
Para finalizar, o saudoso Renato Russo, vocalista da Banda Legião Urbana, grande sucesso dos anos 80 e 90, na música Índios, dizia que o “futuro não é mais como era antigamente”.
Hoje, podemos dizer que esse mesmo futuro dificilmente pode ser descrito no presente, sem que faça uma relação entre passado e futuro, ou seja, o presente hoje é inegavelmente distinto do futuro que se projetava “naquele presente”.
O presente artigo foi escrito por Ellyane Amigo. Jornalista, advogada, psicanalista e terapeuta holística, com ênfase em tratamento de fibromialgia. Atende na Praça Saens Peña – Tijuca, Rio de Janeiro. E-mail de contato:[email protected]